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Disciplina: Urgência e Emergência

Professor: Kleiton
Data da Aula: 19/11/19 NPC 2

TRAUMATISMO CRÂNIO ENCEFÁLICO – TCE

Definição: qualquer agressão ao cérebro de origem física causada por uma força externa que seja capaz de
causar alguma alteração anatômica ou funcional (algum prejuízo motor ou cognitivo), no couro cabeludo,
no crânio ou na meninge. Esse impacto de natureza física geralmente gera um estado temporário ou
permanente de diminuição do nível de consciência que pode comprometer parcial ou completamente as
habilidades cognitivas.

Dessa forma, qualquer força de natureza física contra o crânio capaz de causar alguma lesão no couro
cabeludo, osso ou cérebro e que tenha alguma repercussão no nível de consciência, na parte cognitiva ou
motora, vamos definir como TCE.

Importância: principal causa de atendimento por trauma na pediatria e representa cerca de 70% de morte
por trauma na pediatria.

80% dos TCEs estão relacionados com quedas, seguido de acidentes automobilísticos. Hoje, também, temos
a realidade de ter uma criança com TCE devido a maus tratos.

FISIOLOGIA CEREBRAL:
As células do Sistema Nervoso não têm reserva, ou seja, para um bom funcionamento do cérebro, depende
de uma boa chegada de oxigênio e glicose. Assim, podemos concluir que para uma boa chegada desses
elementos, significa que devemos ter uma boa oferta de sangue.

O crânio é um sistema fechado, limitado por osso. No interior, vamos encontrar o cérebro, sangue e líquor.
Em condições normais, o cérebro corresponde a 80%, 10% é líquor e 10% é sangue. Nosso organismo sempre
vai tentar manter essa proporcionalidade. Numa situação em que, por exemplo, surja uma massa, o
organismo tenta diminuir ou a chegada de sangue ou a de líquor.

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Observe que enquanto surge
uma massa, o sangue e o
líquor diminuem de tamanho.
Esse fenômeno de tentar
manter essa
proporcionalidade chamamos
de autorregulação cerebral.
Mas se essa massa continuar
aumentando (ex: hematoma
extradural) o cérebro perde
essa capacidade de auto
regulação e com isso há um
aumento da PIC.

Vamos supor uma outra


situação em que o paciente
aumentou muito a pressão
arterial. Se não existisse esse mecanismo de proteção, esse aumento da PA sistêmica iria impactar na PIC,
com maior risco de fazer um acidente vascular. A resposta compensatória é uma vasoconstrição numa
tentativa de fazer com que essa pressão não aumente tanto dentro do cérebro. Numa situação inversa,
chega um paciente politraumatizado, com fratura exposta e sangrando bastante. Nesse caso, ocorre
vasodilatação cerebral para tentar facilitar a chegada de sangue.

Se esse mecanismo cerebral falha, a criança evolui com PIC elevada. Agora, uma particularidade das crianças
menores. Falamos que o crânio é um sistema fechado. Porém, devemos lembrar das crianças que possuem
suturas e fontanelas, tornando sua caixa craniana mais flexível. Nesse sentido, se tivermos um hematoma
dentro da cabeça dessa criança, é mais fácil haver adaptação da PIC. Esse é o primeiro ponto em relação a
variação anatômica. E é na criança menor de 2 anos que teremos essa particularidade. Isso traduz para a
gente que será mais difícil perceber esse aumento da PIC nessa faixa etária.

Clinicamente, quando a criança aumenta PIC, o primeiro sinal que buscamos é alteração no nível de
consciência (sonolência), paciente começa a ficar sonolento. Exemplo: enfermeira te chama para avaliar
uma criança com tumor cerebral – localização mais comum é na fossa posterior, atrapalhando a drenagem
do líquor- que está ficando sonolenta, a primeira coisa que devemos pensar é que está aumentando a PIC.

Exemplo2: mãe traz criança no PSI relatando que a mesma tem Hidrocefalia e DVP (Derivação Ventricular
Peritoneal). Relata que a criança passou o dia bem e que pela noite começou a ficar mais quieto e sonolento,
mesmo quando mexe na criança. Podemos suspeitar que essa válvula pode ter saído, ou obstruído. e esse
líquor está ficando retido, aumentando a PIC. Se não fizermos essa suspeita, essa PIC vai aumentar, podendo
ocorrer uma herniação. Ou seja, primeira alteração é no nível de consciência. Depois, devemos lembrar da
tríade de Cushing para Hipertensão Intracraniana (Hipertensão, Bradicardia, Alteração Respiratória).

