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UNIVERDADE LICUNGO

• CURSO DE DIREITO

• Cadeira: Direito penal II

• Tema: Concurso de crimes

• Data:
Noção

• Numa primeira abordagem importa distinguir entre, verificando-se esta


sempre que um mesmo agente preenche comunidade e pluralidade de
crimes a sua conduta uma mesma ou diversa norma penal incriminadora,
de forma plural.
• A pluralidade de crimes, neste sentido amplo, abrange tanto os casos em
que ao preenchimento plural de normas penais incriminadoras
corresponde a punição por igual número de crimes (concurso efectivo de
crimes), como as situações em que embora a conduta do agente
preencha um ou mais tipos penais de modo plural, o agente apenas
deverá ser punido por um dos crimes, atentas as especiais relações que se
estabelecem entre normas incriminadoras (concurso aparente de crimes)
• O concurso efectivo de crimes pode consistir, por sua vez, num
concurso de penas (matéria do cúmulo jurídico) ou numa sucessão de
penas (v.g. reincidência ou pena relativamente indeterminada),
conforme tenham, ou não, sido praticados antes do trânsito em
julgado da condenação por qualquer deles, de acordo com a regra
positivada no art. 38º do C. Penal de 1886.
As formas do concurso aparente – relações
entre normas
• No concurso aparente de crimes conclui-se, da análise das relações
entre normas penais incriminadoras que versem sobre o mesmo
objecto, que a aplicação de uma delas exclui a aplicabilidade das
restantes.
• O conteúdo ou a relevância criminosa do comportamento é esgotada
pela aplicação de um só dos tipos violados, pelo que os restantes
tipos penais igualmente preenchidos recuam perante aquele tipo
penal, subordinando-se ou hierarquizando-se perante tal aplicação.
• Por isso, do ponto de vista da aplicação do direito, há que comprovar
em primeiro lugar se a conduta do agente dá lugar a uma pluralidade
de qualificações para analisar então as relações entre elas,
fundamentalmente em função do bem jurídico protegido, e concluir
qual é a norma prevalecente, o que não é uma questão de
interpretação mas de relação entre normas como aludido, pois estas
integram-se num sistema, subordinando-se umas às outras,
sobrepondo-se, limitando-se reciprocamente.
• O concurso aparente de normas pode ser real ou ideal, consoante se
trate de várias acções ou omissões distintas ou de uma única conduta,
distinguindose ainda em concurso homogéneo ou heterogéneo
consoante esteja em causa a violação plúrima da mesma ou de
diferentes normas penais incriminadoras.
• Distinguem-se tradicionalmente as várias formas que pode assumir o
concurso aparente em função do tipo de relação verificada em
concreto entre as normas em concurso, embora, como ensina o Prof.
F. Dias, o significado da distinção é muito mais conceitual-
classificatório do que prático-normativo, pelo que apenas as
referiremos de forma breve.
• Entende-se comummente que se verifica o concurso aparente de
crime quando entre as normas concorrentes se verifique uma relação
de especialidade, de subsidiariedade ou de consumpção.
a) Especialidade.
• Verifica-se uma relação de especialidade entre normas, quando toda
a matéria de facto subsumível à norma especial cabe inteiramente no
âmbito mais vasto da norma geral, relativamente à qual a primeira é
norma especial, o que corresponde em regra à relação que se
estabelece entre um tipo fundamental e um tipo qualificado ou
privilegiado: a aplicação desta (lex specialis) derroga a aplicação
daquela (lex generalis), pelo que só o tipo especializado deverá ser
concretamente aplicado.
b) Consunção ou consumpção.
• Na sua acepção estrita, a relação de consumpção dá-se quando a
realização de um tipo de crime – mais grave – inclui a realização de
um outro tipo de crime, mais leve, aceitando-se que, em regra, o
legislador ao fixar a pena mais grave, tenha já entrado em linha de
conta com a circunstância de esta incluir já a punição pelo crime mais
leve, pois o crime mais grave abarca totalmente a tutela jurídica
relativamente ao facto que cabe na tutela comum de ambas as
normas.
c) Subsidiariedade
• Há subsidiariedade quando certas normas penais intervêm só de
forma auxiliar ou subsidiária, quando o facto não seja punido por
norma mais grave.
• Há que verificar, em função do facto concreto, qual das normas
concorrentes determina a aplicação de pena mais grave; esta valora
completamente o facto, de modo que a aplicação das duas normas
equivaleria à violação do princípio non bis in idem.
CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO
CRIME
O SISTEMA DE REACÇÕES CRIMINAIS
Sobre esta materia Vide dos art. 59 a 152 CP
• Partindo sobretudo do estudo sistemático levado a cabo pelo Prof. F.
Dias, procurar-se-á caracterizar um sistema de reacções criminais que,
na perspectiva da protecção e defesa dos direitos humanos, possa
considerar-se integrado no chamado movimento internacional de
reforma penal, penetrado por um património de ideias que radicam
num fundo político-criminal comum, de que podem apontar-se como
matrizes, as seguintes (F. Dias)
• – a restrição do âmbito e da frequência de aplicação das medidas
privativas da liberdade,
• – luta decidida contra as penas de prisão de curta direcção,
conducente à sua substituição na generalidade ou mesmo na
totalidade dos casos, por penas não detentivas ou não institucionais;
• – tentar limitar por todos os meios, o efeito estigmatizante – e,
