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PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.

154-18

DIREITO CONSTITUCIONAL | PONTO 3

Normas constitucionais:
CPF: 860.542.154-18

aplicação e classificação.
Hermenêutica constitucional.
Métodos de interpretação

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
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CURSO MEGE

Site para cadastro: www.mege.com.br


Celular / Whatsapp: (99) 982622200 (Tim)
Turma: Clube do MP
Material: Ponto 3 (Constitucional)
Professor: Diego Isaac Nigri

MATERIAL DE APOIO
2
(Ponto 3)

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SUMÁRIO

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA ...................................................................... 4

DIREITO CONSTITUCIONAL ............................................................................................... 5

1. DOUTRINA (RESUMO)................................................................................................... 6

1.1. NORMAS CONSTITUCIONAIS ..................................................................................... 6

2. QUESTÕES ................................................................................................................... 30

3. GABARITO COMENTADO ............................................................................................ 35

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA


(Conforme Edital Mege)

DIREITO CONSTITUCIONAL - Professor Diego Isaac Nigri


Normas constitucionais: aplicação e classificação. Hermenêutica constitucional.
Métodos de interpretação (Ponto 3).

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DIREITO CONSTITUCIONAL (conteúdo atualizado em 24-02-2023)

APRESENTAÇÃO

Nesta rodada, trataremos dos seguintes temas “Normas constitucionais:


aplicação e classificação. Hermenêutica constitucional. Métodos de interpretação.
(Item 3)”, matéria eminentemente doutrinária, que não encontra amparo em
legislação específica, razão pela qual não há tópicos de legislação e jurisprudência.
A depender da banca, esses temas podem ser fortemente cobrados,
merecendo atenção de todos, pois não costuma ser matéria de domínio corriqueiro.
Não se trata de estudo complexo, mas, pela gama de detalhes, exige uma
análise focada para não deixar passar nada, especialmente em relação aos métodos de
interpretação, que costumam confundir os menos familiarizados com essa parte da
doutrina.
Ao final, apresento questões relacionadas ao tema de concursos anteriores,
todos de ministério público estadual, para fixação do conhecimento.
Bons estudos!

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1. DOUTRINA (RESUMO)
1.1. NORMAS CONSTITUCIONAIS

Inicialmente, importa destacar a distinção entre “texto” e “norma” feita pela


doutrina contemporânea. Outrora, acreditava-se que se o texto normativo fosse claro,
não caberia qualquer interpretação por parte do julgador. Ao juiz, caberia revelar tão
somente a vontade do legislador, por meio da subsunção, traduzindo-se em
verdadeiro juiz “boca da lei” (Escola da Exegese, de tradição francesa, como visto
anteriormente).
Atualmente, prevalece o entendimento de que ao juiz não basta reproduzir a
lei, sendo certo que não é possível aplicar a lei sem que sobre ela se realize qualquer
processo interpretativo. Assim, diversos teóricos passaram a distinguir os conceitos de
“texto” e “norma”, destacando-se, por todos, Friedrich Müller, que cunhou a máxima
de que “a norma é sempre o sentido atribuído ao texto (jurídico)”.
O “texto” pode ser entendido como o conjunto de caracteres linguísticos
organizado de maneira a permitir a formação de disposições normativas, ou seja, é o
objeto da interpretação, ao passo que a “norma” pode ser entendida como o sentido
que se extrai do texto, o que exige atividade interpretativa.
Segundo o Ministro Barroso, texto ou enunciado normativo corresponde “a
uma proposição jurídica no papel, a uma expressão linguística, a um discurso
prescritivo que se extrai de um ou mais dispositivos. Enunciado normativo é o texto 6
ainda por interpretar”.
Frisa-se que o texto normativo não contém a norma em si. É a partir do texto
que exsurgem as normas. Em outras palavras, a norma é sempre o resultado da
aplicação (interpretação) do texto.
Por sua vez, prevalece o entendimento de que norma é gênero que comporta
duas espécies: regras e princípios
CPF: (trataremos com mais detalhes adiante).
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Para José Afonso da Silva, pode-se dizer que normas “são preceitos que
tutelam situações subjetivas de vantagem ou de vínculo, ou seja, por um lado,
reconhecem a pessoas ou a entidades a faculdade de realizar certos interesses por ato
próprio ou exigindo ação ou abstenção de outrem, e, por outro lado, vinculam pessoas
ou entidades à obrigação de submeter-se às exigências de realizar uma prestação,
ação ou abstenção em favor de outrem”.
A doutrina destaca, ainda, a possibilidade de que existam normas sem que
haja qualquer dispositivo expresso, a exemplo das normas consuetudinárias e das
normas implícitas.
Vale ressaltar que toda norma constitucional tem eficácia, pois são
imperativas e cogentes, variando em grau de eficácia:

EFICÁCIA MÍNIMA (negativa) - forças: EFICÁCIA MÁXIMA (SOCIAL)

- Paralisante = não recepção das normas - Concretização do comando

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EFICÁCIA MÍNIMA (negativa) - forças: EFICÁCIA MÁXIMA (SOCIAL)


anteriores contrárias. constitucional, dependente de fatores
- Impeditivas = inconstitucionalidade das jurídicos, culturais e políticos.
normas supervenientes contrárias (servem
de parâmetro para o controle de
constitucionalidade).
- Efeito vinculativo = gera a obrigação de
regulamentação por parte do legislador
ordinário, sob pena de omissão
inconstitucional.

1.1.1. CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

Quanto à NATUREZA:

FORMALMENTE CONSTITUCIONAIS MATERIALMENTE CONSTITUCIONAIS

- Tudo que está no texto constitucional. - Matérias de assuntos tipicamente


constitucionais (limitação do poder,
organização do Estado e direitos e
7
garantias fundamentais).

Quanto à APLICABILIDADE:
A aplicabilidade se refere ao grau de alcance e realizabilidade dos dispositivos
constitucionais. CPF: 860.542.154-18
O § 1º do artigo 5º da Constituição Federal expressamente prevê que “As
normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”.
Entretanto, a doutrina diverge sobre qual a extensão do comando constitucional,
tendo se desenvolvido quatro correntes, a saber:
a) A cláusula é irrelevante: não é possível alternar a natureza das coisas por
mero comando constitucional, haja vista que a aplicabilidade da norma depende não
somente da disposição normativa, mas também de requisitos técnicos e institucionais,
que não são preenchidos de forma imediata por força do comando constitucional.
Assim, a norma deve ser um vetor interpretativo para assegurar a máxima efetividade
dos direitos e garantias fundamentais.
b) A cláusula é regra absoluta: ainda que não haja regulamentação a respeito,
todos estão obrigados a garantir a eficácia plena das normas que dispõem sobre
direitos e garantias fundamentais, seja pela via da integração de lacunas, seja por
intermédio de mandado de injunção.
c) A cláusula é regra, mas não é absoluta: a cláusula deve ser observada
dentro das condições apresentadas pelas instituições estatais para o seu cumprimento,

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não podendo ser afastada sempre que for possível o seu cumprimento de acordo com
os recursos existentes.
d) A cláusula é um princípio que deve ser realizado na maior extensão
possível. Como princípio, impõe a máxima otimização da aplicabilidade das normas
definidoras de direitos e garantias fundamentais, mas não afasta situações
excepcionais em que não seja possível a sua observância. Esta é a posição que
prevalece e a mais segura a ser adotada em concursos públicos.
Quanto à EFICÁCIA:
José Afonso da Silva classifica as normas constitucionais, quanto à eficácia,
em:

EFICÁCIA PLENA (absoluta ou de mera aplicação). Possuem aplicabilidade direta,


imediata e integral, de modo que não necessitam do legislador ordinário para terem
eficácia máxima (normas autoaplicáveis) e não podem ser restringidas.
Ex.: art. 5º, III, da CF - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento
desumano ou degradante.

EFICÁCIA CONTIDA (também chamada de norma de integração restringível,


prospectiva, ou, ainda, de norma de eficácia relativa restringível). Possuem
aplicabilidade direta, imediata, mas não integral, pois admitem restrição pelo
legislador ordinário. Em outras palavras, estão aptas a produzir efeitos desde a sua
vigência, mas admitem intervenção restritiva, que pode ocorrer por lei, por outra
8
norma constitucional ou por conceitos éticos-jurídicos indeterminados (ex.: art. 5º,
XIII, da CF - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer). Por isso, são de eficácia redutível
(restringível).

EFICÁCIA LIMITADA (também chamada


CPF: de norma de integração completável, de
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norma de eficácia relativa dependente de regulamentação ou complementação ou
de norma de eficácia diferida). Possuem eficácia mínima, limitada ou reduzida. Para
obterem eficácia máxima, dependem de norma infraconstitucional. Possuem
aplicabilidade indireta, mediata e reduzida (são não autoaplicáveis). Podem ser
subdivididas em:
- Institutivas (organizativa) = concretizam e regulamentam órgãos ou instituições.
Ex.: art. 33 - “a lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos
Territórios” e art. 37, VII - “o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
definidos em lei específica”, todos da CF). Podem ser impositivas ou facultativas (ex.:
justiça militar estadual é facultativa- art. 125, § 3º, da CF).
- Programáticas = traçam programas (objetivos) de Estado (ex.: art. 3º da CF, que
trata dos objetivos fundamentais da República, e art. 170, III, da CF, que trata dos
princípios da ordem econômica).
Constitui objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, por exemplo,
construir uma sociedade livre, justa e solidária, o que é norma eminentemente
programática, traça uma diretriz, um programa a ser seguido.

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ATENÇÃO! Nos últimos anos, com a expansão do neoconstitucionalismo, desenvolvido


sob a perspectiva filosófica do pós-positivismo, cresce entre os doutrinadores a ideia
de que mesmo as normas programáticas podem ter seu cumprimento judicializado,
em razão da eficácia mínima que se extrai de todas as normas jurídicas. Outrora, tais
normas eram entendidas tão somente como diretrizes para a atuação do Estado, que
não impunham qualquer possibilidade de cumprimento pela via judicial. Com a
mudança de paradigma, que objetiva dar “máxima efetividade” ao texto
constitucional, o STF vem admitindo o controle judicial de políticas públicas, de forma
a impor aos demais poderes o cumprimento dos programas estabelecidos na
Constituição.

