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1º ANO
2º SEMESTRE
FARMACOGNOSIA I
Jorge Paulos
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
1. Definição de açúcar
Os glúcidos são compostos orgânicos de grande importância na Natureza, resultantes do
metabolismo primário dos vegetais, cujo nome foi proposto em 1923 para englobar as oses (alcoóis poli-
hidroxilados com uma função carbonilo) e os holósidos (glúcidos que por hidrólise originam só oses), mas
que depois passa a incluir outros derivados das oses.
Hidrato de carbono foi uma designação inicial dada aos constituintes dos glúcidos, pelo facto de os
elementos mais simples (oses) possuírem hidrogénio e oxigénio nas mesmas proporções que na água, pelo
que se podem representar pela fórmula geral Cn(H2O)n. Esta designação mostrou-se inconveniente, por
compostos pertencentes a outros grupos químicos se poderem incluir nessa fórmula geral, caso do ácido
acético – C2(H2O)2 – do ácido láctico, etc. Acresce, ainda, o facto de várias substâncias se deverem
incluir entre os hidratos de carbono, como os ácidos urónicos, as glucosaminas, etc., mas cuja estrutura
não pode ser representada como é sugerido na definição de hidrato de carbono.
Também se tem dado a este vasto grupo de compostos orgâncios a designação de açúcares, por os
de menor peso molecular serem doces e solúveis na água. Contudo, estas propriedades não são
características da maioria dos compostos, caso, por exemplo, dos amidos e de outros poli-holósidos,
para além de existirem compostos, também de saber doce, como a dulcina e a sacarina, que não
pertencem a este grupo químico.
Uma outra terminologia corrente, usa o termo sacárido para, derivado dele, designar como
monossacáridos as oses e como polissacáridos os compostos cuja molécula possui um número elevado de
oses (maior de 10).
Açúcares simples (oses) que são aldeídos ou cetonas poli-hidroxilados de fórmula geral
Cn(H2O)n;
Açúcares complexos (ósidos) que são compostos que por hidrólise libertam oses;
Derivados naturais dos açúcares como os ácidos urónicos, os desoxiaçúcares e os açúcares
aminados.
Conforme se deduz desta definição, as oses podem ser aldoses, se a função álcool primário do
carbono-1 se converter num aldeído, de que é exemplo a glucose ou, em que a função álcool secundário
do carbono-2 se oxidou em cetona, formando uma cetose, caso da frutose.
2. Representações de Rosanoff
Por convenção, nas representações de Rosanoff não se representam o aldeído (que fica na parte
superior) nem o álcool primário terminal (que fica na parte inferior), nem os hidrogénios. Desta forma,
cada “traço” representado para fora da cadeia representa um hidroxilo.
Com esta representação, consegue entender-se facilmente a génese teórica dos açúcares a partir do
gliceraldeído. É importante notar que nestas representações dos açúcares, os “traços” representam as
orientações espaciais dos hidroxilos, sendo que em qualquer outra estrutura de Química Orgânica, os
“traços” representam metilos.
3. Estereoisomeria
Uma que tem o hidroxilo (OH) no lado direito na estrutura e que, por isso, se chama D-
gliceraldeído.
Outra que tem o hidroxilo no lado esquerdo da estrutura e, por isso, se chama L-gliceraldeído.
Estes isómeros óptimos (enantiómeros) são compostos formados de elementos semelhantes, mas de
fórmulas não sobreponíveis, que se distinguem apenas fisicamente pela acção exercida sobre a luz
polarizada. Existem sempre dois isómeros de um dado composto, dotado de grandes propriedades
gerais idênticas, mas distinguindo-se pelo poder rotatório que é do mesmo valor absoluto, mas de sinal
contrário, daí o uso do termo “enantiómero” que quer dizer contrário. Assim sendo, a relação existente
entre dois enantiómeros é a relação que existe entre um objecto e a sua imagem num espelho plano.
4. Quadro de Rosanoff
Um determinado açúcar será D ou L conforme o hidroxilo mais próximo do álcool primário está
virado para a direita ou para a esquerda, respectivamente. Esta representação é independente da
capacidade de desviar a luz para a direita ou para a esquerda.
5. Projecções de Haworth
As projecções de Haworth são representações fechadas dos açúcares, que permitem explicar que
eles não apresentam todas as propriedades
propriedades dos aldeídos, porque o grupo aldeído se encontra
“camuflado”.
Nas representações cíclicas, existe uma convenção para representar os açúcares. Na estrutura de
Fischer, quando um OH está virado para a direita, na projecção de Haworth surge virado p
para baixo e
quando um OH está virado para esquerda, surge virado para cima.
Quando um dos vértices de uma cadeia fechada é um oxigénio e a cadeia fechada apresenta 6 lados,
não é um ciclo hexano mas sim um pirano. Quando a cadeia fechada apresenta apenas 5 vértices porque
ocorreu a formação de uma molécula de água no H do OH do carbono-4, designa-se furano.
Nas formas fechadas, os açúcares D têm o carbono-6 para fora do anel, enquanto as formas L têm
o carbono-6 representado para dentro do anel.
6. Anómeros
A ciclização dos açúcares acarreta a existência de mais um carbono assimétrico para a estrutura do
açúcar (carbono anomérico). Este carbono apresenta duas formas possíveis, α e β, para a disposição do
hidroxilo hemiacetálico, como para a D-glucose, que em solução tem como forma instável o hidrato de
glucose.
A existência dos dois isómeros α-D-glucose ou β-D-glucose explica o fenómeno da mutarrotação das
oses, pois os valores do [α]D são respectivamente de +113º e +19º quando no estado sólido,
estabelecendo-se, em solução, o equilíbrio entre os dois isómeros pela formação de uma mistura
contendo 35,6% de α-D-glucose e 64,4% de β-D-glucose.
