Você está na página 1de 38

Universidade Zambeze

Faculdade de Direito
Curso de Direito
Disciplina de Práticas Jurídicas Forenses

Moiseis Guiter Muchacha

Responsabilidade Civil pelo Erro Médico no Ordenamento Jurídico


Moçambicano: Estudo no Hospital Central da Beira.

Beira

2023
Universidade Zambeze
Faculdade de Direito
Curso de Direito

Moiseis Guiter Muchacha

Responsabilidade Civil pelo Erro Médico no Ordenamento Jurídico


Moçambicano: Um estudo no Hospital Central da Beira.

Relactório Cientifico apresentado à Faculdade


de Direito, como requisito parcial para a
obtenção do grau académico de Licenciatura em
Direito.

O supervisor:
Dra. Pedro Tamele
Índice

I. INTRODUÇÃO.........................................................................................................5

1.1. Delimitação da área do estudo................................................................................6

1.2. Justificativa.............................................................................................................6

1.3. Problematização.....................................................................................................7

1.4. Objectivos...............................................................................................................8

1.4.1. Geral....................................................................................................................8

1.4.2. Específicos..........................................................................................................8

1.5. Metodologia de Pesquisa........................................................................................8

1.5.1. Fontes de Informação e Amostra........................................................................8

1.5.2. Colecta de dados.................................................................................................8

1.5.2.1. Método Bibliográfico......................................................................................8

1.5.2.2. Método Estatístico...........................................................................................9

1.5.2.3. Técnica de Entrevista......................................................................................9

1.5.2.4. Técnica de Inquérito........................................................................................9

II. CAPÍTULO II. EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITO RELEVANTES.....10

2.1. Conceito de erro médico.......................................................................................10

2.2. Tipos de erros médicos.........................................................................................10

2.3. Causas dos erros médicos.....................................................................................11

2.4. Responsabilidade civil do erro médico.................................................................12

2.4.1. Conceito............................................................................................................12

2.4.2. Natureza Jurídica..............................................................................................13

2.4.3. Contratual..........................................................................................................14

2.4.4. Extracontratual..................................................................................................15

2.4.5. De resultados.....................................................................................................16

2.4.6. Subjectiva..........................................................................................................17
2.4.7. Objectiva...........................................................................................................17

2.5. Do dano como consequência da culpa médica.....................................................18

2.6. Análise Jurídico do Erro Médico..........................................................................20

2.7. Previsão do erro médico na legislação moçambicana..........................................20

III. CAPÍTULO III. DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO ERRO MÉDICO. .21

3.1. Perspectivas de Responsabilidade........................................................................21

3.1.1. Responsabilidade civil......................................................................................21

3.1.2. Responsabilidade Administrativa.....................................................................22

3.1.3. Responsabilidade Penal....................................................................................24

3.2. Pressupostos da Responsabilidade Civil..............................................................24

3.2.1. A Conduta Humana........................................................................................................24


3.2.2. O nexo de causalidade..............................................................................................24
3.2.3. Dano.........................................................................................................................25
3.2.4. Culpa........................................................................................................................25
3.3. Da Responsabilidade Pelo Erro Médico...............................................................26

3.3.1. Hospital Provincial da Beira..................................................................................26

3.3.2. Procuradoria Provincial da República da Beira................................................28

3.3.3. Tribunal Judicial Provincial de Cabo Delgado.................................................29

3.4. Da Percepção Dos Resultados Obtidos................................................................29

3.5. Análise Jurídico-legal do tema propriamente dito................................................30

IV. Conclusão.............................................................................................................35

V. Referências Bibliográficas....................................................................................37
I. INTRODUÇÃO
O relatório em apreço tem como tema “Responsabilidade Civil pelo Erro
Médico no Ordenamento Jurídico Moçambicano”. O interesse pelo estudo da
responsabilidade civil do médico é muito importante, quando se tem conhecimento de
que, actualmente, muitos desses profissionais têm agido de forma negligente,
imprudente ou ainda, com imperícia. A figura do médico sempre foi vista como alguém
que não podia ser responsabilizado por qualquer de seus actos, uma vez que, sua função
era revestida de carácter religioso, dando-se a Deus tudo o que se referia à saúde e à
morte. O médico era visto como um amigo e conselheiro da família, daí porque não se
duvidar dos seus serviços prestados.

No entanto, o presente trabalho tem o intuito de mostrar o contrário, isto é,


apesar do médico ser considerado, algumas vezes, um amigo da família, isto não o
isenta da sua obrigação contratual. Assim, caso ocorra algum erro durante uma cirurgia,
seja por imperícia, negligência ou imprudência, é dever desse profissional indemnizar a
vítima ou a sua família, quando ocorre o evento morte ou lesão grave.

Considerando-se uma obrigação de resultado, ocorrendo o erro, o médico está


obrigado a indemnizar, caso não atinja o resultado almejado pelo paciente. Porém,
analisando ter essa profissão uma obrigação de meio, deve-se provar a sua culpa; assim,
se a vítima provar que de alguma forma houve negligência, imprudência ou imperícia, o
médico estará obrigado a indemnizar.

Ocorre que, mesmo existindo legislação prevendo todo esse direito, muitos não
o procuram, seja por receio em chegar ao Poder Judiciário ou por falta de acesso à
justiça, considerando sua situação económico-financeira. Portanto, o presente estudo
possui dois objectivos, quais sejam: demonstrar que no âmbito da responsabilidade
civil, existem meios legais para se obter a justiça a que se busca, fazendo com que os
médicos respondam civilmente por seus erros e que, as vítimas sejam indemnizadas
com aquilo a fazem jus.

Ainda, tem o intuito de incentivar e auxiliar os interessados a postularem, de


forma Inequívoca, seus direitos perante o Judiciário, exigindo o ressarcimento de danos
materiais e morais decorrentes do erro médico, evitando ser enganadas de alguma forma
por esses Profissionais e fazer com que a dignidade dessa profissão continue existindo
para a sociedade com grande mérito.
5
I.1. Delimitação da área do estudo
Cidade da Beira capital da província de Sofala, situada no leste de Moçambique.
A província de Sofala, confinada pelas províncias de Manica, Tete, Zambézia e
Inhambane e, a este, pelo oceano Índico, possui uma superfície de 67 218 km2 e uma
população de 1 516 166 habitantes (em 2018), constituída principalmente pelas etnias
do povo Sena e Ndau.

A cidade da Beira, localiza-se próximo de um porto de mar, no canal de


Moçambique, na foz dos rios Pungue e Buzi. É a terceira maior cidade do país, depois
de Maputo e de Matola, contando com uma população estimada em 487 100 habitantes
(2022). A cidade, originalmente com o nome de Aruângua, deve o seu atual nome ao
príncipe da Beira, D. Luís Filipe, primogénito de D. Carlos, que nascera no ano da
construção do posto militar de Aruângua (1887) e que, no início do século XX, chegou
a visitar as províncias de Sofala e de Manica.

O Hospital Central da Beira (HCB) é a segunda maior unidade hospitalar de


Moçambique e é um hospital de nível quaternário. O mesmo serve quatro províncias
pouco mais de 8 milhões de habitantes, oriundos da zona centro de Moçambique.

I.2. Justificativa
O valor da vida, que está intrinsecamente ligado ao valor da saúde, que é devida,
ente protegida ou pelo menos devia ser pela Médica, sempre foi objecto de apreciação
por nossa parte. O respeito e a igualdade de tratamento dependendo a classe
socioeconómico e cultural diante dos profissionais da medicina fazem com que seja
mais importante ainda entender como deve o Direito tratar tais situações e como criar
mecanismos de responsabilização. O Direito, sendo conjunto de normas que aparecerem

6
para regular a vida em sociedade, deve e tem a obrigação de instrumentalizar a medicina
para a convivência em sociedade, e tal convivência deve ser sobretudo alicerçada sobre
os princípios de igualdade de tratamento e respeito pela vida, pois, muitos dos erros
médicos surgem como a frente esclarece pela ausência de preparação do profissional de
saúde e por mera negligência. O direito tem a obrigação de responsabilizar os
profissionais atendendo de tudo o que é a culpa, ou seja aquela que não decorre da má
prática em si: decorre da culpa da entidade envolvida, seja pela má escolha do
profissional (culpain eligendo), seja pela omissão do dever de fiscalizar sua actuação
(culpa in vigilando).

Um outro facto que pesou muito na escolha do tema, é que o Direito Civil é
sempre lindo pois dinamiza as mais diversas situações do dia-a-dia das pessoas,
evoluindo junto com elas, aliado a isso, interessou-se ainda mais observou-se que a
responsabilidade civil pelo erro médico na vertente do consumidor, atendendo que os
hospitais não são os únicos lugares onde a medicina é exercida mas há também em
clínicas privadas e o tratamento no que concerne a responsabilização deve ser o mesmo,
e sempre em respeito pelo princípio da igualdade de tratamento.

Pelo supra esclarecimento apresentada, despertou a atenção especial e a


pertinência de procurar perceber e trazer a superfície este e outros aspectos jurídicos em
relação ao tema, que a prior estão a ser postos em causa, merecendo uma análise mais
profunda.