ATENÇÃO! José Afonso da Silva entende que também são normas de eficácia contida
as que preveem restrições a direitos, por motivos de necessidade, de utilidade pública,
de interesse social, de iminente perigo público, de calamidade pública, de manutenção
da ordem, dentre outras da mesma natureza, por meio de atos administrativos.

OBS.: Virgílio Afonso da Silva critica a distinção entre normas de eficácia


contida e de eficácia plena, pois, mesmo estas últimas, seriam regulamentáveis (toda
regulamentação importa restrição) – não há direitos absolutos. A maneira de salvar a
classificação seria admitir que as normas plenas seriam restringíveis apenas dentro dos
limites expressa ou implicitamente decorrentes do texto constitucional (limites
9
imanentes), ao passo que as normas contidas admitiriam restrições adicionais
impostas pelo legislador ordinário.
Apesar das críticas doutrinárias, a classificação de José Afonso da Silva ainda é
bastante utilizada e muito cobrada em provas, razão pela qual deve ser memorizada.
CLASSIFICAÇÕES (nomenclaturas de outros doutrinadores):
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MICHEL TEMER JOSÉ AFONSO DA SILVA MARIA HELENA DINIZ

- Eficácia plena - Eficácia plena - Eficácia plena

- Eficácia limitada - Eficácia limitada - Eficácia relativa


complementável

- Eficácia redutível - Eficácia contida - Eficácia relativa


restringível

- Absolutas ou
superficazes¹

¹ Normas imunes ao poder de reforma (cláusulas pétreas).


* Daniel Sarmento destaca, quanto à eficácia das normas constitucionais, que se deve
considerar, também, as normas constitucionais de eficácia exaurida ou esgotada.

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Trata-se das normas transitórias que já exerceram seus efeitos (ex.: final do mandato
do primeiro presidente sob a égide da CF/88 - ADCT, art. 4º).

ATENÇÃO! As normas de eficácia limitada, embora não sejam autoaplicáveis,


também geram alguns efeitos imediatos (como visto, toda norma constitucional tem
eficácia, ao menos jurídica):

EFEITOS das normas constitucionais de eficácia limitada

a) Criam deveres para os legisladores = são parâmetros para inconstitucionalidade por


omissão.

b) Força paralisante = provocam a não recepção de leis anteriores colidentes

c) Força impeditiva = condicionam a legislação futura, tornando inconstitucionais as


leis que a contrariem.

d) Informam a concepção de sociedade e Estado.

e) Orientam a interpretação e a aplicação das normas infraconstitucionais.

f) Condicionam a atividade discricionária da Administração Pública.

g) Geram direitos subjetivos negativos = é possível exigir do Estado uma abstenção de 10


ações.

Alguns autores citam ainda a eficácia impeditiva do retrocesso social.


JÁ CAIU EM PROVA:
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- Segundo o STF, o desmembramento de município previsto na
CF é norma de eficácia contida” (CESPE, 2017).
Alternativa ERRADA.
O artigo 18, §4º, da CF condiciona o desmembramento de
municípios, dentre outras providências, à edição de Lei
Complementar Federal. Daí porque o STF entende que
enquanto não editada a LC federal não podem os municípios
serem desmembrados, caracterizando-se como norma de
eficácia limitada (e não contida) o artigo 18, §4º, da CF. ADI
4992/RO (sem prejuízo da convalidação dos Municípios já
criados, incorporados, fundidos ou desmembrados até
31/12/2006, por força da EC 57/2008).
- As normas de eficácia limitada regulam suficientemente
determinada matéria, havendo margem apenas para a atuação

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restritiva por meio de legislação infraconstitucional” (CESPE,


2019).
Alternativa ERRADA.
O examinador inverteu os conceitos de norma de eficácia
limitada e norma de eficácia contida.

1.1.2. PRINCÍPIOS x REGRAS

NORMA

PRINCÍPIO REGRA

A doutrina aponta a existência de três fases sobre a concepção dos princípios:

i) fase jusnaturalista, em que os princípios eram uma fonte


metafísica de orientação do direito, com caráter transcendental
de orientação do justo e do certo;
ii) fase juspositivista, em que os princípios exerciam somente o 11
papel de complementação na ausência de previsão normativa;
iii) fase pós-positivista, em que os princípios são considerados
normas por excelência, com caráter jurídico e força cogente.

Existem vários critérios


CPF:para diferenciar as normas (gêneros) em suas
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espécies: princípios e regras. No Brasil, um dos critérios mais difundidos é considerar
os princípios como dotados de maior generalidade ou fundamentabilidade (Celso
Antônio Bandeira de Melo) do que as regras.
Vejamos as distinções, divididas em quantitativas e qualitativas.

DIFERENCIAÇÃO das normas (princípios e regras) - distinções quantitativas (fracas)

a) Indeterminação = os princípios são mais vagos e ambíguos. Há um maior grau de


conformação semântica, podendo ser cumpridos em diferentes níveis e graus.

b) Generalidade = os princípios são gerais e abstratos.

c) Papel do intérprete = a atividade do intérprete é criativa, sendo mais ativa nos


princípios (as regras dão menor margem para valoração subjetiva).

d) Importância na ordem jurídica = os princípios seriam as linhas mestras do sistema


jurídico, normas fundantes e nucleares do ordenamento.

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e) Função na ordem jurídica = os princípios servem de guia para a aplicação e para a


interpretação das demais normas. A doutrina também aponta a função
normogenética dos princípios: determinam a criação de leis para sua concretização
(Canotilho).

f) Conteúdo moral = os princípios possuem uma dimensão moral maior, incorporando


e normatizando valores fundamentais.

Distinções qualitativas (fortes):


Ressifignicação do conceito de norma a partir dos trabalhos de Dworkin e
Alexy, resumidos nas seguintes obras:

- Ronald Dworkin - “Levando os direitos a sério” (1977).

- Robert Alexy - “Teoria dos direitos fundamentais” (1986).

Dworkin critica Hart (Hart era considerado positivista “soft”, ou seja,


acreditava na relação contingente, mas não necessária, entre direito e moral), que
defende que, nos casos difíceis (“hard cases” não solucionados pela lei), o juiz decidiria
com discricionariedade (criaria uma lei para o caso concreto). 12
Para Dworkin, os princípios devem ser aplicados, chegando-se a uma decisão
justa e com base em direito preexistente. Assim, para cada caso haveria apenas uma
resposta, mesmo aplicando-se os princípios (ideia de integridade da jurisprudência,
que deve seguir uma lógica, como um “romance em cadeia”).
OBS.: a aplicação especial dos princípios se verifica nos hard cases, aqueles
não solucionáveis pela mera CPF:
aplicação do raciocínio lógico - subsunção legal (STF, MC
860.542.154-18
no MS 32.326).
DWORKIN (modo de aplicação):

REGRAS PRINCÍPIOS

- Determinam consequências precisas. - Possuem uma “dimensão de peso” em


- Aplicação por all or nothing, tudo ou relação a outros princípios,
nada = a regra é válida ou inválida, preponderando o de peso relativo maior
aplicável ou inaplicável. no caso concreto.

- Resolução de conflitos pelos critérios - São fundamentos de argumentação


de hierarquia, cronologia ou moral, que devem ser sopesados quando
especialidade. em conflito.
- Para cada caso haveria apenas uma
resposta jurisprudencial correta,
conforme dimensão de integridade da

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metáfora do “romance em cadeia”.

ALEXY:
Para Alexy, diante dos “hard cases”, haveria várias respostas
argumentativamente aceitáveis.

REGRAS PRINCÍPIOS

- Comandos definitivos, que devem ser - Comandos prima facie, podendo,


aplicados quando válidos e incidentes. mesmo que válidos, ceder total ou
- Não há cumprimento gradual ou parcialmente em caso de colisão.
ponderação. - Mandamentos de otimização,
- Havendo conflito, uma das regras é aplicados em vários graus, conforme a
inválida ou afastada por cláusula de possibilidade fática e jurídica (colisão
exceção. com outros princípios).

Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto admitem que, em


determinadas hipóteses excepcionais, com pesado ônus argumentativo para a
justificação da medida, sejam as regras também submetidas a um juízo de ponderação
(ex.: regra da prisão parlamentar em relação aos princípios constitucionais - STF, HC
13
89.417/RO).
Quanto aos TIPOS DE COMANDO:

- Princípios são mandamentos de otimização = normas que exigem que algo seja
cumprido na maior medida CPF: possível,860.542.154-18
de acordo com as possibilidades fáticas (caso
concreto) e jurídicas existentes (normas envolvidas) – Alexy).

- As regras devem ser satisfeitas ou não = se uma regra é válida e não comporta
qualquer exceção, então se deve fazer exatamente o que ela ordena. Não há aplicação
em maior ou menor medida (lógica do “tudo ou nada” – Dworkin).

Quanto à NATUREZA DAS RAZÕES:

- Princípios fornecem razões contributivas para a decisão (prima facie) = são aquelas
que podem ser afastadas por outras razões de peso maior (argumentos favoráveis e
contrários). Em uma colisão de princípios, as razões de um podem prevalecer sobre os
outros (ex.: meio ambiente e saúde x livre iniciativa – interpretação conforme a
Constituição que proibiu a importação de pneus usados – ADPF 101).

- Regras fornecem razões definitivas para as decisões = as razões são consideradas

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“decisivas” por serem determinantes para se chegar a uma certa solução (Peczenik).

DWORKIN ALEXY

- Os princípios fornecem sempre - Tanto os princípios quanto as regras


razões prima facie, e as regras possuem um caráter prima facie, ainda que
possuem sempre um caráter no caso das regras este caráter seja
definitivo. essencialmente mais forte (decisivo) que
nos princípios. Apenas quando não
possuem qualquer exceção, é que as regras
gozam de caráter definitivo.