7. Mutarrotação
Para o caso concreto da glucose, verifica-se que a forma α tem (quando acaba de ser dissolvida) um
desvio rotatório de +113º, enquanto que a forma β (quando acaba de ser dissolvida) tem um desvio de
+18.7º. Qualquer uma dessas formas, ao fim de algum tempo, em solução, apresenta um desvio de +52º.
Assim, o desvio rotatório final da solução é:
O desvio rotatório de cada uma destas formas anoméricas é característico, tal como é
característica a proporção da forma α e β na solução final e daí que o desvio rotatório de uma solução
de açúcar seja útil na sua identificação.
8. Capacidade redutora
A capacidade redutora dos açúcares face ao licor de Fehling é devida à mutarrotação. Conforme
observado, em solução, existe sempre alguma quantidade de forma aberta e é essa quantidade que
reage com o licor de Fehling.
O licor de Fehling é uma mistura complexa que, em termos simplistas, se pode considerar como uma
solução de hidróxido cúprico (II). Durante a reacção, o cobre é reduzido à valência +1, formando o
hidróxido cuproso – CuOH – e o açúcar é oxidado, passando de aldeído a ácido, numa reacção não
observável.
Após aquecimento, evapora uma molécula de água, desidratando o CuOH, que vai passar a óxido
cuproso – Cu2O – que, por sua vez, já é visível uma vez que precipita com coloração vermelho-tijolo.
9. Oses e ósidos
A ligação que se estabelece entre o hidroxilo anomérico e a função álcool (ou fenol) de outra
molécula designa-se como ligação osídica ou ligação hemiacetálica.
Itóis (álcoois dos açúcares) – compostos glucídicos resultantes da redução do grupo carbonilo
das oses. Enquanto que a redução nas cetoses conduz a pares de álcoois distintos, como se pode
verificar com a frutose, na redução das aldoses obtém-se o álcool correspondente. Por exemplo, com a
glucose obtém-se o sorbitol, também designado glucitol.
Açúcares metilados – açúcares aos quais se acrescentou um grupo metilo, fazendo com que o
carbono-3 ficasse alquilado por se tratar de um desoxiaçúcar simultaneamente.
Capítulo 2 – Polissacáridos
1. Mecanismo de polimerização
A polimerização dos açúcares faz-se, obrigatoriamente, entre o hidroxilo proveniente da função
redutora (OH do carbono-1 nas aldoses e OH do carbono-2 nas cetoses) e um outro hidroxilo de outro
açúcar.
O processo de ligação implica a formação de uma ligação hemiacetálica (ou ligação osídica), que é a
designação que se atribui à ligação entre um aldeído (hidratado) e um álcool.
A polimerização exige a presença de enzimas específicas e exige que o açúcar que vai funcionar
como radical esteja activado. Geralmente, o activador é a UDP (uridina difosfato).
2. Mutarrotação de um di-holósido
Os di-holósidos resultam da condensação de duas a dez moléculas de oses com perda das
correspondentes moléculas de água, estabelecendo-se entre cada uma delas uma ligação osídica (α ou
β). Esta ligação é formada in vivo por transferência de um radical osil a partir de um nucleótido-ose
para uma molécula receptora. Assim, pode haver o estabelecimento de uma ligação entre o hidroxilo
hemiacetálico do carbono anomérico de uma ose com:
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No nome dos dissacáridos, temos de especificar a natureza D ou L de cada molécula (neste caso são
ambos D) e temos que indicar, em que local da glucose está ligado o radical existente (neste caso, o
carbono-4). A existência de um oxigénio a seguir ao número 4 indica que a ligação se faz através de um
átomo de oxigénio.
Enquanto que na galactose se indica que é um açúcar β, na glucose não há essa indicação pois,
graças à mutarrotação, pode ser α ou β.
Sacarose
A sacarose é constituída por uma molécula de glucose (em forma piranósica) e outra de frutose (em
forma furanósica), e resulta da condensação entre os grupos OH do carbono anomérico da glucose (na
posição 1) e do carbono anomérico da frutose (posição 2). A ligação é α para a glucose e β para a
frutose. Consequentemente, a sacarose é um α-D-glucopiranosil-β-D-frutofuranósido, permitidno
concluir que nenhum dos monómeros pode sofrer mutarrotação.
A sacarose é um di-holósido heterogéneo, pode apresentar dois nomes (num considera-se a frutose
como radical e no outro a glucose), é não redutora, não conseguindo reagir com o licor de Fehling e é
muito solúvel na água, libertando glucose e frutose por hidrólise ácida.
12 Capítulo 2 – Polissacáridos |
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3. Formação de gel
Os produtos vegetais referidos neste capítulo são largamente utilizados em indústria farmacêutica
e em indústria alimentar como espessantes.
A propriedades destes compostos formarem soluções coloidais, mais ou menos viscosas, deve-se a
dois factores principais:
| Capítulo 2 – Polissacáridos 13
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Em tecnologia farmacêutica, para além de serem espessantes de soluções e emulsões, são, ainda:
Agregantes (ou ligantes) – pois permitem a compactação das partículas dos princípios activos
em fórmulas farmacêuticas;
Desagregantes – pois, ao chegarem ao contacto dos líquidos do estômago, incham as fórmulas
farmacêuticas facilitando a desagregação;
Diluentes – por darem volume a formas farmacêuticas em que a quantidade de outros
constituintes é diminuta.
Em dietética, podem funcionar como diminuidores do apetite uma vez que, no estômago, incham
fazendo pressão nas paredes e gerando sensação de saciedade – o único polissacárido digerível é o
amido.