I.3. Problematização
No ordenamento jurídico moçambicano o erro médico sempre foi apreciado na
vertente civil uma vez que a actividade medicina é pública e tutelada pelo Estado, e não
observado na perspectiva do direito do Consumidor, alias, tal lei é nova no nosso
ordenamento jurídico, como é o caso do direito Brasileiro. Os médicos são seres
humanos e também estão condicionados ao erro, se de facto, é inevitável aceitarmos
esta situação, como verdade inegável, é importante concentramos os nossos esforços
para saber até que ponto pode o erro ser objecto de responsabilização de um Hospital
bem como de um médico. Sabendo pois que o direito a vida e saúde, estritamente
ligados a medicina como referimos na nossa introdução, são direitos plasmados na
Constituição da República de Moçambique, e são dos mais valiosos que existem, até
porque o próprio Estado ratificou dispositivos internacionais que visam a salvaguarda

7
desses direitos. Observando a coisa, nesta perspectiva diante os factos elaborou-se o
presente trabalho, movidos pela questão seguinte: Qual é a Responsabilidade Civil Pelo
Erro Médico no Ordenamento Jurídico Moçambicano?

I.4. Objectivos

I.4.1. Geral
 Possuir conhecimentos sobre o nível de aplicação da responsabilidade civil pelo erro
médico no Ordenamento Jurídico Moçambique.

I.4.2. Específicos
 Descrever os contornos do erro médico e esmiuçar-se sobre os seus principais tipos;
 Evidenciar os principais tipos de responsabilidade civil que se podem encontrar no
ordenamento jurídico de Moçambique;
 Identificar casos e consequências jurídicas do erro especialmente no que concerne a
compensação por danos não patrimoniais;
 Sugerir medidas de fiscalização e controle jurídico do exercício da medicina com
vista a precaver os possíveis erros médicos.

I.5. Metodologia de Pesquisa

I.5.1. Fontes de Informação e Amostra


O universo da pesquisa foi constituído por todos os profissionais médicos e não
médicos do Hospital Provincial da Beira, todos magistrados da Procuradoria da
República de Moçambique da Cidade da Beira, e todos magistrados do Tribunal
Provincial da beira. A amostra foi constituída por sete (07) funcionários, donde dois
(02) eram médicos e cinco (05) não médicos; um procurador na Procuradoria da
República de Moçambique da Beira e um (01) escrivão de direito no Tribunal
Provincial da Cidade da Beira escolhidos aleatoriamente.

I.5.2. Colecta de dados


A colecta de dados ocorreu com recurso à seguintes métodos e técnicas:

I.5.2.1. Método Bibliográfico


Segundo Marconi e Lakatos (2003) “a pesquisa bibliográfica ou de fontes
secundárias abrange toda a bibliografia já tornada publica no que concerne ao tema

8
em estudo, desde de publicações avulsas, boletins jornais, revistas, livros, pesquisas,
monografias, teses, material cartográfico, filmes…”. Este método consistiu na recolha
de informações através de diferentes literaturas que dão directrizes como é que o
problema proposto poderá ser resolvido. O seu uso no trabalho, ajudou o autor a
obtenção de várias informações que permitiram a realização do presente relatório.

I.5.2.2. Método Estatístico


“Este método associa-se frequentemente ao cartográfico, pois possibilita a
elaboração de tabelas, gráficos e diagramas. É utilizado em análise de dados sobre a
produção e desenvolvimento de várias actividades económicas e de seus ramos”,
(NANJOLO, 2003). Este método foi usado para analisar os dados recolhidos de forma
percentual, construção de tabelas para ajudar a compreensão da disposição dos dados
recolhidos em diferentes sectores.

I.5.2.3. Técnica de Entrevista


Segundo Marconi e Lakatos (2003), “a entrevista é um procedimento utilizado
na investigação social para colecta de dados, ou para ajudar o diagnóstico ou o
tratamento de um problema social, baseando-se por intermediou de um dialogo entre o
entrevistador e o entrevistado. A entrevista é um importante instrumento de trabalho em
vários campos de ciências sociais (…) e outros”. Consistiu em ver, ouvir e examinar os
factos ou fenómenos que se desejam estudar. Foi com base nesta técnica que, o autor
conseguiu recolher as informações úteis para o estudo, tendo sido submetida à um
representante da Hospital Provincial da Beira, Procuradoria Provincial da República da
Cidade da Beira e, Tribunal Provincial.

I.5.2.4. Técnica de Inquérito


Segundo Good e Hatt (1969) “é uma técnica de investigação que consiste na
aplicação de um questionário escrito a uma determinada população”. Consistiu na
elaboração de um questionário relativo a matéria em estudo de modo que os inqueridos
pudessem responder livremente na ausência da autora como forma de explorar ao
máximo os conhecimentos adquiridos. Porém, foram submetidos a esta técnica as nove
(09) pessoas constituintes a amostra da pesquisa.

9
II. CAPÍTULO II. EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITO
RELEVANTES

II.1. Conceito de erro médico


O erro médico é um acto causado por um médico ou enfermeiro que provoca
dano ao paciente. Apesar do termo utilizado ser erro médico, não é causado
exclusivamente por esta categoria, podendo ser o erro cometido por qualquer
profissional da área da saúde, (http://pt.wikipedia.org/wiki/Erro_m%C3%A9dico em
07.11.2023 as 20h00).

Já na visão de Hildegard Giostri (1999, p. 136) apud IGNÁCIO (2003, p. 74)


“erro médico pode, então, ser entendido como uma falha no exercício da profissão, do
que advém um mau resultado ou um resultado adverso, efectivando-se através da acção
ou da omissão do profissional”.

Por sua vez Gomes (2010), erro médico é o mau resultado ou resultado adverso
decorrente de acção ou da omissão do médico. O erro médico pode se verificar por três
vias principais. A primeira delas é o caminho da imperícia decorrente da "falta de
observação das normas técnicas", "por despreparo prático" ou "insuficiência de
conhecimento" como aponta o autor Genival Veloso de França É mais frequente na
iniciativa privada por motivação mercantilista. O segundo caminho é o da imprudência
e daí nasce o erro quando o médico por acção ou omissão assume procedimentos de
risco para o paciente sem respaldo científico ou, sobretudo, sem esclarecimentos à parte
interessados. O terceiro caminho é o da negligência, a forma mais frequente de erro
médico no serviço público, quando o profissional negligencia, trata com descaso ou
pouco interesse os deveres e compromissos éticos com o paciente e até com a
instituição. O erro médico pode também se realizar por vias esconsas quando decorre do
resultado adverso da acção médica, do conjunto de acções colectivas de planeamento
para prevenção ou combate às doenças.

II.2. Tipos de erros médicos


Segundo Cardoso (2014, p. 175), a partir da percepção de que errar é humano,
acredita-se que uma postura mais sistémica, uma visão mais ampliada das situações ou
do conjunto de falhas, seja a maneira mais adequada de preveni-lo e evitá-lo. Através de
mecanismos que facilitem o trabalho humano, da utilização de tecnologia apropriada e
da criação e manutenção de mecanismo de reconhecimento e reparação de situações que

10
geram erros, pode-se tornar a prática médica mais segura para pacientes e profissionais
de saúde. Portanto, este autor avança que os erros variam em várias situações, podendo
serem:

 Erro medicamentoso: qualquer erro que ocorra, desde a prescrição até a


administração da droga ao paciente;
 Erro de prescrição: escolha incorrecta da droga, erro de cálculo na dose, via de
administração, concentração, velocidade de infusão ou prescrições ilegíveis;
 Erro de preparação: diluição incorrecta, reconstituição inapropriada, mistura de
drogas que são fisicamente e quimicamente incompatíveis, medicamento fora do
prazo de validade;
 Erro de administração: procedimento ou técnica inapropriada de administração de
medicamento, incluindo: via errada; via correcta, porém em local errado (ex:
deveria ser administrado no olho esquerdo e foi administrado no olho direito); erro
na velocidade de administração; intervalo diferente do prescrito; omissão (não
administração do medicamento prescrito) e doses extras. Incluem-se, também, neste
grupo, erros por semelhança na aparência e/ ou nome do medicamento;
 Evento adverso da droga: injúria causada pelo uso de uma droga, podendo variar
desde uma simples manifestação cutânea até a morte. Pode ser de dois tipos: os
causados por erros e os inerentes à droga. Os causadores por erros são chamados
evitáveis, e os inerentes ao próprio medicamento, portanto não evitáveis, são
chamados de reacções adversas.

II.3. Causas dos erros médicos


Ao se analisar e discutir a origem dos erros é necessário considerar que trabalhar
cuidando de pessoas é realmente delicado. Uma das explicações por parte de um
considerável número de profissionais é o facto dos hospitais não disporem de
mecanismos que possam diminuir a ocorrência de falhas, ou seja, trabalha-se com
recursos insatisfatórios, fazendo com que o profissional de saúde fique vulnerável
inclusive em algumas situações que exigem tomadas de decisão, sem considerar a
logística da instituição de saúde, como salas adequadas e aparelhos condizentes com o
quadro clínico do paciente (CARVALHO, 2000).

A expectativa de que profissionais de saúde devem actuar sem erros gera um


consenso da necessidade de infalibilidade, fazendo com que os erros sejam encarados

11
como falta de cuidado, falta de atenção ou falta de conhecimento. Essa imposição de
perfeição na prática, exigida não só de seus pares como também de seus próprios
pacientes, dificulta uma abordagem construtiva do erro, na medida em que marginaliza
e estigmatiza o profissional envolvido no caso. Os factores fisiológicos, ambientais e
psicológicos também contribuem para a ocorrência de erros. Nesse contexto, o stress
desempenha um papel preponderante, uma vez que a responsabilidade de cuidar e curar
uma pessoa impõe dada concentração e dedicação. Essa dedicação sobrecarrega os
médicos, submetendo-os a uma carga de stress frente a um problema de saúde, embora
tenham se habilitado para essa responsabilidade (CARDOSO, 2014, p. 174).