Quanto à NATUREZA DO COMPORTAMENTO PRESCRITO:

- Princípios são normas finalísticas = estabelecem um estado de coisas a ser atingido.

- Regras são descritivas = estabelecem obrigações, permissões e proibições.

Quanto ao MODO DE APLICAÇÃO:


14
- Princípios são aplicados por ponderação = aplicação conforme a ponderação dos
interesses em jogo.

- Regras são aplicadas por subsunção = mera adequação fato-norma.


CPF:e da
* Decorrência do tipo de comando 860.542.154-18
natureza das razões.

Quanto à DIMENSÃO:

- Princípios possuem dimensão de importância, peso e valor = os princípios são


resolvidos na dimensão da importância, isto é, em um caso concreto de colisão, o
afastamento de um princípio para aplicação de outro não significa que ele seja inválido
ou que não possa prevalecer em outro caso no qual as circunstâncias sejam diversas.

- Regras possuem dimensão da validade = havendo conflito entre regras, ou uma


delas é inválida (critérios hierárquico, cronológico e de especialidade) ou deve-lhe ser
introduzida uma exceção.

ESQUEMATIZANDO:

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PRINCÍPIOS REGRAS

Quanto ao tipo de COMANDO: - Otimização. - Comandos definitivos.

Quanto à natureza das RAZÕES: - Razões prima facie. - Razões definitivas.

Quanto ao modo de - Ponderação. - Subsunção.


APLICAÇÃO:

Quanto à DIMENSÃO: - Importância, peso e - Dimensão de


valor. validade.

NORMA REGRA NORMA PRINCÍPIO

- Conteúdo fechado. - Conteúdo aberto.


- Solução apriorística (“a priori”). - Solução casuística.
- Grau de abstração reduzido. - Alto grau de abstração.
- Solução de conflito por tudo ou nada. - Ponderação de interesses.

Panprincipiologismo: para Lênio Streck, a utilização dos princípios sem


técnicas e critérios apenas “colore” a decisão em um ou outro sentido, dando margem 15
ao subjetivismo do julgador e conferindo insegurança jurídica.

1.1.3. HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL

De forma predominante, a doutrina costuma associar o termo


CPF: 860.542.154-18
“hermenêutica” a Hermes, personagem que, de acordo com a mitologia grega, tinha o
papel de fazer a interlocução entre os deuses e os mortais, tornando as mensagens
divinas inteligíveis aos humanos.
De acordo com Luis Roberto Barroso, pode-se entender a hermenêutica
jurídica como uma ciência, “um domínio teórico, especulativo, voltado para a
identificação, desenvolvimento e sistematização dos princípios de interpretação do
direito”; já a interpretação “é a atividade de revelar ou atribuir sentido a textos ou
outros elementos normativos (ex.: princípios, costumes, precedentes) com o fim de
solucionar problemas”.
Com Gadamer, a interpretação, compreensão e aplicação não são distintas e
apartadas, de tal forma que a hermenêutica se dá a partir da própria compreensão do
ser no mundo (pré-compreensão).
A atividade de interpretação das normas sempre se constituiu em um grande
desafio à teoria jurídica e constitucional. Em Kelsen, a interpretação se subsumia a um
ato de vontade do julgador. Assim, dentro dos limites da Constituição (Constituição-
moldura), cabia ao legislador atuar e ao Judiciário verificar se (e não “como”) o

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legislador agiu dentro dos parâmetros constitucionais. Desta forma, Kelsen divide a
atividade interpretativa em duas espécies: aquela que é realizada pelo órgão que o
aplica (interpretação autêntica) e a que é realizada por pessoa privada, e,
especialmente, pela ciência jurídica (interpretação não autêntica).
IMPORTANTE:

Cânones interpretativos de Savigny - surgem por volta de 1850, mas é no final do


século XIX e no início do século XX que a interpretação passa a ser mais sofisticada
(declínio da escola exegética):

- Gramatical - interpretação a partir do sentido literal dos signos linguísticos;


- Histórico - estudo do direito a partir do contexto histórico e das discussões
legislativas;
- Lógico - trata-se aqui da lógica formal;
- Sistemático - interpretação pelo todo, pois a Constituição não se interpreta em
tiras (“Eros Grau”).

*A doutrina acrescentou um quinto elemento, o teleológico, que é o critério que busca


alcançar a finalidade da norma. Por esse critério, a interpretação deve sempre buscar a
teleologia do institutivo, as finalidades que a norma objetiva alcançar.
*Há, ainda, o método comparativo, proposto por Peter Haberle - interpretação feita
por meio da comparação com outras constituições.
16

Aos clássicos cânones interpretativos de Savigny foram acrescentadas outras


acepções, próprias à interpretação constitucional. Para tanto, existem dois grandes
grupos de concepções hermenêuticas:
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Concepções hermenêuticas:

TRADICIONAL ou FORMALISTA CONTEMPORÂNEA

- Norma e texto se confundem. - “O conjunto de textos é apenas um


- O juiz é neutro e passivo. ordenamento em potência, um conjunto
de possibilidades de interpretação, um
- Prevalência da mens legislatoris. conjunto de normas potenciais” (Eros
- Prevalência da interpretação histórica. Grau).
- Norma é o resultado da interpretação
do texto.

INTERPRETATIVISMO NÃO INTERPRETATIVISMO


Os juízes, ao interpretarem a “A possibilidade e a necessidade de os
Constituição, devem limitar-se a captar o juízes invocarem e aplicarem valores e
sentido dos preceitos expressos na princípios substantivos (princípios da
constituição, ou, pelo menos, nela liberdade e da justiça) contra atos da

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claramente implícitos (Canotilho). responsabilidade do legislativo em


Se o juiz pudesse se valer de valores desconformidade com o projeto de
substantivos, substituiria a decisão constituição” (Canotilho).
política do legislador. Admite-se uma função criativa do juiz
(fundamenta o ativismo judicial) = o juiz
não é mais boca da lei, como queria
Montesquieu.

Escola da Exegese (auge de 1830-1880) - surgimento do Código de Napoleão


(1804). A interpretação era uma atividade meramente mecânica, devendo apenas
revelar o sentido da lei = o juiz é a boca da lei.
Modernamente, como visto anteriormente, a norma é resultado do texto
legal, estabelecido pelo legislador, e da avaliação do intérprete, carregada por sua pré-
compreensão, fatos da vida, consequências e ideologias (Gadamer e Heidegger).
Por fim, não confunda:

NORMA JURÍDICA NORMA DE DECISÃO

- Resultado da interpretação em geral. - Resultado da interpretação do juiz.

17
1.1.3.1. Métodos de interpretação

Ernst Wolfgang Böekenforde agrupou os métodos de interpretação


constitucional, classificação adotada por Canotilho e tornada notória no Brasil por
Paulo Bonavides.
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A Constituição possui características peculiares, sobretudo na parte dos
direitos fundamentais, que exigem uma interpretação diferenciada, não sendo
suficientes apenas os critérios da hermenêutica clássica, estruturados a partir de
Savigny, como visto (gramatical, sistemático, histórico, lógico e teleológico).
Elementos da Constituição que exigem uma interpretação peculiar:

a) Grande número de princípios;


b) Caráter fortemente político;
c) Forte influência da ideologia;
d) Grande variedade de objetos e de eficácia das normas
constitucionais.

Vejamos os métodos de interpretação constitucional, valendo frisar que são


complementares, e não excludentes entre si.

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ATENÇÃO! Classificação bastante cobrada em provas:

A. MÉTODO HERMENÊUTICO CLÁSSICO (Forsthoff)

Parte da tese de identidade entre lei e constituição – por ser a Constituição


um conjunto de normas, como todas as demais leis, a sua interpretação deve ser feita
por meio dos elementos tradicionais, desenvolvidos por Savigny (1840):

1) gramatical ou literal;
2) sistemático;
3) lógico;
4) histórico;
5) teleológico;
6) comparativo.

B. MÉTODO CIENTÍFICO-ESPIRITUAL ou INTEGRATIVO


18
Método apresentado por Rudolf Smend, na obra “Constituição e direito
constitucional”.
Atribui grande relevância ao sistema de valores subjacentes à Constituição
(elemento valorativo), como, por exemplo, a realidade social (elemento sociológico),
pois a Constituição realiza uma integração da vida em sociedade (elemento
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integrativo), fazendo prevalecer os valores sociais consagrados (espírito). A
interpretação objetiva compreender o sentido e a realidade da Constituição.

Características

a) Base de valoração = a Constituição possui uma ordem de valores a ela subjacente


(espírito reinante na sociedade).

b) Elemento integrador = a Constituição é o principal fator de integração política e


social.

Em suma, para esse método, a Constituição seria um fenômeno cultural que


positivaria a realidade espiritual da sociedade. Para alguns autores, isso fundamenta
a mutação constitucional - alteração informal da Constituição advinda de mudança na
realidade fática, jurídica, econômica e social.

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Perspectiva crítica: parte da doutrina critica o método por ter uma feição mais
política (sociológica) do que jurídica.

C. MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO

Método apresentado por Theodor Viehweg na obra “Tópica e jurisprudência:


uma contribuição à investigação dos fundamentos jurídico-científicos”.
Baseia-se em “topos” (“topoi”), que são esquemas de pensamento, formas de
raciocínio, sistemas de argumentação, lugares comuns (podem ser extraídos da
jurisprudência, da doutrina, do senso-comum). Nesse método, há uma argumentação
jurídica em torno de um problema a ser resolvido, com opiniões favoráveis e
contrárias, prevalecendo a que for mais convincente. Em outras palavras, há
adequação da norma ao problema.

Função dos “topos” (topoi)

- Servir de auxiliar de orientação do intérprete.


- Constituir um guia de discussão dos problemas.
- Permitir a decisão do problema jurídico em discussão.
19
Características do método

a) Caráter prático da interpretação = voltada a resolver problemas.

b) As normas constitucionais possuem caráter aberto = admitem múltiplos


significados. CPF: 860.542.154-18
c) Preferência pela discussão do problema = as normas não admitem subsunção a
partir delas próprias.

