Resumos Direito Comercial

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DIREITO COMERCIAL

Introdução:

O direito comercial é um ramo de direito com regras próprias. O primeiro ponto da matéria é saber
quando é que aplicamos o direito comercial.

 Qualificação de um ato ou de um contrato como sendo comercial

Os critérios para a qualificação de um ato ou de um contrato como comercial constam dos artigos 2,
13 e 230 do código comercial.

O artigo 2 do código comercial descreve dois métodos para qualificar os atos comerciais:

 Método objetivo consta da primeira parte do artigo 2 e diz que são atos objetivamente comerciais
aqueles que estão descritos no código comercial. Os atos objetivamente comerciais são atos aos quais
se vai aplicar o direito comercial pela simples razão que o código comercial assim o prevê. Os atos
objetivamente comerciais não dependem de quem os pratica (podem ser comerciantes ou não). Já o
segundo método de classificação dos atos é chamado meio subjetivo e são subjetivamente comerciais
os atos praticados pelos comerciantes (depende de quem pratica).
 Atos objetivamente comerciais. O código comercial prevê 11 atos que são objetivamente comerciais:
1) Fiança (artigos 101 e seguintes)
2) Mandato (artigos 231 e seguintes)
3) Conta corrente (artigos 344 e seguintes)
4) Operações de banco (artigos 362 e seguintes)
5) Transporte (artigos 366 e seguintes)
6) Empréstimo (artigos 394 e seguintes)
7) Penhor (artigos 397 e seguintes)
8) Depósito (artigos 403 e seguintes)
9) Compra e venda (artigos 463 e seguintes)
10) Troca (artigo 480)
11) Aluguer (artigo 481 e 482)

Todos estes 11 atos são ou podem ser classificados como comerciais não porque sejam praticados por
um comerciante (não é necessário que o sejam) mas sim porque o código comercial assim o previu.

FIANÇA

Noção de Fiança: A fiança é uma garantia em que uma terceira pessoa que não o devedor assume
perante o credor a responsabilidade pelo cumprimento de uma obrigação.
Exemplo: António (credor – quem podem exigir uma prestação) emprestou a Bruno (devedor –
alguém que tem de realizar uma determinada prestação) 10000€. Vamos assumir que o Carlos aceita ser fiador
de Bruno. Temos aqui a primeira característica de fiança: ser uma relação jurídica trilateral (credor, devedor,
fiador).

Questão: Se o devedor não cumprir pode o credor exigir a prestação devida desde logo ao fiador? A
resposta vai depender se a fiança é comercial ou civil.

Assim, na fiança civil e nos termos dos artigos 627 e seguintes do código civil o fiador tem o chamado
privilégio de excussão prévia – direito atribuído ao fiador em recusar cumprir perante o credor até que o
credor prove que o devedor já não tem qualquer património. Retomando o exemplo, se aquela fiança for
qualificada como civil o credor António tem que, em primeiro lugar, reclamar os 10000€ ao devedor Bruno e
das duas uma:

 Se o devedor Bruno tiver património suficiente para cumprir o pagamento dos 10000€ o fiador Carlos
nunca será chamado para pagar
 Se o devedor Bruno não tiver património suficiente para pagar os 10000€ e o credor conseguir provar
esse facto, o fiador terá de responder perante o credor.

Conclusão: Na fiança civil o fiador só responde perante o credor se e quando se demonstre que o
devedor não tem património. Nesses termos um fiador civil está relativamente salvaguardado.

Fiança comercial: O artigo 101 do código comercial indica que o fiador de uma fiança comercial é
solidariamente responsável com o devedor. Esta solidariedade significa que o credor pode reclamar a
prestação devida tanto ao devedor como ao fiador.

Se a fiança do caso prático for comercial o credor António pode desde logo e sem qualquer ordem
hierárquica reclamar os 10000€ devidos ao devedor mas também a Carlos (que não pode utilizar privilégio de
excussão prévia neste caso).

Para um credor de uma fiança comercial passam a existir mais garantias.

Na hipótese de ser o fiador a realizar a prestação devida vão ocorrer duas consequências:

 Vai-se extinguir uma relação de crédito, isto é, o credor originário recebe a prestação a que tinha
direito e nesses termos deixa de ser o credor. No nosso exemplo, o António deixa de ser o credor após
receber os 10000€
 O fiador que realizou a prestação devida perante o credor transforma-se no novo credor (pagou os
10000€ a António) – fim da relação jurídica trilateral.

Questão: Como é que classificamos uma fiança civil ou comercial?


Resposta: A fiança é sempre uma garantia de um outro contrato. A fiança está sempre associada a um
outro contrato. A qualificação da mesma depende da qualificação do contrato. No nosso exemplo, a fiança
prestada por Carlos está associada a um contrato de empréstimo. Se o empréstimo for civil a fiança também o
será, se o empréstimo for comercial a fiança assim o será também. Concluindo, antes de qualificarmos uma
fiança como civil ou comercial é necessário qualificar o contrato ao qual esta está associada.

MANDATO

Noção de Mandato: É um contrato através do qual uma pessoa que é chamada de mandatário realiza
no nome e no interesse de outra pessoa que é um mandante, determinados atos jurídicos. O mandato é
geralmente formalizado num documento que é chamado procuração.

Exemplo: António pretende adquirir num leilão um determinado quadro. Contudo, não pode deslocar-
se a esse leilão. António estabelece um mandato através de uma procuração com Bruno para que seja este a
dirigir-se a esse tal leilão e a adquirir o quadro.

No mandato os efeitos dos atos praticados vão-se repercutir sobre o mandante e não sobre o
mandatário. No nosso exemplo os efeitos de compra daquele quadro são para António e não para Bruno.
Bruno limitou-se a executar uma vontade que não era sua. Tal qual como acontece na fiança o mandato pode
ser considerado comercial ou civil. Será comercial se o ato que o mandatário pratica for comercial.

A qualificação do mandato depende da qualificação do ato que o mandatário faz em nome do


mandante. Se o ato que o mandatário realiza for civil o mandato também será civil. Pelo contrário, se o ato
praticado pelo mandatário é comercial o mandato também será comercial. O mandatário iria comprar o quadro
em nome do mandante, se aquela compra fosse comercial, o mandato seria comercial, se a compra fosse civil,
o mandato seria civil.

Diferença entre mandato civil e comercial: A única diferença é que o mandato comercial se presume
pago ou oneroso, ou seja, no nosso exemplo se concluirmos que aquele mandato é comercial, Bruno
(mandatário) terá que ser pago. Se hipoteticamente não se chegar a acordo sobre esse pagamento tem de ser o
tribunal a decidir. Inversamente o mandato civil presume-se gratuito, ou seja, o mandatário civil só será pago
se tal ficar acordado com o mandante.

CONTA CORRENTE

Noção de conta corrente: O contrato de conta corrente é um acordo em que duas pessoas que são
simultaneamente credora e devedora uma da outra fazem a contabilização dos seus créditos e débitos
chegando a um único valor.

Exemplo: O António é fornecedor de produtos alimentares do restaurante do Bruno. Nessa atividade


António é credor de 5000€ mas por outro lado o António almoça diariamente no restaurante do Bruno,
acumulando dívidas de 2000€. O António e o Bruno são, assim, simultaneamente credores e devedores um do
outro ainda que em relações jurídicas diferentes.

Através de um contrato de conta corrente o António e o Bruno podem unificar aqueles créditos e
débitos numa única relação jurídica e, através desse contrato de conta corrente, restaria apenas uma relação
jurídica em que o António é credor em 3000€.

A conta corrente é um contrato, não funciona de forma automática. É necessário que ambas as pessoas
credoras e devedoras umas das outras celebrem um contrato. Caso contrário, mantém-se a relação tal como
estava. No nosso exemplo era necessário que António e Bruno chegassem a acordo. Se não chegarem a
nenhum acordo mantém-se as relações que anteriormente existiam.

OPERAÇÕES DE BANCO

Em geral, o que artigo 362 esclarece é que todos os contratos em que uma das partes é um banco são
contratos comerciais. Contudo, o que o artigo 362 não esclarece é o que entendemos por um banco.
Tradicionalmente, os bancos eram entidades que tinham duas características: eram estabelecimentos abertos
ao público; os bancos praticavam uma pluralidade de atos.

Contudo, foram-se desenvolvendo outro tipo de entidades com características diferentes (exemplo:
Cofidis não corresponde às características tradicionais de um banco. Os tribunais têm entendido que para que
uma empresa seja considerada um banco basta que pratiquem um único ato que tradicionalmente é praticado
pelos outros bancos. Para efeitos da aplicação do artigo 362, vamos adotar um conceito alargado do que é um
banco.

TRANSPORTE

O artigo 366 qualifica como comercial o ato de transporte que é realizado por uma empresa
constituída para o efeito. O artigo 366 só se aplica quando o transporte é realizado por uma empresa e não por
um particular.

Noção de Empresa: É uma organização de pessoas, capitais e bens que de forma estável ou
permanente desenvolve uma atividade dirigida ao lucro. Características:

 Junção de várias pessoas, dinheiro e de equipamentos. Esta primeira característica é o que permite a
empresa distinguir-se de uma pessoa singular.
 A estrutura que constitui uma empresa tem de ter uma vertente duradoura. Uma empresa é constituída
sem limite de tempo.
 Tem uma finalidade lucrativa, permite distinguir das associações/instituições.
 Princípio da continuidade (trata-se de uma empresa como se tivesse sempre futuro).
O transporte realizado por um particular não é um ato comercial, por isso o artigo 366 não o abrange.
O artigo 366 apenas qualifica o transporte realizado por uma empresa que foi constituída para o transporte, ou
seja, a empresa em questão teve que ser constituída com a finalidade de transporte.

A empresa X foi criada para exploração de supermercados. No âmbito da sua atividade a empresa X
comprou uma camioneta para o transporte de mercadorias. Não é abrangida pelo artigo 366 porque o
transporte não é a função principal da empresa.

Nota: O artigo 366 do código comercial tem de ser lido de forma atualística, ou seja, tem de ser
atualizar a sua leitura. O artigo 366 lido de forma atualística inclui transporte aéreo e as empresas que se
dedicam a esse transporte.

EMPRÉSTIMO OU MÚTUO

Noção de empréstimo: É um contrato em que alguém que se chama mutuante cede a outra pessoa que
se chama mutuário a utilização temporária de uma coisa. Findo o prazo de empréstimo o mutuário tem que
restituir essa coisa no estado em que a recebeu. Contudo, é necessário esclarecer o que é que o mutuário tem
de restituir.

Quanto a esta questão há que distinguir se o bem é fungível ou infungível. O bem é fungível quando
existirem outros bens de igual natureza e qualidade (exemplo: dinheiro). Nos bens fungíveis o devedor
cumpre a sua obrigação se não entregando exatamente o objeto que lhe foi entregue restituir um bem
equivalente. Já com os bens infungíveis são bens únicos que não têm cópias ou sucedâneos (exemplo: obras
de arte). São bens associados a um evento histórico. (exemplo: um piano onde um determinado músico
escreveu uma música). Nos bens fungíveis a restituição da coisa emprestada faz-se com a entrega da coisa
emprestada ou com a entrega de um bem com igual qualidade. Já a restituição de um bem infungível só se faz
com a entrega da coisa emprestada e não com qualquer outro objeto.

O empréstimo pode ser gratuito ou oneroso. O empréstimo considera-se gratuito se a restituição se


limitar à coisa emprestada. Inversamente, o empréstimo será considerado oneroso se para além da coisa
emprestada o mutuário tiver ainda que entregar algo mais ao mutuante, chamada de quantia suplementar.
Quando se trata de dinheiro, denomina-se juros.

O artigo 394 do código comercial distingue quando é que um empréstimo é civil e quando é que é
comercial. De acordo com esse artigo, o empréstimo é comercial quando o objeto emprestado é utilizado para
uma atividade comercial.

Exemplo: António empresta a Bruno 1000€. Para sabermos se esse empréstimo é ou não comercial
temos de ver onde é que Bruno utilizou esses 1000€.

 Hipótese 1: São utilizados para uma máquina de café a ser posteriormente utilizada no restaurante de
Bruno. Neste caso, o objeto é utilizado numa atividade comercial logo é um empréstimo comercial.
 Hipótese 2: Bruno utiliza os 1000€ para ir de férias. Já neste, o objeto emprestado é utilizado numa
atividade completamente alheia à natureza profissional de Bruno, logo trata-se de um empréstimo
civil.
 Hipótese 3: Não é possível demonstrar ou provar onde é que Bruno gastou os 1000€. Os tribunais
entendem que em caso de dúvida sobre qual foi a utilização do dinheiro se deve presumir que foi para
a atividade comercial do sujeito. Sendo assim, presume-se como empréstimo comercial.
O artigo 395 indica qual é a principal diferença entre o empréstimo civil e o empréstimo comercial.
De acordo com esse artigo a diferença é o empréstimo comercial se presumir pago, isto é, retribuído. Voltando
ao exemplo, António emprestou a Bruno os 1000€ por um mês para que Bruno comprasse uma máquina –
empréstimo comercial. Contudo, não estipularam se o empréstimo era pago ou não. Então, de acordo com
artigo, presume-se que aquele empréstimo sendo comercial é pago.
Quando não se define qual é o pagamento devido pelo empréstimo porque as partes não quiseram
calcular uma cláusula dessas no contrato, aplicamos as chamadas taxas de juro legais. Conforme o próprio
nome indica, são definidas pela própria lei. Assim, a taxa de juro legal civil é de 4% e a comercial é alterada
de 6 em 6 meses através de decreto-lei e, neste momento, está nos 8,2%. Bruno terá que restituir a António os
1000€ mais o pagamento devido que são 82€ (taxa de juro legal comercial).
Nota: Nada impede que quem empresta e quem recebe dinheiro definam a taxa de juro aplicável
sendo que essa previsão fica no contrato de empréstimo. A nossa lei não estabelece máximo de juros que
podem ser cobrados, apenas se proíbem os chamados juros usurários (ganância).

PENHOR

Noção de Penhor: É um contrato através do qual o devedor entrega ao credor uma coisa móvel que o
credor pode vender executivamente em caso de não cumprimento por parte do devedor.
Exemplo: António emprestou a Bruno 1000€. Tendo receio de não restituição do valor, exigiu que
Bruno lhe entregasse um relógio de coleção, também ele avaliado em 1000€, Bruno aceita. Se o devedor
cumprir a sua obrigação pagando a António o credor é obrigado a restituir o bem dado à penhora. Se, pelo
contrário, não pagar os 1000€ devidos, o credor não pode fazer seu o bem dado para penhor. O que o credor
pode fazer é vender num processo executivo aquele relógio e fazer-se pagar pelos valores obtidos nessa venda
executiva (leilão). Nessa venda executiva podem resultar três resultados:
 O bem é vendido pelo valor em dívida – sem problema jurídico.
 O bem é vendido por um valor inferior ao devido (imaginemos 800€). Nesse caso, ainda não existe
um cumprimento integral, ou seja, ainda não recebeu os 200€ em falta. Permanece a obrigação de
Bruno subtraída aos valores que foram obtidos na venda executiva.
 O bem dado em penhor é vendido por um preço superior ao da dívida (imaginemos 1200€). A lei não
pode podia admitir que o credor enriquecesse com a venda executiva. Assim sendo, o credor António
teria que restituir ao devedor Bruno a diferença (isto aplica-se com o objetivo de evitar fraudes).

O que o credor não pode fazer é fazer sua a coisa que foi dada em penhor. O credor com o penhor não
adquire a propriedade do bem simplesmente adquire o direito de vender esse bem e de com esse dinheiro se
fazer pagar. O penhor tanto pode ser civil como pode ser comercial. Nos termos do artigo 397 do código
comercial o penhor será comercial quando a obrigação garantida for também ela comercial.

Exemplo: Um produtor de vinho pediu um empréstimo bancário. O banco não tinha plena confiança
que aquele produtor restitui-se o empréstimo, exigindo-lhe um penhor (garantia) – pipas de vinho. Este penhor
é comercial. O penhor é comercial se a relação jurídica (empréstimo) que está a garantir for também ela
comercial. Como no exemplo era um empréstimo comercial, o penhor é diretamente comercial.

Diferenças de regime jurídico entre o penhor civil e o penhor comercial:

 A primeira diferença diz respeito à forma do contrato. A forma do contrato diz respeito ao modo
como o contrato é exteriorizado (expresso). O direito português admite em geral que os contratos
possam ser celebrados por quatro formas diferentes – Nos termos do artigo 219 do código civil os
contratos podem ser celebrados por qualquer uma das formas previstas na lei, a não ser que a lei exija
para um contrato específico uma determinada forma. Dois exemplos: O contrato de arrendamento, diz
a lei, só é válido se for escrito (pode não haver contrato mas depois não há leis de cumprimento); A
venda de bens imóveis (terrenos, casas), que a lei exige que seja num documento com assinatura
certificada. Conceito das formas de contrato que a lei admite:
o Forma verbal: Na forma verbal as declarações/manifestações de vontade de cada uma das
partes são expressas oralmente. Esta forma de celebrar contratos tem vantagens e
desvantagens. Vantagem: fácil e rápido de celebrar (sem burocracias). Desvantagem: difícil
de provar quanto à sua existência e quanto ao seu conteúdo. Os contratos verbais são os
ideais/próprios para contratos de baixo valor e de execução imediata em que a questão da
prova não é tão valiosa/relevante. Já não é o indicado para contratos mais relevantes em que a
questão da prova se torna mais importante.
o Forma Escrita: Na forma escrita as declarações de vontade das partes são inscritas num
documento, geralmente é uma folha de papel. Depois, esse documento é assinado por ambas
as partes que é o símbolo da concordância das partes com aquele contrato. Esta forma de
celebrar contratos tem vantagens e desvantagens. Vantagem: o documento escrito serve como
prova de um determinado contrato. Desvantagens: demora do processo; o documento não faz
prova absoluta (falsificação de assinaturas; erros no contrato; não prova que não houve
coação/ameaça de celebração do contrato).
o Documento escrito com as assinaturas certificadas: Nesta modalidade o contrato é escrito
pelas partes mas é assinado na presença de uma destas quatro pessoas: um notário, um
solicitador, um advogado ou um conservador. Essas entidades vão confirmar uma única coisa
– que quem assinou o documento é a parte do contrato. Na assinatura certificada apenas se
impede a alegação de falsificação de assinaturas.
o Escritura pública: A escritura pública é feita no notário. O notário é o funcionário público
que tem o mesmo estatuto jurídico que o juiz em termos de imparcialidade, que não está
relacionado com nenhuma das partes pertencentes ao contrato. Na escritura pública é o
próprio notário que elabora o documento e é depois na presença do notário que as partes
assinam o contrato. Mais ainda, o notário tem a obrigação de esclarecer as partes de tudo o
que implica aquele negócio. A forma mais segura de celebrar contratos é através da escritura
pública que tem como desvantagem os custos exigidos.