Os factores que influenciam a ocorrência de erros humanos são vários, ou seja,


correspondem a factores ambientais, psicológicos e fisiológicos, tidos como os
principais responsáveis pelos erros médicos, aliado a negligência no direccionamento da
atenção humanizada. Portanto, está claro que a ocorrência de erros médicos vem
assumindo proporções alarmantes e constitui um importante problema de saúde pública.

II.4. Responsabilidade civil do erro médico

II.4.1. Conceito
No século passado, o acto médico resumia-se na relação entre a confiança do
paciente e a consciência do médico. O médico era visto como profissional cujo título
garantia a omnisciência, isto é, médico da família, amigo e conselheiro, figura de uma
relação social que não admitia dúvidas sobre a qualidade de seus serviços. No entanto,
actualmente “as circunstâncias estão mudando”, conforme entendimento de AGUIAR
(1997, p. 132).

As relações sociais se expandiram, distanciando o médico do seu paciente. Até a


denominação dos sujeitos da relação mudou, passando o paciente a ser chamado de
usuário e o médico, de prestador de serviços, tudo analisado sob o ponto de vista de uma
sociedade de consumo, cada vez mais consciente de seus direitos, reais ou fictícios, e
mais exigente quanto aos resultados. A matéria de responsabilidade civil é muito vasta e
abrangente, principalmente, quando se refere à responsabilidade civil do médico.

Como prelecciona STOCO (2001, p. 397):

"O médico tem o dever de agir com diligência e


cuidado no exercício de sua profissão, exigível de acordo

12
com o estado da ciência e as regras consagradas pela
prática médica, dever esse consubstanciado em um
Código de Ética, ao qual deve respeito e obrigação.
Portanto, essa exigência e cuidado devem ser
estabelecidos segundo o actual estágio da ciência e as
regras consagradas pela prática médica. Aliás, a
legislação a respeito é pobre e escassa, pois regem a
Medicina)."

Na óptica da autora, antes de tudo, o médico deve proceder de acordo com o que
ordena o Estatuto do Médico, devendo agir com diligência e cuidado no exercício de
sua profissão, para que assim, não seja responsabilizado por algum de seus actos. O que
se deve ter em mente é que seja o médico contratado para prestar serviços ao paciente,
recebendo honorários pelo seu trabalho, ou actue como profissional voluntário,
realizando seu trabalho gratuitamente, nos dois casos prevalecerá o dever de reparar o
dano à vítima, caso esse venha a ocorrer, pois, mesmo o médico voluntário dever
obedecer as normas do Estatuto do Médico, lembrando-se sempre do seu juramento,
qual seja. São diversos os conceitos encontrados sobre responsabilidade civil do
médico, por isso, o presente trabalho procurou mencionar apenas alguns autores, para
que, de alguma forma, torne mais claro o objectivo almejado, ou seja, mostrar em quais
situações práticas pode ocorrer a responsabilidade do médico devido a algum erro
praticado em sua profissão e que de uma maneira sintética, fiquem evidenciadas as
ocasiões onde o médico é responsabilizado por seus actos.

O Estatuto do Médico estabelece uma série de normas de conduta profissional


sendo essa relação apenas exemplificativa e não exaustiva. Assim, conforme explicado
anteriormente, o médico deve evitar qualquer erro profissional que cause dano ao
paciente, seja por agir de forma negligente, imprudente ou com imperícia no assunto.
Não se pode fugir às regras constantes desse Estatuto, pois é um dos apoios que o
médico tem para poder se eximir de uma possível indemnização no caso do erro
médico.

II.4.2. Natureza Jurídica


A doutrina também diverge de maneira expressiva quando se trata de definir a
Natureza jurídica da relação médico-paciente, isto é, encontra dificuldade para definir se

13
essa relação se trata de relação contratual ou extracontratual. Em razão disso, o presente
trabalho mostrará as regras específicas em cada caso. Portanto, ainda, discute-se em
quais caso a responsabilidade civil do médico pode ser considerada objectiva ou
subjectiva. E, em determinadas circunstâncias, faz-se a análise quanto ao seu fim, qual
seja, se a obrigação profissional do médico é de meio ou de resultado.

II.4.3. Contratual
A responsabilidade do médico será contratual quando decorrer de contrato
existente entre o médico e seu cliente, isto é, quando o profissional estiver unido a seu
paciente por um vínculo contratual.

Assim, no entender de Aguiar Dias (1997, p. 141),“...ora, a natureza contratual


da responsabilidade médica não nos parece hoje objecto de dúvida. (...) Acreditamos,
pois, que a responsabilidade do médico é contratual, não obstante sua colocação no
capítulo dos actos ilícitos.” Logo, o paciente tem a total liberdade de eleger o seu
médico; este, aceitando o encargo e ambos concordando quanto ao tipo de serviço a ser
prestado estará caracterizada a obrigação contratual. Assim, para que surja a
responsabilidade, o paciente é obrigado a demonstrar apenas que a obrigação não foi
cumprida, isto é, a inexecução culposa da obrigação pelo profissional, e o nexo de
causalidade entre essa e o dano causado. O médico só não será obrigado a indemnizar,
se provar que o dano decorreu de causa que não participou.

Porém, a culpa do profissional não pode ser presumida, mesmo que a


responsabilidade médica seja considerada contratual. Dessa forma, há que se entender
como consequência dessa natureza jurídica, o facto do médico não se comprometer a
curar, mas sim, a proceder conforme as regras e os métodos exigidos pela própria
profissão. Entre médico e paciente pode existir contrato verbal ou escrito. Será contrato
verbal quando, por exemplo, o paciente faz uma consulta no hospital com um médico
plantonista, alegando que sente fortes dores no estômago, permitindo o exame clínico.
Logo, o paciente não precisou assinar nenhum papel autorizando o médico a realizar os
exames necessários para poder diagnosticá-lo; bastou uma simples alegação e a sua
submissão ao exame paraque ficasse caracterizado o contrato verbal.

O contrato será, porém, de forma escrita quando, por exemplo, o paciente assina
uma autorização para que o médico realize determinada cirurgia. Assim, observa-se que
a diferença entre os dois tipos de contrato está no facto de um depender,

14
necessariamente, de documento escrito e/ou assinado pelo paciente e pelo médico, não
sendo exigível no contrato verbal.

Destrate, havendo contrato, é no âmbito de seus limites que será apurado o


incumprimento por parte do paciente ou o incumprimento do contrato por parte do
médico. Há incumprimento do contrato, quando, por exemplo, em cirurgia plástica o
médico contrata com a sua paciente comprometendo-se a deixar seu nariz igual ao da
actriz Demi Moore. Contudo, realizada a cirurgia, o resultado é diverso do contratado;
logo, analisando-se pelo âmbito contratual, houve, nesse caso, um incumprimento do
profissional com o que foi previamente pactuado com a paciente.

II.4.4. Extracontratual
Na responsabilidade extracontratual, não há contrato firmado entre médico e
paciente, como no caso da responsabilidade contratual. Ocorre, na responsabilidade
extracontratual, uma voluntariedade por parte do profissional em querer ajudar, tratar de
seu paciente, sem que para isso, firme um acordo com ele. Assim, o médico presta
serviços de forma espontânea, quando as circunstâncias da vida colocam-no frente à
frente com o enfermo. Exemplo básico disso é quando o profissional se depara com a
vítima de acidente em via pública e, de maneira urgente, precisa socorrê-la. Nesse caso,
não houve o expresso consentimento da vítima em querer ser atendida por tal médico,
devido à sua impossibilidade. No entanto, embora não tenha sido firmado um contrato
entre o médico e o paciente, isso não isentará o médico da obrigação de indemnizar,
caso ocorra algum dano; haja contrato ou não.

A responsabilidade extracontratual incumbe o paciente de provar que o médico


agiu com culpa stricto sensu (negligência, imprudência ou imperícia). A obrigação de
indemnizar decorrente desse tipo de culpa está fundamentada legalmente no 483º do
Código Civil Moçambicano, que obriga a reparar o dano aquele que, por ato ilícito,
causar dano a outrem, independentemente, de culpa.

Portanto, para que se exija a reparação do dano pelo médico é necessário provar
que o profissional agiu com culpa na prática do acto, conforme entendimento
jurisprudencial. Logo, o que se percebe, é que na responsabilidade extracontratual há
uma dificuldade maior ao lesado, vez que não existe nenhum vínculo jurídico contratual
entre a vítima e o causador do dano.

15
II.4.5. De resultados
Segundo Ignácio (2003, p. 65), no sistema moçambicano a obrigação é de
resultado quando há o total comprometimento do médico em chegar a um determinado
fim, caso contrário, não terá cumprido com a sua obrigação e deverá arcar com as
consequências.

O autor Ignácio (2003, p. 65), avança ainda que não só em cirurgias, onde há o
comprometimento do médico de chegar ao resultado desejado mas, também em
transfusões de sangue, exames clínicos radiológicos e assemelhados, há a obrigação de
resultado do médico, pois, nesses casos, o profissional obrigatoriamente deverá chegar
ao resultado almejado, ficou acordado entre médico e paciente assim, se o médico se
propõe a alcançar esse resultado, é presumível a sua culpa caso não o atinja. Destrate,
em se tratando de cirurgia não resta qualquer dúvida de que a actividade médica é de
resultado, devendo, portanto, o médico atingir o fim esperado pelo paciente e com ele
compactuado.