Viehweg foge, assim, do dedutivismo lógico do positivismo, conferindo maior


liberdade ao intérprete, que parte do caso concreto para a norma (memorizar essa
expressão, que costuma cair em prova quando questionado sobre o método tópico-
problemático).
As maiores críticas ao método consistem na primazia do problema sobre a
norma (a norma deve se adequar ao problema), que é apenas mais um topos, ao lado
de muitos outros - demasiadamente subjetivista, dando muita liberdade ao intérprete.

D. MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR

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Método apresentado por Konrad Hesse na obra “A força normativa da


Constituição”.
A obra é fundamental para o desenvolvimento da moderna hermenêutica
constitucional, um dos pilares do que se entende por neoconstitucionalismo, como
visto anteriormente.
Parte da ideia de que interpretação e aplicação consistem em processo
unitário (concretista), com três elementos básicos:

1) a norma a ser concretizada;


2) o problema a ser resolvido;
3) a compreensão prévia do intérprete. A norma é resultado da
interpretação (papel ativo do intérprete) = concretização da
norma.

NÃO CONFUNDA:

TÓPICO-PROBLEMÁTICO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR

- Primazia do problema - parte-se do - Primazia da norma - parte-se da norma


problema para verificar a aplicação da para resolver o problema. 20
norma.

Elementos do Método Hermenêutico-Concretizador

a) Pressupostos subjetivos = o intérprete possui uma pré-compreensão da


CPF: 860.542.154-18
constituição, exercendo um papel criador ao descobrir o sentido da norma.

b) Pressupostos objetivos = o intérprete atua como um mediador entre o texto e a


situação na qual ele se aplica (contexto).

c) Círculo hermenêutico = a interpretação é transformada em movimento de ir e vir,


concretizando a norma como resultante da interpretação.

O método hermenêutico-concretizador leva em conta a história, o texto e o


contexto para limitar a atividade interpretativa. A norma seria, portanto, o resultado
do ir e vir entre as pré-compreensões do intérprete e o texto objeto da interpretação.

E. MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE

Método apresentado por Friedrich Müller na obra “Métodos de trabalho do


direito constitucional”. A concretização da norma deve ser feita por intermédio de

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vários elementos, dentre eles o metodológico (clássicos de interpretação e princípios


da interpretação da constituição), dogmáticos (doutrina e jurisprudência), teóricos
(teoria da constituição), política constitucional (ex.: reserva do possível).
Há uma relação social entre o texto e a realidade – a norma não compreende
apenas o texto, abarcando também um pedaço da realidade social, que é a parte mais
significativa (domínio normativo).

O intérprete deve considerar os elementos resultantes da

- Interpretação do texto (programa normativo);


- Investigação da realidade social (domínio normativo).

O método é concretista, mas entende que a norma não está inteiramente no


texto, sendo resultante da relação entre texto e realidade.
Muller propõe que haveria uma interação dialética entre o fim da norma e a
realidade material. Para Muller, o texto seria apenas a “ponta do iceberg”, sendo a
normatividade advinda da confluência do texto com os fatores extralinguísticos.
Tabela comparativa:

MÉTODO SÍNTESE
21
Forsthoff - Métodos tradicionais de Savigny =
HERMENÊUTICO
gramatical ou literal, sistemático, lógico,
CLÁSSICO
histórico, teleológico e comparativo.

Rudolf Smend - Integração da vida em sociedade,


CPF:- 860.542.154-18
CIENTÍFICO
fazendo prevalecer os valores sociais
ESPIRITUAL ou
consagrados (constituição positiva a
INTEGRATIVO
realidade espiritual da sociedade).

Theodor - Argumentação jurídica em torno de um


Viehweg TÓPICO - problema a ser resolvido pelos
PROBLEMÁTICO argumentos (topoi) = adequação da norma
ao problema.

Konrad Hesse - A norma é resultado da interpretação


HERMENÊUTICO - (concretização) = parte-se da norma para
CONCRETIZADOR resolver o problema (força normativa), por
meio do círculo hermenêutico.

Friedrich Müller - A norma é texto + realidade social (parte


NORMATIVO -
mais significativa). O texto é apenas a
ESTRUTURANTE
“ponta do iceberg”.

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Dica: procurem memorizar as palavras-chaves de cada conceito, para


identificar mais facilmente a assertiva correta em provas.

1.1.4. DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO

Teoria formulada por Esmein, seguindo a linha de Karl Schmitt. Aduz que,
quando do surgimento de uma nova Constituição, ocorrem dois fenômenos em
relação à Constituição anterior:

1) as normas que fazem parte da Constituição propriamente


dita (materialmente constitucionais) ficam inteiramente
revogadas;
2) as normas que são apenas leis constitucionais
(formalmente) e que tiverem o conteúdo compatível com a
nova Constituição serão recebidas por ela como normas
infraconstitucionais.

Apesar de Pontes de Miranda ter defendido essa teoria, é majoritaríssima a


sua não aceitação no ordenamento pátrio.
22
1.1.4.1. Recepção

Quando do surgimento de uma nova Constituição, as leis infraconstitucionais


anteriores, que forem materialmente (conteúdo) compatíveis, são recepcionadas
(busca-se evitar o vácuo legislativo). Já as materialmente incompatíveis não são
recepcionadas. CPF: 860.542.154-18
A incompatibilidade formal superveniente NÃO impede a recepção e ainda
faz com que a norma adquira uma nova roupagem - um novo “status” (ex.: CTN,
aprovado como LO e recepcionado como LC = ADEQUAÇÃO).

ATENÇÃO! Exceção: quando a incompatibilidade formal for relacionada à


COMPETÊNCIA dos entes federativos, a recepção não deverá ser admitida, sobretudo
quando a competência passar do menor (ex.: município) para o maior (ex.: União).

1.1.4.2. Constitucionalidade superveniente

Quando do surgimento de uma nova Constituição ou de uma Emenda


Constitucional, as leis infraconstitucionais anteriores, que eram incompatíveis com a
Constituição da época de sua criação, NÃO poderão ser constitucionalizadas:
inconstitucionalidade congênita (STF – ADI 2158 e 2189).

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Trata-se do princípio da contemporaneidade: uma lei deve ser compatível


com a Constituição vigente ao tempo da sua edição, não podendo eventual vício de
inconstitucionalidade ser sanado com a edição de uma nova Constituição ou
dispositivo constitucional.
A lei inconstitucional tem natureza de ato NULO (ex tunc) = o ato é natimorto.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), em sede de controle de
constitucionalidade, adota o princípio da contemporaneidade, segundo o qual o
parâmetro utilizado para aferir a validade da lei ou do ato normativo impugnado deve
ser a norma constitucional vigente à época em que a lei objeto de impugnação foi
editada, não sendo possível que uma nova Constituição ou mesmo emenda
constitucional convalide vícios de natureza cogente.
Por isso, o STF não tem admitido a constitucionalidade superveniente de
normas. Como exemplo, aquela Corte já declarou a inconstitucionalidade de leis que
instituíam contribuições previdenciárias sobre proventos de aposentadorias de
servidores públicos antes da Emenda Constitucional nº 41/2003, a despeito de esta
Emenda ter possibilitado tal cobrança.
Por sua vez, a inconstitucionalidade superveniente pode assumir duas
acepções distintas.
A primeira significa que a lei ou o ato normativo editado antes da Constituição
ou mesmo da promulgação de Emenda Constitucional torna-se inválido mediante a
superveniência do novo parâmetro constitucional, o que não é admitido pelo STF. Para
a Corte, as leis anteriores à Constituição devem ser analisadas sob a óptica da sua 23
recepção ou não. Caso contrariem a nova Constituição ou a Emenda que lhe altere,
serão tidas como revogadas.
Todavia, o STF admite a inconstitucionalidade superveniente de normas
originariamente válidas, mas que se tornaram inconstitucionais em virtude de
alteração na forma de interpretá-las, em razão de mudanças políticas, econômicas e
sociais. Foi o que aconteceuCPF:quando860.542.154-18
a Corte declarou a inconstitucionalidade da lei
que admitia o uso do amianto (STF, Plenário. ADI 3937/SP, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/8/2017 (Info 874).
Apenas a título de complementação, quanto ao fenômeno da recepcção,
conforme entendimento doutrinário, uma lei só pode ser recepcionada pela nova
Constituição se preencher quatro requisitos: (i) estar em vigor no momento do
advento da nova Constituição; (ii) não ter sido declarada inconstitucional durante a sua
vigência no ordenamento anterior; (iii) ter compatibilidade formal e material perante a
Constituição sob cuja regência ela foi editada (ordenamento anterior); (iv) ter
compatibilidade APENAS MATERIAL, pouco importando a compatibilidade formal, com
a nova Constituição.

1.1.5. PRINCÍPIOS INSTRUMENTAIS

Como visto, nos primórdios, os princípios eram considerados fora do direito


(situados em esfera metafísica), representando meros conselhos ao legislador,

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desprovidos de imperatividade (dimensão ético-valorativa do direito, fase


jusnaturalista).
Com o positivismo, os princípios passam a ter natureza subsidiária, sendo
manejados nas lacunas da lei (não possuem normatividade, mas função de colmatação
de lacunas).
Com o pós-positivismo ou neopositivismo, os princípios passam a ser espécie
do gênero norma, passando, inclusive, a ter hegemonia e preeminência (mandamentos
de otimização).
Classificação dos princípios:

PRINCÍPIOS

a) Onivalentes ou universais = comuns a todos os ramos do saber.

b) Plurivalentes = comuns a um grupo de ciências.

c) Monovalentes = aplicáveis a um só campo do conhecimento.

d) Setoriais ou regionais = informam dado setor em que se divida uma ciência.

Os princípios instrumentais também são conhecidos como postulados


normativos ou metanormas ou princípios interpretativos - extraídos especialmente
24
das obras de Konrad Hesse e Friedrich Müller.