(continuação ponto um) O penhor se for civil tem de ser feito por documento escrito senão não é
válido. Se o penhor for comercial admite-se a forma verbal.

 A segunda diferença entre o penhor civil e o comercial diz respeito à obrigatoriedade da entrega da
coisa dada em penhor. Se o penhor for civil, o penhor só se constitui se o devedor entregar ao credor a
coisa. No exemplo de há pouco só existiria penhor se o penhor fosse civil com a entrega das pipas de
vinho. Pelo contrário, se o penhor for comercial não é obrigatório que o devedor entregue ao credor a
coisa dada em penhor. No exemplo de há pouco não era obrigatório para constituir o penhor que
aquele produtor de vinhos entregasse ao banco as pipas de vinho que tinham sido dadas em penhor ao
banco.

DEPÓSITO

Noção de depósito: É um contrato em que alguém denominado depositante entrega a outra pessoa que
é o depositário um bem para que o depositário o guarde e depois o restitua. O depositário tem o dever de
guarda, ou seja, tem o dever de se assegurar que a coisa guardada não sofre danos. Por regra, o depositante
tem de pagar por esse serviço.

Questão: O estacionamento num parque pago é um depósito? Tradicionalmente os tribunais


entendiam que sim, era um depósito. Em caso de dano das viaturas o parque era responsável porque tinha o
dever de guarda. Para evitar esta responsabilidade, os parques de estacionamento começaram a avisar os seus
clientes que não estavam a celebrar um contrato de depósito

As oficinas de automóveis considera-se como celebrado um contrato de depósito. Se entregarmos o


nosso carro à oficina e este for danificado devido a algum acontecimento a oficina deverá responsabilizar-se
pelos estragos.
O depósito pode ser um contrato civil ou também pode ser um contrato comercial e essa qualificação
depende da utilização das coisas guardadas. Se as coisas guardadas tiverem uma utilização comercial o
depósito também será ele comercial. Se as coisas guardadas tiverem uma finalidade civil o depósito será
também ele civil.

Exemplos: Uma fábrica para proceder a obras nas suas instalações desloca os seus equipamentos para
um armazém – este depósito é comercial, aquele equipamento depositado é de uma fábrica, é para fins
comerciais e, assim sendo, o depósito também será comercial; O senhor António paga 100€ a Bruno para que
nas férias de verão o Bruno fique com o cão de António – este depósito é civil, o animal depositado não tem
finalidades comerciais, logo o depósito é civil.

A principal diferença entre o depósito civil e o depósito comercial é a de que o depósito comercial se
presume pago. Inversamente, o depósito civil presume-se gratuito.

COMPRA E VENDA

O artigo 463 não define o contrato de compra e venda. Apenas define quando é que uma compra e
venda é comercial.

Noção de compra e venda: É o contrato através do qual se transmite a título definitivo a propriedade
de um objeto ou de uma coisa sendo que a contrapartida pela transmissão da propriedade é o pagamento de
dinheiro.

É possível distinguir a compra e venda de outros contratos, desde logo, da troca. No contrato de troca
também se transmite a propriedade de uma coisa ou de um objeto. Contudo, a contrapartida no contrato de
troca não é dinheiro mas sim a entrega de um outro objeto.

Exemplo: António adquire a propriedade de um telemóvel. Se a contrapartida dessa aquisição for o


pagamento de 100€, o contrato em causa é uma compra e venda. Por outro lado, se António adquiriu a
propriedade desse telemóvel, entregando como contrapartida um tablet, por exemplo, o contrato em causa já
não é uma compra e venda mas sim uma troca.

Um outro contrato diferente da compra e venda é o aluguer ou o arrendamento. O aluguer ou o


arrendamento também confere o direito à utilização de uma coisa ou de um bem. Só que, ao contrário da
compra e venda, o aluguer e o arrendamento são sempre temporários. Isto é, quem beneficia de um aluguer ou
arrendamento tem que restituir a coisa ou objeto no final do prazo estabelecido. Concluindo, no aluguer ou no
arrendamento não há transmissão da propriedade da coisa.

Diferença entre aluguer e arrendamento: O aluguer é para coisas móveis: aluga-se um carro, uma
bicicleta, etc. O arrendamento é para coisas imóveis: arrenda-se um apartamento, um quarto, etc.
O contrato de compra e venda também se distingue de um outro contrato que é contrato de prestação
de serviços. Em ambos os contratos, há um pagamento de dinheiro. A diferença está em que na compra e
venda se recebe uma coisa e na prestação de serviços recebe-se um trabalho. Se, por exemplo, pago 100€ ao
Sr. António para que pinte o muro da minha casa, eu não lhe estou a adquirir um bem, mas sim um trabalho
(serviço). Portanto, também contratos de compra e venda e de prestação de serviços são contratos diferentes.

A compra e venda pode ser um contrato civil ou um contrato comercial. E, de acordo com o artigo 463
do código comercial, uma compra e venda é comercial em duas situações:

 Quando a compra seja feita já com uma intenção de revenda.

 Quando a compra é feita com a intenção de alugar ou arrendar a coisa comprada.

A intenção do comprador é verificada no momento da aquisição e não depois.

Exemplo 1: António é professor de profissão. No dia 1 de setembro de 2017, António soube que ia dar
aulas em Beja. No dia 5 de setembro de 2017, o António adquiriu uma casa em Beja, uma vez que tencionava
viver nessa cidade nos próximos anos. Contudo, no dia 15 de setembro de 2017, António recebeu uma
proposta de trabalho em Lisboa e resolveu aceitá-la. No dia 20 de setembro de 2017, António vendeu o imóvel
que tinha adquirido em Beja.

Questão: Foi a compra de António comercial?

Resposta: Não foi comercial porque aquela compra daquele imóvel não foi feita com a intenção de
revenda. No dia 5 de setembro de 2017 foi quando António adquiriu o imóvel, não havia por parte de António
a intenção de revender aquela casa. Ele queria, pelo contrário, utilizá-la. Só depois, mais concretamente a
partir de dia 10 de setembro, é que o António adquiriu a intenção de revender aquela casa. Por outras palavras,
a intenção de revenda foi posterior à compra. A intenção de António para efeitos de qualificação do ato como
civil ou comercial era a sua intenção do dia 5 de setembro de 2017 e não depois.

Exemplo 2: No dia 1 de setembro de 2018 o António comprou um imóvel em Leiria. António nunca
teve a intenção de habitar naquela casa. A sua intenção foi sempre o de arrendar aquele imóvel a estudantes.
Contudo, o António só arrendou o primeiro quarto a um estudante no dia 1 de outubro de 2018.

Questão: A compra daquele imóvel é um contrato comercial?

Resposta: Sim, é. O que é relevante é qual era a sua vontade na data em que comprou aquela casa.
Nessa data, António pretendia arrendá-la embora não o tenha feito imediatamente.

A compra e venda será um contrato comercial quando a compra seja feita para revender ou quando
seja feita para alugar ou arrendar, sendo que essa vontade é analisada tendo em conta a data da compra.
Poderão existir dúvidas sobre qual era a intenção do comprador porque é um facto de difícil
demonstração. Os tribunais têm concluído pelo seguinte: Cabe ao comprador fazer a prova de que não tinha
intenção de revenda ou de aluguer. Por exemplo, essa prova pode ser feita pela utilização concreta da coisa
pelo comprador durante um período de tempo. O que demonstra que quando o comprador comprou a coisa ele
a queria utilizar, mas cabe ao comprador fazer essa prova. Em caso de dúvida, deve-se presumir que a compra
é comercial.

TROCA

Noção de troca: É um contrato em que alguém recebe a propriedade de um bem entregando em


contrapartida uma outra coisa.

Nos termos do artigo 480 do código comercial o regime jurídico da troca é igual ao de compra e
venda. Valem para a troca todas as considerações feitas para a compra e venda.

ALUGUER

Noção de aluguer: É um contrato através do qual alguém cede a outra a utilização de uma coisa móvel
em troca de um pagamento de dinheiro.

Exemplo: Quando alguém aluga por 50€/dia o seu automóvel.

O aluguer será comercial se a coisa que é alugada tiver já sido adquirida para ser alugada.

Exemplo 1: António comprou uma mota de água para seu usufruto. Ao fim de um ano de utilização
António resolve rentabilizar aquela mota de água e António passou a alugar aquela mota de água por 20€/dia.

Questão: O aluguer é civil ou comercial?

Resposta: O aluguer é civil porque o critério é o seguinte: Quando António comprou aquela mota de
água tinha a intenção de a alugar? Não. Nesses termos, o aluguer será civil e não comercial. A resposta já seria
diferente se o António tivesse comprado aquela mota de água já com a vontade de a alugar, mas não era esse o
caso.

(FIM)

Um ato ou um contrato não se qualifica apenas de forma objetiva. Um ato ou um contrato também
pode ser qualificado de forma subjetiva. Num caso prático e primeiro momento vai-se procurar qualificar um
ato ou um contrato como objetivamente comercial mas se esse ato não for comercial a resposta não está
completa. É necessário verificar depois se o ato é subjetivamente comercial.
ATOS DE COMÉRCIO SUBJETIVOS OU ATOS SUBJETIVAMENTE COMERCIAIS

Estes atos estão previstos na segunda parte do artigo 2 do código comercial. Para que um ato seja
subjetivamente comercial, são necessários três requisitos cumulativos (simultâneos):

 O ato tem de ser praticado por um comerciante.

 O ato em questão não pode ter uma natureza exclusivamente civil.

 Não pode resultar das circunstâncias a natureza civil do ato.

O ato tem de ser praticado por um comerciante

A qualificação de alguém como comerciante está no artigo 13 do código comercial.

As sociedades comerciais são sempre comerciantes. As pessoas físicas só são comerciantes se tiverem
três características:

 Se tiverem capacidades jurídicas.

 Se fizerem do comércio profissão.

 Se os atos praticados por essa pessoa forem atos praticados em nome próprio e não em representação
de outra pessoa.

Portanto, num caso prático só podemos classificar um sujeito ou uma pessoa singular um comerciante
se tiver as características acima descritas.

A capacidade jurídica é o poder de uma pessoa singular atuar sozinha sem ser representada por outra
pessoa. O direito português estabelece três categorias de pessoas que não têm capacidade jurídica, são eles os
menores, os interditos e os inabilitados. Estas três categorias de pessoas não podem atuar sozinhas, têm de ser
representadas. Na grande maioria das situações a maioridade atinge-se aos 18 anos, o que significa que até aos
18 anos ninguém pode ser comerciante porque não tem capacidade jurídica. Em termos práticos, os menores
não podem celebrar contratos a não ser que esse contrato seja bagatelar (bem de baixo valor). Para além dos
menores, os interditos também não têm capacidade jurídica. A interdição resulta de uma pessoa singular, em
virtude de uma deficiência mental, não ter plena capacidade de entendimento e por essa razão não pode atuar
em nome próprio e tem de ser representada por alguém. A interdição tem que ser declarada por um tribunal e
obviamente que o tribunal decidirá consoante relatórios médicos. Em princípio, a interdição é permanente. Por
seu turno e por fim, a inabilitação é também uma forma de incapacidade. A inabilitação é uma incapacidade
temporária e que normalmente está relacionada com vícios (drogas, álcool, jogo). A inabilitação é também
decretada pelo tribunal mas sempre com uma duração determinada. Alguém que é inabilitado pode mais tarde
recuperar a sua capacidade jurídica. Mas, enquanto uma pessoa singular for inabilitada não pode ser
comerciante.

Para que uma pessoa singular seja profissional do comércio é preciso que pratique atos de comércio
de forma habitual e sistemática. Pelo contrário, não é comerciante profissional aquela pessoa singular que
apenas pratique atos de comércio de forma esporádica ou ocasional.

Exemplo: Um advogado não é um comerciante, mas consideremos a hipótese de um advogado que


compra um terreno para o revender. Esta compra para revenda é um ato objetivamente comercial. A questão é,
aquele advogado torna-se comerciante? Não. Aquele advogado só por aquele ato de comércio não se torna
comerciante. Para que alguém seja comerciante, tem que ser profissional e profissional do comércio e, para
isso, tem de praticar atos de comércio de forma contínua e reiterada.

Notas sobre a profissionalidade: A profissionalidade não exige a exclusividade, isto significa que
alguém pode ser profissional do comércio ainda que tenha outra atividade para além do comércio. Exemplo: O
sujeito A é professor e os professores não são comerciantes, mas vamos supor que esse mesmo sujeito A para
além de ser professor explora um café, estabelecimento esse para onde se desloca todos os dias. O sujeito A é
comerciante? Sim, o sujeito A de forma contínua e reiterada pratica atos de comércio no seu café. A
circunstância do sujeito A ter uma outra profissão e ter uma outra atividade para além do comércio não
impede a sua classificação como comerciante. Em conclusão, uma pessoa singular pode ser profissional do
comércio ainda que não exerça o comércio de forma exclusiva; A profissionalidade pode ser obtida com uma
atividade sazonal (atividade que ocorre durante uma parcela do ano). Exemplo: O sujeito A é proprietário de
um restaurante no Algarve, sendo que esse restaurante só está aberto três meses por ano. O sujeito A é
profissional? Sim, porque pratica de forma contínua, reiterada, atos de comércio. Não durante todo o ano mas
numa parcela do ano todos os anos.

Só é comerciante quem pratique atos de comércio para si em nome próprio. Inversamente, não é
comerciante alguém que pratique atos de comércio não para si mas em representação de outra pessoa.
Exemplo: O sujeito A é empregado numa mercearia que é propriedade do sujeito B. Todas as manhãs o
sujeito A vai ao mercado da cidade comprar produtos para serem revendidos naquela mercearia. O sujeito A é
comerciante? Não. O sujeito A tem capacidade jurídica (não é menor, interdito ou inabilitado), é profissional
do comércio (todos os dias compra para revender), mas falta-lhe o terceiro requisito – o sujeito A não atua em
nome próprio, mas sim pratica atos de comércio em nome e representação do seu patrão, que é o sujeito B.
Faltando este terceiro requisito, o sujeito A não pode ser classificado como comerciante.

O artigo 14 do código comercial esclarece que existem pessoas que não podem ser classificadas como
comerciantes. Desde logo, o artigo 14 Nº1 estabelece que não podem ser qualificadas como comerciantes as
associações e as fundações sem fins lucrativos. Mas, o artigo 14 Nº2 esclarece que a lei pode indicar que
outras pessoas possam ser qualificadas com não comerciantes. A lei diz que não são comerciantes as seguintes
categorias de profissões:
 Agricultores: Este conceito de agricultura inclui não só a agricultura em sentido restrito mas também
a silvicultura, a pecuária e a piscicultura. Nos termos do artigo 230, parágrafo 1º do código comercial
afirma então que os agricultores não são comerciantes, mas existem autores que contestam esta
posição com o argumento de que a agricultura atual é muito diferente da agricultura que existia no
século XIX (quando o código comercial foi aprovado). Efetivamente, no século XIX e em grande
parte do século XX, a agricultura era de subsistência (pessoas cultivavam para consumo e não para
fazer negócio), sendo que não era uma atividade comercial, tendo lógica que os agricultores também
não eram considerados comerciantes. Contudo, atualmente existe uma agricultura massificada de
exploração comercial (venda). A agricultura industrializada em que a produção é para venda é uma
atividade comercial. Nesses termos, alguém que seja agricultor em moldes modernos em que a
produção é essencialmente para venda, deve ser qualificado como comerciante. Exemplo: O senhor
António é juiz de profissão e em 2014 o senhor António adquiriu uma quinta e várias vinhas no
Douro. O objetivo do senhor António era produzir vinho naquela quinta para depois o vender. Para
melhor explorar essa atividade o senhor António contratou três funcionários em permanência,
comprou dois tratores, investindo no total 60 000 €. No ano de 2017, o senhor António já vendeu
1000 litros de vinho. Questões: 1. A compra da quinta é um ato objetivamente comercial? 2. António
é comerciante? Resposta: 1. A regulação da compra no código comercial consta no artigo 463 do
código comercial. De acordo com esse artigo 463 consideram-se compras objetivamente comerciais as
seguintes: as compras de participações sociais, ou seja, a compra de partes de sociedades comerciais
(não é o caso do António); as compras de títulos de bolsa (não é o caso do António); a compra feita
com intuito de aluguer ou arrendamento (António não pretendia alugar ou arrendar a quinta); se a
compra tivesse sido realizada com o intuito de revenda (não é o caso do António). Concluindo, a
compra daquela quinta não é nem foi um ato objetivamente comercial. A compra da quinta não sendo
um ato objetivamente comercial poderia ser contudo um ato subjetivamente comercial, desde que se
verificasse os pressupostos, mas essa não é a questão. 2. A atividade de António enquanto juiz não
levanta qualquer tipo de dúvidas, ou seja, ele enquanto juiz não é comerciante. Mas António para
além de ser juiz desenvolve uma outra atividade – é agricultor. E, portanto, o que se tem de verificar é
se António enquanto agricultor é comerciante. De acordo com o artigo 230 parágrafo 1º por regra os
agricultores não são comerciantes mas é hoje entendido que é necessário interpretar de forma
atualística. E, de acordo com essa interpretação atualística, um agricultor deve ser considerado
comerciante se desenvolver a sua atividade agrícola no âmbito de uma empresa. A questão é pois
determinar se António desenvolve a sua atividade no âmbito de uma empresa. Para que António
desenvolve-se a sua atividade no âmbito de uma empresa seriam necessários três requisitos
cumulativos: 1º Só existe empresa se estivermos na presença de uma agregação de pessoas, capitais e
meios e, no caso concreto, esses requisitos verificam-se. Em primeiro lugar, o António contratou
funcionários, comprou máquinas e investiu dinheiro. 2º Só existe empresa se a atividade for
continuada, isto é, se não for limitada no tempo, esse requisito também se verifica no caso prático
uma vez que António explora de uma forma continuada a quinta. 3º Só existe empresa se a atividade
desenvolvida tiver como finalidade o lucro, sendo que este pressuposto também se verifica no caso
prático. Portanto, o António explora aquela quinta e vende aquele vinho para obter lucro. Em
conclusão, António é agricultor e explora a sua atividade agrícola no âmbito de uma empresa. Ora, o
agricultor que desenvolve a sua atividade no âmbito de uma empresa deve ser considerado
comerciante. Por essa razão, António é comerciante.