Ainda, em casos de transfusão de sangue, o médico responsável a realizá-la


deverá agir correctamente, analisando a compatibilidade do tipo sanguíneo do seu
paciente e com o sangue ou material que será utilizado, para que não ocorra nenhum
problema no organismo ou até mesmo, para que não lhe cause a morte.

Logo, se numa transfusão, o sangue está infectado pelo vírus HIV e o médico,
com negligência e imprudência, não o analisa cuidadosamente, aplicando-o em seu
paciente e infectando-o, nesse caso, não só o médico, mas também toda a equipe que
trabalhou conjuntamente, ou seja, os enfermeiros e seus auxiliares, serão
responsabilizados civilmente por danos materiais e morais. Portanto, nesses tipos de
exame sanguíneo, seja para fazer o teste HIV ou para realizar transfusão de sangue, o
máximo de cuidado e atenção são devidos para que não ocorra nenhum erro e o médico
e sua equipe não sejam responsabilizados solidariamente pelo dano. Na obrigação de
resultado, o ónus da prova se inverte, cabendo ao médico provar que não agiu com
culpa ou que ocorreu um caso fortuito ou força maior; bastando ao paciente provar o
incumprimento do profissional.

Utilizando o mesmo exemplo da cirurgia em que o médico assumiu no


compromisso com sua paciente, caberá ao profissional provar a ocorrência de um caso
fortuito ou força maior que o impediu de atingir o resultado. Portanto, logo, quando a

16
actividade médica é de resultado resta tão somente ao profissional provar que, devido à
ocorrência de caso fortuito ou força maior, foi impossível atingir o fim esperado.
Entretanto, o parâmetro para a presunção da culpa não é a existência de um contrato ou
não, mas sim, o tipo de obrigação assumida pelo profissional com seu paciente.

Logo, nada mais justo que seja esse tipo de obrigação assumida, pois tira do
prejudicado todo o encargo de ter que provar a culpa do profissional, cabendo a esse a
tarefa de provar a sua não culpa.

II.4.6. Subjectiva
A responsabilidade subjectiva baseia-se no facto da vítima ter que provar o dolo
ou culpa stricto sensu (negligência, imprudência ou imperícia) do agente, para que
possa ser indemnizada pelo dano ocorrido. Para que haja a responsabilidade do médico,
não é necessário que a culpa seja grave; basta ocorrer a culpa levíssima para que se faça
cabível a reparação do dano, (IGNÁCIO, 2003, p. 67).

Portanto, para os tribunais não se pode falar em responsabilidade civil médica se


não estiver provada ou inexistir o elemento culpa, caracterizador da responsabilidade
civil.

II.4.7. Objectiva
Na responsabilidade objectiva, ao contrário da anterior, não se exige prova da
culpa para que haja a reparação do dano. A culpa é presumida pela lei ou sua
comprovação é dispensada. Dessa forma, é o que reza o art. 486 do Código Civil
Moçambicano (Decreto Lei nº 3/2006 de 23 de Agosto), impondo o dever de reparar o
dano, independentemente de culpa, nos casos previstos em lei ou quando a actividade
do agente causador do dano, por sua natureza, implicar em risco para os direitos de
outrem. Nesse tipo de responsabilidade, há obrigação de ressarcimento do dano,
incumbindo ao autor do pedido de indemnização provar apenas a acção ou omissão do
agente e o resulta do danoso.

Ainda, ocorre a responsabilidade objectiva quando, o hospital realiza, por


exemplo, transfusão de sangue infectado, ou seja, independentemente de provar se
houve culpa ou não, incidir-se-á a responsabilidade objectiva sobre a instituição, no
caso de hospital público, ou sobre a empresa, em se tratando de hospital particular,
devendo indemnizar o paciente por todos os prejuízos causados, como versa o art. 500

17
(responsabilidade do comitente) conjugado com art. 501 (responsabilidade do Estado e
de outras pessoas colectivas públicas) do Código Civil Moçambicano.

Portanto, de acordo com o hospital, independentemente de culpa, deverá


indemnizar o paciente ou a sua família, caso ocorra o evento morte.

II.5. Do dano como consequência da culpa médica


Dano (do latim damnu) é o mal, prejuízo, ofensa material ou moral causada por
alguém a outrem, detentor de um bem juridicamente protegido. O dano ocorre quando
esse bem é diminuído, inutilizado ou deteriorado, por ato nocivo e prejudicial,
produzido pelo delito civil ou penal. A actividade médica pode causar danos que
afectam, de modo substancial, a vida do paciente, seja forma moral ou material. Logo,
caso ocorra algum dano ao paciente, o médico estará obrigado a indemnizá-lo.

Determinar a culpa médica é trabalho árduo, vez que é muito difícil identificar a
causa e apontar o nexo causal entre ela e o dano sofrido pelo paciente. Disso decorre o
facto de que o médico realiza sua profissão dentro da área biológica, não podendo
prever um fim específico para determinado problema de saúde. Exemplo disso é quando
o médico realiza uma intervenção cirúrgica no abdómen de um paciente, utilizando
todos os seus conhecimentos técnicos e científicos. No entanto, alguns dias após a
cirurgia, o paciente torna-se vítima de um virulento processo infeccioso que o leva a
óbito.

O médico, nesse caso, não poderia prever esse facto que foge ao seu controle,
sendo-lhe impossível fazer alguma coisa para evitar o acontecimento, (IGNÁCIO, 2003,
p. 70).

Dessa forma, fica difícil apontar a verdadeira causa do dano sofrido pelo
paciente, mesmo que se realize perícia médica. Ainda há de se observar que factores
diversos podem interferir no resultado final sem que se recaia qualquer tipo de
responsabilidade sobre o médico, pois esse não tem como evitá-los. Assim, para que o
profissional seja responsabilizado, faz-se necessário demonstrar clara e expressamente
que a origem do dano está na inexecução da obrigação do médico. Não se pode esquecer
que a acção ou omissão do médico é um dos pressupostos de sua responsabilidade civil,
portanto, é preciso mostrar que o dano proveio de uma acção positiva ou negativa do
profissional, ou que o serviço por esse prestado foi mal executado.

18
Logo, para que surja o dever de indemnizar pelo médico, torna-se necessária
existência de um dano ao paciente, seja de qualquer tipo ou espécie, lesionando o
direito, à vida, à integridade física ou à saúde ou, lesionando um interesse legítimo, isto
é, danos patrimoniais ou morais.

Os danos patrimoniais decorrem, geralmente, dos danos físicos (corporais),


constituindo-se em despesas médico-hospitalares, remédios, lucros cessantes, entre
outros. Os danos morais são constituídos pela dor psicológica sofrida pelo paciente, isto
é, a dor emocional sentida por ele ao saber que nada mais será como antes. Como por
exemplo, tem-se o paciente que sofre pela amputação de uma perna devido à retirada
errónea de um nervo essencial ao movimento dos membros inferiores pelo médico; a
sua frustração em relação à impossibilidade de desenvolver qualquer tipo de actividade
física que antes executava espontaneamente, como, fazer caminhada, dançar, jogar bola.
Normalmente, essa espécie de dano está intimamente ligada aos direitos
personalíssimos.

Verificada a existência do dano, deve-se atentar para o estado anterior do


paciente, analisando-se directamente a acção ou omissão do médico, conforme
anteriormente exposto. Portanto, danos que não decorram de intervenção médica, não
são indemnizáveis pelo médico; nesse caso não há responsabilidade médica.

Conforme pode-se depreender desse acórdão, para que se possa exigir a


reparação do dano, deve-se provar o nexo de causalidade existente entre a conduta e o
dano; logo, caso não seja provado, não há que se falar em responsabilidade civil médica.
Se a patologia do paciente era pré-existente à intervenção cirúrgica e com essa apenas
veio manifestar-se, não se pode falar em responsabilidade médica.

Assim, extrai-se dos entendimentos jurisprudenciais acima que haveria o dever


de indemnizar se ficasse provado o dano ao paciente e, ainda, que a acção ou omissão
do médico tenha sido causa directa para o acontecimento.

Contudo, para haver a obrigação de indemnizar é necessário que haja dano que é
um facto ilícito culposo que causa prejuízo a outrem, portanto o dano é um prejuízo que
o sujeito sofre na pessoa jurídica ou nos seus bens. Além da existência do dano e de
uma ligação causal entre o facto gerador da responsabilidade e o prejuízo, devem
verificar se entre outros pressupostos para o surgimento da responsabilidade civil.

19
II.6. Análise Jurídico do Erro Médico
IGNÁCIO (2003, p. 75), a análise, a verificação da ocorrência do erro médico é
de extrema dificuldade aos operadores do Direito e, de modo especial, aos aplicadores
do Direito e, actualmente, essa dificuldade só vem aumentando, uma vez que as
demandas indemnizatórias crescem de maneira plausível.

Nessas demandas, os autores tentam mostrar de todas as formas as evidências de


má prática do profissional, ao passo que a parte contrária tenta demonstrar, rescaldada
em compêndios científicos e laudos periciais, que em momento algum afastou-se da
Ciência Médica. Resta, portanto, ao juiz estabelecer se há culpa e se existe o nexo de
causalidade entre a acção ou omissão médica e o resultado danoso ao paciente, tarefa
esta, muito árdua.

O julgador valer-se-á, nessa etapa final, de todas as provas que as partes


trouxeram aos autos e das informações que o próprio juízo determinou que fossem
prestadas pelas partes e peritos.

