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Faculdade de Direito
Curso de Direito
Disciplina de Práticas Jurídicas Forenses
Beira
2023
Universidade Zambeze
Faculdade de Direito
Curso de Direito
O supervisor:
Dra. Pedro Tamele
Índice
I. INTRODUÇÃO.........................................................................................................5
1.2. Justificativa.............................................................................................................6
1.3. Problematização.....................................................................................................7
1.4. Objectivos...............................................................................................................8
1.4.1. Geral....................................................................................................................8
1.4.2. Específicos..........................................................................................................8
2.4.1. Conceito............................................................................................................12
2.4.3. Contratual..........................................................................................................14
2.4.4. Extracontratual..................................................................................................15
2.4.5. De resultados.....................................................................................................16
2.4.6. Subjectiva..........................................................................................................17
2.4.7. Objectiva...........................................................................................................17
IV. Conclusão.............................................................................................................35
V. Referências Bibliográficas....................................................................................37
I. INTRODUÇÃO
O relatório em apreço tem como tema “Responsabilidade Civil pelo Erro
Médico no Ordenamento Jurídico Moçambicano”. O interesse pelo estudo da
responsabilidade civil do médico é muito importante, quando se tem conhecimento de
que, actualmente, muitos desses profissionais têm agido de forma negligente,
imprudente ou ainda, com imperícia. A figura do médico sempre foi vista como alguém
que não podia ser responsabilizado por qualquer de seus actos, uma vez que, sua função
era revestida de carácter religioso, dando-se a Deus tudo o que se referia à saúde e à
morte. O médico era visto como um amigo e conselheiro da família, daí porque não se
duvidar dos seus serviços prestados.
Ocorre que, mesmo existindo legislação prevendo todo esse direito, muitos não
o procuram, seja por receio em chegar ao Poder Judiciário ou por falta de acesso à
justiça, considerando sua situação económico-financeira. Portanto, o presente estudo
possui dois objectivos, quais sejam: demonstrar que no âmbito da responsabilidade
civil, existem meios legais para se obter a justiça a que se busca, fazendo com que os
médicos respondam civilmente por seus erros e que, as vítimas sejam indemnizadas
com aquilo a fazem jus.
I.2. Justificativa
O valor da vida, que está intrinsecamente ligado ao valor da saúde, que é devida,
ente protegida ou pelo menos devia ser pela Médica, sempre foi objecto de apreciação
por nossa parte. O respeito e a igualdade de tratamento dependendo a classe
socioeconómico e cultural diante dos profissionais da medicina fazem com que seja
mais importante ainda entender como deve o Direito tratar tais situações e como criar
mecanismos de responsabilização. O Direito, sendo conjunto de normas que aparecerem
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para regular a vida em sociedade, deve e tem a obrigação de instrumentalizar a medicina
para a convivência em sociedade, e tal convivência deve ser sobretudo alicerçada sobre
os princípios de igualdade de tratamento e respeito pela vida, pois, muitos dos erros
médicos surgem como a frente esclarece pela ausência de preparação do profissional de
saúde e por mera negligência. O direito tem a obrigação de responsabilizar os
profissionais atendendo de tudo o que é a culpa, ou seja aquela que não decorre da má
prática em si: decorre da culpa da entidade envolvida, seja pela má escolha do
profissional (culpain eligendo), seja pela omissão do dever de fiscalizar sua actuação
(culpa in vigilando).
Um outro facto que pesou muito na escolha do tema, é que o Direito Civil é
sempre lindo pois dinamiza as mais diversas situações do dia-a-dia das pessoas,
evoluindo junto com elas, aliado a isso, interessou-se ainda mais observou-se que a
responsabilidade civil pelo erro médico na vertente do consumidor, atendendo que os
hospitais não são os únicos lugares onde a medicina é exercida mas há também em
clínicas privadas e o tratamento no que concerne a responsabilização deve ser o mesmo,
e sempre em respeito pelo princípio da igualdade de tratamento.
I.3. Problematização
No ordenamento jurídico moçambicano o erro médico sempre foi apreciado na
vertente civil uma vez que a actividade medicina é pública e tutelada pelo Estado, e não
observado na perspectiva do direito do Consumidor, alias, tal lei é nova no nosso
ordenamento jurídico, como é o caso do direito Brasileiro. Os médicos são seres
humanos e também estão condicionados ao erro, se de facto, é inevitável aceitarmos
esta situação, como verdade inegável, é importante concentramos os nossos esforços
para saber até que ponto pode o erro ser objecto de responsabilização de um Hospital
bem como de um médico. Sabendo pois que o direito a vida e saúde, estritamente
ligados a medicina como referimos na nossa introdução, são direitos plasmados na
Constituição da República de Moçambique, e são dos mais valiosos que existem, até
porque o próprio Estado ratificou dispositivos internacionais que visam a salvaguarda
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desses direitos. Observando a coisa, nesta perspectiva diante os factos elaborou-se o
presente trabalho, movidos pela questão seguinte: Qual é a Responsabilidade Civil Pelo
Erro Médico no Ordenamento Jurídico Moçambicano?