 Artesãos: Não são considerados comerciantes, isto por força também do artigo 230 parágrafo 1º do
código comercial. O artesanato caracteriza-se por ser uma atividade fundamentalmente manual, ou
seja, o artesanato pode usar máquinas mas essa utilização de maquinaria é subsidiária. Para esta
caracterização, por exemplo: os alfaiates, os costureiros, os oleiros, os cesteiros, os ferreiros, os
sapateiros. À partida os artesãos não são comerciantes porque o artigo 230 parágrafo 1º assim o diz.
Contudo, é preciso fazer com o artesanato o mesmo raciocínio atualístico que se fez com a agricultura
e nesses termos o artesanato pode ser uma atividade comercial se for desenvolvido em moldes
empresariais. Exemplos: A 5àsec é um serviço de artesanato que é desenvolvido no âmbito de uma
empresa e nesse sentido é uma atividade comercial. Num outro exemplo, um cabeleireiro pode ser
explorado no âmbito de uma empresa desde que se verifiquem os pressupostos de uma empresa. Se
assim for, esse cabeleireiro deverá ser considerado comerciante.

 Profissionais Liberais: Os profissionais liberais têm duas características essenciais: 1º A sua


atividade é essencialmente intelectual, não manual. 2º O acesso a essas atividades depende
normalmente da obtenção de uma licenciatura ou de um bacharelato (antes de uma licenciatura, já não
existe) e ainda da inscrição na ordem profissional correspondente. Exemplos: Advogados, médicos,
arquitetos, economistas, revisores oficiais de contas (ROCS) e técnicos oficiais de contas (TOCS).

 Artistas: Inclui-se na categoria de artistas os cantores, os músicos, os escritores, os pintores, etc. A


atividade do artista é essencialmente criativa. Nos termos do artigo 230 parágrafo 3º os artistas não
são comerciantes. Exemplo: O município de Leiria contratualizou com o Tony Carreira. Foi acordado
o preço de 15 000€ por uma hora e meia de espetáculo. Antes, durante e depois do espetáculo três
funcionários do Tony Carreira estavam no recinto a vender merchandising. Questões: 1º Quais são os
comerciantes que identificam no caso prático? 2º Quais são os atos objetivamente comerciais que
estão identificados no caso prático? Respostas: 1º O artigo 230 parágrafo 3º explicita que os artistas
não são comerciantes, sendo que segundo esta lógica, o Tony Carreira não é comerciante. Contudo, no
caso prático, é também indicada uma outra atividade do Tony Carreira – a venda de merchandising.
Esses atos são compras comerciais de acordo com o que estipula o artigo 463 do código comercial.
Por outras palavras, o Tony Carreira compra para revender. Vamos ver se isso é suficiente para o
qualificar enquanto comerciante. Para que alguém seja considerado comerciante é necessário que se
verifiquem 3 requisitos cumulativos: a pessoa não pode ser incapaz (nada no caso prático indica que o
Tony Carreira tenha qualquer tipo de incapacidade – seja menor, interdito ou inabilitado); tem de ser
profissional do comércio, de forma continua e reiterada (no caso prático, é indiciado que ele de forma
reiterada e regular pratica atos de comércio – compra material para revenda – portanto podemos
concluir que o Tony Carreira é profissional do comércio – não porque cante mas porque regularmente
compra para revender); finalmente, para que o Tony Carreira fosse considerado comerciante era
necessário um terceiro requisito, isto é, era necessário que o Tony Carreira atua-se em nome próprio,
isto relativamente aos atos de comércio (os atos de comércio do caso prático são praticados pelos
funcionários do Tony Carreira mas em nome, em representação e no interesse do Tony Carreira.
Quem efetivamente pratica aqueles atos, não são os funcionários é o Tony Carreira representado por
aqueles funcionários. Em conclusão, o Tony Carreira reúne os três requisitos para ser considerado
comerciante. Quanto aos funcionários do Tony Carreira eles preenchem os dois primeiros requisitos
para serem considerados comerciantes. Eles têm capacidade jurídica e por outro lado praticam atos de
comércio (vendem merchandising), contudo os funcionários do Tony Carreira não preenchem o
terceiro requisito para serem considerados comerciantes – na realidade eles não atuam em nome
próprio, os atos de comércio por si praticados são feitos em nome e no interesse do Tony Carreira.
Conclusão os funcionários do Tony Carreira não são comerciantes porque lhes falta um dos requisitos
que é a atuação em nome próprio. O artigo 17 do código comercial esclarece o seguinte: o Estado e os
Municípios (Câmaras Municipais e Freguesias) não são comerciais, sendo que não podem praticar
atos de comércio. 2º No caso prático são descritas duas atividades: primeiro a realização de um
concerto, depois a venda de merchandising. Um concerto não é um ato comercial, efetivamente o
artigo 230 Parágrafo 3º esclarece que a atividade artística não é uma atividade comercial. O segundo
ato do caso prático é a venda do merchandising, parece indiciar-se no caso prático que não é o próprio
Tony Carreira que produz as camisolas e o restante material de merchandising. Pelo contrário, parece
evidente que aquele merchandising foi previamente comprado. Nos termos do artigo 463 do código
comercial o contrato de compra e venda é um ato objetivamente comercial em quatro situações: 1.
Quando a compra incide sobre participações sociais, isto é, de partes de sociedades comerciais; 2.
Quando a compra é feita em bolsa (não se aplica); 3. Quando se compra uma coisa para alugar essa
mesma coisa; 4. Quando se compra uma coisa para revender essa mesma coisa – é esta a situação do
caso prático, o Tony Carreira comprou aquele material com a intenção de o revender. Conclusão, a
venda do merchandising é um ato objetivamente comercial nos termos do artigo 463 do código
comercial.

Existem ainda, fora do código comercial, algumas leis que proíbem que algumas pessoas sejam
comerciantes ou pratiquem atos de comércio. É o caso dos militares, dos polícias, dos políticos
enquanto forem titulares de órgãos de soberania (ministros, primeiro-ministro, secretários de estuado
e presidente da república – os deputados não estão abrangidos) que têm de exercer a sua atividade em
exclusividade.

O ato em questão não pode ter uma natureza exclusivamente civil

Neste requisito o contrato em análise vai servir para colocar uma questão. Este ato ou este contrato é
sempre um contrato civil ou em abstrato tanto pode ser civil como comercial. Por exemplo, o contrato de
compra e venda em abstrato tanto pode ser um contrato civil como pode ser um contrato comercial, isto
significa que o contrato de compra e venda não é exclusivamente civil. Mas existem contratos que têm de ser
sempre civis, ou seja, existem contratos que nunca podem ser comerciais. Isto é, existem contratos que nunca
podem ter finalidades comerciais ou finalidades de lucro. Existem contratos que são exclusivamente civis:
casamento, o divórcio, a adoção e perfilhação (reconhecimento da paternidade/maternidade). Existem ainda
dúvidas relativamente ao contrato de doação. Há quem entenda que o contrato de doação é sempre civil, ou
seja, que o contrato de doação nunca pode ter finalidades comerciais. Contudo, existem doações feitas por
comerciantes e por sociedades comerciais que têm propósitos comerciais, que são publicidade. Nesse
entendimento, a doação pode ser e é muitas vezes um ato comercial.

Não pode resultar das circunstâncias a natureza civil do ato

Se um ato for praticado por um comerciante e se esse ato ou contrato não tiver uma natureza
exclusivamente civil vai-se presumir que aquele ato ou contrato é comercial. Uma presunção é um facto que o
direito vai aceitar como verdadeiro até prova em contrário. Se existirem dúvidas mantém-se a presunção.

Exemplo: O António é proprietário de uma pizzaria de um restaurante. No passado dia 10 de Outubro


António adquiriu na Worten uma televisão. Questão: A compra descrita é um ato subjetivamente comercial?
Resposta: Para que aquela compra seja um ato subjetivamente comercial são necessários três requisitos
cumulativos que constam dos artigos 2 e 13 do código comercial. Esses requisitos são os seguintes:

 Primeiro, o ato tinha de ser praticado por um comerciante e portanto António teria de ser comerciante.
Nos termos do artigo 13, uma pessoa física ou singular é considerada comerciante se tiver capacidade
jurídica (António tem), profissionalidade (António é efetivamente profissional do comércio, ele
enquanto proprietário de um restaurante, pratica numa base diária atos de comércio) e atuação em
nome próprio (António na sua atividade do restaurante representa-se a si próprio, não está a
representar ninguém). O primeiro requisito, para que o ato seja subjetivamente comercial verifica-se
porque António é comerciante);

 Segundo, é necessário que o contrato do caso prático não tenha uma natureza exclusivamente civil.
Ora, o contrato de compra e venda não tem uma natureza exclusivamente civil. Em algumas
circunstâncias, e com alguns requisitos, a compra e venda pode ser um contrato comercial. Assim
sendo, o segundo requisito para que o ato seja subjetivamente comercial verifica-se.
 Terceiro, vai-se presumir que a compra daquela televisão foi realizada no âmbito da atividade
comercial de António. Portanto, cabe a António provar que a compra daquela televisão é alheia à sua
atividade comercial. Nessa prova, utiliza-se a chamada “teoria da impressão do destinatário”. Na
teoria da impressão do destinatário vai-se analisar qual é que foi a perceção ou o entendimento da
contraparte. Na situação do caso prático e aplicando a teoria da impressão do destinatário teríamos
que colocar as seguintes hipóteses: 1º A contraparte de António, ou seja, a Worten, percebeu que a
compra de António era para uma compra civil, isto aconteceria por exemplo, caso a Worten fosse
instalar a televisão em casa de António. Nesta primeira hipótese, a presunção seria eliminada porque
se provou que o ato ou contrato em questão era para a vida privada de António. Se assim fosse, não se
verifica o terceiro requisito para que o ato seja subjetivamente comercial. 2º A Worten, a contraparte
de António não consegue perceber qual a finalidade que António vai dar àquela televisão. Nesse caso,
mantendo-se a dúvida, mantém-se também a presunção de que o ato ou o contrato é para a atividade
comercial de António. Neste caso então, o ato é subjetivamente comercial porque se verifica estes três
requisitos. O terceiro requisito verifica-se à partida a não ser que se prove que o ato praticado pelo
comerciante é para a sua vida pessoal e não profissional.

TERCEIRO MÉTODO PARA QUALIFICAR UM ATO COMO COMERCIAL (Artigoº 230 do código comercial)

O artigo 230 qualifica atos como comerciais desde que se verifiquem três requisitos cumulativos:

 O ato tem que ser praticado por uma empresa, portanto o artigo 230 não qualifica atos praticados por
pessoas singulares.

 O artigo 230 só qualifica atos praticados por empresas cuja atividade seja mencionada num dos sete
números do artigo 230. O artigo 230 nº1 identifica a atividade de indústria; o artigo 230 nº2 refere-se
a empresas de fornecimento de bens (não inclui serviços) ou de géneros (coisas); o artigo 230 nº3
descreve empresas que se dediquem ao agenciamento e o agenciamento é sobretudo uma
intermediação de negócios (exemplo agências funerárias, imobiliárias, viagens); o artigo 230 nº4
indica empresas que se dediquem à exploração de atividades lúdicas (exemplo circo, empresa que
promova festivais de verão); o artigo 230 nº5 refere as editoras (um editora promove a produção e a
venda de um determinado produto artístico) ou as empresas editoras sejam elas discográficas, de
livros, de filmes, etc.; o artigo 230 nº6 diz respeito a empresas de construção civil; o artigo 230 nº7
refere-se a empresas transportadoras (exemplo TAP). Uma empresa que não desenvolva uma das
atividades descritas no artigo 230 do código comercial não é incluída no âmbito do artigo 230 e,
portanto, não pratica atos de comércio de acordo com o artigo 230 do código comercial. Exemplo:
Um ginásio compra máquinas para o seu estabelecimento. Ora, um ginásio pode ser uma empresa,
contudo o ginásio é uma empresa que presta serviços. Mas uma empresa que presta serviços não cabe
em nenhuma das categorias do artigo 230. Assim, o ato praticado pelo ginásio não é comercial pela
utilização do artigo 230.
 O artigo 230 do código comercial só qualifica como comerciais os atos principais ou acessórios
daquela empresa mas já não qualifica como comerciais os chamados atos supérfluos. Atos necessários
são aqueles atos que são imprescindíveis para a empresa, ou seja, são aqueles atos sem os quais a
empresa não pode desenvolver a sua atividade. Os atos secundários por seu turno são aqueles que não
são imprescindíveis, isto é, a empresa funciona sem eles mas estes aumentam a produtividade da
empresa. Os atos supérfluos são a categoria residual, portanto, são atos supérfluos todos aqueles que
não forem imprescindíveis nem acessórios.

Atos jurídicos unilateralmente comerciais

O que está em causa é a possibilidade de uma determinada relação jurídica só ser comercial de um dos
lados da relação.

Exemplo: O António, que é professor da primária, compra um carro no Stand Leiria, Automóveis.
Esta relação jurídica tem dois lados – o lado do vendedor e o lado do comprador. Do lado do vendedor, o
Stand Leiria Automóveis, a venda é um ato comercial mas do lado do comprador o ato já não pode ser
considerado um ato comercial. Da perspetiva do comprador o ato não é comercial, senão vejamos: O artigo
463 prevê quatro situações em que uma compra e venda é um ato objetivamente comercial, primeiro quando a
compra é de participação social, o que não é o caso; segundo, quando o bem comprado foi em bolsa, também
não é o caso; terceiro, quando o bem comprado é para alugar (não é o caso); quarto, quando o bem comprado
é para revenda (não é o caso do exemplo). Conclusão, da perspetiva do comprador o ato não é objetivamente
comercial mas da perspetiva do comprador também não é subjetivamente comercial. Efetivamente, o primeiro
requisito para que um ato seja subjetivamente comercial é ser praticado por um comerciante e, num caso
concreto, aquele sujeito comprador não é comerciante porque o comprador é um professor da primária, isto é,
é um profissional liberal (os profissionais liberais não são comerciantes). Se um ato não for praticado por um
comerciante, o ato não pode ser subjetivamente comercial. A outra forma de qualificar aquele ato seria através
do artigo 230 só que o primeiro requisito para se aplicar o artigo 230 é o ato ser praticado por uma empresa e
no caso concreto aquela compra não foi feita por uma empresa, mas sim por uma pessoa singular. Mas a
resposta já é diferente relativamente à outra parte do contrato – que é um vendedor (no caso concreto é um
stand automóvel). Na perspetiva do stand automóvel a resposta não é igual. Ora, efetivamente, da perspetiva
do vendedor, o ato é objetivamente comercial (o stand comprou o automóvel para o revender) e, portanto,
estamos numa das situações enquadráveis no artigo 463 nº1. Assim, da perspetiva do vendedor, o ato é
comercial.

Este caso é um exemplo dos chamados atos de comércio unilaterais, que são portanto, situações
jurídicas em que um contrato é comercial de uma das suas partes (no nosso exemplo, era comercial para o
vendedor) mas já não é comercial para outra das partes da relação. A dúvida coloca-se nos seguintes termos –
se um contrato só é comercial para uma das suas partes, ainda se aplica o direito comercial? A resposta é dada
pelo artigo 99 do código comercial. De acordo com este artigo o regime jurídico dos atos de comércio
unilaterais é o seguinte:

 Aplica-se a toda a relação jurídica o direito comercial. Retomando o exemplo, àquele contrato que só
era comercial da perspetiva do vendedor mas já não era comercial da perspetiva do comprador, vai ser
aplicado o direito comercial.

 Contudo, o sujeito daquele contrato que não for considerado comerciante não vai estar sujeito às
regras aplicáveis aos comerciantes.

CASO PRÁTICO Nº1

Questão: O António é proprietário de um ginásio situado em Leiria denominado Leiria Fitness Club
Lda. Nesse ginásio trabalha Bruno e Carlos. O Bruno é contabilista e o Carlos é Personal Trainer. Para além
de ser contabilista o Bruno, com o pleno consentimento de António, transporta na sua viatura particular
diversos clientes para as suas moradias uma vez terminado o treino, cobrando para o efeito 10 € por viagem.
Hoje, o António adquiriu para o seu ginásio o novo sistema de refrigeração (15 000 €).

1. Algum dos intervenientes do enunciado é comerciante?

2. Encontra algum ato comercial no enunciado?

Resposta à pergunta 1: António – É pessoa singular e nos termos do artigo 13 Nº1 uma pessoa
singular pode ser considerada comerciante uma vez verificados os seguintes requisitos: 1º a pessoa tem de ter
capacidade jurídica, por outras palavras, a pessoa não pode ser incapaz, sendo que António preenche este
requisito; 2º para que uma pessoa singular seja considerada comerciante tem de fazer do comércio profissão.
Relativamente a António, o segundo requisito verifica-se porque todos os dias ele pratica atos de comércio na
exploração de um estabelecimento comercial que é o ginásio, ou seja, António é profissional do comércio; 3º
Só é comerciante quem atuar em nome próprio, sendo que António não atua em nome próprio pois todos os
atos que são prescritos no caso prático são feitos por António no nome e no interesse do ginásio Leiria Fitness
Club Lda. Assim, falta um requisito a António para ser considerado comerciante.