PRINCÍPIOS MATERIAIS PRINCÍPIOS INSTRUMENTAIS

- Estabelecem um estado ideal de coisas - Utilizados na interpretação e na


CPF: 860.542.154-18
a ser realizado (ex.: isonomia, liberdades, aplicação de outras normas.
dignidade humana).

Robert Alexy entende que o sistema jurídico é formado por três níveis: (1)
argumentação jurídica; (2) princípios e (3) regras.

* As metanormas (postulados normativos) não estabelecem diretamente o dever de


adotar determinadas condutas (regras) nem de promover o estado ideal de coisas
(princípios), mas, sim, o modo como esse dever há de ser realizado (argumentação
jurídica).
Exemplo de metanorma: princípio da proporcionalidade. No Brasil, verifica-se tal
concepção na obra de Humberto Ávila, que tece críticas ao modelo atual de distinção
entre regras e princípios.

1.1.5.1. Princípios da hermenêutica constitucional

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A. Unidade da Constituição

A Constituição deve ser interpretada de modo a evitar conflitos, contradições


e antagonismos entre suas normas (refinamento da interpretação sistemática). Impõe
a interpretação em conjunto com as demais normas.
Segundo o princípio da unidade da Constituição, não há antinomias reais no
texto da Constituição. As antinomias são apenas aparentes, pois a Constituição é um
complexo de normas que mantêm entre si vínculos de essencial coerência.

B. Efeito integrador

Nas resoluções de problemas jurídico-constitucionais, deve ser dada primazia


às soluções que favoreçam a integração política e social, produzindo um efeito criador
e conservador da unidade constitucional.
A interpretação deve, portanto, favorecer a unidade política.

C. Concordância prática ou harmonização

Impõe a harmonização de bens jurídicos em caso de conflito entre eles. Cabe


ao intérprete coordenar e combinar os bens jurídicos em conflito, realizando a redução
25
proporcional de cada um deles, de modo a evitar o sacrifício total de uns em relação
aos outros (ex.: sigilo bancário x arrecadação tributária eficiente – STF, RE 476.361/SC).

D. Relatividade ou convivência das liberdades públicas


CPF: 860.542.154-18
Não existem direitos absolutos, pois todos encontram limites em outros
direitos ou em interesses coletivos também consagrados na Constituição (STF, MS nº
23.452/RJ).

ATENÇÃO! Alguns autores consideram absoluta a vedação à tortura e à escravização


(Bobbio).
Outros autores também consideram absolutos o direito de o brasileiro nato não ser
extraditado e o direito de não ser compulsoriamente associado.

E. Força normativa da Constituição

Na aplicação da Constituição, deve ser dada preferência às soluções


concretizadoras de suas normas, que as tornem mais eficazes e permanentes. Deve

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haver, assim, uma primazia das soluções que possibilitem a atualização das normas
constitucionais, garantindo-lhes eficácia e permanência.
Tal princípio, idealizado por Konrad Hesse, empenha-se em demonstrar que
não há de se verificar uma derrota da Constituição quando colocada em oposição aos
fatores reais de poder (opõe-se, no ponto, ao conceito sociológico de Constituição de
Lassale). Deve-se ter em vista a chamada vontade da Constituição. Assim, como
norma jurídica, a Constituição possui força normativa suficiente para, coercitivamente,
impor as suas determinações.

ATENÇÃO! Principal utilização prática - afastar interpretações divergentes, que


enfraqueçam a força normativa da Constituição.

F. Máxima efetividade

A interpretação eleita deve ser a que dá a maior efetividade possível ao


direito, para que cumpra a sua função social (STF, AgRg na Rcl 2600/SE). Trata-se de
princípio vinculado especificamente aos direitos fundamentais (implícito no art. 5º, §
1º, da CF).
NÃO CONFUNDA:
26
EFETIVIDADE EFICÁCIA VALIDADE

- Eficácia social = a norma - Eficácia jurídica = - Relação de conformidade


cumpre sua finalidade, aptidão da norma para de uma determinada
atingindo o objetivo para cumprir os efeitos que norma com aquelas que
o qual foi criada - CPF:
lhes são860.542.154-18
próprios. estabelecem o seu
realização de efeitos procedimento de
concretos. elaboração e limitam o
seu conteúdo - Lei – CF.

OBS.: Como já visto, toda norma constitucional possui eficácia, mas nem todas
possuem efetividade.

- Eficácia positiva = aptidão para ser aplicada ao caso concreto, independentemente


de outra vontade intermediadora (ex.: inviolabilidade parlamentar - CF, art. 53).
* Algumas normas constitucionais não possuem eficácia positiva imediata, pois, para
serem aplicadas no caso concreto, dependem de lei regulamentadora - são as normas
de eficácia limitada, conforme classificação de José Afonso da Silva (ex.: direito de
greve do servidor público - CF, art. 37, VII).

- Eficácia negativa = aptidão da norma para invalidar outras normas que lhe sejam

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contrárias.
* Todas as normas constitucionais possuem eficácia negativa.

G. Justeza ou conformidade funcional

Tem por finalidade impedir que os encarregados da interpretação


constitucional cheguem a um resultado que subverta ou perturbe o esquema
organizatório-funcional (competências e atribuições) estabelecido pela Constituição.
Cada Poder deve agir conforme a função que lhe foi atribuída pela
Constituição, não podendo ultrapassar seus limites – é dirigido, sobretudo, para o
intérprete maior da Constituição.

INTERPRETAÇÃO DAS LEIS EM CONFORMIDADE COM A CONSTITUIÇÃO

a) Prevalência da Constituição = entre as várias possibilidades de interpretação, deve-


se escolher aquela que não contraria o texto e o programa constitucional.

b) Conservação das normas = uma norma não deve ser declarada inconstitucional
quando puder ser interpretada em consonância com a constituição.

c) Exclusão da interpretação contra legem = não se pode interpretar a lei subvertendo 27


o seu sentido.

OBSERVAÇÃO: a técnica da interpretação conforme a Constituição será estudada no


ponto sobre controle de constitucionalidade.
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H. Princípios das razões públicas

No mundo plural atual, no ambiente público e da discussão jurídica, o debate


deve ser pautado por razões públicas, ou seja, razões aceitáveis pela ordem jurídica
objetiva, independentemente das convicções pessoais de cada um (John Rawls).

1.1.6. POSTULADOS

Postulado normativo aplicativo são normas de segundo grau (metanormas),


que estabelecem a estrutura de interpretação e a aplicação de outras normas
(Humberto Ávila). Ex.: princípio da proporcionalidade. Segundo alguns autores, a
dignidade da pessoa humana também seria um postulado normativo, em razão da sua
eficácia irradiante para a interpretação de todos os ramos do ordenamento jurídico.

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• normas de 2º grau = regulam a utilização dos princípios, não


postulados resolvendo casos concretos diretamente.

princípios e
• normas de 1º grau = buscam regular os casos concretos.
regras

• caso concreto = situação litigiosa.


casos

A. Princípio da proporcionalidade

Postulado ou máxima que fundamenta a técnica da ponderação ou


sopesamento quando do conflito entre princípios.

ATENCÃO! No Brasil, a jurisprudência e a doutrina (não raramente) tratam a


razoabilidade e a proporcionalidade como sinônimos. Tecnicamente, não são
sinônimos (já foi cobrado em prova discursiva a diferença).
A razoabilidade advém do direito norte-americano e está atrelada ao devido
processo legal substantivo. A razoabilidade, tecnicamente, implica uma razão de 28
equilíbrio do senso comum, uma relação de congruência entre o critério distintivo e a
medida discriminatória.
A proporcionalidade tem origem germânica e é utilizada na colisão de direitos
fundamentais, como técnica de ponderação.

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PRINCÍPIO
RAZOABILIDADE
INTERPRETATIVO
PROPORCIONALIDADE
TÉCNICA DE SOLUÇÃO PONDERAÇÃO DE
DE CONFLITOS INTERESSES

O princípio é implícito da Constituição Federal, extraído do devido processo


legal em seu caráter substantivo (ADI 1.158-MC) e expresso nas Leis nº 9.472/1997
(art. 179, § 1º) e nº 9.784/1999 (art. 2º).

MÁXIMAS PARCIAIS DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

a) Adequação = o meio utilizado deve ser apto para fomentar¹ o princípio


almejado.
¹ Não necessita atingir, mas apenas fomentar.

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b) Necessidade ou exigibilidade = dentre os meios aptos a fomentar o objetivo


perseguido (similarmente eficazes, não necessariamente iguais), deve-se optar
pelo menos oneroso possível ao princípio sacrificado.

c) Proporcionalidade stricto sensu = deve ser aferida a relação custo-benefício


entre as vantagens promovidas pelo meio e as desvantagens que ele provoca.

O princípio da proporcionalidade também se desdobra nas vertentes de


proibição de excesso (Übermassverbot) e proibição da proteção deficiente
(Untermassverbot) (STF, HC 104.410/RS).
Proibição do excesso: é a vedação da atividade legislativa ou administrativa
que é excessiva, que vai além do necessário para fomentar o bem da vida pretendido
e desborda em arbítrio.
Proibição de proteção insuficiente (proibição por defeito): é o contrário da
proibição do excesso. Configura-se a proteção insuficiente quando o Estado não legisla
adequadamente acerca de um determinado direito fundamental que deveria
proteger e fomentar por determinação constitucional. Exige que os órgãos estatais
adotem medidas que sejam adequadas e necessárias para proteger de forma
apropriada um determinado direito fundamental.
Alexy aborda, também, a lei material do sopesamento: quanto maior for o
grau de afetação ou de não satisfação de um dado princípio, maior deve ser o grau de
satisfação do princípio oposto, fomentado (Robert Alexy).
29

PRINCÍPIO PRINCÍPIO
AFETADO FOMENTADO
séria séria
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média média

leve leve

Exemplos:

1) afetação média e satisfação leve = inadequação;


2) afetação leve e satisfação séria = adequação - em casos de
empate do grau de afetação e o grau de satisfação, a questão é
resolvida pela “margem de atuação estrutural” conferida ao
legislador, democraticamente eleito = a lei é válida.