5. Amido
Os amidos constituem a principal substância de reserva dos vegetais e localizam-se,
preferencialmente, nos grãos de cereais e nas sementes das leguminosas, assim como em órgãos
subterrâneos, nomeadamente, em tubérculos. Podem também ocorrer, normalmente, em pequena
quantidade, em alguns frutos como a bolota ou a banana.
Por vezes, atribuem-se designações diferentes consoante a sua proveniência: amidos aos existentes
nos cereais e féculas aos existentes em órgãos subterrâneos.
Na sua constituição, entra um polímero quase puro de D-glucose (98 a 99%), com quantidades
pequenas de lípidos (0.1 a 0.7%), proteínas (0.05 a 0.5%) e sais minerais (0.05 a 0.3%). A fracção
glucídica é formada por uma mistura de dois poli-holósidos:
14 Capítulo 2 – Polissacáridos |
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Características microscópicas
Utilizações do amido
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6. Celulose
A celulose encontra-se
se nas paredes celulares das plantas superiores, conferindo
conferindo-lhes rigidez.
Ocorre sob a forma de microfibras, filamentos finíssimos constituídos por cilindros contendo cerca de
quarenta pares de cadeias de celulose.
A celulose
ulose é idêntica nas diferentes espécies, diferindo apenas no grau de polimerização. É um
polímero linear constituído por unidades de D-glucose
D ligadas em β-(1-4).
4). A sequência das moléculas de
glucose encontra-se
se reforçada por pontes de hidrogénio entre o oxigénio do ciclo e o OH da posição 3,
o que confere uma elevada rigidez e consistência à estrutura.
Propriedades
Características microscópicas
Derivados da celulose
Muitos dos numerosos grupos hidroxilo da celulose são reactivose podem ser facilmente
eterificadas ou esterificados, pelo que podem ser obtidos derivados com interesse em Farmácia. De um
modo geral, os éteres de celulose são laxativos e usados em curas de emagrecimento, dado que
intremescem consideravelmente com a água, formando soluções coloidais viscosas que aumentam o bolo
fecal. São, também, usados em tecnologia farmacêutica e cosmética, como espessantes e emolientes.
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6.1. Algodão
O algodão é um produto proveniente dos pêlos unicelulares, que resultam das células epidérmicas do
tegumento (camada superficial) das sementes do algodoeiro, de diversas espécies do género Gossypium.
São, essencialmente, constituídos por 95 ± 4% celulose com cerca de 2% de substâncias de natureza
lipídica (óleos e resinas), e menores quantidades de proteínas, pectinas e sais minerais.
Cada fibra de algodão é, portanto, um pêlo unicelular que pode atingir 15 a 40 mm de comprimento,
sendo que o algodão cardado em Farmácia é utilizado na protecção de material de vidro quando da sua
esterilização.
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7. Gomas
As gomas provenientes de exsudatos vegetais caracterizam-se, de um modo geral, por resultarem
de um traumatismo na planta, através de uma incisão, picada de insecto, ataque bacteriano, etc.
A estrutura das gomas é complexa, podendo ser polímeros lineares ou ramificadas, de natureza
ácida, neutra ou básica, contendo ácidos urónicos. As básicas têm pequena importância comercial ao
contrário das outras. Os polímeros ramificados são mais solúveis na água produzindo soluções de maior
viscosidade e formando géis quando em concentrações elevadas.
Para a obtenção da goma arábica, são feitas incisões na casca sem atingir o câmbio, recolhendo-se a
goma ao fim de 20 a 30 dias, sendo insípida, inodora e de sabor mucilaginoso depois de humedecida. A
goma bruta contém água (10 a 15%), taninos, enzimas (oxidases e peroxidases), tendo como composto
maioritário um poli-holósido heterogéneo, o ácido arábico, que se encontra sob a forma de sais de
cálcio, potássio e magnésio. Por hidrólise, obtém-se D-galactose (35%), L-arabinose (30%), L-ramnose
(10%) e ácido glucurónico (15%).
O ácido arábico é constituído por uma estrutura central (“coluna dorsal”) de β-D-galactose com
ligações 1-3 substituída por curtas cadeias ou moléculas isoladas de arabinose e por oligo-holósidos
heterogéneos que possuem os compostos referidos acima depois da hidrólise, variando a estrutura com
a espécie vegetal, a origem geográfica e a época de recolha.
A existência de oxidases origina certas reacções cromáticas desta goma. Com efeito, quando se
adiciona à sua solução aquosa, água oxigenada e depois, benzidina ou tintura de guaiaco, aparece cor
azul, pelo que estas reacções são usadas na caracterização desta goma.
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Na goma adraganta
aganta predominam dois poli-holósidos heterogéneos, a bassorina ou ácido tragacântico
(60 a 70%) e a tragacantina (30 a 40%) e ainda amido (cerca de 3%), celulose, hemiceluloses e
substâncias minerais para além de água (6%). Não contém oxidases, cuja pesquisa,, em conjunto com a
existência de amido e análise por cromatografia em camada fina das oses, permite a distinção do pó
desta goma do pó da goma arábica.
A goma adraganta é parcialmente solúvel em água, originando soluções de aspecto turvo e viscoso. As
soluções diluídas são muito viscosas, estáveis em meio ácido e ao calor, mas precipita dessas soluções
por adição de acetato neutro de chumbo.
Mais usada em tecnologia farmacêutica do que a goma arábica, pois para a mesma concentração
origina soluções cuja viscosidade é cerca de 90 vezes maior que as de goma arábica. Na terapêutica é
utilizado como laxante, mas de forma diferente da acção
acção laxativa das antraquinonas, pois aqui
interferem mais com as paredes do intestino, o que faz aumentar os movimentos peristálticos e a maior
facilidade em eliminar o bolo fecal.