Recapitulando: um risco então desse tecido gelatinoso nessa situação de aumento de PIC é a herniação e
podemos ter as hérnias trans tentoriais e pelo forame magno. E quando o paciente está prestes a herniar é
que ele cursa com a tríade de Cushing.

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FISIOPATOLOGIA:

A Hipertensão Intracraniana ocorre no trauma ou processo inflamatório, devido a alteração na


permeabilidade da barreira hematoencefálica. Com isso, moléculas intravasculares passam para o cérebro,
exemplo de proteína e água, e o tecido vai ficando mais inchado. Dessa forma, o fluxo sanguíneo cerebral
fica diminuído, pois os vasos vão sendo comprimidos pela PIC. Devemos lembrar que no TCE perdemos a
autorregulação cerebral, ou seja, não existe possibilidade de vasoconstrição para evitar esse processo de
extravasamento nem vasodilatação pelo baixo fluxo.

Como já dito, esse tecido precisa se O2 e glicose para funcionar corretamente, logo, se há baixo fluxo, chega
pouco O2 e pouca glicose, determinando uma lesão irreversível ao tecido e é importante lembrar que são
células com pouca capacidade de regeneração, uma vez que são muito especializadas.

Essa vasoconstricção com diminuição do fluxo cerebral pode levar à isquemia, ou seja, ele se comporta como
um AVC, mas é um quadro mais difuso, porque é um edema difuso, e é por isso que na abordagem, temos
que priorizar uma boa chegada de sangue e independente de ser um TCE temos que seguir a abordagem
primária (que será discutida mais adiante).

Classificação:
A classificação ocorre pela Escala de Coma de Glasgow (ao lado)
em leve, moderado e grave.

As limitações quanto a ECG: criança que não fala, trauma facial.

Importante lembrar que mesmo em menores de 02 anos, que


não tem uma comunicação efetiva, a gente avalia a resposta
verbal, e aí a gente vê se ela está orientada, se está confusa e se
fala palavras inapropriadas, por exemplo, mas é a mesma ECG
usada para maiores de 02 anos (só na parte da linguagem que
adaptamos). Aqui na pediatria NÃO avaliamos a pupila.

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Já falamos sobre as suturas e fontanelas e que quando elas ainda estão presentes pode ser mais difícil de se
perceber a hipertensão intracraniana, uma vez que, se a criança fez um TCE que gerou um hematoma, a
calota dela é muito mais flexível.

Recapitulando, então: devido a essas particularidades, sempre devemos levar isso em consideração. EX: se
chega uma criança de 06 meses que caiu do colo da mãe, eu só fico tranquilo se ela estiver com um Glasgow
de 15, se ela não tem alteração do nível de consciência, se ela está abrindo os olhos, se ela tem resposta
motora normal, se ela tem emissão de sons normais.

A) Variáveis importantes nos menores de 2 anos:


• Glasgow 15 – menor que isso já preocupa;
• Presença de fratura – crepitação, dor a palpação ou afundamento, no couro cabeludo;
• Hematoma em região temporal, parietal e/ou occipital – região frontal não preocupa a gente;
• Mecanismo de trauma – acidente automobilístico/atropelamento, queda >1 metro;
• Comportamento não habitual: criança fica inconsolável mesmo no colo dos pais.

*qualquer alteração acima indica gravidade.

B) Variáveis importantes nos maiores de 2 anos:

• Glasgow menor ou igual a 14 ou outros sinais de alteração no nível de


consciência;
• Sinais de fratura de base de crânio – retro auricular (Battle) e/ou guaxinim,
epistaxe, otorragia e rinorreia liquórica;
• Perda de consciência com mais de 5 segundos;
• Vômitos >3 episódios em 2h;
• Mecanismo grave de trauma (igual ao anterior).

A importância de definir essas variáveis e o nível de consciência é para indicar necessidade de exames
complementares e tempo de liberação do paciente.