Leiria Fitness Club Lda. – Artigo 13 nº2 do código comercial: as sociedades


comerciais são sempre comerciantes sem necessidade de análise de qualquer requisito.

Carlos – Não é comerciante por várias razões:1. Desde logo, Carlos é


profissional liberal e os profissionais liberais não são comerciantes; 2. Ainda que por mera hipótese se
considerasse que Carlos pratica atos de comércio, ainda assim, esses atos nunca seriam praticados em nome
próprio, seriam sempre praticados em nome e no interesse do ginásio. Logo, é evidente que Carlos não é
comerciante.
Bruno – Tem que ser qualificado tendo em conta as duas atividades que
realiza: a atividade de contabilidade por um lado e por outro lado a atividade de transporte que ele realiza dos
clientes do ginásio. Dos factos constantes do caso prático parece evidente que quem pratica aquele transporte
é o próprio Bruno e não o ginásio. Portanto, quem pratica o ato de transporte é o Bruno, que atua em nome
próprio e para si. Bruno, enquanto contabilista, é um não comerciante porque os contabilistas são profissionais
liberais e os profissionais liberais, de acordo com o artigo 230 nº1 e 230 nº3 não são comerciantes, mas Bruno
desempenha ainda uma outra atividade, que é o transporte de pessoas. A partir desse transporte, vamos ver se
é possível qualificar Bruno como comerciante. Para ele ser comerciante, é necessário que se verifiquem três
requisitos cumulativos. Em primeiro lugar, Bruno tem que ter capacidade jurídica e ele tem capacidade
jurídica porque no enunciado não é mencionada qualquer incapacidade, ou seja, ele não é menor, não é
interdito e não é inabilitado. Segundo requisito, Bruno tem de ser profissional do comércio. Para isso,
teríamos que chegar à conclusão que Bruno, de forma repetida ou continuada, pratica atos de comércio. Ora,
Bruno, de forma continua ou regular, transporta pessoas, o que é um ato de comércio. Poder-se-ia questionar o
facto de Bruno não ter como atividade principal o comércio. Na realidade, a atividade principal de Bruno é ser
contabilista mas, conforme foi visto nas aulas teóricas, uma pessoa pode ser profissional do comércio ainda
que não exerça o comércio como atividade principal ou exclusiva. Conclusão, Bruno é profissional de
comércio porque de forma e repetida ou sistemática pratica atos de comércio. Terceiro requisito, Bruno para
ser comerciante tem que praticar os atos de comércio em nome próprio, sendo que este requisito Bruno, na
realidade, realiza o ato de transporte em nome próprio: o automóvel que utiliza no transporte é seu, o dinheiro
cobrado é para ele, não para o ginásio, pelo que temos de concluir que os atos praticados por Bruno são em
seu próprio nome, sendo que Bruno não está a representar ninguém. Então, Bruno preenche os três requisitos
para ser qualificado como comerciante.

Vamos pressupor, que o carro que procedia ao transporte era do ginásio e vamos pressupor ainda que
uma parte dos 10 euros pagos eram para o ginásio. Perante esses novos factos, ainda podíamos qualificar o
Bruno como comerciante? Não. Na realidade, com esses novos factos, Bruno já não estaria a atuar em nome
próprio. Pelo contrário, Bruno estaria a atuar e a representar o ginásio e, portanto, faltava o terceiro requisito
para ser considerado comerciante.

Resposta à pergunta 2: No caso prático encontramos dois atos que podem ser considerados atos
comerciais: transporte de pessoas realizada por Bruno e a compra da máquina realizada por António.

Transporte – O transporte pode ser um ato objetivamente comercial uma vez


que está previsto no código comercial no artigo 366. Contudo, o artigo 366 só qualifica como objetivamente
comercial o transporte que é realizado por uma empresa, por outras palavras, o artigo 366 não qualifica o
transporte que é realizado por uma pessoa singular (se fosse pelo ginásio teria de explicar o conceito de
empresa). Bruno não realiza transporte através de uma empresa, ele é uma pessoa singular. O artigo 366 não é
aplicável ao caso prático e dessa forma o ato em questão não é objetivamente comercial. Passamos assim, para
a qualificação do transporte como ato subjetivamente comercial. A qualificação subjetiva depende da
verificação de três requisitos cumulativos: 1º O ato em questão tem que ser praticado por um comerciante,
portanto o transporte do caso prático tinha de ser praticado por um comerciante, e foi, Bruno é comerciante. 2º
O ato não pode ter uma natureza exclusivamente civil e o transporte não tem uma natureza exclusivamente
civil (só tem uma natureza exclusivamente civil os contratos de casamento e divórcio, o testamento, a adoção
e a perfilhação), sendo que o segundo requisito verifica-se. 3º Se do próprio ato não resultar um contrato. Este
terceiro requisito parte ou assume uma presunção. A presunção de que um ato praticado por um comerciante
foi realizado no âmbito da sua atividade comercial. Este terceiro requisito só não se verifica se se conseguir
provar que o ato em questão não está relacionado com a atividade do comerciante. Portanto, no caso prático
iríamos presumir que o transporte realizado por Bruno estava relacionado com a sua atividade comercial.
Nesses termos, o terceiro requisito iria verificar-se. O terceiro requisito só não se verificaria se se conseguisse
provar que aquele transporte dos clientes do ginásio não estava relacionado com a atividade de Bruno. Essa
prova não poderia ser feita porque efetivamente aquele transporte está relacionado com a atividade de Bruno.
Concluindo, verificam-se os três requisitos da qualificação subjetiva logo o ato é subjetivamente comercial.

Compra novo sistema de refrigeração – Teríamos que verificar se aquela


compra era um ato objetivamente comercial de acordo com aqueles que são os requisitos do artigo 463 do
código comercial. O artigo 463 do código comercial prevê quatro situações em que a compra é objetivamente
comercial: 1. Quando o objeto comprado é uma sociedade comercial ou uma participação social de uma
sociedade comercial (não se aplica). 2. Quando o objeto foi comprado em bolsa (não se aplica) 3. Quando o
objeto foi comprado para revenda (o António não comprou aquelas máquinas para revenda) 4. Quando a coisa
comprada é para alugar (não se aplica). Conclusão, não se verificando nenhuma das hipóteses constantes no
artigo 463 aquela compra não é objetivamente comercial logo passamos para a qualificação subjetivamente
comercial. Os atos subjetivamente comerciais exigem três requisitos: 1º O ato ser praticado por um
comerciante. No enunciado foi-nos dito que quem procedeu à compra foi o António. Vamos colocar duas
hipóteses: 1º Hipótese: Quem comprou a máquina foi António mas essa compra foi feita em nome e em
representação do ginásio. Se assim foi, quem efetivamente realizou a compra foi o ginásio, que é comerciante.
Se foi a Leiria Fitness Club que fez a compra só faltava verificar os outros dois requisitos que são: o ato não
ter uma natureza exclusivamente civil (verifica-se) e não resultar do próprio ato o contrato que também se
verifica. Uma vez que não é possível provar que a compra daquela refrigeração não está relacionada com o
ginásio, claro que está. Nesta perspetiva o ato seria subjetivamente comercial. 2º Hipótese: Quem fez a
compra foi mesmo António e não foi a Leiria Fitness Club. Nessa segunda hipótese o ato não era
subjetivamente comercial. Faltava logo o primeiro requisito uma vez que António não é comerciante. Nesta
segunda hipótese teríamos que procurar ainda ver o artigo 230 do código comercial. O artigo 230 exige
cumulativamente três requisitos: 1º O ato tem de ser praticado para uma empresa, e este requisito até se
verificaria porque António estaria a atuar no âmbito de uma empresa que é ginásio. Mas mesmo que se
aceitasse que António estaria a atuar no âmbito de uma empresa não se verificaria o segundo requisito do
artigo 230 – efetivamente o artigo 230 só qualifica como comerciais os atos praticados por empresas que
desenvolvam uma das atividades descritas nos diferentes números do artigo 230. Ora, um ginásio faz
prestação de serviços e a prestação de serviços não é uma das atividades do 230. Portanto, na hipótese de ter
sido António efetivamente a fazer a compra o ato não seria comercial.

Relações Jurídico-Comerciais

Quando qualificamos um ato ou contrato como comercial, tal vai significar a aplicação do Direito
Comercial. Essas regras do Direito Comercial são, essencialmente, sete:

a) Transmissão de dívidas ao cônjuge de um comerciante;

b) Vencimento das Obrigações;

c) Fiança comercial;

d) Prescrição;

e) Forma;

f) Taxas de Juro;

g) Solidariedade.

Transmissão de dívidas a um cônjuge de um comerciante: O que está em causa neste ponto é saber
em que circunstâncias é que as dívidas contraídas por um comerciante se transmitem e responsabilizam
também aquilo a que se chama o património comum do casal e para sabermos o que é o património comum do
casal temos de saber os 3 regimes pelos quais a s pessoas podem casar:

 Regime de separação de comunhão de bens;

 Regime de bens adquiridos (regime que se aplica a não ser que se convencione outro);

 Regime de comunhão geral de bens.

Regime de bens adquiridos: Neste regime, o que era de cada um dos cônjuges antes do casament0
continua a ser exclusivamente seu depois do casamento, mas todos os bens adquiridos depois do casamento
são dos dois, contudo os salários e as heranças são exclusivamente pessoais de cada um dos cônjuges.

Exemplo: O António comprou uma moradia de 100 000 € em 2003 e em 2012 António casou com
Beatriz, sendo que casaram em regime de comunhão de adquiridos. Em 2013 António adquiriu uma viatura no
valor de 30 000 € e em 2014 recebeu uma herança de 80 000 €. Neste caso só o carro é que faz parte dos bens
do casal uma vez que a moradia foi adquirida antes do casamento, logo continua a ser património exclusivo de
António, a herança é apenas de António mesmo que esta seja adquirida depois do casamento.

Regime de separação de bens: Neste regime não há património comum do casal, ou seja, todos os bens
adquiridos antes do casamento são exclusivamente seus depois do casamento. Mas, neste regime, todos os
bens que cada um dos cônjuges adquira depois do casamento continuam a ser exclusivamente seus. Duas
pessoas casadas no regime de separação de bens podem, contudo, adquirir um bem em conjunto como por
exemplo uma casa, nesse caso o bem será comum mas não é pelo casamento mas sim pela compra em comum.

Regime de comunhão geral de bens: Com o casamento todos os bens passam a ser património comum
do casal. Quer isto dizer que os bens que eram propriedade exclusiva dos cônjuges antes do casamento passam
a pertencer ao património comum do casal depois do casamento. No exemplo anterior, em 2010 António
adquiriu uma moradia e em 2012 casou com Beatriz em regime de comunhão geral de bens. A partir desse
casamento aquela casa é património comum do casal e qualquer bem que António ou Beatriz adquiram depois
do casamento é também património comum do casal. Também neste regime os salários e as heranças são
património pessoal sendo estas as exceções. Na questão das dívidas contraídas por um comerciante e da forma
como elas são transmitidas ao cônjuge há dois artigos que temos de considerar: Artigo 15 do código comercial
e artigo 1691 alínea d) do código civil. Cada um destes artigos estabelece uma presunção. O artigo 15 do
código comercial estabelece a presunção de que as dívidas contraídas por um comerciante foram contraídas no
exercício da sua atividade. Por outro lado, o artigo. 1691 Alínea d) do código civil estabelece a presunção de
que as dívidas resultantes da atividade comercial foram em proveito comum do casal e, por essa razão,
responsabiliza o património comum do casal. Destas duas presunções resulta que, a não ser que se prove o
contrário das presunções, as dívidas contraídas por alguém que é comerciante se transmitem ao património
comum do casal.

Caso Prático: António é proprietário de um restaurante. Em 2010 casou com Beatriz e, em 2011, ela
adquiriu uma moradia por 200 000 €. Em 2017 António contraiu uma dívida de 70 000 € para fazer obras no
seu restaurante, dívidas essas que ainda não foram pagas. Atualmente, Beatriz pretende saber em primeiro
lugar se pode ser responsabilizada por aquela dívida e se aquela casa pode ser executada derivado àquelas
dívidas.

Resposta: Primeiramente, lembrar que aquela casa é do património comum dos dois, uma vez que eles
casaram em regime de bens adquiridos e o imóvel foi adquirido posteriormente (ainda que tenha sido só
Beatriz a comprá-lo). Por outro lado, temos de considerar e aplicar os artigos 15 do código comercial e 1691
alínea d) do código civil. De acordo com o artigo 15 do código comercial vamos presumir que a dívida de
70 000 € contraída por António diz respeito à sua atividade comercial e, de acordo com o artigo 1691 alínea
d), vamos presumir que aquela dívida de 70 000 €, sendo uma dívida emergente da atividade comercial,
beneficiou os cônjuges. Portanto, à partida Beatriz também seria responsável por aquela dívida e aquela casa,
sendo património comum do casal, ia responder pela dívida. De que forma é que a Beatriz se podia
desresponsabilizar? Beatriz só não seria responsabilizada por aquela dívida de 70 000 € se provasse um de três
factos: 1º se provasse que tinha casado em regime de separação de bens; 2º Beatriz podia ilidir a presunção do
artigo 15, ou seja, Beatriz teria que provar que a dívida não tinha sido contraída no âmbito da atividade
comercial de António (esta prova no caso pratico não conseguiria ser feita); 3º Beatriz teria que ilidir a
presunção estabelecida no artigo 1691 alínea d) do código civil. Teria que provar que aquelas obras no
restaurante não tinham beneficiado ambos os cônjuges. Mas, para fazer esta prova, Beatriz teria que
demonstrar que a economia do casal nunca beneficiou minimamente com a atividade do restaurante, prova
praticamente impossível.

Na prática, para uma pessoa que é casada com um comerciante não responda por dívidas tem de
provar uma de três coisas: 1º que está casada em separação de bens; 2º tem de provar que a dívida em questão
é alheia à atividade comercial do comerciante; 3º tem de provar que aquela dívida não beneficiou a economia
do casal.

TESTE: Podemos chegar à conclusão que, no teste, o ato é civil. (2 Horas, não é preciso inscrição, 1 caso
prático: 2 perguntas: qualificar sujeitos e atos de comércio. 3: pergunta teórica, não relacionada com o caso
prático)

Vencimento das Obrigações: O vencimento da obrigação diz respeito ao momento em que um credor pode
exigir de um devedor a realização da prestação devida. Exemplo: O sujeito A empresta ao sujeito B 10 000 €.
Duas situações diferentes:

 1º: Fica definido que o sujeito B tem de restituir os 10 000 € no próximo dia 1 de Dezembro.
Neste caso o credor A pode exigir a prestação devida, que são os tais 10 000 €, no dia 1 de Dezembro.

 2º: O sujeito A e B não definem uma data em que B tem de restituir os 10 000 €. Nesta
segunda situação, em que não se define uma data para o cumprimento, há que ponderar dois interesses. Por
um lado, o interesse ou o direito do credor em exigir aquilo que lhe é devido. Mas por outro lado, há ainda o
interesse do devedor que não pode ser confrontado com uma exigência que pode não estar em condições de
cumprir.

Em conclusão, o vencimento de uma obrigação diz respeito ao momento em que o credor pode
exigir do devedor o pagamento de uma dívida ou a realização de uma prestação. Relativamente ao vencimento
das obrigações existem três tipos de obrigações: as obrigações a prazo, as obrigações condicionais e as
obrigações puras.

As obrigações a prazo são obrigações em que o credor e o devedor estabelecem uma data concreta
para que o devedor realize a sua prestação. Exemplo: O sujeito A empresta a B 10 000 € que B terá de restituir
até ao próximo dia 1 de dezembro. Se o devedor B não restituir os 10 000 € até à data convencionada logo no
dia 2 de dezembro está em atraso na prestação (está em mora). E, portanto, logo a partir do dia 2 de dezembro
começam a contar-se juros devidos pelo atraso na realização da prestação devida. Faria sentido que o credor
tivesse de reclamar a prestação devida outra vez? Não.

As obrigações condicionais são aquelas em que o devedor só tem que realizar a sua prestação
quando se verificar um facto ou um evento previsto no contrato. Exemplo: O sujeito A empresta a B 10 000 €
e o B terá que restituir esses 10 000 € quando voltar a ter emprego, uma vez que neste momento está
desempregado. Quando é que B vai voltar a estar empregado? Não há uma data específica, não se sabendo em
concreto quando é que B voltará a ter emprego. Mas quando se verificar esse facto, o B tem de cumprir.

As obrigações puras são aquelas em que não existe nem um prazo nem uma condição para o
cumprimento. Exemplo: O sujeito A empresta a B 10 000 € e não se define uma data em que B deve restituir
os 10 000 € nem um facto a partir do qual tenha de restituir o valor. Ora, dessa forma é preciso estabelecer
critérios e regras que definam a partir de quando é que o credor pode exigir a prestação.

Se a relação jurídica for civil, o artigo 805 do Código Civil estabelece que o credor para reclamar
a prestação devida tem que interpelar o devedor. A interpelação é uma comunicação dirigida pelo credor ao
devedor, em que o credor vai exigir ao devedor a realização da prestação devida e vai conferir ao devedor
aquilo a que a lei chama o prazo razoável para o cumprimento. Portanto, no exemplo, se o credor A pretende-
se que B lhe restituísse os 10 000 € tinha que dirigir uma comunicação a B a exigir esses 10 000 € e dando-lhe
um prazo para efetuar esse pagamento. Se essa interpelação fosse feita, hoje, dia 19 de novembro, e se fossem
conferidos a B os tais 10 dias para o cumprimento, isso significava que até ao próximo dia 29 de novembro
não existe qualquer atraso. Então, o devedor B só entraria em mora a partir do próximo dia 30 de novembro.
Aquilo que é o prazo razoável tem que ser analisado caso a caso atendendo às circunstâncias e atendendo a
qual é a prestação devida. Este é o regime das obrigações civis. Este regime, em que é necessário interpelar o
devedor e dar-lhe um prazo não é vantajoso para o credor. Por essa razão, foi aprovado um Decreto-Lei, que é
o Decreto-Lei 62/2013 de 10 de maio, que se aplica às relações comerciais. Em termos práticos, este decreto-
lei estabelece que sendo a dívida comercial e sendo a dívida a pagar dinheiro, esse pagamento é devido ao fim
de 30 dias a não ser que as partes do contrato tenham estabelecido uma data concreta para o pagamento.