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É constituída por uma “coluna vertebral” formada por α-L-ramnose e ácido α-D-galacturónico,
que apresenta ramificações de galactose e de ácido glucurónico e um grau de acetilação de cerca de
8%.
Na terapêutica, utiliza-se em curas de emagrecimento, pois para além de ser laxante não é
absorvida e tira o apetite por aumento de volume a nível do estômago. Substitui com vantagem a goma
adraganta em tecnologia farmacêutica, mas é de preço mais elevado. É muito utilizada sob a forma de
pó micronizado ou em cremes como adesivo para próteses dentárias.
8. Mucilagens de algas
Salvo raras excepções, a matriz celular das algas é glucídica e os poli-holósidos que as constituem
são polímeros capazes de formar géis. Isto deve-se ao facto de as plantas marinhas necessitarem de
mais flexibilidade do que de rigidez, o que não acontece às plantas terrestres.
São produzidas em grandes quantidades anualmente, sendo que Portugal é um dos grandes
produtores. Relativamente ao seu processo extractivo, a digestão das algas é feita em águas
alcalinizadas devido ao seu contéudo em ácidos urónicos. Assim sendo, vai ocorrer reacção entre os dois
compostos e induz-se a formação de sais que são solúveis em água quente.
O ácido algínico corresponde a um polímero linear formado a partir de dois ácidos urónicos: ácido D-
manurónico e ácido L-gulurónico, unidos por ligações β (1-4). Estes ácidos dispõem-se em blocos
homogéneos e alternados de ácido polimanurónico e de ácido poligulurónico, em proporções variáveis de
acordo com a sua procedência.
O ácido algínico e os alginatos são usados no tratamento de patologias digestivas (acidez gástrica)
associados, por vezes, ao bicarbonato de sódio ou ao hidróxido de alumínio, no tratamento do refluxo
gastro-esofágico e na irritação da mucosa respectiva. São laxantes mecânicos, pelo que se usam no
tratamento da obesidade devido à sensação de saciedade que produzem. Utilizam-se ainda em
cosmética e tecnologia farmacêutica como suspensores e na indústria alimentar como gelados e cremes.
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8.2. Carrageninas
As carrageninas são mucilagens obtidas de algas vermelhas (Rhodophyceae), principalmente de
Chondrus crispus, Euchema sp. e Gigartina sp.
As carrageninas são utilizadas na tecnologia farmacêutica como laxantes mecânicos, devido à sua
capacidade em reter água e aumentar o bolo intestinal e o peristaltismo intestinal e, por isso, também
empregues na obesidade. Protegem a mucosa gástrica e intestinal e têm acção anti-inflamatória. Devido
às suas propriedades geleficantes e estabilizantes são muito usadas na indústria farmacêutica,
alimentar (produtos lácteos e gelados) e cosmética (produtos de higiene).
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A goma de guar comercial possui cerca de 86% de uma mucilagem solúvel na água, que pode ser
purificada após solubilização na água e precipitação pelo álcool. É constituída por uma galactomanana
formada por uma cadeia linear de D-manose com ligação β-(1-4) e, alternadamente, com uniões α-(1-6)
de D-galactose.
Esta goma é hoje muito usada na tecnologia farmacêutica como espessante, gelificante e
desagregante no fabrico de comprimidos, devido à sua elevada capacidade em se hidratar. Verificou-se
que a sua administração antes das refeições reduz a concentração da glucose no sangue em diabéticos e
o teor de colesterol no sangue. Também é empregue em curas de emagrecimento, em lubrificação
intestinal em colopatias e obstipação.
Os dextranos são obtidos pela acção fermentativa de determinadas bactérias dos géneros
Leuconostoc, Lactobacillus e Streptococcus, ricas na enzima dextrano-sucrase, sobre um meio de
cultura contendo sacarose.
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O poli-holósido formado é constituído por unidades de glucose que estão unidades de glucose que
estão unidas por ligações, principalmente do tipo α-1-6- (cerca de 95%), com poucas ramificações
laterais via 1-2, 1-3 ou 1-4.
Os dextranos são utilizados, por perfusão endovenosa, como sucedâneos do plasma, utilizados em
solução estéril nos estados de choques hemorrágicos, traumáticos, estados tóxico-infecciosos, assim
como em desidratações ou queimaduras graves.
11.1. Tília
A tília consiste na inflorescência inteira e seca de Tilia cordata Miller, de T. platyphyllos Scop, de
Tilia x vulgaris ou de uma mistura destas espécies.
Na maior parte dos casos, é utilizada como amaciador e ainda na resolução de problemas menores do
sono.
| Capítulo 2 – Polissacáridos 23
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11.2. Malva
A malva consiste na flor seca, inteira ou fragmentada, de Malva
sylvestris L. ou das suas variedades cultivadas.
11.3. Alteia
A alteia consiste na raiz seca, na folha ou na flor de Althæa
officinalis.
11.4. Linho
O linho consiste nas sementes de Linum usitatissimum L.
11.5. Tanchagens
As tanchagens contêm as sementes e o tegumento de Plantago ovata
(P. ispaghula)
24 Capítulo 2 – Polissacáridos |
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Capítulo 3 – Gorduras
Os lípidos são substâncias do metabolismo primário, em que alguma das suas estruturas integrantes
deriva do complexo AGS (Ácido Gordo Sintetase) e que nos organismos vivos cumprem funções de
reserva energética, plástica, de protecção ou revestimento. Caracterizam-se genericamente por serem
substâncias não voláteis, hidrófobas, solúveis nos solventes orgânicos apolares ou pouco polares.
Estruturalmente, são ésteres de ácidos carboxílicos com quatro ou mais átomos de carbono (ácidos
gordos) e de um álcool ou de um poliol, característica que justifica o estudo prévio dos compostos que
estão na sua origem, em particular o dos ácidos gordos naturais.