Os meios de prova são os usuais, tais como: o depoimento pessoal do


profissional; inquirição de testemunhas (dentre elas, as suspeitas e as impedidas); prova
documental; informes (como notícias periódicas); inspecção judicial; presunções; prova
pericial; a convicção e o convencimento do juiz.

Logo, sendo os indícios convincentes, deverá o juiz julgar procedente a demanda


indemnizatória, considerando o médico responsável pelo dano. Sobrelevando-se as
condições anteriores do paciente, a conduta médica e a consequência danosa,
estabelecer-se-á a culpa. Assim, deve o julgador, se necessário, desconsiderar o laudo
pericial e se deixar guiar pelo senso comum, concedendo o direito a quem é devido.

II.7. Previsão do erro médico na legislação moçambicana


É de destacar algumas fontes legais onde pode ser encontrada a matéria de
responsabilidade civil. Assim, na legislação moçambicana, há como amparo legal sobre
a matéria:

a) Constituição da República de Moçambique, nos artigos 40 (Direito à Vida) no seu


número 1; 58 (Direito a Indemnização e Responsabilidade do Estado) nos seus
números 1 e 2; 79 (Direito de Petição, Queixa e Reclamação); 89 (Direito à
Saúde)respectivamente;

20
b) Código Civil, nos artigos 496 (Princípio Geral); 486 (Omissões); 494 (Limitação de
indemnização no caso de mera culpa); 495 (indemnização do terceiro em caso de
morte ou lesão corporal); 500 (Responsabilidade do comitente); 501
(Responsabilidade do Estado e de Outras pessoas colectivas públicas); 562
(Obrigação de indemnizar); 564 (Cálculo de Indemnização)e 566 (Indemnização em
dinheiro) respectivamente;
c) Código do Processo Civil, alínea b) do número 2 do artigo 4 (Espécies de acções
consoante o seu fim);
d) Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, nos artigos 78
(Responsabilidade Disciplinar); 81 (Tipos de sanções disciplinares)19 e; 86
(Despromoção);
e) Estatuto Médico, no artigo 6 (Responsabilidade dos médicos);
f) Lei da ordem do Médico, no artigo 6 (Responsabilidade dos médicos);
g) Lei do consumidor, artigos 5 e 7 (direitos do consumidor, direito a protecção de
vida, saúde e segurança física.

III. CAPÍTULO III. DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO ERRO


MÉDICO

III.1. Perspectivas de Responsabilidade


A responsabilidade civil pelo erro médico, não afasta de todo a responsabilidade
que o mesmo médico tem derivado do exercício da sua função administrativa adstrito ao
Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, e a mesma também quando
provada pode ser objecto de procedimento criminal nos demais termos da Lei Penal
Moçambicana.

III.1.1.Responsabilidade civil
É aquela em que por certo comportamento culposo ou doloso, alguém fica
obrigado a indemnizar ao lesado. Ou seja Responsabilidade civil = obrigação de
indemnizar (tornar a pessoa indemne, sem dano). Não podemos deixar de realçar que a
responsabilidade civil pode ser por actos ilícitos. Quando ocorre esse tipo de
responsabilidade civil a indemnização manifesta-se de maneiras diferentes e a mesma,
pode ser:

21
1. Restituição natural “in natura” – art. 562º CC segundo o qual “quem estiver
obrigado a reparar um dano, deve reconstituir a situação que existiria, se não
se tivesse verificado o evento que obriga a reparação”.
2. Reconstituição por equivalente por mero equivalente - art.566º nº1 do CC
segundo o qual “A indemnização é fixada em dinheiro, sempre que a
reconstituição natural não seja possível, não repare integralmente os danos ou
seja excessivamente onerosos ao devedor”.
3. Compensação (em dinheiro sobre danos não patrimoniais, morais e extra
patrimoniais) – art.496º do CC, socorremo-nos do nº1 para atender as nossas
pretensões na qual dispõe que: “na fixação da indemnização deve atender-se
aos danos não patrimoniais que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do
direito”, neste âmbito, os exemplos mais comuns são mortes, difamações entre
outros.
O pressuposto da indemnização encontra a sua base legal no artigo 483º do CC
com remissão para os artigos 562º, 566º, 496º, 564º, 488º todos do mesmo diploma
legal. Código Civil. É verdade que diante de tudo isto, deve atender-se sempre ao
princípio: o que não é provado não existe para o Direito ou seja allegatio incumbi
probatio.

Apreciando na mesma vertente, podemos encontrar algumas modalidades de


responsabilidade civil tais como:

a) Responsabilidade civil por factos ilícitos, regra geral (5 pressupostos),


responsabilidade civil subjectiva porque assenta na culpa do agente, art.483º CC;
b) Responsabilidade pelos riscos – excepção/sem culpa – art.499º e seguintes -
Responsabilidade excepção, pois só existe nos casos previstos na lei;
c) Responsabilidade civil que uma pessoa tem sem culpa ou independentemente da
culpa. Desenvolve uma actividade geradora de risco para os outros;
d) Responsabilidade por factos lícitos – excepção – art.339º, 1349º nº3, 1367º CC.

3.1.2. Responsabilidade Administrativa


Deve ser entendida e para o efeito do presente relatório como sendo o dever
jurídico secundário de respeitar regras, contratos e princípios (dever jurídico originário).
No caso em sub Judice, e atendendo que o médico é parte da maquina administrativa do
estado, claro, sem descortinar a possibilidade do exercício privado de médica desde que

22
devidamente inscrito na Ordem dos Médicos de Moçambique, a responsabilidade
administrativa aqui vai ser o culminar de uma violação de normas subjacentes ao
Direito Administrativo e para isso, encontrará alicerce nas disposições legais dos artigos
78º e seguintes do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, aprovado
pela Lei nº14/2009 de 17 de Março, é preciso lembrar que no caso do exercício privado
da medicina o instrumento jurídico-legal a ser empregue vai ser o Estatuto do Médico.

A responsabilidade administrativa significa em princípios a aplicação da


moralidade na administração, sendo que o desempenho das acções e funções dos
servidores públicos necessitam levar em consideração o interesse público. E é nosso
entender que tudo o que tenha a ver com a saúde individual e da população é de
interesse público e portanto deve ter uma tutela legal no Ordenamento jurídico de
Moçambique.

Entendendo que a Responsabilidade Administrativa deve estar frequentemente


em consonância com os interesses da colectividade deve a mesma, garantir o
cumprimento de suas finalidades principais impedindo assim, a incursão em práticas de
irregularidade atentatórias aos princípios da Administração Pública constantes a luz da
nossa perspectiva na Lei nº14/2009 de 17 de Março, bem como, na administração dos
recursos financeiros, adoptarem medidas condizentes com os preceitos legais
objectivando o resguardo do património público para garantir a correcta aplicação dos
mesmos e zelar pela lisura e pela transparência da Administração Pública. Ao constatar
procedimentos ilegais por quaisquer das partes citadas, deve-se aplicar as medidas
necessárias para não ser responsabilizados juridicamente de ordem penal, civil ou
administrativa disciplinar o que seria precisamente o interessante no caso do erro
médico.

Cabe neste contexto, dar ênfase a responsabilidade administrativa disciplinar que


corresponde aos comportamentos adoptados pelos servidores públicos na observância
das normas legais, cujo comportamento implica em acções omissas que contrariam os
princípios das funções em determinadas esferas governamentais (exemplo claro e
frequente nos nossos hospitais é a negligência consciente). É nosso entender que o
servidor responde administrativamente pelos ilícitos administrativos definidos na
legislação estatutária e que apresentam os mesmos elementos básicos do ilícito civil:
acção ou omissão contrária à lei, culpa ou dolo e dano. Nesse sentido, gerir ou actuar

23
observando os princípios da legalidade é condition sine qua non para a inexistência de
irregularidades administrativas.

3.1.3. Responsabilidade Penal


A responsabilidade penal é aquela que advém da violação das normas de cariz
criminalista ou penalista. No caso de uma determinada pessoa praticar um crime, ou
seja, praticar um acto que tem um juízo de desvalor da sociedade de tal maneira gravoso
que esta o considera crime, o seu agente é responsabilizado, através da aplicação de
penas e/ou medidas de segurança. Crime é toda a conduta do Homem que preenche a
descrição de um evento que a lei qualifica como crime. É necessário que quem praticou
o acto qualificado como crime tenha adoptado uma determinada conduta, com vista a
praticar o acto qualificado como crime e tenha pretendido, ou pelo menos se
conformado, com o resultado de tal conduta.

Como se pode atestar do artigo 52º do Código Penal segundo o qual: “Têm
responsabilidade criminal todos os agentes de factos puníveis, em que no concorrer
alguma circunstância dirimente dessa responsabilidade, nos termos do artigo 41º e
subsequentes, salvas as excepções expressas na Lei”.

3.2. Pressupostos da Responsabilidade Civil


Atendendo que o escopo do nosso relatório é a responsabilidade civil, importa
conhecer como esta se desenvolve em termos de pressuposto e em que condições pode a
mesma ser atendida no que diz respeito ao erro médico.

3.2.1. A Conduta Humana


A conduta humana seja ela acção ou omissão é o ato da pessoa que causa dano
ou prejuízo a outrem. É o acto do agente ou de outro que está sob a responsabilidade do
agente que produz resultado danoso seja por dolo, negligência, imprudência ou
imperícia. Este ato gera a obrigação de reparação ou se quisermos, de restituição. A
conduta humana pode ser no sentido da prática por parte do agente de acto que não
deveria fazer, ou do fato de deixar de praticar ato que deveria ter feito, estando diante de
uma situação clara de facere or non facere.

