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PLAQUETAS

As plaquetas são fragmentos celulares anucleados descartados na circulação sanguínea por


megacariócitos medulares. Elas têm um papel crítico na hemostasia normal pela formação de um tampão
hemostático, que sela os defeitos vasculares, e pela provisão de uma superfície que recruta e concentra
os fatores de coagulação ativados.
A função plaquetária depende de vários receptores de glicoproteína da família da integrina, um
citoesqueleto contrátil, e dois tipos de grânulos citoplasmáticos:
• Grânulos α que expressam a molécula de adesão, selectina P, em suas membranas (Capítulo 2) e
contêm fibrinogênio, fibronectina, fatores V e VIII, fator 4 plaquetário (uma quimiocina ligante de heparina),
fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e fator β de transformação de crescimento (TGF-β).
•Corpos densos (grânulos δ), que contêm adenina nucleotídeos (ADP e ATP), cálcio ionizado, histamina,
serotonina e epinefrina.
Após a lesão vascular, as plaquetas encontram constituintes da MEC (o colágeno é o mais importante) e
glicoproteínas adesivas como o fvW. Isso desencadeia uma série de eventos que levam à:
(1)adesão plaquetária, (2) ativação plaquetária e (3) agregação plaquetárira (Fig. 3-5, B).
Adesão Plaquetária
A adesão plaquetária inicia a formação de coágulo e depende do fvW e da glicoproteína plaquetária Gp1b.
Sob estresse de cisalhamento (p. ex., no fluxo sanguíneo), o fvW sofre alteração de sua conformação,
assumindo uma forma estendida que permite sua ligação simultânea ao colágeno na MEC e à Gp1b
plaquetária (Fig. 3-7). A importância dessa interação adesiva é ressaltada pelas deficiências genéticas do
fvW e da Gp1b, resultando ambos em desordens hemorrágicas — doença de von Willebrand (Capítulo 11)
e doença de Bernard-Soulier (uma condição rara), respectivamente.
Ativação Plaquetária
A adesão plaquetária leva a uma irreversível alteração de forma e secreção (reação de liberação) de
ambos os tipos de grânulos — um processo denominado ativação plaquetária. O cálcio e o ADP liberados
dos grânulos δ são especialmente importantes em eventos subsequentes visto que o cálcio é exigido por
vários fatores de coagulação e o ADP é um potente ativador de plaquetas em repouso. As plaquetas
ativadas também sintetizam tromboxano A2 (TxA 2) (Capítulo 2), uma prostaglandina que ativa plaquetas
adicionais próximas, além de ter papel importante na agregação plaquetária (descrita adiante).
Durante a ativação, as plaquetas sofrem drástica alteração na forma, passando de discos lisos para
esferas com numerosas extensões longas e espiculadas, assim como alterações mais sutis na
constituição de suas membranas plasmáticas. As alterações de forma aumentam a subsequente
agregação e também a área de superfície disponível para interação com os fatores de coagulação.
As sutis alterações da membrana incluem maior expressão de superfície dos fosfolipídeos com carga
negativa, os quais fornecem locais de ligação, tanto para o cálcio como para os fatores de coagulação, e
modificação de conformação da plaqueta GpIIb/IIIa que lhe permite ligar-se ao fibrinogênio.
Agregação Plaquetária
A agregação plaquetária segue-se à adesão e ativação plaquetária, e é estimulada por alguns dos
mesmos fatores que induzem a ativação plaquetária, como o TxA2. A agregação é promovida pelas
interações de ligação entre o fibrinogênio e os receptores GpIIb/IIIa nas plaquetas adjacentes (Fig. 3-7). A
importância dessa interação é ressaltada por uma rara deficiência herdada de GpIIb/IIIa (trombastenia de
Glanzmann), que está associada a sangramento e incapacidade de agregação das plaquetas. O
reconhecimento do papel central dos receptores GpIIb/IIIa na agregação plaquetária estimulou o
desenvolvimento de agentes antitrombóticos que inibem a função de GpIIb/IIIa.
A concomitante ativação da cascata de coagulação gera trombina que estabiliza o tampão plaquetário por
meio de dois mecanismos:
•A trombina ativa um receptor de superfície plaquetária (receptor ativado por protease [PAR]), que em
conjunto com ADP e TxA2 aumenta mais agregação plaquetária. Segue-se a contração plaquetária,
criando uma massa irreversivelmente fundida de plaquetas que constitui o tampão hemostático secundário
definitivo.
•A trombina converte fibrinogênio em fibrina (discutida brevemente) na circunvizinhança do tampão,
cimentando o tampão plaquetário em posição.
Hemácias e leucócitos também são encontrados nos tampões hemostáticos. Os leucócitos aderem às
plaquetas por meio de selectina P e ao endotélio por meio de várias moléculas de adesão (Capítulo 2);
eles contribuem para a resposta inflamatória que acompanha a trombose. A trombina também promove
inflamação estimulando a adesão de neutrófilo e monócito (descrito posteriormente) e gerando produtos
de divisão da fibrina quimiotáticos durante clivagem do fibrinogênio.
Interações Plaquetárias-Endoteliais
A interação de plaquetas e endotélio causa profundo impacto na formação dos coágulos. Por exemplo, a
prostaglandina PGI2 (sintetizada pelo endotélio normal) é um vasodilatador e inibe a agregação
plaquetária, enquanto TxA2 (sintetizado por plaquetas ativadas, conforme discutido anteriormente) é um
potente vasoconstritor. (promove agregação)
O equilíbrio entre os efeitos oponentes de PGI2 e TxA2 varia: em vasos normais, os efeitos da PGI2
dominam e a agregação plaquetária é impedida, enquanto a lesão endotelial diminui a produção de PGI2 e
promove a agregação plaquetária e a produção de TxA2.
A utilidade clínica da aspirina (um inibidor de cicloxigenase irreversível) na redução do risco de trombose
coronariana está em sua capacidade de bloquear permanentemente a produção de TxA2 pelas plaquetas
que não têm capacidade para a síntese de proteína. Embora a produção de PGI2 endotelial também seja
inibida pela aspirina, as células endoteliais podem ressintetizar a ciclogenase, superando assim o
bloqueio. De forma similar à PGI2, o óxido nítrico derivado do endotélio também age como vasodilatador e
inibidor da agregação plaquetária (Fig. 3-6).
RESUMO - Adesão, Ativação e Agregação Plaquetárias
• A lesão endotelial expõe a MEC da membrana basal subjacente; as plaquetas aderem à MEC,
principalmente, por ligação dos receptores de GpIb plaquetária ao fvW [presente na MEC subendotelial].
• A adesão leva à ativação plaquetária, um evento associado à secreção dos conteúdos de grânulos
plaquetários, incluindo cálcio (um cofator para as várias proteínas de coagulação) e ADP (um mediador de
mais ativação plaquetária); alterações drásticas de forma e composição da membrana; bem como ativação
dos receptores GpIIb/IIIa.
• Os receptores GpIIb/IIIa nas plaquetas ativadas formam ligações cruzadas em ponte com o fibrinogênio,
levando à agregação plaquetária.
• A concomitante ativação de trombina promove a deposição de fibrina, cimentando o tampão plaquetário
em posição.

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