I.4. Objectivos
I.4.1. Geral
Possuir conhecimentos sobre o nível de aplicação da responsabilidade civil pelo erro
médico no Ordenamento Jurídico Moçambique.
I.4.2. Específicos
Descrever os contornos do erro médico e esmiuçar-se sobre os seus principais tipos;
Evidenciar os principais tipos de responsabilidade civil que se podem encontrar no
ordenamento jurídico de Moçambique;
Identificar casos e consequências jurídicas do erro especialmente no que concerne a
compensação por danos não patrimoniais;
Sugerir medidas de fiscalização e controle jurídico do exercício da medicina com
vista a precaver os possíveis erros médicos.
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em estudo, desde de publicações avulsas, boletins jornais, revistas, livros, pesquisas,
monografias, teses, material cartográfico, filmes…”. Este método consistiu na recolha
de informações através de diferentes literaturas que dão directrizes como é que o
problema proposto poderá ser resolvido. O seu uso no trabalho, ajudou o autor a
obtenção de várias informações que permitiram a realização do presente relatório.
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II. CAPÍTULO II. EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITO
RELEVANTES
Por sua vez Gomes (2010), erro médico é o mau resultado ou resultado adverso
decorrente de acção ou da omissão do médico. O erro médico pode se verificar por três
vias principais. A primeira delas é o caminho da imperícia decorrente da "falta de
observação das normas técnicas", "por despreparo prático" ou "insuficiência de
conhecimento" como aponta o autor Genival Veloso de França É mais frequente na
iniciativa privada por motivação mercantilista. O segundo caminho é o da imprudência
e daí nasce o erro quando o médico por acção ou omissão assume procedimentos de
risco para o paciente sem respaldo científico ou, sobretudo, sem esclarecimentos à parte
interessados. O terceiro caminho é o da negligência, a forma mais frequente de erro
médico no serviço público, quando o profissional negligencia, trata com descaso ou
pouco interesse os deveres e compromissos éticos com o paciente e até com a
instituição. O erro médico pode também se realizar por vias esconsas quando decorre do
resultado adverso da acção médica, do conjunto de acções colectivas de planeamento
para prevenção ou combate às doenças.
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geram erros, pode-se tornar a prática médica mais segura para pacientes e profissionais
de saúde. Portanto, este autor avança que os erros variam em várias situações, podendo
serem:
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como falta de cuidado, falta de atenção ou falta de conhecimento. Essa imposição de
perfeição na prática, exigida não só de seus pares como também de seus próprios
pacientes, dificulta uma abordagem construtiva do erro, na medida em que marginaliza
e estigmatiza o profissional envolvido no caso. Os factores fisiológicos, ambientais e
psicológicos também contribuem para a ocorrência de erros. Nesse contexto, o stress
desempenha um papel preponderante, uma vez que a responsabilidade de cuidar e curar
uma pessoa impõe dada concentração e dedicação. Essa dedicação sobrecarrega os
médicos, submetendo-os a uma carga de stress frente a um problema de saúde, embora
tenham se habilitado para essa responsabilidade (CARDOSO, 2014, p. 174).
II.4.1. Conceito
No século passado, o acto médico resumia-se na relação entre a confiança do
paciente e a consciência do médico. O médico era visto como profissional cujo título
garantia a omnisciência, isto é, médico da família, amigo e conselheiro, figura de uma
relação social que não admitia dúvidas sobre a qualidade de seus serviços. No entanto,
actualmente “as circunstâncias estão mudando”, conforme entendimento de AGUIAR
(1997, p. 132).
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com o estado da ciência e as regras consagradas pela
prática médica, dever esse consubstanciado em um
Código de Ética, ao qual deve respeito e obrigação.
Portanto, essa exigência e cuidado devem ser
estabelecidos segundo o actual estágio da ciência e as
regras consagradas pela prática médica. Aliás, a
legislação a respeito é pobre e escassa, pois regem a
Medicina)."