3.2.2. O nexo de causalidade


O nexo de causalidade ou a relação de causalidade é um dos pressupostos
fundamentais para a configuração da responsabilidade civil e do dever de indemnizar. A

24
relação de causalidade é o liame entre o ato lesivo do agente e o dano ou prejuízo
sofrido pela vítima. O que verifica-se ser a existência de um nexo de causa-efeito entre
o facto danoso e o prejuízo, portanto, não basta apenas que a vítima sofra dano, é
preciso que esta lesão passe a existir a partir do acto do agressor para que haja o dever
de compensação. Alias, o artigo 563º do CC, já faz uma alusão clara a esse conceito
segundo o qual: “a obrigação de indemnizar só existe em relação aos danos que o
lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão”.

3.2.3. Dano
Entendemos nós que dano deve ser entendido aqui e para efeitos do presente
trabalho, como sendo o prejuízo ou a perda patrimonial ou moral, quando falamos de
prejuízos que não são susceptíveis de uma avaliação pecuniária, como é o caso de
atentado a dignidade da pessoa humana, a sua vida privada entre outros, sofrido por uma
pessoa em consequência do comportamento de um terceiro.

3.2.4. Culpa
A culpa é nosso entendimento que é no sentido amplo a simplesmente imputação
de determinado acto ao correspondente agente, todavia no sentido restrito deve ser
entendendo como por contraposição ao dolo, a conduta omissiva da diligência exigível,
isto que pode ser entendido como negligência ou imperícia. Para ser susceptível do juízo
de culpabilidade, o agente tem de ser imputável. A Lei considera não imputáveis as
pessoas que, no momento do facto estavam, por qualquer razão, incapacitadas “de
entender e de querer”, salvo de houver o próprio agente a colocar-se culposamente
nesse estado, se este for transitório.

Em relação aos sete anos e aos interditos por anomalia psíquica, a lei estabelece
uma presunção de imputabilidade – artigo 488. ͦ C.C. No entanto mesmo os imputáveis
podem ser condenados a reparar os danos, total ou parcialmente, por motivo de
equidade, “desde que não seja possível obter a devida reparação das pessoas a quem
incumbe a sua vigilância”, artigo 489 ͦ, C.C. A culpa é, em principio, apreciada segundo
a diligencia do bónus pater familiar ou do homem médio (apreciação abstracto), e
apenas nos casos em que a lei expressamente o estabeleça, pela diligencia habitual do
autor do facto (apreciação em concreto artigo 487 ͦ, C.C.

Ao lesado incumbe o ónus da prova da culpa do autor da lesão, salvo havendo


presunção da culpa. A doutrina distingue tradicionalmente na culpa dois graus; a culpa

25
consciente (em que o agente teria previsto a possibilidade do resultado ilícito, mas teria
agido para alcançar um fim licito, na esperança temeria de que aquele não si produzisse)
e a culpa inconsciente (o agente não previa o resultado ilícito, mas este real
objectivamente previsível, usando a diligencia exigível).

A determinação do grau de culpa do agente é relevante para certos efeitos,


como, por exemplo, para fixar a quota na divida indemnizatório dos vários responsáveis
(artigo 497º n. ͦ2 C.C.), para determinar o montante da indemnização por danos não
patrimoniais (artigo 496º n. ͦ 3, a 1. ͦ parte), ou para reduzir ou excluir a indemnização
em função de contribuição casual de acto culposo dom próprio lesado para a produção
ou agravamento dos prejuízos (artigo 570º , n.º 1, C.C).

Quando a responsabilidade se funda em mera culpa, o artigo 494, C.C., admite a


possibilidade de uma limitação equitativa da indemnização fixada pelo tribunal, (desde
que o grau de culpabilidade do agente, a situação económica deste e a do lesado e as
demais circunstancias do caso o justifiquem.

3.3. Da Responsabilidade Pelo Erro Médico

3.3.1. Hospital Provincial da Beira


Dos dados obtidos no HPB (Hospital Provincial da Beira), constata-se que nos
últimos três anos (2019 á 2022) ocorreram 02 erros médicos devidamente reportados
por aquela instituição tais forma: má prescrição de médica e amputação de um membro
inferior direito. Do nosso inquérito, o HPB realçou que esses erros foram ocasionados
por falta de meios ou instrumentos de trabalho, insuficiência do pessoal médico
especializado e falta de incentivos (baixo salário).

Apreciando o âmago da situação, depreende-se que essas informações podem


não se traduzir naquilo que efectivamente acontece, pois, é nosso entender que a falta de
instrumentos, insuficiência de pessoal médico e falta de incentivos não constituem erros
médicos, porém, os funcionários dos HPB afirmam que os erros médicos frequentes são
devido a questões organizacionais tais como (demora no atendimento dos pacientes e
insuficiência de ambulância para socorro dos pacientes) são os mais frequentes, como
alias se pode aferir do gráfico abaixo.

Tipos de casos que ocorreram no HPB Percentagem


Demora no atendimento aos pacientes 67%

26
Insuficiência de ambulancia para socorros 33%
dos pacientes

Ora, não restam dúvidas que a organização interna do próprio hospital, deixa
muito a desejar, e inequivocamente as consequências da gritante desorganização
catapulta o surgimento de erros médicos e provocam o agravamento da doença do
paciente por um lado, e por outro lado, a instauração do processo de inquérito para
esclarecimento do sucedido e consequentemente os procedimentos subsequentes. A
tabela abaixo foi concebido para atestar e fundamentar o que se vem, referindo nas
alíneas anteriores a número. E a pergunta que não quer calar, é porque? Claro que isto
não nos leva a questão de fundo, contudo ajuda-nos a compreender melhor o cenário em
que grande parte da população moçambicana a residir em Pemba vive, fruto de
desculpas dos profissionais que em princípio deviam zelar pela saúde do cidadão.

Ora, aqui não há responsabilidade do erro médico, há porem responsabilidade do


Comitente nos termos dos artigos 500º e 501º do CC aplicando-se por força do
princípio mutatis mutandi.

Tipos de causas e consequências do erro Percentagem


médico no HPB
Agravamento da doença do paciente 33%
Resistência da doença a cura
Morte do Paciente 67%
Tabela 2: Tipos de causas e consequências do erro médico no HPB (2019 – 2022)
Fonte: Autor (2013)

Não obstante, sobre as principais causas de cometimento de erros médicos (2019


– 2022), o estudo mostra que ao nível do HPB a principal causa do erro médico é
entendida como sendo insuficiência do pessoal médico especializado com 50%, como se
vê pelas percentagens na tabela abaixo.

Principais causas de cometimento de Percentagem


erros médicos
Falta de meios ou instrumentos de 25%
trabalhos
Excesso de trabalho 12%

27
Insuficiência do pessoal médico 39%
especializado
Falta de repouso do pessoal médico 11%
Baixo salário 13%
Tabela 3: Principais causas de cometimento de erros médicos (2019 – 2022) Fonte:
Autor (20123)

As consequências pelo cometimento do erro médico segundo os funcionários do


HPB, funda-se no facto de em muitos dos casos tem sido instaurado um processo de
inquérito para o esclarecimento do sucedido, acompanhado com a instauração do
processo disciplinar e em casos mais grave a consequente perda da carteira profissional.

Consequências do cometimento do erro Percentagem


médico para o profissional
Instauração do inquérito 50%
Intauração do processo disciplinar 33%
Perda da carteira profissional 17%
Tabela 4: Consequências do cometimento do erro médico para o profissional no HPP
(2019-2022) Fonte: Autor (2023)

Portanto, a Direcção do HPB está a trabalhar para reverter o cenário, efectuando


o reforço das equipes nas escalas de serviços; abertura de inquérito para todos casos
suspeitos de erro médico; discussão de todos os casos em caso de morte no hospital;
operacionalização de equipas de revisão terapêutica; jornadas médicas para discussão
colectiva de casos complicados. Contudo, no funcionamento normal da HPB existe
mecanismos de controlo de actividade médica materializado pelas visitas gerais aos
pacientes; discussão de óbitos para melhorar a conduta nos próximos casos similares; e
revisão dos processos clínicos.

3.3.2. Procuradoria Provincial da República da Beira


Nos últimos três anos (2019 á 2022) nenhuma petição referente a erro médico
deu entrada na Procuradoria Provincial da República da Beira.

De acordo com o Procurador Provincial da República4ª Secção, em caso de erro


médico, ao nível hospitalar é participado o caso a direcção do hospital que culminará
com a instauração do processo disciplinar contra o profissional infractor, onde se faz o

28
uso do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado em consonância com o
Estatuto do Médico e que caso o processo transcenda a outras instâncias (Procuradoria)
é relegado as legislações anteriormente citadas30 e caí-se o código civil. No âmbito das
actividades da Procuradoria não existe nenhum mecanismo de controlo da actividade
médica, visto que, a actividade médica como outras exercidas no Estado rege-se pelos
princípios e comuns estabelecidos na lei: isto é, todo o comportamento do profissional
de saúde esta plasmado na lei e a sua violação de um dever profissional acarreta uma
sanção previamente estabelecida. Portanto quando se verificar um erro grave e de
natureza criminal aí o dever da intervenção do Ministério Público.

