Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
direito constitucional
e ao controle de
constitucionalidade
Rodrigo Canalli
EaD
SGP - Educação a Distância
sumário
Aula 5
Jurisdição constitucional.
Controle concentrado de
constitucionalidade
Parte II
1. Introdução
Olá! Vamos dar início a mais uma aula do nosso curso Introdução ao direito
constitucional e ao controle de constitucionalidade!
Não é apenas ao editar lei incompatível com a Constituição que um órgão legislativo,
como o Congresso Nacional, age de modo inconstitucional. Ele pode contrariar a Constituição
simplesmente ao deixar de cumprir um comando constitucional para elaborar determinada
lei. A Constituição contém diversas normas que configuram ordens destinadas ao Poder
Legislativo, para que ele elabore a lei necessária para regular certa matéria ou proteger
determinado direito. O descumprimento desse comando constitucional pelo legislador
caracteriza uma inconstitucionalidade em si mesma, ainda que por omissão.
ADI ADO
contra omissão
contra ação legislativa
legislativa
inconstitucional
inconstitucional
ausência de lei
lei ou ato normativo
ou ato normativo
ais
am
Saib
2.2 Competência
Por isso, qualquer outro Tribunal seria incompetente para julgar o pedido do
Procurador-Geral da República para que se declarasse a inconstitucionalidade por omissão
na regulamentação do artigo 220, § 4º, da Constituição da República em relação à publicidade
de bebidas com teor alcoólico inferior a 13°GL, sob pena de invadir a esfera de atuação
exclusiva do Supremo Tribunal Federal.
2.3 Objeto
Nesses casos, a lei vem para delinear certos aspectos do direito, implementar algumas
restrições — quando a Constituição o permitir — e organizar a sua proteção. O Poder
Legislativo pode até vir a editar uma lei sobre essas matérias, mas não é constitucionalmente
obrigado a fazê-lo e, se não o fizer, isso não prejudica a efetividade da norma.
Por fim, há as normas de eficácia limitada, que não são autoaplicáveis porque
dependem da existência de leis para concretizá-las. São essas, e só essas, que importam para
a ação direta de inconstitucionalidade por omissão.
O artigo 220, §4º, da CF, ao estipular que determinados produtos, em razão da sua
nocividade, terão a publicidade restringida por lei, também se encaixa nesse tipo de norma,
pois depende necessariamente, para ter eficácia, da edição de uma lei.
Assim como ocorre com a ação direta de inconstitucionalidade, proposta a ação direta
de inconstitucionalidade por omissão, ela é distribuída por sorteio a um dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal, que será o seu Relator — o Presidente é excluído da distribuição.
O Relator será o responsável por cuidar do andamento do processo até que ele esteja
pronto para julgamento e, como o nome diz, prepara o relatório para dar conhecimento do
processo aos demais Ministros. Avalia se há pedido de medida cautelar e a urgência na sua
concessão, o que vai determinar os próximos passos e os prazos a serem concedidos para as
manifestações das autoridades envolvidas.
Ao apreciar a ADO 22, o STF contou com a colaboração de amici curiae representando
os pontos de vista e expondo os argumentos de diferentes setores e grupos de interesse da
sociedade possivelmente afetados pela medida pretendida, como a Associação Brasileira
da Indústria da Cerveja (CERVBRASIL), a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e
Televisão (ABERT) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
2.8 Decisão
Por fim, decorridos os prazos para as manifestações, o Relator lança o relatório e solicita
ao Presidente do Tribunal a inclusão do processo na pauta do Plenário.
O Tribunal entende que o Poder Legislativo não está “devendo” a edição da lei
necessária para tornar eficaz a norma constitucional e julga improcedente a ação direta
de inconstitucionalidade por omissão. É o que fez o Supremo Tribunal Federal na ADO 22:
julgou-a improcedente, ao entendimento de que a Lei 9.294/1996 não era omissa quanto à
regulamentação da propaganda comercial de bebidas alcoólicas exigida pelo artigo 220, §4º,
da Constituição Federal.
2.9 Quórum
2.10 Recorribilidade
Contra a decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal que julga a ação direta de
inconstitucionalidade por omissão também não cabe recurso, salvo a oposição de embargos
de declaração para esclarecer eventual ponto que tenha ficado omisso, contraditório ou
obscuro no julgamento.
Os embargos declaratórios foram rejeitados pelo Plenário do STF, que afirmou não
haver nenhuma dúvida sobre a eficácia vinculante da sua própria decisão e ressaltou que o
Poder Judiciário e a Administração Pública não podem ampliar as restrições estabelecidas
pela Lei 9.294/1996 para bebidas alcoólicas com teor inferior a 13°GL, porque apenas o Poder
Legislativo tem autorização constitucional para criar novas restrições desse tipo.
2.11 Conclusão
Afinal, se existe a ação direta de inconstitucionalidade para que uma lei seja
declarada inconstitucional e, com isso, invalidada, não é exatamente porque as leis
são, em regra, válidas?
Sim e não.
Lembra quando falamos sobre os diferentes tipos de controle de constitucionalidade
e destacamos que, no sistema brasileiro, convivem o controle difuso e o concentrado? E
lembra também que o controle difuso é exercido por todos os juízes e tribunais do país?