Na óptica da autora, antes de tudo, o médico deve proceder de acordo com o que
ordena o Estatuto do Médico, devendo agir com diligência e cuidado no exercício de
sua profissão, para que assim, não seja responsabilizado por algum de seus actos. O que
se deve ter em mente é que seja o médico contratado para prestar serviços ao paciente,
recebendo honorários pelo seu trabalho, ou actue como profissional voluntário,
realizando seu trabalho gratuitamente, nos dois casos prevalecerá o dever de reparar o
dano à vítima, caso esse venha a ocorrer, pois, mesmo o médico voluntário dever
obedecer as normas do Estatuto do Médico, lembrando-se sempre do seu juramento,
qual seja. São diversos os conceitos encontrados sobre responsabilidade civil do
médico, por isso, o presente trabalho procurou mencionar apenas alguns autores, para
que, de alguma forma, torne mais claro o objectivo almejado, ou seja, mostrar em quais
situações práticas pode ocorrer a responsabilidade do médico devido a algum erro
praticado em sua profissão e que de uma maneira sintética, fiquem evidenciadas as
ocasiões onde o médico é responsabilizado por seus actos.
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essa relação se trata de relação contratual ou extracontratual. Em razão disso, o presente
trabalho mostrará as regras específicas em cada caso. Portanto, ainda, discute-se em
quais caso a responsabilidade civil do médico pode ser considerada objectiva ou
subjectiva. E, em determinadas circunstâncias, faz-se a análise quanto ao seu fim, qual
seja, se a obrigação profissional do médico é de meio ou de resultado.
II.4.3. Contratual
A responsabilidade do médico será contratual quando decorrer de contrato
existente entre o médico e seu cliente, isto é, quando o profissional estiver unido a seu
paciente por um vínculo contratual.
O contrato será, porém, de forma escrita quando, por exemplo, o paciente assina
uma autorização para que o médico realize determinada cirurgia. Assim, observa-se que
a diferença entre os dois tipos de contrato está no facto de um depender,
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necessariamente, de documento escrito e/ou assinado pelo paciente e pelo médico, não
sendo exigível no contrato verbal.
II.4.4. Extracontratual
Na responsabilidade extracontratual, não há contrato firmado entre médico e
paciente, como no caso da responsabilidade contratual. Ocorre, na responsabilidade
extracontratual, uma voluntariedade por parte do profissional em querer ajudar, tratar de
seu paciente, sem que para isso, firme um acordo com ele. Assim, o médico presta
serviços de forma espontânea, quando as circunstâncias da vida colocam-no frente à
frente com o enfermo. Exemplo básico disso é quando o profissional se depara com a
vítima de acidente em via pública e, de maneira urgente, precisa socorrê-la. Nesse caso,
não houve o expresso consentimento da vítima em querer ser atendida por tal médico,
devido à sua impossibilidade. No entanto, embora não tenha sido firmado um contrato
entre o médico e o paciente, isso não isentará o médico da obrigação de indemnizar,
caso ocorra algum dano; haja contrato ou não.
Portanto, para que se exija a reparação do dano pelo médico é necessário provar
que o profissional agiu com culpa na prática do acto, conforme entendimento
jurisprudencial. Logo, o que se percebe, é que na responsabilidade extracontratual há
uma dificuldade maior ao lesado, vez que não existe nenhum vínculo jurídico contratual
entre a vítima e o causador do dano.
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II.4.5. De resultados
Segundo Ignácio (2003, p. 65), no sistema moçambicano a obrigação é de
resultado quando há o total comprometimento do médico em chegar a um determinado
fim, caso contrário, não terá cumprido com a sua obrigação e deverá arcar com as
consequências.
O autor Ignácio (2003, p. 65), avança ainda que não só em cirurgias, onde há o
comprometimento do médico de chegar ao resultado desejado mas, também em
transfusões de sangue, exames clínicos radiológicos e assemelhados, há a obrigação de
resultado do médico, pois, nesses casos, o profissional obrigatoriamente deverá chegar
ao resultado almejado, ficou acordado entre médico e paciente assim, se o médico se
propõe a alcançar esse resultado, é presumível a sua culpa caso não o atinja. Destrate,
em se tratando de cirurgia não resta qualquer dúvida de que a actividade médica é de
resultado, devendo, portanto, o médico atingir o fim esperado pelo paciente e com ele
compactuado.