Os ácidos gordos saturados com 12 ou menos átomos de carbono e os insaturados com 16 ou menos
átomos de carbono só em casos raros ocorrem nos lípidos vegetais em quantidades relevantes. O mesmo
se verifica para os ácidos gordos com 20 ou mais átomos de carbono. Assim, cerca de 95% dos que
constituem os lípidos são ácidos com 16 ou 18 átomos de carbono. Dos ácidos gordos das séries
insaturadas, raramente ocorrem os isómeros trans.
| Capítulo 3 – Gorduras 25
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2. Lípidos simples
Os lípidos simples possuem uma composição elementar apenas com carbono, hidrogénio e oxigénio.
Porém, a estrutura dos álcoois esterificados permite ainda classificar os lípidos simples em, pelo menos,
três classes:
3. Corpos gordos
Os designados corpos gordos são misturas homogéneas, onde predominam os lípidos, representando
em geral mais de 90% da sua composição total, e que, por isso, determinam as suas características
particulares com a insolubilidade na água, a solubilidade nos solventes orgânicos apolares e nas soluções
aquosas alcalinas e a densidade relativa inferior à unidade.
Um critério simples para classificar os corpos gordos fundamenta-se no seu estado físico. Assim, é
usual distinguir os óleos, corpos gordos líquidos à temperatura ambiente, as gorduras, de consistência
mole e que fundem abaixo dos 45ºC e que incluem as manteigas, de aspecto butiroso e fusíveis entre 20
e 36ºC, e as ceras, de aspecto duro mas frágil, geralmente fusíveis a temperaturas superiores a 60ºC,
mas amolecendo quando apertadas com pressão.
Mais apropriada, universal e rigorosa é a classificação dos óleos, gorduras e ceras, determinada pela
composição química. Os óleos e gorduras são predominantemente constituídos por glicéridos, enquanto
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nas ceras predominam os céridos. Para a maioria dos corpos gordos a classificação com base no estado
físico e temperatura de fusão concorda com a classificação pela composição química.
Características físicas
Untuosos ao tacto
Mancham o papel
Menos densos que a água
Insolúveis em água
Solúveis nos solventes orgânicos
Originam sabões com soluções alcalinas
Controlo de qualidade
| Capítulo 3 – Gorduras 27
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28 Capítulo 3 – Gorduras |
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Capítulo 4 – Quinonas
Os compostos mais abundantes sintetizados nesta via são os ácidos gordos. Nesta síntese, o
activador do acetil não é a CoA mas sim a ACP (Acyl Carrier Protein). Durante a síntese, assiste-se
assiste à
polimerização dos acetilos e, posteriormente, à redução dos grupos cetónicos, ficando penas um
carboxilo no extremo da cadeia. Por este motivo, podemos dizer que, em regra geral, os ácidos gordos
têm um número par de carbonos, são normais (não ramificados) e monocarboxílicos.
| Capítulo 4 – Quinonas 29
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Geralmente, ainda que a natureza dos intermediários não tenha sido demonstrada até agora, pensa-
se que a cadeia do β-policetoéster se estabiliza, tanto por ligações de hidrogénio com a enzima como
por quelação parcial da sua forma enólica com iões metálicos ligados à enzima. Neste ponto, pode haver
uma redução parcial de alguns grupos carbonílicos ou uma alquilação de alguns deles.
Desta forma, pode concluir-se que a aromatização via “acetato” ocorre com a oxigenação de
carbonos alternados. A diversidade estrutural resulta directamente do número de unidades acetato do
precursor, do modo de ciclização, da identidade do starter e das possíveis transformações secundárias,
como oxidações, reduções, alquilações, reagrupamentos, aberturas de ciclos, osilações, etc.
30 Capítulo 4 – Quinonas |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
3. Classes de quinonas
Entendamos como quinona, qualquer sistema aromático com duas funções cetónicas. Estes
compostos, porque são aromáticos e têm grupos cromóforos apresentam cor, mais ou menos
acentuadamente, conforme o número, natureza e posição desse grupo.
Sendo as quinonas resultantes da oxidação dos fenóis, pode encontrar-se esta estrutura em vários
tipos de metabolitos secundários, caso por exemplo de alguns flavonóides-quinonas em que no núcleo B
se dá a oxidação com formação de quinona, o mesmo se passando em numerosos compostos de esqueleto
terpénico.
Antraquinonas
Um exemplo é o ácido carmínico que se trata de um corante solúvel na água de cor púrpura brilhante
extraído das cochonilhas por intermédio de amónia diluída.
OH O CH3
glucose COOH
HO OH
OH O
| Capítulo 4 – Quinonas 31
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Todas estas reacções são reversíveis, estando nas plantas a relação entre as formas oxidadas e
as reduzidas, dependente, especialmente, dá epoca do ano (as formas reduzidas mais no começo do
período vegetativo, para depois predominarem as oxidadas). A fácil oxidação das formas reduzidas leva
a que quando se pretendem isolar ou dosear estes constituintes os processos extractivos e de dosagem
têm de ser conduzidos na ausência de luz e do oxigénio.
As oses provenientes da sua hidrólise são geralmente a glucose e a ramnose, raramente a apiose. Os
compostos antracénicos mais vulgares encontram-se sob a forma de mono e diglucósidos, ramnósidos e
gluco-ramnósidos. A maioria dos compostos são O-heterósidos, com a ligação nos hidroxilos presentes
nos C1, C8 ou C6. Os C-heterósidos mais vulgares, de que são exemplos as aloínas, são derivados das
antronas, em que a ligação C-C é em C10.
32 Capítulo 4 – Quinonas |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
4. Glicosilação e dimerização
A glicosilação é o processo que as plantas encontram para tornar um composto hidrosolúvel, como
ocorre no caso dos açúcares hidrossolúveis, por terem vários grupos polares.