TCE LEVE MENOR DE 02 ANOS


o ECG menor ou =14 ou alteração do nível de consciência ou sinais de fratura – TC, internação e parecer
do neurocirurgião (ex: criança que chega sonolenta e ao examiná-la ela não desperta);

o Caso NÃO e não tenha hematoma occipital, temporal ou parietal, perda da consciência, mecanismo grave de
trauma, comportamento não habitual com os pais – NÃO REALIZAR TC e alta com orientações* (ex: criança
que chega desperta, não tem alteração motora e balbucia normal, não tem nenhum sinal de gravidade);

o Caso NÃO mas tenha hematoma occipital, temporal ou parietal, perda da consciência, mecanismo grave de
trauma, comportamento não habitual com os pais – Observação X TC (ex: criança que chegou bem, tem
Glasgow de 15, não tem sinal de fratura, mas tem pelo menos uma variável de gravidade). Nesse caso você
pode tanto fazer TC quanto deixar em observação de 48 a 72 horas (e se nesse período ela ficar bem,
não evoluir com bradicardia, hipertensão ou alteração respiratória e de consciência, pode dar alta).

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*Orientações: começar a vomitar muito, começar a ficar sonolenta ou mudar o comportamento, a criança
deve ser trazida novamente ao serviço de emergência.

Resumindo: alta em caso de TCE: criança que chega sem sinal de fratura, sem nenhum comprometimento
do nível de consciência e que não tem variável de gravidade (lembrar que elas diferem de acordo com a
idade, se tem mais ou menos de 02 anos).

Se for uma criança que está bem, mas chega com uma variável de gravidade (BASTA 01): ou você observa
por 48-72 hrs ou faz TC.

Se alterou o nível de consciência e está com Glasgow menor que 15 em menores de 02 anos (ou ≤ 14 em
maiores de 02 anos) ou tem sinal de fratura, faz TC e pede parecer do neurocirurgião.

TCE LEVE EM MAIORES DE 02 ANOS


Aqui é a mesma coisa, só o que muda é o Glasgow e as variáveis de gravidade (que já foram citados).

o ECG menor ou = 14 ou alteração do nível de consciência ou sinais de fratura – TC, internação e


parecer do neurocirurgião;

o Caso NÃO e não tenha perda da consciência, vômitos, mecanismo grave de trauma ou cefaleia
intensa – NÃO REALIZAR TC e alta com orientações;

o Caso NÃO, mas tenha perda da consciência, vômitos, mecanismo grave de trauma ou cefaleia intensa
– Observação X TC.

Ex: criança de 08 anos que estava em cima da árvore porque foi pegar uma pipa e caiu. A mãe disse que
ninguém viu quando caiu, então não sabe dizer se ele ficou desacordado por mais de 05 segundos ou não,
mas até chegar ao hospital ele vomitou 04 vezes. Ao chegar no PS estava respondendo normalmente, não
tinha alteração motora nem tinha sinal de fratura de base.

Nesse caso precisa fazer TC de cara e pedir parecer do neuro? Não, porque só faria se houvesse sinais de
fratura, alteração do nível de consciência ou Glasgow ≤14. Mas há um sinal de gravidade (mais de 03 vômitos
em 02 horas) e aí eu não posso liberar, então ou faz TC ou deixa em observação.

“O padrão ouro do diagnóstico de TCE é a TC de crânio.”

TCE moderado e grave sempre deverá ser realizado.

Em relação aos exames de imagem, quando a gente pensa no


raio-x, eu vejo apenas osso, e ele é bem mais limitado que a
TC, por isso que o padrão ouro em casos de TCE é a TC de
crânio. Kleiton disse que o que ele quer saber da gente em
relação à TC é, pelo menos, saber identificar as lesões que são
mais comuns no momento do trauma, as lesões primárias,
que são o edema ou inchaço cerebral e os hamtomas.

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Quando eu tenho um trauma de natureza física que determina uma lesão, pode ocorrer um edema, por
exemplo, ou então um hematoma, o qual pode ser extradural ou subdural.

• Subdural: está mais relacionado às lesões de veias,


podendo ter uma instalação lenta (em alguns casos ele
surge 07-10-14 dias após o ocorrido), e isso ocorre
porque a veia fica “babando” ali, e daí só aparece depois.
Devido a isso, ao liberar uma criança pós TCE sempre
deve sinalizar para a mãe os sinais de alarme: dor de
cabeça e vômitos, por ex, e que se eles aparecerem é
para retornar ao PS. São hematomas côncavos. Nessa
imagem ao lado podemos identificar um desvio da linha
média com um hematoma subdural do lado esquerdo.

• Extradural/epidural: esse hematoma já tem


relação com sangramento de artérias,
apresentando, assim, uma evolução mais
rápida e tem um aspecto convexo.

Já nessa outra imagem não é possível ver as circunvoluções, os sulcos, e os ventrículos também estão
comprimidos, ou seja, é um caso de edema cerebral.