Logo, se numa transfusão, o sangue está infectado pelo vírus HIV e o médico,
com negligência e imprudência, não o analisa cuidadosamente, aplicando-o em seu
paciente e infectando-o, nesse caso, não só o médico, mas também toda a equipe que
trabalhou conjuntamente, ou seja, os enfermeiros e seus auxiliares, serão
responsabilizados civilmente por danos materiais e morais. Portanto, nesses tipos de
exame sanguíneo, seja para fazer o teste HIV ou para realizar transfusão de sangue, o
máximo de cuidado e atenção são devidos para que não ocorra nenhum erro e o médico
e sua equipe não sejam responsabilizados solidariamente pelo dano. Na obrigação de
resultado, o ónus da prova se inverte, cabendo ao médico provar que não agiu com
culpa ou que ocorreu um caso fortuito ou força maior; bastando ao paciente provar o
incumprimento do profissional.
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actividade médica é de resultado resta tão somente ao profissional provar que, devido à
ocorrência de caso fortuito ou força maior, foi impossível atingir o fim esperado.
Entretanto, o parâmetro para a presunção da culpa não é a existência de um contrato ou
não, mas sim, o tipo de obrigação assumida pelo profissional com seu paciente.
Logo, nada mais justo que seja esse tipo de obrigação assumida, pois tira do
prejudicado todo o encargo de ter que provar a culpa do profissional, cabendo a esse a
tarefa de provar a sua não culpa.
II.4.6. Subjectiva
A responsabilidade subjectiva baseia-se no facto da vítima ter que provar o dolo
ou culpa stricto sensu (negligência, imprudência ou imperícia) do agente, para que
possa ser indemnizada pelo dano ocorrido. Para que haja a responsabilidade do médico,
não é necessário que a culpa seja grave; basta ocorrer a culpa levíssima para que se faça
cabível a reparação do dano, (IGNÁCIO, 2003, p. 67).
II.4.7. Objectiva
Na responsabilidade objectiva, ao contrário da anterior, não se exige prova da
culpa para que haja a reparação do dano. A culpa é presumida pela lei ou sua
comprovação é dispensada. Dessa forma, é o que reza o art. 486 do Código Civil
Moçambicano (Decreto Lei nº 3/2006 de 23 de Agosto), impondo o dever de reparar o
dano, independentemente de culpa, nos casos previstos em lei ou quando a actividade
do agente causador do dano, por sua natureza, implicar em risco para os direitos de
outrem. Nesse tipo de responsabilidade, há obrigação de ressarcimento do dano,
incumbindo ao autor do pedido de indemnização provar apenas a acção ou omissão do
agente e o resulta do danoso.
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(responsabilidade do comitente) conjugado com art. 501 (responsabilidade do Estado e
de outras pessoas colectivas públicas) do Código Civil Moçambicano.
Determinar a culpa médica é trabalho árduo, vez que é muito difícil identificar a
causa e apontar o nexo causal entre ela e o dano sofrido pelo paciente. Disso decorre o
facto de que o médico realiza sua profissão dentro da área biológica, não podendo
prever um fim específico para determinado problema de saúde. Exemplo disso é quando
o médico realiza uma intervenção cirúrgica no abdómen de um paciente, utilizando
todos os seus conhecimentos técnicos e científicos. No entanto, alguns dias após a
cirurgia, o paciente torna-se vítima de um virulento processo infeccioso que o leva a
óbito.
O médico, nesse caso, não poderia prever esse facto que foge ao seu controle,
sendo-lhe impossível fazer alguma coisa para evitar o acontecimento, (IGNÁCIO, 2003,
p. 70).
Dessa forma, fica difícil apontar a verdadeira causa do dano sofrido pelo
paciente, mesmo que se realize perícia médica. Ainda há de se observar que factores
diversos podem interferir no resultado final sem que se recaia qualquer tipo de
responsabilidade sobre o médico, pois esse não tem como evitá-los. Assim, para que o
profissional seja responsabilizado, faz-se necessário demonstrar clara e expressamente
que a origem do dano está na inexecução da obrigação do médico. Não se pode esquecer
que a acção ou omissão do médico é um dos pressupostos de sua responsabilidade civil,
portanto, é preciso mostrar que o dano proveio de uma acção positiva ou negativa do
profissional, ou que o serviço por esse prestado foi mal executado.
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Logo, para que surja o dever de indemnizar pelo médico, torna-se necessária
existência de um dano ao paciente, seja de qualquer tipo ou espécie, lesionando o
direito, à vida, à integridade física ou à saúde ou, lesionando um interesse legítimo, isto
é, danos patrimoniais ou morais.
Contudo, para haver a obrigação de indemnizar é necessário que haja dano que é
um facto ilícito culposo que causa prejuízo a outrem, portanto o dano é um prejuízo que
o sujeito sofre na pessoa jurídica ou nos seus bens. Além da existência do dano e de
uma ligação causal entre o facto gerador da responsabilidade e o prejuízo, devem
verificar se entre outros pressupostos para o surgimento da responsabilidade civil.