Por exemplo, o António é proprietário de um quiosque. Hoje, 19 de novembro, a empresa


Construções Leiria Lda. foi fazer obras de reparação no quiosque de António. O António e o empreiteiro
apenas estabeleceram o pagamento de 5 000 € pelas obras. Quando é que António tem de pagar os 5 000 €?
Estamos na presença de uma obrigação pura. Uma vez que não ficou estabelecida uma data para o pagamento
nem uma condição. Se aquela obrigação fosse civil, a credora Construções Leiria Lda., se quisesse o
pagamento dos 5 000 €, o António teria um prazo para a cumprir mas se a obrigação em causa fosse comercial
aplicar-se-ia o decreto-lei 62/2013, sendo que por força da aplicação desse Decreto-Lei o pagamento dos
5 000 € era devido ao fim de 30 dias após a realização das obras, ou seja, o pagamento que António terá que
realizar tem de ser efetuado até ao próxima dia 19 de dezembro de 2018. Se tal não acontecer a partir do dia
20 de dezembro de 2018 começam a contar-se juros. A vantagem da aplicação deste decreto-lei é a seguinte:
Quando não é definida uma data para o pagamento esse pagamento deve ser realizado ao fim de trinta dias.
Este Decreto-Lei aplica-se às transações comerciais. Por transação comercial, entendemos uma transação
entre comerciantes ou entre um comerciante e uma entidade pública (Câmara, Governo).

Regime da Solidariedade entre Devedores: (Artigo 100 do Código Comercial) O que está em causa nesta
temática é se perante a existência de vários devedores pode o credor reclamar a cada um deles a totalidade do
que é devido. Exemplo: O sujeito A empresta a três pessoas, que são o B, o C e o D, 3 000 €. Se aquela dívida
não for comercial mas for civil não se aplica a regra da solidariedade mas sim a regra da conjunção. De acordo
com a regra da conjunção vai-se presumir que cada devedor é devedor em igual percentagem. No nosso
exemplo, vai-se presumir que B, C e D são devedores, cada um em 1 000 €. Sendo que o credor A só pode
reclamar a cada um deles os 1 000 €. Esta regra, no nosso exemplo, é favorável ao sujeito A? Não.

No Direito Comercial não se aplica a regra da conjunção mas sim a regra da solidariedade. Ora,
de acordo com a regra da solidariedade, o credor pode reclamar de cada um dos devedores a totalidade da
dívida. Portanto, no nosso exemplo, o credor A podia reclamar os 3 000 € tanto a B como a C como a D, e
nenhum dos devedores poderia recusar o pagamento. Este regime torna mais fácil a cobrança de créditos por
parte do credor, uma vez que ele pode reclamar a totalidade a dívida a cada um dos devedores.

No nosso exemplo, se um dos devedores (por exemplo o B) pagasse a totalidade da dívida, isto é,
pagasse os 3 000 € ao sujeito A, tinha posteriormente direito de regresso sobre os outros dois devedores. O
direito de regresso é a possibilidade de reclamar aos outros dois devedores a parte da dívida que lhe
corresponde sendo que nesse direito de regresso se presume que cada devedor é devedor em igual medida.
Portanto, se B pagasse os 3 000 €, podia depois exigir 1 000 € de C e de D, os outros dois devedores.
Resumindo, se a obrigação for civil, aplica-se a regra da conjunção, se a obrigação for comercial, aplica-se a
regra da solidariedade (Artigo 100 do Código Comercial)

Contudo, nada impede que num contrato se estabeleçam regras diferentes: por exemplo,
estabelecer a regra da solidariedade numa obrigação civil.

Prescrição: É o efeito da passagem do tempo num direito, isto é, todos os direitos têm um determinado prazo
para serem exercidos/reclamados. Ultrapassado esse prazo (prazo esse que não é sempre igual) o direito deixa
de poder ser exercido. Contudo se um devedor pagar ou cumprir uma obrigação prescrita, não pode mais tarde
exigir a devolução da prestação que realizou. Exemplo: As dívidas dos serviços públicos prescrevem apos 6
meses, contudo muitas vezes os prestadores desses serviços reclamam dividas já prescritas. Se o cliente pagar
por desconhecer que já houve prescrição, depois não pode reclamar o que pagou porque não se pode exigir a
devolução de uma divida prescrita, são as chamadas obrigações naturais.

A matéria da prescrição está descrita no código civil nos artigos 309 e seguintes. O código civil prevê
dois tipos de prescrições: prescrições extintivas e as prescrições presuntivas.
Na prescrição extintiva, uma vez percorrido o prazo o direito extingue-se, isto é, mesmo que o credor
prova que a divida não foi paga ele não pode exigir o seu pagamento. Exemplo: o pagamento de rendas
prescreve extintivamente ao fim de 5 anos. Se hoje novembro de 2018, um senhorio quisesse reclamar uma
renda não paga de setembro de 2013 ou anterior já não o podia fazer porque aquele crédito prescreveu mesmo
que o senhorio que houvesse prova que de essa divida.

A segunda modalidade de prescrição é a prescrição presuntiva o credor ainda pode reclamar o seu
crédito, contudo a partir do momento em que há uma prescrição presuntiva terá de ser o credor a provar o não
cumprimento por parte do devedor. Exemplo: as dívidas aos restaurantes ou aos hotéis prescrevem
presuntivamente ao fim de 6 meses, ultrapassados esses 6 meses cabe ao restaurante ou ao hotel provar que
existe uma prestação de serviços e provar que não houve o pagamento desse serviço. Se a lei apenas referir
apenas de uma prescrição sem indicar é extintiva ou presuntiva considera-se essa prescrição como extintiva.

Os artigos 309 a 311 do código civil referem alguns prazos de prescrição extintiva (extinção), de
acordo com o artigo 309 do código civil refere alguns prazos de prescrição extintiva e de acordo com o artigo
311 o prazo geral de prescrição extintiva é de 20 anos, logo, qualquer direito se não existir qualquer menção
específica na lei prescreve ao fim de 20 anos, por seu turno o artigo 310 do código civil estabelece prazos de
prescrição extintiva de 5 anos para rendas ou para os pagamentos periódicos (pagamentos que se fazem
regularmente), fora do código civil prescrevem também ao fim de 5 anos: multas de trânsitos e as dívidas
tributárias.

Também fora do código civil os pagamentos de serviços públicos essenciais prescrevem ao fim de 6
meses, isto segundo a lei 23/96 de 26 de julho que é chamada lei serviços públicos essenciais. Nos artigos 312
e seguintes, o código civil descreve um conjunto de prescrições presuntivas e as mais relevantes são as
seguintes: no artigos 316 estabelece-se o prazo de prescrição presuntiva de 6 meses por dívidas a
estabelecimentos de alojamento, comidas ou bebidas, por seu turno o artigo 317 do código civil estabelece
uma prescrição presuntiva de 2 anos relativamente às seguintes dívidas: alojamento e alimentação a
estudantes; créditos de estabelecimentos de ensino ou de hospitais. Prescrevem presuntivamente ao fim de 2
anos os créditos dos comerciantes relativamente á venda de objetos a quem não seja comerciante, por fim
prescrevem presuntivamente os créditos pelo exercício de profissões liberais.

Juro: Em regra os juros são a indeminização devida pelo atraso no pagamento de uma prestação pecuniária,
quando alguém não paga a tempo uma quantia de dinheiro que devia tem de indemnizar o credor por esse
atras, o cálculo dessa indemnização é chamado de juro. Os juros podem ser convencionais ou legais.

Os juros serão convencionais se forem as próprias partes a estabelecerem a taxa de juro, se ambas as
partes definirem qual a taxa de juro essa taxa prevalece. Mas se as partes no seu contrato não definirem a taxa
de juro aplicável nesse caso aplicam-se as taxas de juro que estão previstas na lei, são as chamadas de juro
legais. As taxas de juros legais para as relações civis é que 4% desde 1983, mas as taxas de juro legais
aplicáveis as relações comerciais mudam semestralmente, de 6 em 6 meses o governo diz em diário da
república quais as taxas aplicáveis no próximo semestre. Exemplo: A emprestou a B 10 000€ e B devia ter
restituído essa quantia no dia 3 de Setembro e não o fez. Duas hipóteses: num contrato de empréstimo A e B
definiram que a taxa de juro a pagar era de 9%, neste caso havendo convenção é esta a taxa de juro aplicada.
Segunda hipótese, A e B não definiram qual a taxa de juro aplicar e o empréstimo é civil, logo teríamos de
aplicar a taxa de juro legal (4%), logo B terá de pagar o empréstimo + a taxa de juro legal a partir data limite
de pagamento do empréstimo. Outra hipótese: B não pagou empréstimo mas o empréstimo é comercial logo o
devedor terá de pagar o empréstimo mais os juros que seriam de 8% (taxa de juro legal do atual semestre).

Forma: A forma diz respeito ao meio de exteriorizar um contrato. A regra no Direito Português e de acordo
com o artigo 219 do Código Civil é de que um contrato é válido independentemente da forma revista. Quer
isto dizer que, por regra, à partida um contrato é válido se for celebrado verbalmente, isto é, sem ser reduzido
a escrito. Contudo, e para alguns contratos, a lei exige uma forma específica, ou seja, uma forma mais
exigente. Exemplos:

O contrato de arrendamento só é válido e só produz efeitos se estiver num documento escrito,


assinado por ambas as partes. Por outras palavras, um contrato de arrendamento meramente verbal é nulo por
falta da forma que a lei diz.

Compra e venda de bens imóveis (terrenos e casas): Esses contratos só são válidos com um contrato
escrito e ainda mais com as assinaturas de comprador e vendedor devidamente reconhecidas ou por um
notário, ou por um conservador, ou por um advogado, ou por um solicitador. Ora, se o contrato de compra e
venda não respeitar esta forma o contrato é nulo, não produz efeitos e, portanto, não se transmite a
propriedade.

Nesta matéria da forma há diferenças entre o direito civil e o direito comercial. O direito comercial
caracteriza-se por ser menos exigente quanto à forma dos contratos. Por exemplo, o penhor se for um contrato
civil só é válido se estiver num contrato escrito mas se o penhor for comercial ele já é válido ainda que seja só
meramente verbal.

Exemplo: O empréstimo, se for um contrato civil, e se for superior a 30 000 €, tem de estar num
contrato escrito, mas se o empréstimo for comercial ele é válido se for verbal.

Em termos gerais, o direito comercial é menos exigente quanto à forma porque se pretende que os
negócios sejam mais rapidamente feitos e quanto menos formal for um contrato mais rapidamente é feito.

Fiança Comercial: A fiança é contrato de garantia em que outra pessoa para além do devedor vai assumir a
responsabilidade pelo cumprimento da obrigação devida.

Exemplo: O A empresta a B 10 000 €. Ora, vamos presumir que uma terceira pessoa, que é o C, aceita ser
fiador. Se aquele empréstimo de A a B for civil, a fiança também é civil e na fiança civil o fiador tem o
chamado o privilégio de excussão prévia, significa que no nosso exemplo o credor A tem de primeiro
reclamar a dívida ao devedor, pelo que o credor A só pode reclamar ao fiador C qualquer pagamento se e
quando provar que o devedor B não tem património suficiente para pagar os 10 000 €. Já o regime jurídico da
fiança comercial é diferente, não há privilégio de excussão prévia, isto significa que logo no primeiro
momento o credor A pode reclamar os 10 000 € devidos tanto junto do devedor B como junto do fiador C,
sendo que esse fiador C não pode recusar pagar os 10 000 € ao credor A. E se por hipótese esse fiador C pagar
os 10 000 € ao credor A, vão resultar duas consequências: O A deixa de ser credor, extingue-se uma relação
de crédito e o fiador passa a ser o novo credor da relação jurídica e extingue-se a relação jurídica trilateral.

Obrigações dos Comerciantes

Quando alguém é qualificado como comerciante fica sujeito a um conjunto de deveres ou obrigações.
Essas obrigações constam do artigo 18 do código comercial. O artigo 18 do código comercial estabelece
quatro deveres impostos aos comerciantes:

 O dever de adotar uma firma;

 O dever de manter uma escrituração mercantil;

 Registar numa Conservatória de Registo Comercial os atos que a lei impõem;

 Fazer o balanço e prestar contas.

O dever de adotar uma firma

As firmas estavam reguladas nos artigos 29 e seguintes do código comercial, contudo esses artigos do
código comercial foram revogados e essa matéria passou a estar regulada no Decreto-Lei 129/98 de 13 de
Maio – Registo Nacional de Pessoas Coletivas.

A firma é o nome do comerciante. É a denominação que um comerciante assume na sua atividade.


Quando o comerciante é uma pessoa singular a questão não se coloca tão relevantemente. Mas quando o
comerciante é uma sociedade comercial a firma é relevante, ou seja, a firma é o nome através do qual a
sociedade se identifica. Todos os comerciantes têm de assumir uma firma.

Há que distinguir as firmas das marcas e dos logótipos. As marcas, ao contrário das firmas,
identificam não o comerciante mas sim um produto ou uma cadeia de produtos. Exemplos: A Inditex
identifica um comerciante e por isso é uma firma, já a Zara identifica um produto, e portanto é uma marca; A
SONAE, SA é uma firma, mas depois a SONAE, SA explora uma pluralidade de marcas, que vende produtos
(Continente, Worten).

Por sua vez, os logótipos não são nomes dos comerciantes nem nome dos produtos mas sim sinais
distintivos, são símbolos geralmente visuais que representam um comerciante ou uma marca. Exemplo: A
maçã da Apple. Com a visualização deste símbolo, há uma identificação imediata ou de uma marca ou de uma
firma. Os logótipos não têm que ser meramente visuais. Por exemplo, nos Estados Unidos, o toque de
telemóvel foi reconhecido no logótipo.

Diferente também, são as patentes. As patentes não se identificam nem com uma marca, nem com
uma firma, nem com um logótipo. As patentes são essencialmente invenções. Geralmente são inventadas e
que se forem devidamente registados conferem a quem os regista o direito à sua exploração económica
durante um determinado período de tempo. Exemplo: Durante 40 anos, e como registou essa patente, só a
Bayer é que podia utilizar a patente da aspirina mas, posteriormente, o registo dessa patente caducou. E, hoje,
temos os chamados genéricos.

As firmas obedecem ou devem respeitar dois princípios: O primeiro é Princípio da Autonomia Privada
e o segundo é o Princípio da Novidade ou da Exclusividade. Ora, existem ainda autores que falam num
terceiro princípio respeitante à firma, que é o Princípio da Verdade.

Princípio da Autonomia Privada: De acordo com este princípio, o comerciante pode escolher a
firma que entende. E nesse sentido, o Decreto-Lei 129/98 admite quatro tipos de firma:

 Firmas – Nome que são firmas que são compostas pelo nome próprio de dois ou mais sócios.
Exemplo: António da Silva e José Santos LDA.

 Firmas – Denominação: São firmas que se referem ou a objetos ou à atividade desenvolvida


pelo comerciante. Exemplo: Oficina de Restauros e Encadernações LDA.

 Firmas – Fantasia: São nomes de comerciantes puramente imaginativos. Exemplo: Continente


(não descreve comerciante nem o que a empresa faz).

 Firmas – Mistas: São firmas que misturam aspetos de firma anteriormente descritos.
Exemplo: Luís & Simões Transporte de Mercadorias LDA.

Contudo, o Princípio da Autonomia Privada, na adoção de uma firma, obedece a limites. Um desses
limites diz respeito ao Princípio da Verdade da firma. O Princípio da Verdade da firma consta do artigo 32 nº1
do Decreto-Lei 129/98 de 13 de maio mas em termos gerais esse artigo e esse princípio impõem que as
informações constantes numa firma não induzam em erro e sejam verdadeiros. Exemplos:

Se uma empresa é a seguinte, Transportes de Leiria LDA, tal firma informa ou induz que aquele
comerciante se dedica ao transporte, que é essa a sua atividade. Por respeito ao Princípio da Verdade aquele
comerciante tem mesmo de se dedicar ao transporte porque, se por exemplo se dedicar ao retalho, aquela
firma está a dar informações erradas;

Uma Firma – Nome, que é por exemplo Luís Simões LDA. Ora, esta firma dá a informação de que um
dos sócios tem esse nome mas se essa pessoa Luís Simões deixar de ser sócia aquela informação passa a ser
errada e, portanto, se o senhor Luís Simões deixar de ser sócio a firma tem de ser alterada, com respeito ao
Princípio da Verdade.

Mas o Princípio da Verdade ainda tem outras dimensões constantes do artigo 32 nº4. Ora, e de acordo
com esse artigo 32 nº4 são proibidas as firmas:

 Sejam ofensivas da moral ou dos bons costumes. A moral e os bons costumes são regras
básicas vigentes da nossa sociedade, aquilo que nós consideramos padrões morais de
comportamento.

 São proibidas as firmas que façam menções políticas religiosas ou ideológicas. Não é
permitido utilizar Salazar ou Nossa Senhora de Fátima.

 São proibidas firmas que se apropriem ou utilizem símbolos nacionais de personalidades


nacionais de réplicas ou instituições. Não é admitido, por exemplo, uma firma que contenham
Afonso Henriques ou que utilize os Descobrimentos ou Portugal. (Sagres quase foi processada
por associação a Descobrimentos – Caravelas denominadas Sagres).