Contudo, ainda de acordo com o Procurador, quando o Estado toma


conhecimento tem de agir ex-oficio, onde do Ministério Público pode redigir fazer em
forma de noticia e perseguir os seus autores, procurar e colher elementos, e mandar a
quem de direito. O despacho é feito sobre forma de triagem, onde ouve os envolvidos,
que muitas das vezes tem ocorrido “crime de omissão” devido a união dos médicos para
a não colaboração no processo, que consequentemente, não se encontra o
enquadramento do crime, facto que leva a sua absorção do processo.

3.3.3. Tribunal Judicial Provincial de Cabo Delgado


Durante o período em alusão deu entrada 01 (uma) petição que não chegou ao
julgamento, devido á um acordo entre as partes abrindo uma possibilidade de
indemnização consoante o dano causado. De acordo com o escrivão de direito da
Secção Cível, a Direcção do HPB está a envidar esforços para a correcção dos casos de
erro médico, pese embora, as vezes a actividade médica muitas vezes é restrita
dificultando o acompanhamento total de um paciente. Se o erro ocorrer, dificilmente é
responsabilizado pois não há comeras de vigilância para servir de prova. Em caso de
erro médico, a legislação aplicável geralmente tem se chamado o Código Civil.

Portanto, no âmbito das actividades do Tribunal não existe nenhum mecanismo


de controlo da actividade médica, visto que, como é sabido o nosso país não esta em
condições de poder controlar a actividade médica. Estas condições referimo-nos as
condições humanas, matérias e técnicas comparativamente aos países desenvolvidos.

3.4. Da Percepção Dos Resultados Obtidos


Diante dos factos comprovados através do inquérito e conforme as tabelas que
foram sendo ilustrados, constata-se que o conceito de erro médico para os entrevistados

29
é diferente daquele que é nosso entendimento, pois em inúmeras ocasiões, o erro
médico é confundido com problemas de organização interna, o que na nossa modesta
percepção como aspirantes a juristas não é o que devia ser. Ora, atendendo as questões
das responsabilidades que foi acima devidamente esclarecido, o HPB, vê no erro médico
somente a sanção administrativa, alias, não pode faze-lo numa outra vertente uma vez
que não figura como parte lesada em consequência de um erro médico, tem porem e no
mínimo a obrigação de não somente mover um processo disciplinar, mas também,
comunicar a Ordem dos Médicos de Moçambique.

No que tange a Procuradoria Provincial da Beira, que alias exerce a função penal
em Sofala, os casos vertentes de erro médico, fundam-se com omissão, ou seja, o
médico deixa de fazer correctamente o seu dever. É verdade que muitos médicos tem
falta de conhecimentos e aptidões necessárias para engrenar na careira de medicina, mas
nos recusamos a entender isso como sendo um verdadeiro erro médico, isto, seria no
mínimo, um erro institucional. Reparamos que o papel do Ministério Público apenas se
desencadeia volvido um insucesso no âmbito disciplinar, mesmo sabendo que tratam-se
processos extremamente diferentes.

No que tange ao médico, este claro que o Ministério Público não tem um papel
preponderante conforme a Lei assim lhe confere, pois, fica apenas a espera de uma
eventual denuncia ou participação do cidadão, esquecendo-se porem que o cidadão mais
lesado, é provavelmente o menos instruído, o que a ser assim, mostra claramente a sua
vulnerabilidade para acompanhar as coisas e reclamar os seus direitos junto das
autoridades competentes para o efeito. É verdade que o nosso tema versa sobre a
responsabilidade civil, contudo para uma analise mais detalhada, não nos coibimos de
esclarecer factualmente a vertente da responsabilidade criminal, que alias, também
condiciona a indemnização ao lesado quando devidamente provado em sede de
audiência decisão e julgamento.

3.5. Análise Jurídico-legal do tema propriamente dito


De um breve inquérito aos doentes do hospital provincial da Beira, que se
negaram a dar a sua identificação, foi possível aferir, que o levado índice de taxa de
mortalidade, de amputações bem como de alteração psíquica é devido aos erros
médicos, cuja frequência constante é de má prescrição, erro no diagnóstico por
incompetência do próprio médico, concessão de alta sem tratamento prévio e

30
negligência. É nosso entendimento que o erro médico deve ser passível de
responsabilidades civil, nos moldes acima atestados e conforme manda o artigo 483º n
do CC.

Ora, no que tange a responsabilização civil pelo erro médico, acreditamos que
uma das grandes condições que se impõe, se afigura no artigo 3º da Lei nº22/2009 de 28
de Setembro, a Lei do Consumidor, segundo o qual enfatiza no seu nº 1º “A presente Lei
aplica-se a todas as pessoas singulares e colectivas, públicas e privadas que
habitualmente desenvolvem actividades de produção, fabrico, importação, construção,
distribuição ou comercialização de bens e ou serviços a consumidores, mediante a
cobrança de um preço”, ou seja tanto as instituições públicas quanto privadas estão
vinculadas a norma.

Vale realçar que o valor fundamental de todo ser humano é a Vida e que esta
intrinsecamente ligada a dignidade, ex vide artigo 40º do Texto Constitucional de 2004
actualmente em vigor no Ordenamento jurídico de Moçambique, portanto, é nosso
entendimento que grande parte dos profissionais não levam em conta esta encíclica no
acto de fazer o seu trabalho e os seus erros vão atentando contra a integridade física dos
utentes daqueles serviços. E tratando-se de interesses tutelados pelo direito, é lícito que
qualquer cidadão tem o direito de fazer valer o seu direito violado nos tribunais, aliás
assim o diz o artigo 62º da CRM (Constituição da República de Moçambique).

Queremos acreditar, que apesar de todo aparato legal que gira em torno das
garantias dos cidadãos e da segurança jurídica em função dos seus direitos
fundamentais, a responsabilidade civil pelo erro médico esta estritamente condicionada
a ideia de direitos de consumidor. Alias, a Lei nº22/2009 de 28 de Setembro, a Lei do
Consumidor, não define e nem conceptualiza o consumidor, limitando-se porém a
incumbir ao Estado o dever de garantir e proteger os interesses do Consumidor.
Entendemos nós que no que tange a consumidor “considera-se consumidor todo a
aquele a quem seja fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos quais direitos,
destinados ao uso não profissional, por pessoa que exerça por carácter profissional
uma actividade económica que vise a obtenção de benefícios”, esta definição além de
ser tónica constante nos países europeus também o são nos países de expressão
portuguesa, tal é o caso de Portugal.

31
A ser assim, qualquer cidadão moçambicano que vai a um estabelecimento de
saúde o faz na condição de consumidor, pois, vai a busca de um bem ou serviços e
como assim procede, deve exigir o melhor possível, alias a Lei nº22/2009 de 28 de
Setembro, a Lei do Consumidor no seu artigo 7 nº1, preceitua em epígrafe, o direito a
protecção da vida, saúde e segurança física. Acreditamos que os documentos que se
assinam constituem verdadeiras fontes de obrigação, na medida em que o profissional
de saúde deve agir com zelo sob pena ser civilmente responsabilizadas, e sobretudo por
danos não patrimoniais, ou seja, aqueles que não são passíveis de uma avaliação
pecuniária. O erro médico, origina deformações físicas permanentes até a morte, e neste
então a pergunta que se faz é a seguinte, o médico não pode ser responsabilizado
civilmente por erro? Nós acreditamos que sim. Que pelos dispositivos avançados o
médico pode e deve ser chamado a responsabilidade em caso de erro.

Alguns dos erros mais comuns dos médicos nacionais são a imprudência e a
negligência, esta é uma ilação tirada pelo inquérito directos as pessoas sofredoras que
no entanto não se quiseram identificar.

Admitamos por hipótese que A é paciente do médico que é B, o A sofreu uma


operação e dois dias mais tarde foi dado alta, e os antibióticos ministrados não estão a
surtir efeito, e o A liga para B pedido que o veja, e o B telefonicamente dia para A
tomar medicamento Y sem antes o avaliar e o medicamento Y não cai bem ao A
causando-lhe sequelas graves. Não restam dúvidas que o comportamento de B traduz
numa autêntica imprudência que é sem duvida algum erro médico, pois este devia
observar antes o paciente, nestes moldes o B pode ser civilmente responsabilizado e
consequentemente se obrigado a fazer uma compensação, uma vez tratar-se de danos
não passíveis de avaliação pecuniária.

Outro famoso erro médico que se vislumbra na sociedade moçambicana, com


particular destaque na área delimitada para o estudo é a negligência. Um dos nossos
entrevistados, comentou que a sua esposa tivera um acidente estradal, tendo sido
imediatamente levada ao HPB para cuidados médicos, onde ficou em cuidados
intensivos por três dias, volvido isso, o médico concedeu alta a doente com o fim último
de esta ir recuperar em casa. Maduro e experiente, o nosso entrevistado refutou-se a
levar a mulher do HPB em criou cenários de grande agitação exigindo que a mesma
fosse submetida a um exame chamado TAC.

32
Podíamos ainda falar da imperícia como outro erro médico característico,
contudo cinjamo-nos na reparação. Como bem se sabe, a responsabilidade deriva da
obrigação cujo objecto é e deve ser entendido como sendo a reparação. Neste sentido, a
reparação do dano não pode se operar somente pela via da obrigarão sendo que é esta
parte do CC que tutela de interesses semelhantes. Que como bem sabemos deve ser por
via de reconstituição in natura ou por mero equivalente deixando a res(coisa, objecto)
no estado em que se encontrava; e pela reparação por equivalente, como por exemplo,
no caso de morte da vítima, onde a simples reparação do dano (morte), não ressarce a
família por completo, pois é impossível retornar ao status quo ante, ou seja, ao estado
anterior que seria o regresso a Vida do malogrado.