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II.6. Análise Jurídico do Erro Médico
IGNÁCIO (2003, p. 75), a análise, a verificação da ocorrência do erro médico é
de extrema dificuldade aos operadores do Direito e, de modo especial, aos aplicadores
do Direito e, actualmente, essa dificuldade só vem aumentando, uma vez que as
demandas indemnizatórias crescem de maneira plausível.
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b) Código Civil, nos artigos 496 (Princípio Geral); 486 (Omissões); 494 (Limitação de
indemnização no caso de mera culpa); 495 (indemnização do terceiro em caso de
morte ou lesão corporal); 500 (Responsabilidade do comitente); 501
(Responsabilidade do Estado e de Outras pessoas colectivas públicas); 562
(Obrigação de indemnizar); 564 (Cálculo de Indemnização)e 566 (Indemnização em
dinheiro) respectivamente;
c) Código do Processo Civil, alínea b) do número 2 do artigo 4 (Espécies de acções
consoante o seu fim);
d) Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, nos artigos 78
(Responsabilidade Disciplinar); 81 (Tipos de sanções disciplinares)19 e; 86
(Despromoção);
e) Estatuto Médico, no artigo 6 (Responsabilidade dos médicos);
f) Lei da ordem do Médico, no artigo 6 (Responsabilidade dos médicos);
g) Lei do consumidor, artigos 5 e 7 (direitos do consumidor, direito a protecção de
vida, saúde e segurança física.
III.1.1.Responsabilidade civil
É aquela em que por certo comportamento culposo ou doloso, alguém fica
obrigado a indemnizar ao lesado. Ou seja Responsabilidade civil = obrigação de
indemnizar (tornar a pessoa indemne, sem dano). Não podemos deixar de realçar que a
responsabilidade civil pode ser por actos ilícitos. Quando ocorre esse tipo de
responsabilidade civil a indemnização manifesta-se de maneiras diferentes e a mesma,
pode ser:
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1. Restituição natural “in natura” – art. 562º CC segundo o qual “quem estiver
obrigado a reparar um dano, deve reconstituir a situação que existiria, se não
se tivesse verificado o evento que obriga a reparação”.
2. Reconstituição por equivalente por mero equivalente - art.566º nº1 do CC
segundo o qual “A indemnização é fixada em dinheiro, sempre que a
reconstituição natural não seja possível, não repare integralmente os danos ou
seja excessivamente onerosos ao devedor”.
3. Compensação (em dinheiro sobre danos não patrimoniais, morais e extra
patrimoniais) – art.496º do CC, socorremo-nos do nº1 para atender as nossas
pretensões na qual dispõe que: “na fixação da indemnização deve atender-se
aos danos não patrimoniais que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do
direito”, neste âmbito, os exemplos mais comuns são mortes, difamações entre
outros.
O pressuposto da indemnização encontra a sua base legal no artigo 483º do CC
com remissão para os artigos 562º, 566º, 496º, 564º, 488º todos do mesmo diploma
legal. Código Civil. É verdade que diante de tudo isto, deve atender-se sempre ao
princípio: o que não é provado não existe para o Direito ou seja allegatio incumbi
probatio.
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devidamente inscrito na Ordem dos Médicos de Moçambique, a responsabilidade
administrativa aqui vai ser o culminar de uma violação de normas subjacentes ao
Direito Administrativo e para isso, encontrará alicerce nas disposições legais dos artigos
78º e seguintes do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, aprovado
pela Lei nº14/2009 de 17 de Março, é preciso lembrar que no caso do exercício privado
da medicina o instrumento jurídico-legal a ser empregue vai ser o Estatuto do Médico.
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observando os princípios da legalidade é condition sine qua non para a inexistência de
irregularidades administrativas.
Como se pode atestar do artigo 52º do Código Penal segundo o qual: “Têm
responsabilidade criminal todos os agentes de factos puníveis, em que no concorrer
alguma circunstância dirimente dessa responsabilidade, nos termos do artigo 41º e
subsequentes, salvas as excepções expressas na Lei”.
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relação de causalidade é o liame entre o ato lesivo do agente e o dano ou prejuízo
sofrido pela vítima. O que verifica-se ser a existência de um nexo de causa-efeito entre
o facto danoso e o prejuízo, portanto, não basta apenas que a vítima sofra dano, é
preciso que esta lesão passe a existir a partir do acto do agressor para que haja o dever
de compensação. Alias, o artigo 563º do CC, já faz uma alusão clara a esse conceito
segundo o qual: “a obrigação de indemnizar só existe em relação aos danos que o
lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão”.