Os heterósidos são moléculas que têm um (ou mais) componentes glucídicos e um (ou mais)
componentes não glucídicos. Por exemplo, o amido é um holósido porque contém apenas açúcares. Nos
heterósidos podemos chamar genina (ou aglícona) à componente não açúcar, e nestas moléculas é o
açúcar que está ligado à genina e não o contrário, por isso a ligação faz-se sempre através do hidroxilo
redutor, que acaba sempre por ser atavés do C1 uma vez que são sempre aldoses que aparecem nos
heterósidos.
Habitualmente, o açúcar interveniente é a glucose, mas em casos particulares, podem surgir outros
açúcares. Nestas ligações, faz-se sempre reacção por perda de uma molécula de água.
OH O O-Gluc
R R'
H Gluc
A maioria dos heterósidos existentes na Natureza são O-heterósidos, isto é, a ligação entre a
genina e o açúcar é feita através de um átomo de oxigénio. Isto acontece sempre que o açúcar se foi
ligar a um grupo OH (se tivermos duas moléculas, cada uma delas como um grupo OH e as ligarmos com
perda de água, sobra um oxigénio para fazer a ponte, tal como acontece com os éteres).
No entanto, neste caso de heterósidos não temos ligação éter (porque não são dois álcoois), mas sim
uma ligação hemiacetálica, uma vez que ligamos um álcool e um semi-aldeído (embora o aspecto seja o
mesmo).
Para além destes heterósidos, também existem os C-heterósidos. Neste caso, a ligação dá-se entre
o hidroxilo redutor (do C1) do açúcar e um hidrogénio da genina. Ao tirar uma molécula de água, não
sobra nada a fazer a ponte, isto é, a ligação fica feita entre um carbono da genina e o C1 do açúcar. Nos
compostos antraquinónicos, só é possível fazer C-heterósidos nas antronas, no C10.
| Capítulo 4 – Quinonas 33
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
Por sua vez, a dimerização ocorre a partir de duas antronas, fazendo-se um processo mais
específico (e menos frequente na Natureza) que envolve, neste caso, a ligação entre os C10 de duas
antronas. A dimerização pode acontecer entre duas moléculas iguais (e temos dímeros sintéticos) ou
entre duas moléculas diferentes (e temos dímeros assimétricos).
OH O OH
R R
R R
OH O OH
5. Hidrólise
A hidrólise é, conforme o nome indica, uma lise (quebra) por introdução de água. Os compostos
antraquinónicos, fazendo parte das quinonas, apresentam as propriedades gerais destas, atrás
referidas. Assim, os heterósidos são compostos cristalinos, corados, não sublimáveis e solúveis na água
e nas soluções hidroalcoólicas. As soluções alcalinas coram de vermelho-alaranjado e são insolúveis nos
solventes orgânicos imiscíveis com a água.
No caso dos heterósidos, podemos considerar a hidrólise como sendo o processo inverso da
glicosilação.
OH O O - G lu c OH O OH
+ açúcar
R R' R R'
O O
34 Capítulo 4 – Quinonas |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
OH O O - glu c OH O OH
+ 2 glucose
R R' R R'
H g lu c O
OH O O-glucose
OH O O -glucose O
R R
R
R
R R
R
O
R +
OH O OH
OH O OH
Em particular, os C-heterósidos requerem o FeCl3 por serem mais difíceis de hidrolisar que os O-
heterósidos e, consequentemente, para além de haver hidrólise, também há oxidação do C10 (que tinha
dois hidrogénios e passa a ter uma função cetónica).
Os hidroxilos fenólicos têm propriedades ácidas (ácidos fracos) pelo que podem reagir com
bases fortes, ionizando-se (formando sais)
OH O OH O O O
base
HO CH2OH O CH2OH
O O
a) o composto, que no caso era insolúvel em água, passou à forma sal e, por isso, solúvel em
água.
b) O composto que já era amarelo (aromático com grupos cromóforos como as funções
cetónicas e os hidroxilos) passa a vermelho porque houve um aumento de intensidade
electrónica
| Capítulo 4 – Quinonas 35
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
corar de amarelo o solvente. Numa extracção mais completa, o produto vegetal será submetido a uma
extracção contínua em aparelho tipo soxhlet, por um destes solventes.
Por outro lado, os compostos ligados a açúcares, como os O-heterósidos e os C-heterósidos, são
extraídos, aquecendo, sob refluxo, em banho de água à ebulição, a planta, convenientemente dividida,
com álcool etílico de 50º ou de 70º, ou apenas com água. Uma parte alíquota é submetida a uma
hidrólise, à ebulição, por um ácido mineral, libertando-se assim as geninas dos O-heterósidos que podem
ser isoladas por um solvente orgânico. A outra parte da solução extractiva inicial é fervida com um
ácido mineral e cloreto férrico para se dar a hidrólise dos C-heterósidos, seguindo-se a extracção das
geninas por um solvente orgânico, normalmente o éter. O fraccionamento das geninas poderá ser feito
de acordo com o indicado atrás, para o isolamento dos compostos antraquinónicos livres.
7. Reacção de Borntraeger
A reacção de Borntraeger consiste na ionização dos grupos fenólicos, o que leva a um aumento da
densidade electrónica livre que, por sua vez, provoca uma deslocação da cor no sentido dos maiores
comprimentos de onda (do incolor ou amarelo para o vermelho).
A cor vermelha só se atinge quando há dois grupos cetónicos (nunca com as antronas, antranóis ou
dímeros) e quando os hidroxilos nos C1 e C8 (vizinho do grupo cetónico do C9) estão livres.