Questão: O António é produtor de vinhos e constituiu uma sociedade para explorar umas vinhas que comprou
na região do Oeste. Ora, e o António que criou, ou que pretendia criar uma firma que era a seguinte: Marquês
de Pombal Vinhos do Douro, LDA. 1. Que tipo de firma é que António pretendia adotar? 2. Seria esta firma
legalmente admissível? Resposta: 1. A firma em questão é simultaneamente Denominação, Fantasia e Mista,
isto é, a firma é Denominação porque a expressão “Vinhos do Douro” indicia a produção de vinho, a atividade
daquela sociedade. Por outro lado, a firma é Fantasia porque a menção ao “Marquês de Pombal” é fantasiosa,
imaginativa. Finalmente, a firma é Mista porque contém vários tipos de firmas diferentes. 2. Por regra, o
António tinha liberdade para escolher a firma que entendesse. Contudo, essa liberdade tem limites
estabelecidos na lei. Um desses limites é o Princípio da Verdade. O Princípio da Verdade tem diversas
limitações, sendo que uma dessas limitações é de que as informações constantes na firma não podem ser falsas
nem induzir a erro. A firma induz em erro quanto à localização da produção do vinho. Efetivamente, a
expressão “Vinhos do Douro” faz presumir erradamente que o vinho seria produzido numa outra região
diferente onde efetivamente aquele vinho é produzido. No sentido a que aquela informação constante na firma
é falsa não deve ser admitida, a não ser que a produção daquele vinho fosse efetivamente no Douro. Por outro
lado, o Princípio da Verdade proíbe também a menção a figuras históricas, aquela firma contém uma menção
a Marquês de Pombal. Concluindo, esta firma seria totalmente inadmissível.

Princípio da Novidade ou da Exclusividade: Ainda dentro das firmas, um outro princípio relativo às firmas
é o Princípio da Novidade ou da Exclusividade. De acordo com este princípio, cada firma deve ser única e
inconfundível com qualquer outra. Dessa forma, quem regista uma firma tem o direito de impedir que
qualquer outro comerciante utilize uma firma igual ou confundível. Não se proíbe apenas a repetição de firmas
iguais, proíbe-se também a utilização de firmas que pudessem ser confundíveis. Exemplo: Uma loja de
reparação de computadores, que queria adotar a firma Apple, mas só com um P. As firmas não seriam
textualmente iguais, contudo, eram firmas que eram confundíveis. Dessa forma, o comerciante que registar
uma determinada firma, pode impedir todos os outros comerciantes de utilizar essa firma.

Contudo, e quanto a esta exclusividade de utilização, há opiniões diferentes. Há quem entenda que o
Princípio da Exclusividade da firma só se aplica se os comerciantes forem concorrentes ou estiverem no
mesmo ramo de atividade. De acordo com esta teoria, é possível, por exemplo, abrir um restaurante e café
Zara. No entanto, há quem defenda uma segunda doutrina e, de acordo com essa doutrina, o Princípio da
Exclusividade é absoluto, ou seja, independentemente de os comerciantes serem concorrentes ou não, ou de
estarem ou não na mesma atividade económica não pode em circunstância alguma existir uma reprodução de
uma firma já existente. Ainda que nenhum cliente confunda o estabelecimento, há uma apropriação
económica de uma firma alheia. Um café Zara, por exemplo, tem vantagens em utilizar uma firma que é
notoriamente reconhecida. Até há uns anos atrás, prevalecia sobretudo a primeira teoria. Atualmente, o
Registo Nacional de Pessoas Coletivas (que é a entidade competente para admitir firmas tende a seguir a
segunda teoria).

Todos estes princípios, o Princípio da Autonomia e da Vontade, o Princípio da Verdade, da Novidade


e da Exclusividade aplicam-se também às marcas e aos logótipos.

O dever de manter uma escrituração mercantil

O segundo dever dos comerciantes é, então, a obrigação de ter uma escrituração e esta escrituração
consta dos artigos 29 a 44 do código comercial.

Noção de Escrituração: Devemos entender como escrituração toda documentação relevante para o
comerciante, onde se inclui as faturas emitidas, os contratos celebrados, a correspondência trocada, etc. Ora,
toda esta documentação deve ser mantida pelo comerciante por um prazo mínimo de 10 anos de acordo com o
artigo 40 do Código Comercial, sendo que o Código Comercial, sobretudo no seu artigo 40, exige ainda que a
escrituração seja mantida e organizada cronologicamente e ainda proíbe que qualquer documento seja
rasurado ou modificado.

Regras para a Escrituração Mercantil: De acordo com o artigo 40 nº1 do Código Comercial todo o
comerciante deve manter a sua escrituração mercantil por um período mínimo de 10 anos. Segunda regra, a
escrituração mercantil deve estar organizada de forma cronológica, do mais antigo para o mais recente.
Terceira regra, são proibidas as alterações manuscritas e as rasuras (apagar ou impedir a leitura de algo).

Consequências de o comerciante não respeitar as regras: 1º Em caso de inspeção pelas autoridades


competentes que detete algum erro ou irregularidade na escrituração mercantil, o comerciante fica sujeito a
uma multa que pode chegar aos 40 000 €. 2º Diz respeito à prova e, de acordo com o artigo 44 do Código
Comercial em caso de contradição entre um facto apresentado numa escrituração que respeita as regras e um
outro facto constante, numa escrituração que não respeita as regras, o juiz é obrigado a considerar como
verdadeiro o facto constante na documentação bem organizada. Exemplo: Na escrituração, ou seja, nos
documentos bem organizados da empresa A consta que foi feito um pagamento à empresa B no dia 10 de
novembro. Na escrituração mal organizada da empresa B, consta que esse pagamento só foi feito no dia 20 de
novembro. Ora, essa questão é discutida em tribunal e o juiz tem de decidir em que dia é que aquele
pagamento foi feito. Como uma escrituração está bem organizada, que é a escrituração da empresa A e outra
escrituração, a da empresa B, não está bem organizada, o juiz vai aceitar como verdadeira a informação
constante da escrituração bem organizada, isto é, a escrituração da empresa A.

Registar numa Conservatória de Registo Comercial os atos que a lei impõem

A terceira obrigação dos comerciantes é a obrigação de registo. A lei obriga os comerciantes a registar
na Conservatória de Registo Comercial todos os atos impostos por lei. O Registo é uma entidade pública,
onde são depositados alguns documentos para consulta pública e que o Estado pensa serem úteis.
Relativamente à vida dos comerciantes e das sociedades os artigos 2 e 3 do Código de Registo Comercial foi
aprovado pelo Decreto-Lei 403/86 de 3 de dezembro, impõem que os comerciantes e as sociedades comerciais
vão à conservatória de registo comercial registar um conjunto de atos. Assim, as obrigações de registo dos
comerciantes singulares constam do artigo 2 do Código de Registo Comercial. E, portanto, o comerciante
singular tem que registar os seguintes atos:

 O início e o fim da sua atividade;

 O comerciante singular também tem de proceder ao registo da alteração do seu estado civil
(Casamento, Divórcio);

 Mudança de estabelecimento principal. O que está aqui em causa é a morada para a qual as
comunicações dirigidas ao comerciante devem ser enviadas.

Já quanto às obrigações de registo das sociedades comerciais, elas constam do artigo 3 do Código de
Registo Comercial. E são as seguintes:

Tem de se registar o contrato que cria a sociedade comercial. As sociedades comerciais são criadas
através de um contrato que é assinado por todos os sócios. Nesse contrato são definidas as principais
características da sociedade (número de sócios, quanto é que cada sócio tem na sociedade; como é que a
sociedade celebra contratos; quem é que toma decisões na sociedade). Primeiro, esse contrato tem de ser
registado. Segundo, qualquer alteração no contrato de sociedade também tem de ser registado, por exemplo, a
mudança de sócios, a mudança de gerentes, a mudança do ramo de atividade da sociedade, etc. Terceiro, o fim
ou a cessação da atividade da sociedade também têm de ser registados.

Consequências do não registo de um ato que a lei exigia: De acordo com o código de Registo
Comercial, um ato que não é registado não pode ser alegado perante terceiros, isto é, não pode ser alegado por
quem não é nem sócio, nem gerente, nem administrador.
Exemplo: A sociedade X, de acordo com o seu contrato de sociedade, tinha três gerentes: o António, o
Bruno e o Carlos. Ainda de acordo com o contrato daquela sociedade, aquela sociedade ficava vinculada nos
contratos através da assinatura de um dos gerentes. No passado dia 10 de setembro, os sócios decidiram que
António teria sido destituído de gerente e iria ser substituído por Diogo. No dia 15 de setembro, o mesmo
António, apresentando-se como gerente da sociedade, celebra um contrato de fornecimento em nome da
sociedade. No dia 30 de novembro, a sociedade registou na conservatória de registo comercial a destituição de
António e a sua substituição por Diogo. Questões: 1. A sociedade está obrigada a respeitar e a cumprir o
contrato que António celebrou no dia 15 de setembro? 2. Tem a sociedade que pagar os salários a António
correspondentes aos meses de setembro, outubro e novembro? Respostas: 1. A regra aplicável é a de que um
ato não registado não produz efeitos perante terceiros. Neste caso consideramos terceiros todos aqueles que
não forem nem sócios, nem gerentes. A empresa com quem António celebrou o contrato no dia 15 de
setembro é um terceiro. Àquela data, 15 de setembro, a destituição de António e a sua substituição por Diogo
ainda não tinham sido registadas. Portanto, a empresa que celebrou o contrato com António, não sabia, e não
tinha meio de saber, que António já não era gerente. Por essa razão, a sociedade X não pode invocar que
António já não era gerente a 15 de setembro uma vez que não tinha registado esse facto. 2. A sociedade X está
obrigada a cumprir o contrato celebrado pelo gerente A uma vez que à data em que o gerente António ainda
estava registado nessa qualidade. Diferente, é a questão do pagamento de salários. O pagamento de salários
diz respeito às relações internas da empresa. Portanto, não estão em causa pessoas terceiras. Ora, e no plano
interno de uma sociedade, o registo de um ato não é condição para a sua eficácia. No plano meramente interno
da vida da sociedade, a destituição de António produziu efeitos mesmo antes do seu registo, isto é, logo na
data da sua destituição (10 de setembro). Em conclusão, a partir do dia 10 de setembro, já que não eram
devidos salários a António ainda que essa destituição não tivesse sido logo feita.

Fazer o balanço e prestar contas (Artigo 18 nº4 do Código Comercial)

O balanço é uma avaliação da situação patrimonial da sociedade, isto é, é uma ponderação dos seus
ativos e dos seus passivos. De acordo com o Código Comercial os comerciantes devem fazer no mínimo um
balanço anual que por regra corresponde ao ano civil e que deve ser terminado até aos 3 meses subsequentes.
Exemplo: O balanço anual correspondente ao ano 2018 deve ser terminado até ao final de março de 2019.
Ora, a prestação de contas é a informação que deve ser disponibilizada aos sócios relativa ao balanço, ou seja,
todos os sócios têm de conhecer o balanço.

Trespasse

O trespasse é uma figura que está prevista no artigo 1112 do Código Civil. O artigo 1112 do Código
Civil não nos dá uma noção do que é que é o trespasse. O trespasse é a transmissão definitiva de um
estabelecimento comercial. Diz o Professor Coutinho de Abreu que o estabelecimento comercial é o conjunto
de meios colocados ao serviço da atividade económica da empresa, portanto, o estabelecimento comercial é a
componente material da empresa. Em termos mais simples, o estabelecimento comercial engloba todos os
elementos necessários para o desenvolvimento de uma determinada atividade económica. Um trespasse, para
ser efetivamente um trespasse, exige então que se transmitam um conjunto mínimo de elementos do
estabelecimento comercial sem os quais aquela atividade económica não pode continuar a ser desenvolvida.
Por exemplo, num trespasse de um café, e para que exista trespasse, têm de ser transmitidos pelo menos,
balcão, cadeiras e mesas, uma máquina registadora, isto é, aqueles componentes sem os quais o café não
funcionará.

Dentro do trespasse, é imprescindível a transmissão do âmbito mínimo (1º âmbito, é aquele sem o
qual o trespasse não chega a existir, sendo que inclui a transmissão de todos os elementos do estabelecimento
comercial sem o quais o estabelecimento comercial não pode continuar a sua atividade). Só que o trespasse
tem outros âmbitos para além âmbito mínimo. Tem então três âmbitos diferentes: o âmbito legal, o âmbito
natural e o âmbito máximo.

O âmbito legal (elementos que são transmitidos por força da lei quando há um trespasse) surge porque
a lei exige que quando existe o trespasse transmitem-se obrigatoriamente os contratos de trabalho, isto de
acordo com o artigo 318 do Código de Trabalho. Se A trespassa o seu café a B e se nesse café trabalhava C e
D quem recebe aquele estabelecimento comercial, neste caso será o B, é obrigado a manter C e D como
trabalhadores, é obrigado a manter os contratos de trabalho. (Concorde-se ou não, a lei assim o impõem, mas
algumas pessoas não concordam, a pessoa deverá ter liberdade para escolher os seus colaboradores, mas a lei
entendeu que deve haver uma certa vincularidade nos contratos de trabalho).

O terceiro âmbito, o âmbito natural, inclui todos os elementos do estabelecimento comercial que são
transmitidos pelo trespasse a não ser que no contrato de trespasse diga o contrário. No âmbito natural
transmitem-se determinados componentes do estabelecimento comercial no silêncio das partes (ausência no
contrato de trespasse). Os tribunais entendem que se devem incluir no âmbito natural os seguintes
componentes do estabelecimento comercial: 1º As mercadorias que estivessem no estabelecimento comercial;
2º As matérias-primas que estivessem no estabelecimento comercial; 3ºAs máquinas; 4º Os equipamentos; 5º
Os contratos que vigoravam sobre o estabelecimento comercial (fornecimento de água ou de luz); 6º O nome
do estabelecimento; 7º As patentes; 8º As marcas. Todos aqueles elementos que fazem parte do âmbito natural
são transmitidos através do trespasse e só não serão transmitidos através do trespasse se no contrato de
trespasse for expressamente mencionado que um ou outro elemento não foi incluído algum elemento.

O quarto e último âmbito é o âmbito máximo do trespasse. O âmbito máximo diz respeito àqueles
elementos do estabelecimento comercial que só são transmitidos no caso de o contrato de trespasse assim o
determinar. Ora, e fazem parte do âmbito máximo de trespasse: 1º A firma; 2º Os créditos e os débitos (Se o
contrato nada disser os créditos não se transmitem. Mas, atenção, o contrato pode prever que haja também
outro trespasse dos créditos). A transmissão de créditos não precisa de outras autorizações. Por exemplo, se no
trespasse de um café, se transmitirem créditos sobre clientes esses créditos podem ser trespassados e podem
ser trespassados sem que esses tais clientes tenham de autorizar, até porque da perspetiva desses clientes é
indiferente a quem é que tem de fazer esse pagamento. Já a transmissão de dívidas no âmbito do trespasse é
mais problemática porque para que existam transmissão de dívidas de um estabelecimento comercial é
necessário a aceitação dos credores, isto é, a transmissão de dívidas ou de débitos de um estabelecimento
comercial só é possível se:

 Estiver prevista nos contratos de trespasse;

 Se os credores do estabelecimento comercial aceitarem a transmissão de dívidas. A


obrigatoriedade do credor aceitar a transmissão de dívidas por parte do devedor está prevista
nos artigos 595 e seguintes do Código Civil.

Exemplo: O António adquiriu por um milhão de euros o estabelecimento comercial que produz os
pastéis de belém. O adquirente daquele trespasse pretende saber o que adquiriu e, uma vez que o contrato de
trespasse não fazia essas especificações.

Questões: 1. Posso continuar a usar o mesmo nome do estabelecimento? 2. Tenho direito a exigir o
segredo de produção daquele doce? 3. Soube que aquele estabelecimento comercial tem uma dívida ao banco
de 50 000 €, sou responsável por aquela dívida? 4. Sou obrigado a manter aqueles trabalhadores?

Respostas: 1. O nome do estabelecimento comercial faz parte do âmbito natural do trespasse, ou seja,
fazendo parte do âmbito natural do trespasse, o nome do estabelecimento seria transmitido com o trespasse a
não ser que o contrato de trespasse previsse o contrário. Ora, e uma vez que o contrato de trespasse não
excluiu o nome do estabelecimento, este foi transmitido com o contrato de trespasse. 2. Sendo uma patente o
segredo de produção, as patentes são transmitidas no âmbito natural do trespasse e também relativamente
àquela patente nada se previu no contrato de trespasse. 3. As dívidas, assim como os créditos, fazem parte do
contrato de trespasse, sendo que esses termos só seriam transmitidos se tal tivesse previsto no contrato de
trespasse. Mas no contrato de trespasse não se previu a transmissão daquela dívida e, portanto, fazendo ela
parte do âmbito máximo do trespasse, ela não foi transmitida. 4. Os contratos de trabalho fazem parte do
âmbito legal do trespasse e, de acordo com o artigo 318 do Código de Trabalho, os contratos de trabalho
transmitem-se obrigatoriamente com o trespasse e, portanto, o novo titular daquele estabelecimento tem de
assumir aqueles contratos de trabalho.