consequentemente, criminógeno – das reacções criminais, sem
frustrar as expectativas sociais que subjazem às normas violadas;
• – esforço para revestir a estrutura e a aplicação das medidas de
segurança de garantias conformes à ideia do estado de Direito, sem
por isso prejudicar ou deixar de aprofundar o seu conteúdo social.
Penas e medidas de segurança art. 59, 112 ss
e 95 CP
• Num direito penal moderno, resultante da sucessiva evolução que tem
sofrido, no sentido de melhor satisfazer as exigências do Estado de Direito,
as consequências jurídicas do crime correspondem, essencialmente, às
reacções ou sanções criminais, ou seja, às penas e medidas de segurança
de cuja articulação, na resposta ou reacção ao mesmo facto, depende a
caracterização do sistema como monista, dualista ou híbrido.
• Num direito penal do facto, crescentemente garantístico e subsidiário ou
fragmentário, as medidas de segurança apenas são concebíveis enquanto
reacção ao facto, com carácter pós-delitual, ao contrário da concepção
subjacente ao C. Penal de 1886 que prevê diversas medidas de segurança
pré-delituais (vd infra, espécies de medida de segurança).
• Toda a pena tem como pressuposto e limite a culpa do agente pelo
cometimento de um facto passado. A medida de segurança pressupõe
que a perigosidade do agente, demonstrada na prática de facto ilícito
grave, continue a existir no futuro.
• O fim específico das medidas de segurança encontra-se na
necessidade de defesa da sociedade, independentemente da culpa do
agente.
• Sucede, porém, que se tem entendido que em alguns casos a
perigosidade do agente excede os limites da culpa no caso concreto, o
que tem levado à discussão sobre a adequação de um de dois
modelos de fazer face à especificidade dessas situações:
• os modelos dualistas optam por aplicar ao agente sanções
diversificadas (pena e medida de segurança complementar),
correspondentes à diferenciação dos seus pressupostos, ou seja, a
culpa e a perigosidade, enquanto as soluções monistas atendem
sobretudo às semelhanças na execução de ambas as reacções
criminais, optam por aplicar ao agente apenas uma delas.
Espécies de penas art 61ss
De acordo com a classificação adoptada pelo Prof. Cavaleiro de Ferreira, as
penas podem ser de diversas espécies.
• – Quanto ao seu objecto, isto é, quanto à natureza dos direitos afectados
pela pena (sob a forma da sua privação ou restrição), podem ser (numa
perspectiva histórica e comparada)
• (1) penas corporais: as que atingem o direito à vida ou à integridade física;
(2) penas privativas da liberdade,paradigmaticamente a prisão;
• (3) penas restritivas da liberdade (as antigas penas de degredo e de
desterro);
• (4) penas pecuniárias, ou seja, as que atingem o património do
delinquente, como é o caso das multas e coimas
• Também o confisco é uma pena pecuniária, pois traduz-se na
apropriação pelo Estado, directa ou indirectamente, de todo o
património do condenado, sendo actualmente rejeitado pela
generalidade dos ordenamentos jurídico-penais;
• (5) penas privativas de direitos civis, profissionais ou políticos:
incluem-se aqui a pena de suspensão dos direitos políticos (art. 55º
nº6 do C. Penal de 1886 privação definitiva (demissão) ou temporária
(suspensão) do exercício de funções públicas;
• (6) também numa perspectiva histórica e comparada podem ainda
considerar-se as penas humilhantes, que são as que afectam os
condenados na sua reputação e consideração social, como era o caso
da infâmia, (efeito gravíssimo das penas).
Quanto à sua gravidade art. 82 ss
• Com base nestas pode proceder-se a uma escala de penas, como a
consagrada no C. Penal de 1886 que distingue entre:
• – penas maiores e penas correccionais, para além da categoria das
penas especiais para empregados públicos, Desde a reforma de 1954
as penas maiores são todas de prisão.
Quanto à sua duração85 ss
• Quanto à sua duração as penas classificam-se ainda em penas
perpétuas ou temporárias, sendo certo que, como vimos, apenas a
constituição da República da mocambique não prevê expressamente
a prisão perpétua
• Quanto à sua graduabilidade, as penas podem ser fixas ou variáveis.
• Com a reforma de 1954 o C. Penal de 1886 deixou de prever penas não
graduáveis, apenas tendo mantido tal característica a pena de
suspensão dos direitos políticos.
• Seguindo a classificação doutrinária adoptada, designadamente, pelo
Prof. F. Dias e pela Prof. Anabela Rodrigues, as penas podem distinguir-
se entre penas principais, penas acessórias e penas de substituição.
• Penas principais (art. 61 CP)são as penas cominadas nos diversos tipos
legais de crime previstos na parte especial do código penal ou em
legislação penal secundária e que podem ser concretamente aplicadas
na sentença condenatória, independentemente de quaisquer outras;
são penas principais aplicáveis a pessoas singulares a pena de prisão
(pena privativa da liberdade) e a pena de multa (pena pecuniária).
• Penas acessórias são as que, previstas na parte geral ou especial do C.
Penal ou, ainda, em legislação avulsa, apenas são aplicáveis
juntamente com uma pena principal ou pena de substituição aplicada
em seu lugar.
• São penas acessórias, entre outras, a proibição do exercício de função
e a proibição de conduzir veículos com motor previstas nos artgs 66º
e 69º, do C. Penal Português de 1982, ou a inibição do poder paternal
cominada no art. 179º do mesmo C. Penal, a expulsão de estrangeiro

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