3.2.3. Dano
Entendemos nós que dano deve ser entendido aqui e para efeitos do presente
trabalho, como sendo o prejuízo ou a perda patrimonial ou moral, quando falamos de
prejuízos que não são susceptíveis de uma avaliação pecuniária, como é o caso de
atentado a dignidade da pessoa humana, a sua vida privada entre outros, sofrido por uma
pessoa em consequência do comportamento de um terceiro.
3.2.4. Culpa
A culpa é nosso entendimento que é no sentido amplo a simplesmente imputação
de determinado acto ao correspondente agente, todavia no sentido restrito deve ser
entendendo como por contraposição ao dolo, a conduta omissiva da diligência exigível,
isto que pode ser entendido como negligência ou imperícia. Para ser susceptível do juízo
de culpabilidade, o agente tem de ser imputável. A Lei considera não imputáveis as
pessoas que, no momento do facto estavam, por qualquer razão, incapacitadas “de
entender e de querer”, salvo de houver o próprio agente a colocar-se culposamente
nesse estado, se este for transitório.
Em relação aos sete anos e aos interditos por anomalia psíquica, a lei estabelece
uma presunção de imputabilidade – artigo 488. ͦ C.C. No entanto mesmo os imputáveis
podem ser condenados a reparar os danos, total ou parcialmente, por motivo de
equidade, “desde que não seja possível obter a devida reparação das pessoas a quem
incumbe a sua vigilância”, artigo 489 ͦ, C.C. A culpa é, em principio, apreciada segundo
a diligencia do bónus pater familiar ou do homem médio (apreciação abstracto), e
apenas nos casos em que a lei expressamente o estabeleça, pela diligencia habitual do
autor do facto (apreciação em concreto artigo 487 ͦ, C.C.
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consciente (em que o agente teria previsto a possibilidade do resultado ilícito, mas teria
agido para alcançar um fim licito, na esperança temeria de que aquele não si produzisse)
e a culpa inconsciente (o agente não previa o resultado ilícito, mas este real
objectivamente previsível, usando a diligencia exigível).
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Insuficiência de ambulancia para socorros 33%
dos pacientes
Ora, não restam dúvidas que a organização interna do próprio hospital, deixa
muito a desejar, e inequivocamente as consequências da gritante desorganização
catapulta o surgimento de erros médicos e provocam o agravamento da doença do
paciente por um lado, e por outro lado, a instauração do processo de inquérito para
esclarecimento do sucedido e consequentemente os procedimentos subsequentes. A
tabela abaixo foi concebido para atestar e fundamentar o que se vem, referindo nas
alíneas anteriores a número. E a pergunta que não quer calar, é porque? Claro que isto
não nos leva a questão de fundo, contudo ajuda-nos a compreender melhor o cenário em
que grande parte da população moçambicana a residir em Pemba vive, fruto de
desculpas dos profissionais que em princípio deviam zelar pela saúde do cidadão.
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Insuficiência do pessoal médico 39%
especializado
Falta de repouso do pessoal médico 11%
Baixo salário 13%
Tabela 3: Principais causas de cometimento de erros médicos (2019 – 2022) Fonte:
Autor (20123)
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uso do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado em consonância com o
Estatuto do Médico e que caso o processo transcenda a outras instâncias (Procuradoria)
é relegado as legislações anteriormente citadas30 e caí-se o código civil. No âmbito das
actividades da Procuradoria não existe nenhum mecanismo de controlo da actividade
médica, visto que, a actividade médica como outras exercidas no Estado rege-se pelos
princípios e comuns estabelecidos na lei: isto é, todo o comportamento do profissional
de saúde esta plasmado na lei e a sua violação de um dever profissional acarreta uma
sanção previamente estabelecida. Portanto quando se verificar um erro grave e de
natureza criminal aí o dever da intervenção do Ministério Público.
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é diferente daquele que é nosso entendimento, pois em inúmeras ocasiões, o erro
médico é confundido com problemas de organização interna, o que na nossa modesta
percepção como aspirantes a juristas não é o que devia ser. Ora, atendendo as questões
das responsabilidades que foi acima devidamente esclarecido, o HPB, vê no erro médico
somente a sanção administrativa, alias, não pode faze-lo numa outra vertente uma vez
que não figura como parte lesada em consequência de um erro médico, tem porem e no
mínimo a obrigação de não somente mover um processo disciplinar, mas também,
comunicar a Ordem dos Médicos de Moçambique.