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2. QUESTÕES

1. Considerando-se o sistema constitucional brasileiro composto de regras e


princípios, podemos afirmar:
a) havendo omissão legislativa, não é possível conferir-se tutela específica na via
jurisdicional, operando o princípio apenas um vetor hermenêutico.
b) os princípios não prescrevem condutas, mas veiculam opções axiológicas e, embora
não possuam eficácia positiva concreta, operam eficácia negativa, impedindo que se
legisle contra seu conteúdo.
c) por possuírem os princípios eficácia positiva, podem conferir direito subjetivo ante a
inércia do Estado-Legislador e do Estado-Administração e, portanto, conferir a tutela
específica na via jurisdicional.
d) considerando-se que as regras operam comandos objetivos e prescritivos, sua
eficácia será plena, enquanto os princípios reclamarão uma atividade positiva do
legislador ou, na ausência dela, ao menos a atividade regulamentadora do Estado-
Administração, sob pena de diluição da normatividade do direito.

2. Leia o texto a seguir. “(…) arranca da ideia de que a leitura de um texto normativo
se inicia pela pré-compreensão do seu sentido através do intérprete. A interpretação
da constituição também não foge a esse processo: é uma compreensão de sentido,
um preenchimento de sentido juridicamente criador, em que o intérprete efetua 30
uma atividade prático normativa, concretizando a norma a partir de uma situação
histórica concreta. No fundo esse método vem realçar e iluminar vários pressupostos
da atividade interpretativa: (1) os pressupostos subjetivos, dado que o intérprete
desempenha um papel criador (pré-compreensão) na tarefa de obtenção de sentido
do texto constitucional: (2) os pressupostos objetivos, isto é, o contexto, atuando o
intérprete como operador de mediações
CPF: entre o texto e a situação a que se aplica:
860.542.154-18
(3) relação entre o texto e o contexto com a mediação criadora do intérprete,
transformando a interpretação em ‘movimento de ir e vir’ (círculo hermenêutico).
(…) se orienta não por um pensamento axiomático mas para um pensamento
problematicamente orientado”. Da leitura do texto do constitucionalista J.J. Gomes
Canotilho, conclui-se que o autor se refere a que método de interpretação
constitucional?
a) Método tópico-problemático-concretizador.
b) Método científico-espiritual.
c) Método tópico-problemático.
d) Método hermenêutico-concretizador.

3. Acerca da hermenêutica constitucional, é possível afirmar que para determinado


método de interpretação, a realidade da norma e os dispositivos constitucionais
situam-se tão próximos que o caso concreto é regulamentado quando se dá a
implementação fática do comando, ocasião, por exemplo, em que o juiz aplica a lei

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ao caso. A normatividade, a que se refere o método, não se esgota no texto, como se


afirma tradicionalmente, mas vai se exaurir nas situações concretas e até no direito
consuetudinário, considerando também os textos doutrinários, já que o texto legal
seria apenas uma das fontes iniciais de trabalho. Para este método não há diferença
entre interpretação e aplicação. A interpretação não se esgota na delimitação do
significado e do alcance da norma, mas inclui, também, sua aplicação. Esse método é
denominado:
a) hermenêutico-concretizador.
b) científico-espiritual.
c) hermenêutico-clássico.
d) tópico-problemático.
e) normativo-estruturante.

4. No estudo da Hermenêutica Constitucional se destaca a importância do


constitucionalismo contemporâneo de uma Constituição concreta e historicamente
situada com a função de conjunto de valores fundamentais da sociedade e fronteira
entre antagonismos jurídicos-políticos. A Constituição não está desvinculada da
realidade histórica concreta do seu tempo. Todavia, ela não está condicionada,
simplesmente, por essa realidade. Em caso de eventual conflito, a Constituição não
deve ser considerada, necessariamente, a parte mais fraca. O texto ressalta
corretamente o seguinte princípio: 31
a) hermenêutica clássica.
b) nova retórica constitucional.
c) senso comum que norteia a eficácia constitucional.
d) tópico-problemático constitucional.
CPF:
e) força normativa da Constituição. 860.542.154-18

5. A respeito dos métodos de aplicação e interpretação da Constituição, assinale a


afirmativa INCORRETA.
a) A ponderação consiste na técnica jurídica de solução de conflitos normativos que
envolvem valores ou opções políticas em tensão, insuperáveis pelas formas
hermenêuticas tradicionais.
b) A interpretação conforme a Constituição é uma técnica aplicável quando, entre
interpretações plausíveis e alternativas de certo enunciado normativo, exista alguma
que permita compatibilizá-la com a Constituição.
c) O princípio da concordância prática consiste numa recomendação para que o
aplicador das normas constitucionais, em se deparando com situações de concorrência
entre bens constitucionalmente protegidos, adote a solução que otimize a realização
de todos eles, mas ao mesmo tempo não acarrete a negação de nenhum.
d) A aplicação do princípio da proporcionalidade esgota-se em duas etapas: a primeira,
denominada “necessidade ou exigibilidade”, que impõe a verificação da inexistência

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do meio menos gravoso para o atingimento dos fins visados pela norma jurídica, e a
segunda, chamada “proporcionalidade em sentido estrito”, que é a ponderação entre
o ônus imposto e o benefício trazido, para constatar se é justificável a interferência na
esfera dos direitos dos cidadãos.
e) O princípio da eficácia integradora orienta o intérprete a dar preferência aos
critérios e pontos de vista que favoreçam a integração social e a unidade política, ao
fundamento de que toda Constituição necessita produzir e manter a coesão
sociopolítico, pré-requisito de viabilidade de qualquer sistema jurídico.

6. Analise as afirmativas a seguir.


I. As normas que definem os direitos e garantias individuais são consideradas
programáticas.
II. As normas constitucionais chamadas de “eficácia limitada”, de acordo com a
doutrina brasileira, apresentam aplicabilidade indireta, mediata e reduzida.
III. Segundo a doutrina e jurisprudência brasileira, o direito de greve, reconhecido ao
servidor público pela Constituição Federal brasileira de 1988, é de eficácia plena.
IV. As normas infraconstitucionais anteriores à promulgação de uma nova constituição,
quando com esta incompatíveis ou não recepcionadas, são tidas como normas
inconstitucionais.
Está correto apenas o contido em:
a) II.
32
b) IV.
c) I e III.
d) II, III e IV.

CPF: 860.542.154-18
7. Nossa Constituição, como a maioria das cartas políticas contemporâneas, contém
regras de diversos tipos, funções e naturezas, por postularem finalidades diferentes,
mas coordenadas e inter-relacionadas entre si, formando um sistema de normas que
se condicionam reciprocamente. Algumas delas são plenamente eficazes e de
aplicabilidade imediata; outras são de eficácia reduzida, dependem de legislação que
lhes integre o sentido e determine sua incidência; não são de aplicabilidade
imediata, mas são aplicáveis até onde possam. José Afonso da Silva. Aplicabilidade
das normas constitucionais. 6.ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 47 (com
adaptações).
Tendo o fragmento de texto de José Afonso da Silva como referência inicial, assinale
a opção correta com relação à eficácia das normas constitucionais e aos princípios e
à interpretação da CF.
a) Segundo o STF, o desmembramento de município previsto na CF é norma de eficácia
contida.
b) Para o STF, a norma que estabelece o direito à aposentadoria especial dos
servidores públicos tem eficácia limitada.

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c) De acordo com o princípio da unidade da CF, nenhuma lei ou ato normativo,


nacional ou internacional, pode subsistir se for incompatível com o texto
constitucional.
d) A norma que prevê o direito dos necessitados à plena orientação jurídica e à integral
assistência judiciária não autoriza que o Poder Judiciário determine aos estados a
criação de órgãos da defensoria pública.

8. A respeito de métodos de interpretação constitucional e do critério da


interpretação conforme a constituição, assinale a opção correta.
a) A busca das pré-compreensões do intérprete para definir o sentido da norma
caracteriza a metódica normativo-estruturante.
b) O método de interpretação científico-espiritual é aquele que orienta o intérprete a
identificar tópicos para a discussão dos problemas constitucionais.
c) A interpretação conforme a constituição não pode ser aplicada em decisões sobre
constitucionalidade de emendas constitucionais.
d) A interpretação conforme a constituição e a declaração parcial de
inconstitucionalidade sem redução de texto são exemplos de situações constitucionais
imperfeitas.
e) A interpretação conforme a constituição é admitida ainda que o sentido da norma
seja unívoco, pois cabe ao STF fazer incidir o conteúdo normativo adequado ao texto
constitucional. 33
9. A respeito de hermenêutica constitucional e de métodos empregados na prática
dessa hermenêutica, assinale a opção correta:
a) A noção de filtragem constitucional da hermenêutica jurídica contemporânea torna
dispensável a distinção entre regras e princípios.
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b) De acordo com o método tópico, o texto constitucional é ponto de partida da
atividade do intérprete, mas nunca limitador da interpretação.
c) Segundo a metódica jurídica normativo-estruturante, a aplicação de uma norma
constitucional deve ser condicionada às estruturas sociais que delimitem o seu alcance
normativo.
d) O princípio da unidade da Constituição orienta o intérprete a conferir maior peso
aos critérios que beneficiem a integração política e social.
e) Os princípios são mandamentos de otimização, como critério hermenêutico, e
implicam o ideal regulativo que deve ser buscado pelas diversas respostas
constitucionais possíveis.

10. No tocante ao neoconstitucionalismo, ao conceito de Constituição e às normas


constitucionais, assinale a opção correta.
a) O neoconstitucionalismo está associado a diversos fenômenos reciprocamente
implicados, seja no campo empírico, seja no plano da dogmática jurídica, como

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reconhecimento da força normativa dos princípios jurídicos e da separação entre o


direito e a moral.
b) A Constituição Federal de 1988 é considerada exemplo típico de constituição
compromissória, uma vez que, na constituinte, houve a atuação das mais diversas
forças políticas, inspiradas em diferentes ideologias.
c) Nas constituições flexíveis, o conflito entre a norma constitucional anterior e a lei
superveniente resolve-se não pelo critério hierárquico, mas pelo critério de
especialidade.
d) Prevalece a adoção da teoria da dupla revisão no sistema constitucional brasileiro.
e) No sentido sociológico, a constituição é entendida como a decisão política
fundamental do titular do poder constituinte.