Podem ocorrer, ainda, contusões e concussões, as quais costumam ter relação com o mecanismo de
aceleração e desaceleração do cérebro. Na concussão cerebral, a TC costuma ser normal, ou seja, é aquele
paciente que perdeu a consciência, mas quando você tomografa não dá nada. Já na contusão cerebral, o
impacto provavelmente é maior, e aí já é possível ver alterações na TC, como pontos de hemorragia e um
grau de edema maior.

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ATENDIMENTO INICIAL TCE GRAVE
o Atendimento pré-hospitalar – “hora de ouro”;

o Identificação e a correção da obstrução da via aérea, da ventilação e do choque são prioritários;

o Coluna cervical estável e alinhada, cabeça posição neutra – colar cervical;

o Desobstrução de via aérea – tração de mandíbula, seguido de aspiração e oxigênio inalatório (5 a 10L/min).

Grave é quando tenho Glasgow menor que 8, e aí quando o paciente chega eu vejo se ele está parado e se
estiver eu reanimo. Vejo isso através da impressão inicial (respiração -não é FR, apenas se está respirando-,
cor, nível de consciência). Quem move merece MOV, logo, levo o paciente para a sala vermelha e coloco
monitor, oximetria e acesso venoso.

Depois disso passo para a avaliação primária, na qual eu faço o A, B, C, D e E.

A) Abrir vias aéreas:


B) Respiração:

Como é um caso de TCE eu não posso fazer a hiperextensão da cabeça pelo risco de lesão de coluna, logo,
faço a tração da mandíbula.

Coloca-se o colar cervical e é preciso saber escolher o correto: sempre tem um pino lateral, e do pino até o
final da parte rígida fazemos uma analogia com uma distância medida no paciente. Tal distância é feita
traçando uma linha imaginária do mento até a base, e dessa linha até chegar ao trapézio eu meço em dedos.
A quantidade de dedos que eu medir é a distância que tem que ser do pino até o final da parte rígida. Lembrar
que a parte menor do colar é a que fica no mento.

Ainda posso considerar oxigênio e lançar mão da macronebulização, que é um sistema de baixo fluxo, em
que se coloca 06-10 litros. Mesmo que ainda não tenha visto a saturação, deve-se lembrar que é preciso
favorecer a chegada de oxigênio ao tecido cerebral.

A intubação traqueal está indicada se houver comprometimento das vias aéreas ou de obstrução, sinais de desconforto
respiratório ou diminuição do nível de consciência com esforço respiratório.

Pode ser necessário entubar esse paciente, e aí lembrar que até 04 anos costuma-se usar a lâmina reta, a
qual tem por objetivo pinçar a epiglote, e quando se usa a lâmina curva acima dessa idade é para pegar na
valécula.

C) Circulação:

o O suporte circulatório da vítima de trauma inclui avaliação rápida da perfusão sistêmica, estabelecimento do
acesso vascular.

o O tipo mais comum de choque no politraumatizado é o hipovolêmico.

o O acesso vascular deve ser estabelecido rapidamente. A primeira escolha é a punção de veia periférica.

o Administrar soro fisiológico a 0,9% ou ringer lactato, 20 mL/kg em 5 a 20 minutos.

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Depois de abrir a via aérea e fornecer oxigênio, foi para o B, viu a saturação, auscultou e agora no C vê a
circulação e perfusão. Lembrar que a PA ideal para até 10 anos é através da fórmula: idade x 02 + 70.

Se a criança do exemplo anterior estivesse com uma PA: 70 X 40 mmHg, não está boa (deveria ser 86), e aí
sempre lembrar que ao avaliar, se identificar algo, é para intervir. Aqui faria volume (20 ml/kg para correr
de 05-20 min) e a solução usada na emergência é o SF ou RL.

D) Neurológico
o Avaliar nível de consciência:
a) ECG
b) Resposta pupilar
c) Resposta motora

Ao avaliar as pupilas, a gente identifica se elas estão simétricas ou não. Quando elas estão anisocóricas
pode ser por AVC ou TCE. Já quando as duas estão midriáticas, pode ser por parada ou também por TCE.

É avaliado também a mobilidade ocular, e quando você tem um desvio um lado só, provavelmente está
relacionado com desvio de massa do mesmo lado, podendo ser um hematoma, por ex. Agora se você tem
um desvio conjugado, isso já está relacionado com lesão de hemisfério cerebral, é uma lesão mis difusa,
como um edema cerebral, por ex.