Trespasse quando o estabelecimento comercial se encontra num imóvel arrendado

O que está aqui em causa é a circunstância de um estabelecimento comercial, por exemplo uma loja,
não pertencer ao trespassante mas sim a uma outra pessoa. Exemplo: O António arrendou a Bruno um espaço
na baixa de Leiria. Nesse local, o António abriu uma sapataria. Hoje, o António quer transmitir essa sapataria
a Carlos. Tem Bruno, que é o proprietário daquele espaço, que dar autorização para que António possa
trespassar aquela sapataria a Carlos? Esta questão está regulada nos artigos 1112 nº3 a 1112 nº5 do Código
Civil. Existem três regras a considerar, 1º O trespassante, que é aquele que passa o estabelecimento comercial,
não tem que pedir autorização ao senhorio para realizar o trespasse. No nosso exemplo, o António não teria
que pedir autorização a Bruno (Bruno que é proprietário e senhorio do imóvel) para poder trespassar aquela
sapataria. Contudo, o 1112 nº3 exige que António comunicasse a Bruno esse trespasse sendo que nos termos
do artigo 1038 alínea g) do Código Civil essa comunicação deveria ser feita no prazo de 15 dias após o
trespasse ter sido acordado. Por outras palavras, o que o código civil estabelece, é que o proprietário do
imóvel/senhorio não pode impedir o trespasse, tem somente de ser informado desse trespasse. Então, Bruno
não pode impedir o trespasse. 2º Regra, o proprietário/senhorio tem o chamado direito de preferência sobre o
trespasse. Quer isto dizer que caso seja essa a intenção dele, o proprietário/senhorio pode decidir ser ele a
trespassar o estabelecimento comercial. Voltemos ao exemplo, sendo que vimos que António tinha que
comunicar a Bruno a sua intenção de trespassar aquela sapataria. Nessa comunicação, o António teria que
descrever os termos essenciais do trespasse: o preço a ser pago por Carlos, as datas de pagamento, o que é que
iria ser transmitido no trespasse. Ora, o Bruno, caso entenda, pode optar por ser ele a trespassar aquela
sapataria, desde que ofereça a António, pelo trespasse, as mesmas condições, que Carlos iria oferecer. Se
assim acontecer, o Bruno será o trespassar, será ele a ficar com a sapataria. 3º Regra, o trespassário, isto é,
quem recebe o estabelecimento comercial, tem que manter o negócio trespassado. No nosso exemplo, se o
Carlos efetivamente, por trespasse, ficasse com aquela sapataria teria que manter aquele negócio. Não poderia,
por exemplo, abrir naquele local, uma loja de computadores ou um restaurante. Se Carlos, no nosso exemplo,
não respeitasse essa regra e alterasse o ramo de negócio, então nesse caso o proprietário do imóvel/senhorio
tinha fundamento legal para resolver ou dar sem efeito o contrato de arrendamento, isto nos termos do artigo
1083 do Código Civil. Contudo, o novo titular do estabelecimento comercial, podia mudar o ramo de negócio
desde que o proprietário/senhorio assim o aceitar.

Caso Prático: Sara é proprietária de um estabelecimento que se dedica à produção, distribuição e


venda direta de bolos e pães. Sara, decidiu transmitir o seu estabelecimento a Teresa tendo para o efeito
celebrado um contrato no qual se estabelecia se iriam transmitir todos os elementos do estabelecimento exceto
a firma, as máquinas e um computador que se encontrava no escritório. Teresa pediu ainda a Sara que
despedisse os trabalhadores, pois pretendia transformar aquele estabelecimento num cabeleireiro. Pronuncie-
se sobre o acordo estabelecido entre Sara e Teresa, sabendo que aquele estabelecimento funciona num espaço
que é propriedade de António.

Resposta: À partida, Sara e Teresa teriam celebrado o contrato de trespasse, uma vez que o contrato
de trespasse é aquele através do qual se transmite de uma forma definitiva um estabelecimento comercial.
Existindo um trespasse, teríamos que verificar o que é que é transmitido em virtude desse contrato. No próprio
contrato, Sara e Teresa excluem a transmissão da firma. A firma faz parte do âmbito máximo de trespasse
(para além da firma fazem parte do âmbito máximo de trespasse os créditos e os débitos do estabelecimento
comercial). Fazendo a firma parte do âmbito máximo do estabelecimento, a firma só seria transmitida caso no
contrato de trespasse se indicasse expressamente a sua transmissão. Como conclusão, Sara e Teresa podiam
excluir a firma do trespasse. Aliás, a firma só seria transmitida se fosse expresso no contrato de trespasse. Sara
e Teresa especificaram ainda que não seriam incluídos no trespasse as máquinas. O trespasse tem que ter um
âmbito mínimo, ou seja, no trespasse tem que ser transmitidos os elementos essenciais dos estabelecimentos
para que a atividade possa continuar a ser desenvolvida. Isto é, no trespasse daquela padaria Sara e Teresa até
podiam excluir do acordo algumas máquinas. Mas não poderiam excluir do acordo todas as máquinas em
moldes tais que a padaria não poderia continuar a funcionar. E, portanto, algumas máquinas teriam que ser
transmitidas, nomeadamente o forno que é imprescindível para aquela atividade. Quanto ao computador, trata-
se de um bem que faz parte do âmbito natural do trespasse. Efetivamente, o computador não é imprescindível
ao desenvolvimento daquela atividade e portanto não faz parte do âmbito mínimo do trespasse. Por outro lado,
o computador não faz também parte do âmbito legal do trespasse, isto é, em nenhum ponto da lei se impõem
que os computadores tenham de ser incluídos no trespasse. Os computadores não fazem parte do âmbito
máximo do trespasse pois apenas faz parte a firma, os débitos e os créditos. Concluindo, os computadores
fazem parte do âmbito natural do trespasse e, portanto, se faziam parte do âmbito natural do trespasse, os
computadores seriam à partida incluídos no trespasse. Só não fariam parte do trespasse se tal exclusão
constante do contrato de trespasse. Então, Sara e Teresa podiam excluir o computador do trespasse e, se assim
o fizerem, esse acordo é válido.

Em termos dos contratos de trabalho, Teresa requereu a Sara o despedimento dos trabalhadores. Tal
acordo é nulo existindo um trespasse pois o Código de Trabalho, artigo 318, que os contratos de trabalho
sejam transmitidos por trespasse. Ou seja, não há trespasse sem que haja transmissão dos contratos de trabalho
dos trabalhadores do estabelecimento comercial trespassado.

Quanto à vontade ou à intenção de Teresa há que recordar que aquele estabelecimento funciona num
imóvel de que António é senhorio/proprietário. Portanto, estamos a abordar a temática do trespasse de um
estabelecimento situado em imóvel arrendado. Nesses termos, é necessário ter em conta do artigo 1112 nº3 a
1112 nº5 do Código Civil. Nesses termos, a Teresa teria que respeitar três regras: 1º Sara teria que informar
António que pretendia trespassar aquela padaria. 2º Regra, o António, devidamente informado do trespasse,
poderia realizar o trespasse daquela padaria nos termos em que Teresa o faria, isto porque o artigo 1112 nº4
confere ao proprietário/senhorio o direito de preferência no trespasse. 3º Regra, Teresa caso tivesse
efetivamente recebido Sara aquela padaria teria que manter aquele ramo de negócio. Isto porque a lei, mais
concretamente, os artigos 1112 nº5 e 1083 conferem ao senhorio a possibilidade de resolver o contrato de
arrendamento, caso o trespassário não mantenha o ramo de negócio. Portanto, se Teresa modificasse aquela
padaria num cabeleireiro António poderia resolver o contrato de arrendamento. Teresa apenas poderia
transformar aquela padaria num cabeleireiro se obtivesse o consentimento do proprietário/senhorio, neste caso
António.
Sociedades Comerciais

No Direito Português vigora o princípio da tipicidade societária, significa isto que quando se cria uma
sociedade comercial é obrigatório que os sócios optem por um dos tipos de sociedade que a lei prevê. As
sociedades comerciais são constituídas através de um contrato que é o Contrato de Sociedade. Nesse contrato,
é obrigatório mencionar um dos quatro tipos de sociedades que a lei prevê. São eles os seguintes: Sociedades
em Nome Coletivo, Sociedades por Quotas, Sociedades Anónimas e Sociedades em Comandita. Não obstante
a estarem previstas na lei, as Sociedades em Comandita não existem.

Cada tipo de sociedade tem regras legais próprias, que diferem dos outros tipos de sociedade e,
portanto, a escolha de um dos tipos de sociedade vai ter consequências práticas, sobretudo em cinco aspetos:
1º Número mínimo de sócios; 2º Capital Social mínimo; 3º Responsabilidade dos sócios por dívidas da
sociedade; 4º Limites à transmissão de participações sociais; 5º Estrutura dos diferentes tipos de sociedade.

Número mínimo de sócios: O artigo 7 nº2 do Código das Sociedades Comerciais estabelece que as
sociedades só se podem constituir com pelo menos dois sócios (limite mínimo). Contudo, o Código das
Sociedades Comerciais prevê duas exceções: a primeira dessas exceções diz respeito às Sociedades Anónimas
que, de acordo com o artigo 273 nº1 do Código das Sociedades Comerciais só se podem constituir com um
mínimo de cinco sócios; a segunda exceção diz respeito às Sociedades Unipessoais Por Quotas, que estão
previstas no artigo 270-A do Código das Sociedades Comerciais. Ora, nestas Sociedades Unipessoais por
Quotas existe um único sócio mas as Sociedades Unipessoais por Quotas têm condições específicas para a sua
criação. As sociedades na sua formação têm que respeitar obrigatoriamente este número mínimo de sócios e
durante a sua vigência as sociedades comerciais podem ser extintas se ao fim de seis meses não cumprirem
esses requisitos. Exemplo: Uma Sociedades Anónima que iniciou a sua atividade com cinco sócios,
respeitando portanto a lei, posteriormente um dos sócios vendeu a outro a sua parte da sociedade, passando
aquela sociedade a ter apenas quatro sócios. Nesse caso, e de acordo com o artigo 142 nº1 alínea a) e o artigo
142 nº3, aquela sociedade tinha seis meses para voltar a respeitar a lei, ou seja, tinha seis meses para voltar a
ter o número mínimo legal de sócios (cinco). Caso não o fizessem a sociedade seria extinta.

Capital Social Mínimo: Noção de Capital Social: É a soma dos valores económicos, geralmente
dinheiro, que os sócios transferem para a sociedade num momento de constituição da sociedade. As
sociedades para iniciarem a sua atividade precisam de meios económicos, esses meios económicos são
transferidos pelos sócios através de transferências diretas do seu Património Pessoal para o Património da
Sociedade. Veremos que o Capital Social é, então, a soma de todas as entradas dos sócios. Essas entradas dos
sócios podem ser feitas por três meios: entradas pecuniárias ou entradas em dinheiro; o segundo tipo de
entradas são as entradas em géneros, isto é, o sócio não contribui com dinheiro mas sim com um bem ou
vários bens, por exemplo, um sócio entrega à sociedade a propriedade de um veículo avaliado em 10 000 € e,
essa é a sua entrada. O terceiro tipo de entradas são as entradas em indústria, ora neste tipo de entradas o sócio
não entra nem com dinheiro nem com bens mas sim com trabalho, por exemplo, o sócio A, que é informático,
compromete-se a realizar a manutenção do sistema informático da sociedade gratuitamente, sendo essa a sua
entrada. As entradas em indústria só são admitidas nas sociedades em nome coletivo, sendo que os outros dois
tipos de entradas admitem-se em qualquer tipo de sociedade.

Diferente do Capital Social é o Património Social. O Património Social é então a ponderação entre os
ativos e os passivos de uma sociedade comercial. As diferenças são então as seguintes: o Capital Social é uma
cifra fixa a não ser que haja ________________ ao passo que o Património Social é uma cifra variável,
consoante a empresa tenham lucros ou prejuízos.

O Capital Social tem duas funções: 1º É o Capital Social que determina a medida dos direitos e dos
deveres de cada sócio. Exemplo: Imaginemos uma Sociedade por Quotas com Capital Social de 10 000 € em
que cada um dos seus cinco sócios entrou com 2 000 €. Ora, com este facto, nós conseguimos concluir o
seguinte: 1º Que cada um dos sócios tem 20% do Capital Social daquela sociedade, isto porque, a
percentagem de Capital Social que cada sócio tem é igual à percentagem da sua entrada, portanto, um sócio
cuja entrada corresponda a 20% do Capital Social, terá 20% daquela sociedade. 2º Um sócio que tenha 20%
do Capital Social terá também 20% dos direitos e dos deveres inerentes a essa qualidade de sócio, terá, por
exemplo, direito a 20% dos lucros mas também estará sujeito a 20% dos prejuízos. Estas regras constam do
artigo 22 do Código das Sociedades Comerciais. A 2ºfunção do Capital Social é que o Capital Social, por
comparação com o Património Social permite fazer uma avaliação económica da sociedade. Assim, quando o
Capital Social é inferior ao Património Social significa que a sociedade tem apresentado lucros. Inversamente,
quando o Capital Social é superior ao Património Social isto significa que a sociedade tem apresentado
prejuízos. E, portanto, esta é a segunda função do Capital Social.

Neste momento, o Código das Sociedades Comerciais, apenas exige um Capital Social mínimo para
as Sociedades Anónimas sendo que nos termos do artigo 276 nº5, as Sociedades Anónimas só se podem
constituir com o Capital Social mínimo de 50 000 €. Já as Sociedades Por Quotas e as Sociedades em Nome
Coletivo podem constituir-se com qualquer tipo de Capital Social.

Responsabilidade dos sócios por dívidas:

O que está em causa neste tema é o seguinte, quando a sociedade contrai dívidas e quando a sociedade
não tem património suficiente para pagar essas dívidas, podem os credores da sociedade reclamar o que falta
pagar ao património pessoal dos sócios? Sim, podem. Exemplo: Uma Sociedade por Quotas tem dívidas de
10 000 € e tem um património de apenas 2 000 €. Se os credores apenas se conseguirem fazer pagar com o
património da sociedade há 8 000 € que ficarão por pagar. Estes 8 000 € podem ser reclamados aos sócios da
Sociedade (às suas contas bancárias, aos seus carros, etc.). A resposta vai depender do tipo de sociedade em
que estão. Assim, nas Sociedades em Nome Coletivo o património pessoal dos sócios responde para com as
dívidas da sociedade. Nas Sociedades por Quotas, o património pessoal dos sócios pode responder por dívidas
das sociedades mas essa responsabilidade vai depender dos Estatutos da Sociedade (Estatutos são ou é o
contrato que criou a sociedade). Nas Sociedades Anónimas, o património pessoal dos sócios nunca vai
responder por dívidas da sociedade. Em termos comparativos, as Sociedades em Nome Coletivo apresentam
um risco superior para os seus sócios uma vez que o seu património pessoal não está salvaguardado. Pelo
contrário, as Sociedades Anónimas são as que conferem mais segurança aos sócios uma vez que mesmo que o
património da sociedade seja insuficiente para pagar a todos os credores, ainda assim os credores não podem
reclamar o que falta pagar aos sócios. Exemplo: Uma Sociedade Anónima com o património de 100 000 € e
dívidas de 1 000 000 €. Ora, só no património da sociedade existem 900 000 € que não serão cobrados. Ainda
assim, aqueles credores não podem reclamar esses 900 000 € em falta ao património pessoal dos sócios. A
única exceção a esta regra são dívidas à Autoridade Tributária e à Segurança Social e relativamente a essas
dívidas responde o património pessoal dos sócios.

A responsabilidade por dívidas de uma sociedade vai depender do tipo de sociedade. Dessa forma,
cada tipo de sociedade tem um regime de responsabilidade próprio. Nas Sociedades em Nome Coletivo essa
questão é regulada no artigo 175 do Código das Sociedades Comerciais. Nas Sociedades em Nome Coletivo a
responsabilidade dos sócios em relação às dívidas obedece a três regras:

1º A responsabilidade dos sócios é subsidiária em relação à responsabilidade da sociedade, quer isto


dizer, por dívidas da sociedade responde em primeiro lugar o património da sociedade e, só se esse património
da sociedade não for suficiente para pagar todas as dívidas é que os credores da sociedade vão poder reclamar
o que falta pagar ao património pessoal dos sócios. Por exemplo, numa Sociedade em Nome Coletivo com
património de 100 000 € e dívidas de 250 000 €. Ora, por essas dívidas vai primeiro pagar o património da
sociedade, os tais 100 000 €. Contudo, como esses 100 000 € são insuficientes para o total de pagamento os
restantes 150 000 € por pagar podem ser reclamados ao património pessoal dos sócios (as suas contas
bancárias, os seus carros, etc., pode ser tudo penhorado). Se o património da sociedade for suficiente para o
pagamento de todas as dívidas então nesse caso o património pessoal dos sócios nunca irá responder perante a
dívida pois não é necessário.

2º A responsabilidade dos sócios é solidária, quer isto dizer, caso o património dos sócios responda
por dívidas da sociedade, os credores da sociedade podem reclamar a totalidade da dívida a qualquer um dos
sócios. Retomando o exemplo, vimos que na situação concreta existiam 150 000 € pelos quais os sócios. Ora,
vamos pressupor que essa Sociedade em Nome Coletivo tinha três sócios, o sócio A, o B e o C. Esses 150 000
€ podem ser reclamados a qualquer um dos sócios, que não podem recusar pagar.

3º O sócio que pagar a totalidade das dívidas tem depois o direito de regresso sobre os outros sócios
sendo que esse direito de regresso é feito tendo em conta as participações sociais de cada um deles. Voltando
ao exemplo, vamos pressupor que o sócio A pagou os 150 000 € em dívida e que cada um daqueles três sócios
tinha uma participação na sociedade igual, ou seja, 33, (3) % cada um. Caso o sócio A tenha pago os 150 000
€ ele não poderia ficar sozinho a pagar aquelas dívidas, ele tinha um direito de regresso sobre os outros dois
sócios, o B e o C. E cada um dos sócios iria responder em igual medida porque cada um dos sócios tem igual
percentagem do Capital Social. Dessa forma, o sócio A poderia reclamar 50 000 € a cada um dos outros dois
sócios, a B e a C.

Regime da Responsabilidade dos sócios na Sociedade Por Quotas

Esta questão está regulada nos artigos 197 nº3 e 198 do Código das Sociedades Comerciais. O artigo
197 nº3 apresenta a regra geral na responsabilidade deste tipo de sociedade. Então, nas Sociedades por Quotas
a regra é a de que por dívidas da sociedade só responde o património da sociedade, portanto, nas sociedades
por quotas a regra é a de que o património pessoal dos sócios não responde por dívidas da sociedade.
Exemplo: Numa Sociedade por Quotas, com dívidas de 300 000 € e um património de 100 000 €, existem
200 000 € que não poderão ser pagos com o património da sociedade. Contudo, e ainda que o património da
sociedade não seja suficiente para o pagamento de todas as dívidas, os credores não podem reclamar o que
falta pagar, os tais 200 000 €, aos sócios. No entanto, esta regra geral das Sociedades por Quotas admite
exceções de acordo com o artigo 198. E de acordo com esse artigo 198 é possível que o património pessoal
dos sócios responda por dívidas da sociedade desde que se verifiquem três requisitos cumulativos:

 É necessário que no contrato que criou a Sociedade por Quotas se preveja a responsabilidade
dos sócios por dívidas;

 Nesse contrato que criou a Sociedade por Quotas tem que se identificar expressamente qual
ou quais os sócios que aceitam a responsabilidade por dívidas;

 Nesse contrato, é necessário quantificar o montante máximo até ao qual cada um dos sócios se
responsabiliza.