Para fazer pesquisa de compostos específicos desta família, a única forma é realizar cromatografias
em comparação com padrões. Isto é, se pretendemos saber se uma planta tem, por exemplo, crisaloína,
a solução é realizar uma cromatografia (em placa ou HPLC), em comparação com a substância-padrão.
A reacção de Borntraeger serve apenas para procurar saber se uma planta tem compostos deste
tipo, mas não dá nenhuma informação sobre os compostos concretos que a planta tenha.
OH O OH O O O
OH-
OH O O-açúcar O O O-açúcar
R R' R R'
O O
OH O OH O O O
R R' R R'
H H H H
36 Capítulo 4 – Quinonas |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
Em qualquer dos casos há intensificação de cor porque há ionização, mas só no caso do primeiro
exemplo a intensificação de cor chega ao vermelho. Nos dois últimos exemplos a reacção é negativa
(mesmo havendo intensificação de cor)
OH O OH O O O
R R R R
R R
R R
O O O
OH O OH
Isto significa que os heterósidos precisam de ser hidrolisados e os dímeros precisam de ser
quebrados e oxidados para poderem ser pesquisados.
| Capítulo 4 – Quinonas 37
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
Os fármacos deste grupo devem ser usados, só, como laxantes ou purgantes, na obstipação
ocasional, antes da realização de exames radiológicos ou endoscópicos e de intervenções cirúrgicas que
exijam um esvaziamento intestinal completo. De um modo geral, estes fármacos devem ser utilizados
apenas por curtos períodos de tempo. Sempre que possível, é conveniente substituir o seu uso por
correcção dos hábitos alimentares e uso de dietas e fármacos que aumentem o bolo fecal.
Têm várias contra-indicações, pelo que não devem ser administrados na oclusão intestinal, nas
doenças inflamatórias do intestino, na apendicite aguda, na gravidez (pelo efeito oxitócico pode induzir
abortos) e na aleitação (ao passar ao leite materno pode provocar diarreias nos lactentes) ou em
crianças com idade inferior a 10 anos. Não devem ser usados concomitantemente com cardiotónicos,
pois a perda de potássio pode potencializar a acção destes, nem com os contraceptivos orais pelo risco
de diminuir a sua absorção a nível intestinal.
9.1. Sene
O sene é o fármaco com derivados antraquinónicos mais usado na terapêutica, empregando-se tanto
as folhas (folíolos) como os frutos (folículos) de diversas espécies do género Cassia. É um subarbusto
perene, nativo da Arábia e da África Oriental, muito cultivado na Índia, na região de Tinnevelly. Assim,
as principais definições de sene são:
38 Capítulo 4 – Quinonas |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
9.2. Amieiro-negro
O amieiro negro é um arbusto ou pequena árvore da Europa não
mediterrânica e do Nordeste dos EUA. Cresce nas margens dos cursos de
água, em terrenos ácidos e húmidos, sendo espontâneo em Portugal junto
das linhas de água.
na obstipação ocasional, como laxativo ou purgativo, quando é necessária uma evacuação rápida com
fezes brandas, caso de fissuras anais e de hemorroidal.
9.3. Cáscara-sagrada
A cáscara-sagrada (Rhamnus purshiana D.C. ou Frangula
purshiana D.C.) é uma árvore espontânea da região americana do
oceano Pacífico, desde o Norte dos EUA até à Colômbia, mas
hoje cultivada para a obtenção da casca.
Cascarósido A: 8-O-glucosil-10-C-glucosilaloé-emodina-antrona
Cascarósido B: 8-O-glucosil-10-C-glucosilcrisofanol-antrona
Aloína: 10-C-glucosilaloé-emodina-antrona
Crisaloína: 10-C-glucosilcrisofanol-antrona
40 Capítulo 4 – Quinonas |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
9.4. Aloés
As plantas designadas por aloés são arbustos vivazes, crescendo em
qualquer tipo de solo, mas melhor adaptados aos leves e arenosos,
originários da Ásia, da África Oriental e do Sul, encontram-se
aclimatados em todo o mundo, embora preferindo clima quente e húmido.
Quanto ao emprego, o suco concentrado e seco é um tónico digestivo e colagogo, sendo que em doses
superiores têm acção laxante e purgativa. É útil quando é necessário uma evacuação rápida com fezes
brandas, caso de fissuras anais, no hemorroidal e na obstipação. Não usar, na obstrução
gastrointestinal de qualquer origem, na gravidez, aleitação e em crianças com menos de 10 anos. O aloé-
do-cabo tem indicações terapêuticas semelhantes ao aloé-de-barbados, mas devem usar-se posologias
mais elevadas.
| Capítulo 4 – Quinonas 41
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
OH O OH OH O OH
HO CH3 HO CH3
HO CH2R HO CH2R
OH O OH OH O OH
A orvalhinha apresenta uma acção espasmolítica, expectorante e mucolítica, pelo que é usada na
tosse espasmódcica e irritativa, bronquites e asma brônquica.
42 Capítulo 4 – Quinonas |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
Capítulo 5 – Chiquimatos
imatos
Na Natureza, a síntese
tese de um determinado núcleo aromático é realizada unicamente pelos vegetais e
pelos microrganismos. Assim, os animais recebem
recebem-nos
nos ou através da sua alimentação ou através de uma
simbiose, para elaborar metabolitos que lhes vão ser indispensáveis e que possuem
possuem este elemento
estrutural (aminoácidos, vitaminas, pigmentos, toxinas, etc.).
1. Via chiquimato
A origem biossintética dos compostos fenólicos deriva essencialmente de duas grandes vias
anabólicas: a via acetato e a via chiquimato.