No que tange a Procuradoria Provincial da Beira, que alias exerce a função penal
em Sofala, os casos vertentes de erro médico, fundam-se com omissão, ou seja, o
médico deixa de fazer correctamente o seu dever. É verdade que muitos médicos tem
falta de conhecimentos e aptidões necessárias para engrenar na careira de medicina, mas
nos recusamos a entender isso como sendo um verdadeiro erro médico, isto, seria no
mínimo, um erro institucional. Reparamos que o papel do Ministério Público apenas se
desencadeia volvido um insucesso no âmbito disciplinar, mesmo sabendo que tratam-se
processos extremamente diferentes.
No que tange ao médico, este claro que o Ministério Público não tem um papel
preponderante conforme a Lei assim lhe confere, pois, fica apenas a espera de uma
eventual denuncia ou participação do cidadão, esquecendo-se porem que o cidadão mais
lesado, é provavelmente o menos instruído, o que a ser assim, mostra claramente a sua
vulnerabilidade para acompanhar as coisas e reclamar os seus direitos junto das
autoridades competentes para o efeito. É verdade que o nosso tema versa sobre a
responsabilidade civil, contudo para uma analise mais detalhada, não nos coibimos de
esclarecer factualmente a vertente da responsabilidade criminal, que alias, também
condiciona a indemnização ao lesado quando devidamente provado em sede de
audiência decisão e julgamento.
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negligência. É nosso entendimento que o erro médico deve ser passível de
responsabilidades civil, nos moldes acima atestados e conforme manda o artigo 483º n
do CC.
Ora, no que tange a responsabilização civil pelo erro médico, acreditamos que
uma das grandes condições que se impõe, se afigura no artigo 3º da Lei nº22/2009 de 28
de Setembro, a Lei do Consumidor, segundo o qual enfatiza no seu nº 1º “A presente Lei
aplica-se a todas as pessoas singulares e colectivas, públicas e privadas que
habitualmente desenvolvem actividades de produção, fabrico, importação, construção,
distribuição ou comercialização de bens e ou serviços a consumidores, mediante a
cobrança de um preço”, ou seja tanto as instituições públicas quanto privadas estão
vinculadas a norma.
Vale realçar que o valor fundamental de todo ser humano é a Vida e que esta
intrinsecamente ligada a dignidade, ex vide artigo 40º do Texto Constitucional de 2004
actualmente em vigor no Ordenamento jurídico de Moçambique, portanto, é nosso
entendimento que grande parte dos profissionais não levam em conta esta encíclica no
acto de fazer o seu trabalho e os seus erros vão atentando contra a integridade física dos
utentes daqueles serviços. E tratando-se de interesses tutelados pelo direito, é lícito que
qualquer cidadão tem o direito de fazer valer o seu direito violado nos tribunais, aliás
assim o diz o artigo 62º da CRM (Constituição da República de Moçambique).
Queremos acreditar, que apesar de todo aparato legal que gira em torno das
garantias dos cidadãos e da segurança jurídica em função dos seus direitos
fundamentais, a responsabilidade civil pelo erro médico esta estritamente condicionada
a ideia de direitos de consumidor. Alias, a Lei nº22/2009 de 28 de Setembro, a Lei do
Consumidor, não define e nem conceptualiza o consumidor, limitando-se porém a
incumbir ao Estado o dever de garantir e proteger os interesses do Consumidor.
Entendemos nós que no que tange a consumidor “considera-se consumidor todo a
aquele a quem seja fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos quais direitos,
destinados ao uso não profissional, por pessoa que exerça por carácter profissional
uma actividade económica que vise a obtenção de benefícios”, esta definição além de
ser tónica constante nos países europeus também o são nos países de expressão
portuguesa, tal é o caso de Portugal.
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A ser assim, qualquer cidadão moçambicano que vai a um estabelecimento de
saúde o faz na condição de consumidor, pois, vai a busca de um bem ou serviços e
como assim procede, deve exigir o melhor possível, alias a Lei nº22/2009 de 28 de
Setembro, a Lei do Consumidor no seu artigo 7 nº1, preceitua em epígrafe, o direito a
protecção da vida, saúde e segurança física. Acreditamos que os documentos que se
assinam constituem verdadeiras fontes de obrigação, na medida em que o profissional
de saúde deve agir com zelo sob pena ser civilmente responsabilizadas, e sobretudo por
danos não patrimoniais, ou seja, aqueles que não são passíveis de uma avaliação
pecuniária. O erro médico, origina deformações físicas permanentes até a morte, e neste
então a pergunta que se faz é a seguinte, o médico não pode ser responsabilizado
civilmente por erro? Nós acreditamos que sim. Que pelos dispositivos avançados o
médico pode e deve ser chamado a responsabilidade em caso de erro.