34

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3. GABARITO COMENTADO

1. C
Com o advento do neoconstitucionalismo, os princípios ganham força normativa e
podem ser fonte de direito subjetivo tanto quanto as regras. Nesse sentido, sabendo-
se que o direito brasileiro confere força normativa aos princípios, a única opção
correta seria a letra “c”, haja vista que as alternativas “a” e “b” afastam a força
normativa dos princípios. A respeito da letra “d”, como visto, as normas
constitucionais, que incluem regras e princípios, não são todas de eficácia plena,
havendo também normas de eficácia contida e limitada, conforme teoria de José
Afonso da Silva, o que torna a assertiva incorreta.

2. D
MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR: Método apresentado por Konrad Hesse
na obra “A força normativa da constituição”. Parte da ideia de que interpretação e
aplicação consistem em processo unitário (concretista) - possui três elementos básicos:
(1) a norma a ser concretizada;
(2) o problema a ser resolvido;
(3) a compreensão prévia do intérprete. A norma é resultado da interpretação (papel
ativo do intérprete) = concretização da norma. 35
TÓPICO-PROBLEMÁTICO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR

- Primazia do problema - parte-se do - Primazia da norma - parte-se da norma


problema para verificar a aplicação da para resolver o problema.
norma. CPF: 860.542.154-18

Elementos do Método Hermenêutico-Concretizador

a) Pressupostos subjetivos = o intérprete possui uma pré-compreensão da


constituição, exercendo um papel criador ao descobrir o sentido da norma.

b) Pressupostos objetivos = o intérprete atua como um mediador entre o texto e a


situação na qual ele se aplica (contexto).

c) Círculo hermenêutico = a interpretação é transformada em movimento de ir e vir,


concretizando a norma como resultante da interpretação.

A questão pode ser respondida pelos três elementos acima: pressupostos subjetivos,
pressupostos objetivos e círculo hermenêutico.

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3. E
MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE: Método apresentado por Friedrich Müller na
obra “Métodos de trabalho do direito constitucional”. A concretização da norma deve
ser feita por intermédio de vários elementos, dentre eles o metodológico (clássicos de
interpretação e princípios da interpretação da constituição), dogmáticos (doutrina e
jurisprudência), teóricos (teoria da constituição), política constitucional (ex.: reserva do
possível) = há uma relação social entre o texto e a realidade – a norma não
compreende apenas o texto, abarcando também um pedaço da realidade social, que é
a parte mais significativa (domínio normativo).

O intérprete deve considerar os elementos resultantes da

- Interpretação do texto (programa normativo);


- Investigação da realidade social (domínio normativo).

O método é concretista, mas entende que a norma não está inteiramente no texto,
sendo resultante da relação entre texto e realidade.
Atenção para o trecho da questão: “A normatividade, a que se refere o método, não se
esgota no texto (...)”. Texto + realidade: esse é o segredo do método.

36
4. E
FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO: Na aplicação da Constituição, deve ser dada
preferência às soluções concretizadoras de suas normas, que as tornem mais eficazes e
permanentes.
Tal princípio, idealizado por Konrad Hesse, empenha-se em demonstrar que não há de
se verificar uma derrota da CPF: 860.542.154-18
Constituição quando colocada em oposição aos fatores
reais de poder. Deve-se ter em vista a chamada vontade da Constituição. Assim, como
norma jurídica, a Constituição possui força normativa suficiente para, coercitivamente,
impor as suas determinações.

5. D
Item D - Na verdade, são três as etapas, como estudado: necessidade, adequação e
proporcionalidade em sentido estrito.

6. A
Item I – Possuem eficácia plena (aplicabilidade direta, imediata e integral).
Item II – Correto.
Item III – Em verdade, tal direito é de eficácia limitada (depende de lei).
Item IV – Não há que se falar neste caso em inconstitucionalidade. Aqui, fala-se em
recepção ou não-recepção.

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Relembrando:
RECEPÇÃO
Quando do surgimento de uma nova Constituição, as leis infraconstitucionais
anteriores que forem materialmente (conteúdo) compatíveis são recepcionadas
(busca-se evitar o vácuo legislativo). Já as materialmente incompatíveis não são
recepcionadas (não recepção = revogação).
A incompatibilidade formal superveniente NÃO impede a recepção e ainda faz com
que a norma adquira uma nova roupagem - um novo “status” (ex.: CTN, aprovado
como LO e recepcionado como LC = ADEQUAÇÃO).

Exceção! Quando a incompatibilidade formal for relacionada à COMPETÊNCIA dos


entes federativos, a recepção não deverá ser admitida, sobretudo quando a
competência passar do menor (ex.: município) para o maior (ex.: União).

7. B
ALTERNATIVA A: INCORRETA
De acordo com o entendimento do STF: “Norma constitucional de eficácia limitada,
porque dependente de complementação infraconstitucional, tem, não obstante, em
linha de princípio e sempre que possível, a imediata eficácia negativa de revogar as
regras preexistentes que sejam contrárias. Município: criação: EC 15/1996: 37
plausibilidade da arguição de inconstitucionalidade da criação de Municípios desde a
sua promulgação e até que lei complementar venha a implementar sua eficácia plena,
sem prejuízo, no entanto, da imediata revogação do sistema anterior. É certo que o
novo processo de desmembramento de Municípios, conforme a EC 15/1996, ficou com
a sua implementação sujeita à disciplina por lei complementar, pelo menos no que diz
com o Estudo de Viabilidade CPF:
Municipal, que passou a reclamar, e com a forma de sua
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divulgação anterior ao plebiscito. [ADI 2.381 MC, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 20-6-
2001, P, DJ de 14-12-2001.]”
ALTERNATIVA B: CORRETA
A aposentadoria especial do servidor público está prevista em norma de eficácia
limitada (art. 40, § 4º, da CF). Nesse sentido, é o entendimento do STF: “A Corte firmou
entendimento no sentido de que a competência concorrente para legislar sobre
previdência dos servidores públicos não afasta a necessidade da edição de norma
regulamentadora de caráter nacional, cuja competência é da União”. (MI 1898 AgR,
Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 16/05/2012,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-107 DIVULG 31-05-2012 PUBLIC 01-06-2012).
ALTERNATIVA C: INCORRETA
O princípio que legitima a afirmativa é o princípio da supremacia da constituição, e não
o princípio da unidade.
ALTERNATIVA D: INCORRETA

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Por diversas vezes, o STF já se posicionou em favor da possibilidade de controle


jurisdicional de políticas públicas. O caso em tela foi objeto do seguinte julgado:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS
COMO RECURSO DE AGRAVO – DEFENSORIA PÚBLICA – IMPLANTAÇÃO – OMISSÃO
ESTATAL QUE COMPROMETE E FRUSTRA DIREITOS FUNDAMENTAIS DE PESSOAS
NECESSITADAS – SITUAÇÃO CONSTITUCIONALMENTE INTOLERÁVEL – O
RECONHECIMENTO, EM FAVOR DE POPULAÇÕES CARENTES E DESASSISTIDAS, POSTAS
À MARGEM DO SISTEMA JURÍDICO, DO “DIREITO A TER DIREITOS” COMO
PRESSUPOSTO DE ACESSO AOS DEMAIS DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS –
INTERVENÇÃO JURISDICIONAL CONCRETIZADORA DE PROGRAMA CONSTITUCIONAL
DESTINADO A VIABILIZAR O ACESSO DOS NECESSITADOS À ORIENTAÇÃO JURÍDICA
INTEGRAL E À ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITAS (CF, ART. 5º, INCISO LXXIV, E ART.
134) – LEGITIMIDADE DESSA ATUAÇÃO DOS JUÍZES E TRIBUNAIS – O PAPEL DO PODER
JUDICIÁRIO NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS INSTITUÍDAS PELA
CONSTITUIÇÃO E NÃO EFETIVADAS PELO PODER PÚBLICO – A FÓRMULA DA RESERVA
DO POSSÍVEL NA PERSPECTIVA DA TEORIA DOS CUSTOS DOS DIREITOS:
IMPOSSIBILIDADE DE SUA INVOCAÇÃO PARA LEGITIMAR O INJUSTO
INADIMPLEMENTO DE DEVERES ESTATAIS DE PRESTAÇÃO CONSTITUCIONALMENTE
IMPOSTOS AO ESTADO – A TEORIA DA “RESTRIÇÃO DAS RESTRIÇÕES” (OU DA
“LIMITAÇÃO DAS LIMITAÇÕES”) – CONTROLE JURISDICIONAL DE LEGITIMIDADE DA
OMISSÃO DO ESTADO: ATIVIDADE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIAL QUE SE JUSTIFICA
PELA NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DE CERTOS PARÂMETROS CONSTITUCIONAIS
(PROIBIÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL, PROTEÇÃO AO MÍNIMO EXISTENCIAL,
VEDAÇÃO DA PROTEÇÃO INSUFICIENTE E PROIBIÇÃO DE EXCESSO) – DOUTRINA –
38
PRECEDENTES – A FUNÇÃO CONSTITUCIONAL DA DEFENSORIA PÚBLICA E A
ESSENCIALIDADE DESSA INSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – “THEMA DECIDENDUM” QUE SE
RESTRINGE AO PLEITO DEDUZIDO NA INICIAL, CUJO OBJETO CONSISTE, UNICAMENTE,
na “criação, implantação e estruturação da Defensoria Pública da Comarca de
Apucarana” – RECURSO DE AGRAVO PROVIDO, EM PARTE. - Assiste a toda e qualquer
pessoa – especialmente àquelasCPF:que nada têm e que de tudo necessitam – uma
860.542.154-18
prerrogativa básica essencial à viabilização dos demais direitos e liberdades
fundamentais, consistente no reconhecimento de que toda pessoa tem direito a ter
direitos, o que põe em evidência a significativa importância jurídico-institucional e
político-social da Defensoria Pública. - O descumprimento, pelo Poder Público, do
dever que lhe impõe o art. 134 da Constituição da República traduz grave omissão que
frustra, injustamente, o direito dos necessitados à plena orientação jurídica e à integral
assistência judiciária e que culmina, em razão desse inconstitucional inadimplemento,
por transformar os direitos e as liberdades fundamentais em proclamações inúteis,
convertendo-os em expectativas vãs. - É que de nada valerão os direitos e de nenhum
significado revestir-se-ão as liberdades, se os fundamentos em que eles se apoiam –
além de desrespeitados pelo Poder Público ou transgredidos por particulares –
também deixarem de contar com o suporte e o apoio de um aparato institucional,
como aquele proporcionado pela Defensoria Pública, cuja função precípua, por efeito
de sua própria vocação constitucional (CF, art. 134), consiste em dar efetividade e
expressão concreta, inclusive mediante acesso do lesado à jurisdição do Estado, a
esses mesmos direitos, quando titularizados por pessoas necessitadas, que são as reais
destinatárias tanto da norma inscrita no art. 5º, inciso LXXIV, quanto do preceito