A reparação específica consiste em fazer com que as coisas voltem ao esta do


anterior, isto é, ao estado em que se encontrava a vítima antes de ocorrer o dano, por
exemplo, em acidente de veículo, onde apenas há a danificação do automóvel, com o
seu conserto, tudo volta ao estado anterior. Nesse caso, deve-se observar qual o objecto
da indemnização, pois, dependendo da situação, a sua reconstituição natural não será
possível. Assim, quando ocorre um homicídio, não há como trazer o morto de volta,
muito menos atingir sua situação material correspondente; portanto, o ressarcimento do
prejuízo ocorrerá com o pagamento do dano, o que nem sempre ressarce a vítima que,
no caso será a família do de cujus (falecido).Já a reparação por equivalente é de carácter
subsidiário, isto é, o dano é ressarcido em dinheiro, por uma prestação pecuniária. Não
se repõe o bem lesado, mas sim, compensa-se o dano sofrido restabelecendo a situação
patrimonial.

E nas duas vertentes apontadas, o médico, devia ser civilmente responsável, é


verdade que não forma por razoes que somente os indivíduos que viveram o momento
podem explicar. Somos apologistas que no Ordenamento jurídico de Moçambique,
muito concretamente na Beira, há diversas situações que consubstanciam erro médico e
acresce de sobremaneira para a existência de elevada taxa de mortalidade, todavia,
como atestam os resultados da pesquisa devidamente esclarecidos acima, os casos que
chegaram a tribunal envolvendo erro médico são quase inexistentes, e pergunta é
porquê? Acreditamos que larga maioria dos cidadãos ainda desconhece o seu direito a
compensação ou indemnização quando de uma violação dos seus direitos por erro
médico, na mesma senda o nível de analfabetismo das pessoas que geralmente são
vítimas pode contribuir para a ausência de demandas relativas ao erro médico, aliado a

33
isso está o fraco poderio financeiro das pessoas cuja grande maioria depende somente
depende do Hospital Público.

Na verdade, ainda não é muito claro quanto a natureza jurídica da relação


médico paciente. Acreditamos que a responsabilidade do médico poderá ser entendida
como contratual quando decorrer de contrato existente entre o médico e seu cliente, isto
é, quando o profissional estiver unido a seu paciente por um vínculo contratual, esta
situação pode se verificar muito no âmbito das clínicas privadas e extracontratual como
é óbvio, originando-se de uma situação que se não pode chamar um contrato. Nós
acreditamos no entanto que seja contratual, alias os contratos tanto podem ser verbais
quanto escritos por uma via ou por outra, encontram sempre tutela jurídico-legal no
Ordenamento Jurídico de Moçambique.

Cremos que o acesso a justiça em Moçambique ainda é uma utopia e esta muito
longe de se tornar realidade, pois, muitas são as famílias que são vítimas do erro médico
mas por insuficiência de recursos financeiros não podem demandar o médico em
tribunal. Que nos casos figuraria também o Estado na qualidade de comitente conforme
manda o artigo 500º e 501º ambos do código civil. O ministério Publico, que é o garante
da legalidade nem se faz presente em situações dessa natureza, não obstante a isso,
mesmo o próprio IPAJ, através do seu modus operandi não inspira segurança e garantia
aos cidadãos razão pela qual a responsabilidade civil pelo erro médico, é um tema a não
marginalizar. Mexe com vida e a integridade humana, que são dos maiores direitos
fundamentais admitidos constitucionalmente em Moçambique, e o legislador
moçambicano devia criar normas que se adequassem devidamente nelas de maneiras a
preservar até a população mais desfavorecida.

34
IV. Conclusão
A responsabilidade civil do médico está de regra fundamentada como conceito
de culpa civil. Para que se configure a responsabilidade do médico devem estar
presentes os requisitos do nexo causal, da conduta médica, do dano e culpa. Pode estar o
médico amparado por excludentes da responsabilidade como a culpa da vítima, caso
fortuito ou força maior ou fato de terceiro. No entanto, deve-se ter em mente que muitas
vezes o erro médico é ocasionado não só por uma conduta profissional inadequada, mas
também por despreparo e falta de condições mínimas de atendimento aos pacientes. A
probabilidade de o paciente sofrer dano quando não há recursos disponíveis é muito
maior e fogem a alçada do médico, que não pode resolver sozinho os problemas do
sistema de saúde.

Certamente a falta de recursos não justifica todos os erros médicos. O que se


deve ter em mente é que o profissional utiliza todos os meios e recursos necessários no
objectivo de proporcionar o melhor ao paciente, buscando a cura de sua enfermidade.
Com tudo, para se caracterizar o erro médico, deve haver prova inequívoca de sua
culpa, de que se tivesse agido de outra forma o erro que causou o dano não teria
ocorrido. Excepto nos caso de cirurgia plástica, onde o médico se compromete a
alcançar determinado resultado.

Portanto, ao analisar o erro médico é necessário considerar que cuidar uma


pessoa doente é muito delicado, visto que o facto de os hospitais não disporem de
mecanismos que possam diminuir a ocorrência de falhas, ou seja trabalha-se com
recursos insatisfatórios, fazendo com que o pessoal médico fique vulnerável a erros.

Os factores fisiológicos, ambientais também contribuem para a ocorrência de


erros, a título de exemplo o stress desempenham um papel predominante uma vez que a
responsabilidade de cuidar e curar uma pessoa impõe concentração e dedicação, Porém,
a culpa do profissional não pode ser presumida, mesmo que a responsabilidade seja
considerada contratual, ocorrendo isso o profissional deve empregar toda a sua técnica e
conhecimento sobre o assunto, com o objectivo curar o paciente deve explicitar as
consequências normais de determinada conduta, visto que o profissional deve gerir ou
actuar observando princípios da legalidade este é o principio para a inexistência de
irregularidades.

35
Muitos dos casos de erros médicos fundam-se no facto de em muitos casos tem
sido instaurado um processo de inquérito para o esclarecimento do sucedido. Não existe
nenhum mecanismo de controlo da actividade médica, tanto na procuradoria assim
como no tribunal. Quando o Estado toma conhecimento age a favor da instituição
deixando a outra parte vulnerável e sem meios para se defender visto que o ministério
público torna-se advogado do estado e deixando a outra parte vulnerável e isso fazendo
com que se viole o princípio de igualdade e universalidade, no artigo 30 da constituição.
Moçambique não está preparado em recursos (humanas, materiais e tecnológicas) para
fazer o controlo da actividade médica por isso, o erro médico no país é de elevado
índice.

36
V. Referências Bibliográficas
Manuais

1. AGUIAR, Ruy Rosado; Responsabilidade civil do médico; São Paulo; Revistados


Tribunais, nº 718 – Agosto de 1995.
2. CARDOSO, Marco André; Abordagem sobre a prática do erro médico; Instituto de
Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe; São Paulo; 2014. Disponível em
www.grupouninter.com.br/revistasaude/index.php/.../article/.../215

em 20.03.0215 as 09h43.

3. CARVALHO, F. A; Aspectos éticos do erro médico; Revista de Saúde Pública; São


Paulo, 2000.
4. DIAS, José de Aguiar; Da responsabilidade civil;10ª Edição; Rio de Janeiro;
Forense; 1997.
5. Extractos do Dicionário Jurídico da Prof. Ana Prata 5ª vol I
6. GOMES, Júlio Cézar Meirelles; Erro médico: Reflexões; Brasilia; 2010.
7. IGNÁCIO, Aline Letícia; Responsabilidade civil decorrente de erro médico;
Faculdades Integradas António Eufrásio de Toledo; São Paulo; 2003.
8. MARCONI, Marina de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho
Científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projecto e relatório,
publicações e trabalhos científicos; 6ª edição; São Paulo; Atlas; 2003.
9. STOCO, Rui; Tratado de Responsabilidade Civil. 5. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais; 2000.
10. VENOSA, Sílvio de Salvo. Contratos em espécie e responsabilidade civil. Vol. III,
São Paulo: Atlas, 2001.
Legislação

a) República de Moçambique, Estatuto da Ordem dos Médicos de Moçambique,


in Boletim da República, Lei 3/2006 de 03 de Maio de 2006.
b) República de Moçambique, Lei de Defesa do Consumidor, in Bolentim da
República, Lei nº22/2009 de 28 de Setembro de 2009;
c) República de Moçambique, Constituição da República de Moçambique,
aprovado pela Assembleia da República, em 16 de Novembro de 2004;

37
d) República de Moçambique, in Boletim da República, Decreto-lei nº 47 344, de
25 de Novembro de 1966, extensivo às Províncias Ultramarinas através da
Portaria nº 22 869, de 04 de Setembro de 1967, aprova o Código Civil;
e) República de Moçambique, in Boletim da República, Decreto nº 48 033, de 11
de Novembro, aprova o Código de Processo Civil, atento às alterações
introduzidas pelos Decreto-lei nº 01/2005, de 27 de Dezembro e Decreto Lei nº
01/2009, de 24 de Abril.
f) República de Moçambique, in Boletim da República Lei n 14⁄2009 de 17 de
Marco Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, aprovado pela
Assembleia da Republica aos 31 de Outubro de 2008.
g) República de Moçambique, in boletim da Republica, Decreto n 43⁄2014 de 29 de
Agosto, aprova o Estatuto Médico na Administração Publica, Lei n 25⁄2013
de 1 de Novembro.

38

Você também pode gostar