Alguns dos erros mais comuns dos médicos nacionais são a imprudência e a
negligência, esta é uma ilação tirada pelo inquérito directos as pessoas sofredoras que
no entanto não se quiseram identificar.
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Podíamos ainda falar da imperícia como outro erro médico característico,
contudo cinjamo-nos na reparação. Como bem se sabe, a responsabilidade deriva da
obrigação cujo objecto é e deve ser entendido como sendo a reparação. Neste sentido, a
reparação do dano não pode se operar somente pela via da obrigarão sendo que é esta
parte do CC que tutela de interesses semelhantes. Que como bem sabemos deve ser por
via de reconstituição in natura ou por mero equivalente deixando a res(coisa, objecto)
no estado em que se encontrava; e pela reparação por equivalente, como por exemplo,
no caso de morte da vítima, onde a simples reparação do dano (morte), não ressarce a
família por completo, pois é impossível retornar ao status quo ante, ou seja, ao estado
anterior que seria o regresso a Vida do malogrado.
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isso está o fraco poderio financeiro das pessoas cuja grande maioria depende somente
depende do Hospital Público.
Cremos que o acesso a justiça em Moçambique ainda é uma utopia e esta muito
longe de se tornar realidade, pois, muitas são as famílias que são vítimas do erro médico
mas por insuficiência de recursos financeiros não podem demandar o médico em
tribunal. Que nos casos figuraria também o Estado na qualidade de comitente conforme
manda o artigo 500º e 501º ambos do código civil. O ministério Publico, que é o garante
da legalidade nem se faz presente em situações dessa natureza, não obstante a isso,
mesmo o próprio IPAJ, através do seu modus operandi não inspira segurança e garantia
aos cidadãos razão pela qual a responsabilidade civil pelo erro médico, é um tema a não
marginalizar. Mexe com vida e a integridade humana, que são dos maiores direitos
fundamentais admitidos constitucionalmente em Moçambique, e o legislador
moçambicano devia criar normas que se adequassem devidamente nelas de maneiras a
preservar até a população mais desfavorecida.
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IV. Conclusão
A responsabilidade civil do médico está de regra fundamentada como conceito
de culpa civil. Para que se configure a responsabilidade do médico devem estar
presentes os requisitos do nexo causal, da conduta médica, do dano e culpa. Pode estar o
médico amparado por excludentes da responsabilidade como a culpa da vítima, caso
fortuito ou força maior ou fato de terceiro. No entanto, deve-se ter em mente que muitas
vezes o erro médico é ocasionado não só por uma conduta profissional inadequada, mas
também por despreparo e falta de condições mínimas de atendimento aos pacientes. A
probabilidade de o paciente sofrer dano quando não há recursos disponíveis é muito
maior e fogem a alçada do médico, que não pode resolver sozinho os problemas do
sistema de saúde.
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Muitos dos casos de erros médicos fundam-se no facto de em muitos casos tem
sido instaurado um processo de inquérito para o esclarecimento do sucedido. Não existe
nenhum mecanismo de controlo da actividade médica, tanto na procuradoria assim
como no tribunal. Quando o Estado toma conhecimento age a favor da instituição
deixando a outra parte vulnerável e sem meios para se defender visto que o ministério
público torna-se advogado do estado e deixando a outra parte vulnerável e isso fazendo
com que se viole o princípio de igualdade e universalidade, no artigo 30 da constituição.
Moçambique não está preparado em recursos (humanas, materiais e tecnológicas) para
fazer o controlo da actividade médica por isso, o erro médico no país é de elevado
índice.
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V. Referências Bibliográficas
Manuais
em 20.03.0215 as 09h43.
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d) República de Moçambique, in Boletim da República, Decreto-lei nº 47 344, de
25 de Novembro de 1966, extensivo às Províncias Ultramarinas através da
Portaria nº 22 869, de 04 de Setembro de 1967, aprova o Código Civil;
e) República de Moçambique, in Boletim da República, Decreto nº 48 033, de 11
de Novembro, aprova o Código de Processo Civil, atento às alterações
introduzidas pelos Decreto-lei nº 01/2005, de 27 de Dezembro e Decreto Lei nº
01/2009, de 24 de Abril.
f) República de Moçambique, in Boletim da República Lei n 14⁄2009 de 17 de
Marco Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, aprovado pela
Assembleia da Republica aos 31 de Outubro de 2008.
g) República de Moçambique, in boletim da Republica, Decreto n 43⁄2014 de 29 de
Agosto, aprova o Estatuto Médico na Administração Publica, Lei n 25⁄2013
de 1 de Novembro.
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