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E) Exposição com controle da temperatura.

Aqui tira a roupa do paciente para avaliar e identificar se tem fratura, por ex. Se tem hemorragia, você vai
conter, vai considerar sutura. Lembrar de avaliar o dorso do paciente também. Faz-se prevenção de
hipotermia também.

ATENÇÃO: Toda essa abordagem é para o paciente GRAVE. Se chega uma criança que não parece
gravemente enferma, a gente vai fazer avaliação neurológica para depois classificar em leve, moderada e
grave e considerar as variáveis de gravidade, identificando se vai fazer TC ou não.

Quando você pega um paciente com ECG 06, no A ele já te dá pistas de que você vai precisar entubar ele ali
mesmo. No B ele pode mostrar alteração respiratória, pode estar em gasping.

Ex: paciente vítima de TCE com um trauma de face importante: no A faz tração da mandíbula, aspira se a
boca estiver cheia de sangue e já se identifica um nível de consciência reduzido. Aí no B observou-se que ele
estava com estridor, com dificuldade respiratória, em gasping e isso já é indicação de intubação. Se por acaso
o paciente não estivesse com estridor ou apneia, e ao fazer a ECG deu 06 é indicativo de intubação, uma vez
que deve estar fazendo um edema cerebral importante, correndo o risco de herniação. Isso quer dizer que
a indicação de intubação pode entrar em mais de 01 momento (ex: mesmo com a tração de mandíbula não
melhorou, mesmo com O2 a saturação também não melhorou).

Eu sempre vou estar otimizando com O2 e aí quando for indicado intubação é só tirar e entubar.

O maior medo é fazer uma HIC tão grande e importante que leve a herniação, e sempre tenho que avaliar,
identificar e intervir.

Vamos supor um paciente de 05 anos chega no OS vítima de TCE. No A fez tração de mandíbula, aspirou e
colocou 02. No B auscultou e não tinha pneumotórax, a saturação estava boa, mas estava com uma
respiração um pouco agonizante. Quando passou pelo C viu que estava com uma FC:60, PA:130X80 mmHg,
o que não foi valorizado e aí no D viu que tinha uma ECG:06.

O que chama atenção aqui é um paciente no trauma ter uma FC:60, a qual não é comum e a pressão mesmo
sem a tabela sabendo que está alta, porque está uma pressão de adulto. Ou seja, o paciente está dando
sinais de que vai herniar (tríade de Cushing: bradicardia, hipertensão, alteração respiratória). Sempre avaliar,
identificar e intervir.

TRATAMENTO DA HIC
o Manitol: deve ser utilizado nos casos comprovados de HIC (0,25 – 1,5g/Kg)
o Hiperventilação: alteração do pH no nível da arteríola pré capilar provoca vasoconstricção, sendo esse
fenômeno mantido por algumas horas. É uma medida temporária (manter por aproximadamente 1 hora)
PCO2 entre 30-35mmHg.
o Solução Salina 3% - 6,5 – 10ml/kg, na emergência, depois manter de 0,1 a 1ml/kg/hora.

O manitol é um diurético osmótico e por isso não pode ser usado em pacientes hipovolêmicos, isto é: se eu
tenho um paciente com edema e administro uma solução na veia dele que é osmótica, vai puxar líquido do
cérebro para dentro do vaso. E para o cérebro funcionar é preciso que chegue sangue e em uma situação de
TCE em que a autorregulação está perdida e que a barreira “foi para o saco”, se eu determinar uma

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hipovolemia, é menos sangue passando pelo cérebro do paciente, logo, se eu administrar manitol nesse
caso, como ele é um diurético osmótico, irá passar menos sangue ainda, piorando a situação.

Numa situação em que o cérebro ainda tem o mecanismo de autorregulação, mesmo com essa variação ele
consegue dilatar e contornar a situação, mas quando esse mecanismo está perdido e que a barreira está
lesada, deixando extravasar, vai determinar pouco sangue no cérebro.

Resumindo, então: só faz manitol nos pacientes que estão com a pressão, diurese e perfusão boas, ou seja,
não estão hipovolêmicos.

Lembrar que o chamado “salgadão” é a solução salina a 03%, sendo que o efeito é basicamente o mesmo:
eu administro na veia do paciente uma solução que é hiperosmolar para puxar água do tecido para dentro
do vaso. A vantagem dele é que ele não é um diurético osmótico, logo, não preciso ter receio de fazer em
pacientes que não estão euvolêmicos.