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consubstanciado no art. 134, ambos da Constituição da República. - O desrespeito à


Constituição tanto pode ocorrer mediante ação estatal quanto mediante inércia
governamental. A situação de inconstitucionalidade pode derivar de um
comportamento ativo do Poder Público, que age ou edita normas em desacordo com o
que dispõe a Constituição, ofendendo-lhe, assim, os preceitos e os princípios que nela
se acham consignados. Essa conduta estatal, que importa em um “facere” (atuação
positiva), gera a inconstitucionalidade por ação. - Se o Estado deixar de adotar as
medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da Constituição, em ordem a
torná-los efetivos, operantes e exequíveis, abstendo-se, em consequência, de cumprir
o dever de prestação que a Constituição lhe impôs, incidirá em violação negativa do
texto constitucional. Desse “non facere” ou “non praestare” resultará a
inconstitucionalidade por omissão, que pode ser total, quando é nenhuma a
providência adotada, ou parcial, quando é insuficiente a medida efetivada pelo Poder
Público. Precedentes (ADI 1.458-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). Doutrina. - É
lícito ao Poder Judiciário, em face do princípio da supremacia da Constituição, adotar,
em sede jurisdicional, medidas destinadas a tornar efetiva a implementação de
políticas públicas, se e quando se registrar situação configuradora de inescusável
omissão estatal, que se qualifica como comportamento revestido da maior gravidade
político-jurídica, eis que, mediante inércia, o Poder Público também desrespeita a
Constituição, também ofende direitos que nela se fundam e também impede, por
ausência (ou insuficiência) de medidas concretizadoras, a própria aplicabilidade dos
postulados e princípios da Lei Fundamental. Precedentes. Doutrina. - A função
constitucional da Defensoria Pública e a essencialidade dessa Instituição da República:
a transgressão da ordem constitucional – porque consumada mediante inércia
39
(violação negativa) derivada da inexecução de programa constitucional destinado a
viabilizar o acesso dos necessitados à orientação jurídica integral e à assistência
judiciária gratuitas (CF, art. 5º, LXXIV, e art. 134) – autoriza o controle jurisdicional de
legitimidade da omissão do Estado e permite aos juízes e Tribunais que determinem a
implementação, pelo Estado, de políticas públicas previstas na própria Constituição da
República, sem que isso configure
CPF:ofensa ao postulado da divisão funcional do Poder.
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Precedentes: RTJ 162/877-879 – RTJ 164/158-161 – RTJ 174/687 – RTJ 183/818-819 –
RTJ 185/794-796, v.g.. Doutrina. (AI 598212 ED, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,
Segunda Turma, julgado em 25/03/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-077 DIVULG 23-
04-2014 PUBLIC 24-04-2014)

8. D
(A) INCORRETA. “A Metódica jurídica normativo-estruturante trabalha com a
concepção de que a norma jurídica não se identifica com seu texto (expresso), pois ela
é o resultado de um processo de concretização. Portanto, o texto da norma não possui
normatividade, mas sim, apenas validade. (...) Metaforicamente, o texto de uma
norma deve ser visto apenas como a ‘ponta do iceberg’” (Bernardo Gonçalves
Fernandes, Curso de direito constitucional, 7ª ed, Juspodivm, 2015, p. 191). Em
verdade, o conceito trazido no item mais se aproxima do método desenvolvido por
Gadamer, e não o normativo-estruturante, desenvolvido por Muller.
(B) INCORRETA. Trata-se do método tópico-problemático. O método de interpretação
científico-espiritual atesta que a Constituição deve ter em conta as bases de valoração

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(ou ordens de valores) subjacentes ao texto constitucional. (Bernardo Gonçalves


Fernandes, Curso de direito constitucional, 7ª ed, Juspodivm, 2015, p. 191).
(C) INCORRETA. Não há óbice a que se utilize referida técnica de interpretação em
decisões que reconheçam a constitucionalidade de emendas constitucionais, conforme
doutrina majoritária.
(D) CORRETA. Trata-se, para a doutrina majoritária, de exemplos de situação
constitucional imperfeita, pois há uma atenuação de declaração da nulidade, haja vista
que preserva uma interpretação possível que se mostra compatível com o texto
constitucional. É dizer, pelo fato de não ter sido declarada a inconstitucionalidade da
norma como um todo – o que deveria acontecer - tem-se uma situação constitucional
imperfeita. Obs.: tal posicionamento foi considerado correto na prova objetiva do
TJ/CE, pela mesma banca CESPE.
(E) INCORRETA. Necessário para utilização da técnica que a norma seja plurívoca.

9. E
(A) INCORRETA. Filtragem constitucional: passar a lei no filtro da Constituição para
extrair dela o seu sentido mais correto. Não tem nada a ver com princípios x regras e
não enseja o efeito indicado.
(B) INCORRETA. Método apresentado por Theodor Viehweg na obra “Tópica e
jurisprudência: uma contribuição à investigação dos fundamentos jurídico-científicos”.
Baseia-se em “topos” (“topoi”), que são esquemas de pensamento, formas de 40
raciocínio, sistemas de argumentação, lugares comuns (podem ser extraídos da
jurisprudência, da doutrina, do senso-comum) – há uma argumentação jurídica em
torno de um problema a ser resolvido, com opiniões favoráveis e contrárias,
prevalecendo a que for mais convincente = adequação da norma ao problema (parte-
se dele, não do texto).
(C) INCORRETA. Método apresentado por Friedrich Müller na obra “Métodos de
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trabalho do direito constitucional”. A concretização da norma deve ser feita por
intermédio de vários elementos, dentre eles o metodológico (clássicos de
interpretação e princípios da interpretação da constituição), dogmáticos (doutrina e
jurisprudência), teóricos (teoria da constituição), política constitucional (ex: reserva do
possível) = há uma relação social entre o texto e a realidade – a norma não
compreende apenas o texto, abarcando também um pedaço da realidade social, parte
mais significativa (domínio normativo).
(D) INCORRETA. O princípio da unidade da Constituição impõe que a Constituição deve
ser interpretada de modo a evitar conflitos, contradições e antagonismos entre suas
normas (refinamento da interpretação sistemática) = interpretação em conjunto com
as demais normas. Ele, justamente, afasta a tese da hierarquia das normas
constitucionais (Otto Bachoff). O STF já considerou que as normas constitucionais
originárias estão todas no mesmo patamar, devendo ser conciliadas (ADI 4097).
(E) CORRETA. Os princípios, na teoria de Robert Alexy, são mandados de otimização,
aplicados em vários graus, conforme a possibilidade fática e jurídica (colisão com
outros princípios). Alexy, seguindo a teoria da argumentação de Chaïm Perelman,
afasta-se da teoria da correspondência de Aristóteles. Seu critério da verdade, então,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.
PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18

não é a correspondência com a realidade, mas o fruto da construção discursiva – a


verdade não está no mundo, é uma produção cultural humana subordinada à
refutabilidade (falseabilidade) e que, por ser histórica, pode ser negada e substituída
por um novo argumento racional que lhe sirva de fundamento. Justamente por não se
basear em conceitos absolutos, mas em noções de probabilidade e verossimilhança
(melhor tese possível), diferentemente de Dworkin, Alexy refuta a possibilidade de
uma única resposta correta a um caso controverso (hard case) – haveria uma
multiplicidade de opções (respostas constitucionais possíveis), devendo a escolha ser
pautada segundo critérios de correção do discurso (decisão aproximadamente
correta).

10. E
(A) INCORRETA.
A assertiva se equivoca ao dizer que existe separação entre o direito e a moral. O
neoconstitucionalismo é uma nova forma de se interpretar o Direito, que aproximado
da Moral, passa a contemplar juízos de valor com a finalidade de preservar, garantir e
promover os direitos fundamentais, que por estarem prescritos em regras ou
princípios constitucionais faz com que o Direito Constitucional se aloque no centro do
sistema jurídico irradiando sua forma normativa.
(B) CORRETA.
Constituições pluralistas ou compromissórias são aquelas que possuem normas
inspiradas em ideologias diversas. Geralmente resultam de um compromisso entre os
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diversos grupos participantes do momento constituinte.
(C) INCORRETA.
A assertiva se equivoca ao dizer que nas constituições flexíveis, o conflito entre a
norma constitucional anterior e a lei superveniente resolve-se não pelo critério
hierárquico. Flexíveis são aquelas Constituições que não possuem um processo
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legislativo de alteração mais dificultoso do que o processo legislativo de alteração das
normas infraconstitucionais. A dificuldade em alterar a Constituição é a mesma
encontrada para alterar uma lei que não é constitucional.
(D) INCORRETA.
O Brasil não adotou a teoria da dupla revisão, sendo inclusive entendido como uma
limitação implícita ao poder de reforma constitucional.
(E) INCORRETA.
No sentido sociológico, a Constituição, segundo a conceituação de Lassalle, seria a
somatória dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade.

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