Caso Prático: Uma Sociedade por Quotas foi constituída por 4 sócios, o A, o B, o C e o D. Ora, no contrato
que criou a Sociedade por Quotas constavam duas cláusulas. Numa delas dizia-se “O sócio A responsabiliza-
se subsidiariamente e até 50 000 € pelas dívidas da sociedade”. Na outra cláusula dizia-se “Os sócios B e C
responsabilizam-se por dívidas da sociedade”. Neste momento, a Sociedade por Quotas em questão tem uma
dívida de 300 000 € e um património de 100 000 €. Os sócios, preocupados, pretendem saber se o seu
património pessoal vai servir também para pagar aquelas dívidas.

Resposta: A regra geral nas Sociedades por Quotas é de que, por aqueles 300 000 € de dívida só vai responder
o património da Sociedade. Esta regra só não será se aplicar uma vez verificados três requisitos cumulativos:
1º É necessário que exista uma cláusula que criou aquela sociedade que atribuísse responsabilidade a um ou
vários sócios. Essas cláusulas existem no caso prático. Contudo, nessas cláusulas o sócio D não é mencionado,
logo o sócio D nunca vai responder com o seu património pessoal pelas dívidas daquela sociedade. 2º Nessas
cláusulas que atribuem responsabilidade a um ou a vários sócios têm que ser identificados quais os sócios que
assumem responsabilidade. No caso concreto, são identificados como assumindo responsabilidade os sócios
A, B e C. 3º A responsabilidade assumida por cada um dos sócios tem que ser quantificada num montante
máximo, nessas cláusulas tem de dizer até quanto cada sócio aceita pagar. O sócio A preenche este requisito
na medida em que a cláusula indica o montante até ao qual ele é responsável, 50 000 €. Concluindo, o Sócio A
será responsável por dívidas da sociedade até 50 000 €, valor indicado na cláusula. A mesma resposta não
poderá ser dada relativamente a B e a C. Efetivamente, B e C não cumprem o terceiro requisito para serem
responsabilizados, isto porque a cláusula onde se indica a sua responsabilidade não quantifica o montante
máximo de responsabilidade e, portanto, essa cláusula é nula. Assim, por aquela dívida de 300 000 €,
responde o património da sociedade de 100 000 € e responde ainda o património pessoal do sócio A até
50 000 €. Pelas razões acima descritas, não vão responder os patrimónios pessoais dos sócios B, C e D.

Responsabilidade dos sócios por dívidas nas Sociedades Anónimas

Nas Sociedades Anónimas o património pessoal dos sócios nunca responde por dívidas, artigo 271 do
Código das Sociedades Comerciais. São nulas quaisquer cláusulas que atribuam responsabilidade pessoal aos
sócios de uma Sociedade Anónima.

Transmissão de quotas

O que sucede numa Sociedade por Quotas, se por ventura a sociedade recusar a transmissão da quota
pelo sócio. Exemplo: Consideremos uma Sociedade por Quotas constituída por 4 sócios, A, B, C e D e cada
um tinha um património de 10 000 €. Vamos considerar que o sócio A queria vender a sua quota a Edgar que
é seu primo, sendo que essa venda iria ser feita por 30 000 €.

1º: O sócio A podia vender aquela quota a Edgar livremente, isto é, sem ter necessidade de pedir autorização
aos outros sócios? O sócio A precisava de pedir autorização aos outros sócios uma vez que nos termos do
artigo 228 nº2 essa autorização só não seria necessária se, por ventura, essa transmissão fosse a ascendente,
descendente, cônjuge ou a outro sócio. Ora, Edgar não entra em nenhuma daquelas categorias. Vamos
pressupor que na votação para decidir se o sócio A podia ou não transmitir a quota a Edgar, os votos foram os
seguintes: o Sócio A não votou porque está impedido disso; o Sócio B votou a contra, o Sócio C votou a favor
e o Sócio D absteve-se.

2º: Foi o sócio A autorizado a transmitir a sua quota? Não foi, não houve autorização. A decisão da sociedade
é regulada nos termos do artigo 250 do Código das Sociedades Comerciais e esse artigo 250 do Código das
Sociedades Comerciais estabelece as seguintes regras:

 1º Regra: Cada sócio tem um voto por cada cêntimo de quota detido. Ora, cada um daqueles
sócios tinha 10 000 € de quota o que significa que cada sócio tinha 1 000 000 de votos. Ora,
em termos materiais houve um milhão de votos a favor do sócio C, um milhão de votos contra
do sócio B e uma abstenção do sócio D.

 2º Regra: Não se contam as abstenções, logo os votos do sócio D não se contam.


 3º Regra: As decisões são aprovadas por maioria simples, ou seja, uma decisão só aprovada se
tiver mais votos a favor do que votos contra. Ora, houve um empate, logo o sócio A não tem
autorização para transmitir a sua quota a Edgar.

 Concluindo, o Sócio A precisava de autorização da sociedade para transmitir a sua quota e


não a obteve.

3º: Tem o sócio A algum direito face à recusa da transmissão da sua quota? Ora, essa questão é regulada no
artigo 231 do Código das Sociedades Comerciais. Quando a sociedade recusa a um dos sócios a transmissão
de uma quota, essa mesma sociedade está obrigada a no prazo de 15 dias a contar da recusa fazer uma
proposta de igual valor ao sócio. No nosso caso prático, a sociedade recusou ao sócio A a venda de uma quota
num negócio de 30 000 €. Nos termos do artigo 231 do Código das Sociedades Comerciais a sociedade tinha
15 dias para fazer ao sócio A uma proposta de igual valor. Por outras palavras, a sociedade, em 15 dias no
máximo, tinha de fazer uma proposta de 30 000 € para a aquisição da quota. A partir daqui, há várias
hipóteses:

 A sociedade do caso prático não faz ao sócio A a dita proposta de 30 000 €, isto nos 15 dias
seguintes à recusa. Se isto acontecer o sócio A torna-se livre para transmitir a sua quota a
quem bem entender.

 A sociedade faz ao sócio A uma proposta de aquisição de quota no valor de 30 000 €. Se essa
proposta for feita o sócio A pode aceitar ou recusar. Se o sócio A recusar essa proposta
mantém-se como sócio. Noutra alternativa, se o sócio A aceitar essa proposta, então ele deixa
de ser sócio, recebe os 30 000 € e a sua quota é distribuída pelos restantes sócios.

Transmissão de participações sociais nas Sociedades Anónimas

Nas Sociedades Anónimas, à partida e como regra, não podem existir limites ou limitações à
transmissão de participações sociais, que no caso das Sociedades Anónimas são ações. Contudo, o artigo 272
do Código das Sociedades Comerciais, admite que no caso de as ações serem nominativas, podem os estatutos
da sociedade estabelecer alguns limites ou requisitos à transmissão dessas ações. Ações nominativas são
aquelas ações que identificam quem é o seu proprietário.

Organização das Sociedades Comerciais

O que está em causa neste capítulo é saber quem e como é que se decide numa Sociedade Comercial.
Quer isto dizer que as sociedades comerciais são formadas por várias pessoas e portanto é necessário definir
como é que as sociedades comerciais se decidem e em que termos. Essa organização é diferente em cada tipo
de sociedade.

Organização nas Sociedades em Nome Coletivo:


As Sociedades em Nome Coletivo têm dois órgãos: a Assembleia Geral de Sócios e a Gerência. À
Assembleia Geral de Sócios pertencem e participam todos os sócios. No caso da Gerência e no caso das
Sociedades em Nome Coletivo também participam todos os sócios. Isto é, quem é sócio é também gerente.
Portanto, a primeira questão é saber qual dos dois órgãos (Assembleia Geral de Sócios e Gerência) decide o
quê. Imaginando que a sociedade tem de decidir se vende ou não um terreno que é propriedade da sociedade, a
pergunta que se coloca é a seguinte: onde é que essas decisões são tomadas? No caso concreto das Sociedades
em Nome Coletivo, os poderes da Assembleia Geral de Sócios constam do artigo 189, sendo que os poderes
da gerência são todos os outros que não foram atribuídos à Assembleia Geral de Sócios. Segundo o código das
Sociedades Comerciais são competências da Assembleia Geral de Sócios as seguintes:

 Aprovar o Relatório Anual de Contas, ou seja, todos os anos as sociedades têm que aprovar as
contas do ano que vêm, essa aprovação é feita na Assembleia Geral de Sócios

 Compete ainda à Assembleia Geral de Sócios decidir onde é que os lucros da sociedade vão
ser aplicados, por isso é a Assembleia Geral de Sócios que decide se, por exemplo, os lucros
são distribuídos ou não e, caso estes não sejam distribuídos, onde é que esses lucros vão ser
aplicados.

 Compete à Assembleia Geral de Sócios decidir dos procedimentos disciplinares aos gerentes.

São estas as competências da Assembleia Geral de Sócios. Todas as restantes decisões, numa
Sociedade em Nome Coletivo, cabe à gerência, mas quando é a Assembleia Geral a decidir, numa Sociedade
em Nome Coletivo, a sua decisão é tomada nos termos do artigo 190 do Código das Sociedades Comerciais.
Sendo que esse artigo 190 determina que nas Sociedades em Nome Coletivo cada sócio tem um voto e as
decisões são unânimes. Mas nas Sociedades em Nome Coletivo a maioria das decisões tomam-se em nome da
Gerência e relativamente à Gerência, numa Sociedade em Nome Coletivo, os principais aspetos do seu regime
jurídico são os seguintes:

1º Nas Sociedades em Nome Coletivo, quem é sócio também é gerente, isto de acordo com o artigo
191.

2º Na Gerência, cada um dos gerentes pode assumir uma decisão em nome da Sociedade e pode
vincular sozinha essa sociedade. Por exemplo, numa Sociedade em Nome Coletivo, que tinha 5 sócios que
também são gerentes, o A, o B, o C, o D e o E. Vamos pressupor que o sócio e gerente A decide contratar um
funcionário para a sociedade sem consultar sequer o B, o C, o D e o E. Ora nos termos do artigo 192 cada
sócio e gerente tem o poder de, sozinho, decidir em nome da sociedade. Portanto, aquela contratação decidida
apenas por A é válida e vincula a sociedade, quer isto dizer que a sociedade é obrigada a respeitar e a cumprir
aquela contratação. Só não será assim se se conseguir provar que a contraparte sabia que a maioria dos outros
gerentes era contra aquela contratação. Só não seria válida se se provasse que aquele funcionário sabia que a
maioria dos gerentes era contra a sua contratação.
Sociedades por quotas
As sociedades por quotas têm 3 órgãos na sua composição:

 Uma assembleia geral de sócios;


 Uma gerência;
 Um órgão de fiscalização, sendo que este órgão tanto pode ser um conselho fiscal como pode ser
revisor oficial de contas.

Não obstante às sociedades por quotas terem os mesmos órgãos que as sociedades em nome coletivo é
preciso ter em atenção que o funcionamento desses órgãos é diferente num e noutro tipo de sociedade.

As funções da Assembleia Geral das sociedades por quotas

As funções da assembleia geral por quotas estão descritas no artigo 246 do Código das Sociedades
Comerciais. No artigo 246 nº1 estão descritas competências que são obrigatoriamente da Assembleia Geral de
sócios, por outras palavras, no artigo 246 nº1 estão matérias que a gerência nunca pode tratar. Por seu turno no
artigo 246 nº2 estão descritas matérias que à partida são da assembleia geral de sócios. Contudo, as matérias
do artigo 246 nº2 podem ser atribuídas à gerência se o contrato de sociedade assim o determinar. Todas as
matérias que não constarem no artigo 246 é porque não são competência da assembleia geral e portanto são
competência da gerência. Num caso prático para saber qual dos órgãos é que tem capacidade para decidir
determinada questão, o artigo fundamental é o artigo 246, e se uma determinada questão estiver prevista no
artigo 246 é porque é da competência da assembleia geral de sócios. Por sua vez, se essa questão não está no
artigo 246 é porque é da competência da gerência. Assim sendo, a gerência tem competências por exclusão de
partes, logo a gerência tem todas as competências que não forem da assembleia geral de sócios.

Exemplo: Numa sociedade por quotas a assembleia geral de sócios decidiu as seguintes questões: 1º
contratação de um funcionário para a sociedade; 2º vender um terreno propriedade da sociedade; 3º destituir
um gerente. Era a assembleia geral de sócios competente para decidir sobre todos estes assuntos? Para saber o
que decide a assembleia geral de sócios temos que ler o artigo 246 do C. das sociedades comerciais, se esse
assunto constar numa das alíneas do artigo 246 é porque a competência é da assembleia geral de sócios, se
esse assunto não constar no artigo 246 é porque é competência da gerência. Em nenhuma das alíneas do artigo
246 é mencionado o poder da assembleia geral de sócios para contratar funcionários, logo se essa decisão não
consta no artigo 246 é porque o poder não é da assembleia geral de sócios, mas sim da gerência. O artigo 246
alínea C indica que à partida a alienação de imóveis é uma decisão que cabe à assembleia geral de sócios,
contudo as matérias que consta, no artigo 246 nº2 (inclusivamente a sua alínea C) cabem á assembleia geral de
sócios a não ser que os estatutos atribuam essa competência á gerência, logo a decisão sobre a venda daqueles
terrenos cabia á partida á assembleia geral de sócios. Nos termos do artigo nº 2 alínea D o poder para tomar
aquela decisão é da assembleia geral de sócios.
Quando é a assembleia geral de sócios a decidir as suas deliberações ou decisões são tomadas de
acordo com o desposto do artigo 250, sendo que esse artigo estabelece 3 regras: 1- cada sócio tem 1 voto por
cada cêntimo de cota detido; 2- as decisões são aprovadas por maioria simples (quando tem mais votos a favor
do que contra); 3- nessa contagem de votos não são contadas as abstenções.

Gerência da sociedade por quotas (artigo 252 e seguintes)

Nas sociedades por quotas, os gerentes são designados ou nomeados pela assembleia geral de sócios
ou em alternativa podem os estatutos da sociedade designar logo os gerentes, este regime é diferente das
sociedades em nome coletivo, porque nestas sociedades quem é socio também é gerente, o C. das sociedades
comerciais não define o numero de gerentes que tem uma sociedade por quotas, esse numero é definido pelos
estatutos, logo o numero de gerentes numa sociedade por quotas é definido pelos próprio sócios. A forma
como decide uma gerência de uma sociedade por quotas consta nos artigos 260 e 261. No artigo 261 é
estipulado que salve previsão especial nos estatutos da sociedade, funciona por maioria sendo que cada
gerente tem 1 voto.

Caso prático

No passado dia 10/12/2018 a sociedade por quotas, camiões de leiria Lda., tomou as seguintes
decisões: alterou a sede da sociedade, decidiu comprar um novo camião para a sociedade, comente a validade
destas decisões uma vez que Toni e bruno foram os únicos votos a favor numa gerência composta por 5
pessoas: Resposta: pelo enunciado chegamos á conclusão de que a decisão do caso prático, estas decisões
foram assumidas pela gerência e dessa forma a resposta ao caso prático implica a ponderação de 2 aspetos:1-
mesmo que coubesse á gerência decidir sobre aqueles assuntos, 2-será que a gerência decidiu com a maioria
necessária? 1º A gerência podia decidir o que decidiu? Quanto á mudança de sede da sociedade, essa decisão
implicaria necessariamente a mudança dos estatutos e de acordo com o 246 nº alínea h) cabe á assembleia
geral de sócios, portanto, aquela decisão relativa á mudança de sede da sociedade é nula e inválida por ter sido
tomada por um órgão sem competência para o efeito. Quanto á decisão de comprar um camião, a compra de
um bem móvel não consta no artigo 246 dessa forma se essa questão não consta no artigo 246 significa que é
uma matéria da competência da gerência, sendo competência da gerência ainda assim teríamos que verificar
se a gerência decidiu nos termos em que a lei exige, ora os termos do artigo 261 determina que as decisões ma
gerência são assumidas por maioria sendo que cada gerente tem um voto, no caso pratico essa maioria não se
verificou, Toni e Bruno eram apenas 2 dos 5 gerentes logo a decisão da compra do camião cabia de facto á
gerência. Aquela decisão é inválida não por ter sido tomada por um órgão de competência mas sim por não ter
decidido pela maioria que a lei exige.

Organização das sociedades anónimas

As sociedades anonimas têm 3 órgãos:

1. Assembleia geral de sócios


2. Administração
3. Conselho fiscal

Na sociedade anónima a assembleia geral de sócios tem poucos poderes de decisão,


fundamentalmente nas sociedades anonimas a assembleia geral de sócios decide sobre 3 questões (artigo 383
e 386): aprovação do relatório anual de contas, designação e destituição dos administradores, alteração dos
estatutos da sociedade. Todas as restantes questões são decididas pelo conselho de administração e quanto ao
conselho de administração nas sociedades anonimas á que atender ás seguintes regras: 1º o seu número de
elementos é definido nos estatutos, 2º as suas decisões são assumidas de acordo com o artigo 410 do C. das
sociedades comerciais e é esse artigo que estabelece as seguintes regras de decisão, 1º o conselho de
administração só pode deliberar se estiverem presentes mais de metade dos administradores, por exemplo,
num concelho de administração composto por 8 pessoas esse conselho de administração só pode votar sobre
um determinado assunto se estiverem presentes pelo menos 5 dos administradores, numa administração de
uma sociedade anonima cada administrador tem 1 votos, num conselho de administração as decisões são
aprovadas por maioria dos votos dos presentes.

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