Única coisa que temos que tomar cuidado ao fazer o “salgadão” é a natremia, uma vez que ao fazer o SF ele
é a 0,9% enquanto aqui é a 03%, o que aumenta muito a natremia. Outro detalhe é que esse soro a 03% não
existe, ou seja, ele não vem pronto, é preciso montar.

Quando a gente viu hidratação na pediatria I, a gente calculava quanto ia fazer do soro glicosado e depois
colocava sódio e potássio. O sódio que a gente colocava era a 20%, mas era um volume pequeno.

Para montar então é assim:

NaCl 03% -> NaCl 20% 15 ml + AD/SG 05% 85 ml (01 ml: 0,5 mEq). Isso aqui é padrão e aí fazemos 100 ml,
logo, se for preciso 200 ml, eu preparo duas vezes.

Na administração faz-se em bolus 6,5-10 ml/kg e depois faz em infusão contínua de 0,1 até 1 ml/kg. E eu
mantenho enquanto achar que meu paciente ainda tem HIC.

Em relação a hiperventilação: ao hiperventilar, a Pco2 do paciente vai cair e isso leva a uma contração dos
vasos cerebrais, gerando uma diminuição da pressão dentro deles e aí diminui o extravasamento do vaso
para dentro do tecido.

Mas o risco aqui é que se você diminuir muito a perfusão cerebral pode acabar determinando uma lesão,
por isso esse mecanismo só é feito no momento inicial.

Então se chega uma criança vítima de TCE e eu identifico que ela está com HIC, a primeira coisa que eu faço
é a hiperventilação e depois entro com a solução salina 03%. O manitol geralmente na emergência não é tão
usado pois é preciso ter um controle muito certo da volemia.

E como fazer a hiperventilação: se eu for entubar o paciente, eu tenho que colocá-lo em VM e ao fazer os
parâmetros, quando chega na FR coloca-se 2/3 da FR basal da criança.

Lembrando:

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Ex: criança de 03 anos colocaria 2/3 de 40 (vamos supor que seja 25 aproximadamente).

Agora, quando eu quero hiperventilar, eu coloco um pouco a mais disso, logo, no exemplo acima eu colocaria
em torno de 28-29, por exemplo.

Tenho que olhar ainda a pco2 na gasometria e eu espero que tenha 35-45, mas ao hiperventilar, o meu foco
é manter uma pco2 a 30-35, uma vez que eu sei que ao cair ocorre uma vasoconstricção diminuindo a
pressão dentro do vaso. Mas é preciso ter atenção, já que ela não pode cair muito, porque senão irá contrair
muito os vasos e aí irá circular pouco sangue dentro do cérebro e é por isso que fica entre 30-35.

Se ainda assim a criança continua com sinais de HIC vai lançar mão da solução salina 03% uma vez que ela
independe da volemia.

Recapitulando:

Em um quadro de TCE eu sempre fico preocupado se tem uma lesão dentro do cérebro, uma vez que essa
lesão pode aumentar a PIC gerando uma herniação. O primeiro sinal de HIC é a alteração do nível de
consciência, sonolência, e quando está prestes a herniar faz a tríade de Cushing (bradicardia, hipertensão,
alteração respiratória). Se eu identificar HIC eu tenho que intervir e aí posso lançar mão do manitol, da
hiperventilação e da solução salina 03%. Geralmente, inicialmente, eu hiperventilo e aí se o quadro se
mantiver faz a solução salina.

A solução salina 03% é muito utilizada em quadros de hiponatremia grave (toda hiponatremia abaixo de 125
ou sintomática), pois nesses casos não se usa SF, mas sim faz uma correção com essa solução.

CORTICOSTERÓIDES?
o Os corticosteroides atuariam nos mediadores inflamatórios que agem na formação do edema cerebral?
o Nenhum estudo em TCE mostrou benefício!

Não há nenhuma evidência científica que fala que corticoide diminui edema em TCE, a gente só faz corticoide
nos quadro de meningite, como já foi estudado, uma vez que ao usar ATB, na destruição da bactéria você
determina uma cascata de inflamação que pode gerar sequelas, sendo a mais comum a surdez, e é
comprovado que o corticoide nesses casos pode diminuir isso (principalmente se for meningite por
Haemophilus), mas para trauma NÃO há nenhuma evidência, logo, NÃO FAZEMOS para edema cerebral.

Se tem edema, eu tenho que avaliar se há HIC e caso tenha vou lançar mão do manitol ou hiperventilação
ou solução salina 03%.

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