Agora imagine que uma lei é aplicada regularmente por metade dos juízes do país,
mas a outra metade não a aplica porque entende que ela seja inconstitucional. Nesse caso,
há interesse em que a controvérsia sobre a constitucionalidade da lei seja solucionada de
uma vez. Mas, se o seu interesse for a solução dessa controvérsia em sentido favorável à
constitucionalidade da lei, não há razão para o ajuizamento de uma ação direta para pedir
que ela seja declarada inconstitucional.
Situações como essa, em que a prática dos tribunais leva a um estado de incerteza sobre
a constitucionalidade de uma lei, são a justificativa para a existência da ação declaratória de
constitucionalidade.
O seu objeto, no entanto, é mais restrito do que o da ADI. Ao estudar a ação direta
de inconstitucionalidade, vimos que o seu objeto pode ser lei ou ato normativo federal ou
estadual. Já a ação declaratória de constitucionalidade somente pode ser ajuizada em relação
a lei ou ato normativo federal. Ao contrário da ADI, não se incluem no objeto na ADC as leis
e os atos normativos estaduais.
ADI
a lei é improcedente
constitucional
ADC
procedente
Decisão
ADI
a lei é procedente
inconstitucional
ADC
improcedente
Vamos a um exemplo?
Em 9-2-2012, o Supremo Tribunal Federal julgou a ADC 19, proposta pela Presidente
da República com o objetivo de ver declarada a constitucionalidade de alguns artigos da Lei
11.340/2006, que você provavelmente conhece pelo seu apelido, Lei Maria da Penha. Essa lei
prevê mecanismos específicos destinados à prevenção e à repressão da violência doméstica
praticada contra a mulher. Na prática, trata com mais rigor a violência doméstica quando a
vítima é mulher.
Ocorre que alguns juízes estavam deixando de aplicar as regras da Lei Maria da
Penha para lidar com casos de violência contra a mulher, por considerarem que ela seria
incompatível com o artigo 5º, I, da Constituição da República, segundo o qual “homens e
mulheres são iguais em direitos e obrigações”.
Constituição
Preceitos
fundamentais
4.2 Competência
4.4 Objeto
O artigo 1º da Lei 9.882/1999 afirma que a arguição de descumprimento de preceito
fundamental terá por objeto “reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do
Poder Público”.
Assim, não cabe a ADPF, por exemplo, para questionar a constitucionalidade de uma
lei aprovada em 2015, porque as leis aprovadas na vigência da Constituição podem ter sua
constitucionalidade impugnada por ação direta de inconstitucionalidade. Por outro lado, é
possível propor uma ADPF para discutir a incompatibilidade de uma lei de 1950 que ainda
esteja sendo aplicada, com os preceitos fundamentais da Constituição. Isso porque, como as
leis anteriores à promulgação da Constituição em 1988 não podem ser alvo de ADI, abre-se
a via da ADPF.
A ADPF é, também, meio pelo qual o Supremo Tribunal Federal pode exercer o controle
abstrato sobre leis municipais, quando estas forem particularmente relevantes e afetem os
preceitos essenciais da Constituição.
Os amici curiae são bem-vindos para contribuir com o Supremo Tribunal Federal no
julgamento da arguição de descumprimento de preceito fundamental.
4.6 Quórum
Como a ADPF alcança uma ampla gama de atos do Poder Público, a decisão pode assumir
feições variadas, como, por exemplo, a declaração de inconstitucionalidade de um ato do
Poder Público, seja ou não um ato normativo, a cassação de decisão judicial ou administrativa,
a fixação do modo de interpretação do preceito fundamental ou a enunciação de norma
para preencher uma lacuna no ordenamento jurídico.
Antes da decisão do STF na ADPF 187, havia um clima de incerteza sobre a legalidade
dessas manifestações. Isso porque o artigo 287 do Código Penal tipifica como crime:
“fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime”. Se a produção, a
comercialização e o consumo da maconha são considerados crimes segundo a lei penal em
vigor, defendê-los não seria uma forma de apologia de fato criminoso?
Para alguns juízes, sim! Tanto é que a realização da Marcha da Maconha foi proibida em
certas capitais. Para outros, não! E, com o consentimento do Poder Judiciário local, a Marcha
da Maconha aconteceu regularmente noutros tantos Estados.
Diante desse quadro, a ADPF 187 teve como objetivo definir a interpretação adequada
do art. 287 do Código Penal à luz da Constituição da República, em particular os preceitos
fundamentais protetivos das liberdades de expressão, de manifestação do pensamento, de
reunião e de associação, consagradas no artigo 5º, IV, IX, XVI e XVII.
ou até mesmo inaceitáveis. Além disso, as liberdades de reunião e associação asseguram que
essas ideias possam ser expressas inclusive publicamente.
Quadro comparativo
Efeito
Número
Parâmetro de Amicus vinculante Modulação Lei de
Ação Objeto aproximado
controle curiae e contra dos efeitos regência
de ações
todos
Lei ou ato
normativo Toda a Lei
ADI 5.600
federal ou Constituição 9.868/1999
estadual
Normas
Omissão Lei
ADO 35 de eficácia
legislativa 9.868/1999
limitada
Lei ou ato
Toda a Lei
ADC normativo 45
Constituição 9.868/1999
federal
5. Conclusão
Bons estudos!
Glossário