A via chiquimato tem origem no ácido chiquímico, cuja biossíntese se faz a partir da condensação do
fosfoenolpiruvato com a 4-P-eritrose.
eritrose. Do ácido chiquímico, originam-se
originam se ácidos aromáticos (fenilalanina e
tirosina), que por desaminação dão ácidos cinâmicos e, finalmente, seus derivados mais complexos.
Os principais compostos sintetizados através desta via anabólica são os flavonóides, os taninos, os
fenóis e ácidos fenólicos, as lenhanas, as cumarinas e os salicilatos.
| Capítulo 5 – Chiquimatos 43
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
Tendo por base a biossíntese dos chiquimatos, para além da 4-P-eritrose, também vai intervir um
outro composto proveniente da glicólise, o ácido 2-P-enolpirúvico (PEP), que resulta da enolização e da
fosforilação do ácido pirúvico que, por sua vez, é que existe na glicólise. Estes dois compostos juntam-
se e ciclizam, obtendo-se um composto com 7 carbonos não aromáticos e com 3 hidroxilos na posição
oposta àquela em que está situado o radical carboxilo, o ácido chiquímico. Esta última característica vai
condicionar as estruturas de praticamente todas as moléculas sintetizadas pela via chiquimato.
De seguida, o ácido chiquímico recebe mais uma molécula de PEP (fosfoenolpiruvato) e forma o ácido
prefénico, outra das peças fundamentais na síntese dos compostos nesta via.
44 Capítulo 5 – Chiquimatos |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
Os primeiros compostos sintetizados por esta via são, então, o ácido fenilpirúvico e o ácido p-
hidroxifenilpirúvico que, em relação ao ácido pirúvico, apresentam um radical fenilo adicional. Estes
compostos pertencem já à família dos fenilpropanóides, uma vez que apresentam um radical fenilo e,
depois, uma parte da molécula com 3 átomos de carbono (propanóide).
Estes ácidos são α-cetoácidos, isto é, são ácidos que no carbono vizinho (carbono α) da função
principal (que é a função carboxílica) apresentam uma função cetónica. Estes ácidos são os únicos
capazes de fixar azoto através da acção de uma enzima específica, aparecendo a função amina no local
onde estava a função cetónica. Daí que os aminoácidos sejam, de um modo geral, α-aminoácidos.
Os primeiros aminoácidos aromáticos sintetizados pelas plantas, e que todas as plantas têm
capacidade de sintetizar são a fenilalanina e a tirosina:
COOH COOH
HC NH2 HC NH2
CH2 CH2
OH
De seguida, estes aminoácidos podem sofrer uma desaminação oxidativa e originam já compostos
que são tipicamente vegetais: o ácido cinâmico e o ácido p-cumárico.
COOH COOH
OH
| Capítulo 5 – Chiquimatos 45
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
Nos compostos desta classe, existem compostos tipicamente vegetais e compostos tipicamente animais.
Entre os compostos animais temos:
46 Capítulo 5 – Chiquimatos |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
As hidroxilações dão-se primeiro no carbono oposto ao da cadeia carbonada (-para-) e depois nos
carbonos adjacentes a este primeiro carbono (-meta-).
A síntese mais fácil é a que está mais próxima da origem. Quanto mais afastado da origem estiver
um composto, mais difícil é a sua síntese. Um ácido que em termos de biogénese, se aproxima bastante
do ácido chiquímico, é o ácido quínico.
Este ácido esterifica-se com ácidos fenilpropanóides como o ácido caféico (a função de ácido
caféico pode esterificar os OH do ácido quínico). Ácidos obtidos por este tipo de esterificação são
ácidos domogénicos, que com pequenas transformações servem de compostos de defesa às plantas.
| Capítulo 5 – Chiquimatos 47
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
48 Capítulo 5 – Chiquimatos |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
Capítulo 6 – Fenóis
Nas plantas, é relativamente pequeno o número de fenóis livres e, destes, só a hidroquinona é o mais
difundido, pois, normalmente, encontram-se sob a forma de heterósidos ou de ésteres, quase sempre
derivados do ácido benzóico ou do ácido cinâmico, onde se inclui o grupo dos fenilpropanóides, de que é
exemplo o ácido cafeico. A presença dos derivados do ácido benzóico e do ácido cinâmico caracteriza,
em fitoquímica, este grupo de compostos com uma certa importância na terapêutica.
O ácido cafeico surge ligado ao ácido quínico que é um composto quimicamente muito próximo do
ácido chiquímico. O ácido cafeico pode esterificar um ou mais hidroxilos do ácido quínico (formando
ácidos mono ou dicafeioilquínicos), em mais de uma posição.
Por sua vez, os ésteres do álcool benzílico e os ácidos benzóico e cinâmico entram na composição dos
bálsamos que serão estudados no capítulo dos produtos resinosos.
Outra das combinações do ácido cafeico é o ácido rosmarínico, que resulta da combinação do ácido
cafeico com o ácido 3,4-dihidroxifenil-láctico. No entanto, inicialmente este ácido foi isolado da
espécie Rosmarinus officinalis, para mais tarde se ter verificado que surge em todas as espécies da
família das labiadas.
OH
O COOH
HO
O OH
HO
Existe ainda o cafeioiltartárico que é o éster do ácido cafeico com um (ou os dois) hidroxilos do
ácido tartárico. A estrutura representada é a do monocafeioiltartárico.
| Capítulo 6 – Fenóis 49
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
O COOH
O
OH
HO HOOC
OH
As labiadas são uma família botânica caracterizada, principalmente, por possuir uma corola de 5
pétalas soldadas (simpétala) das quais as duas superiores formam uma porção que se opõe à inferior,
ficando o conjunto com aspecto de lábios. A esta família pertencem numerosas espécies do nosso
quotidiano, nomeadamente: erva-cidreira, alecrim, várias espécies da hortelã, alfazema, etc.
Dado que possuem características ácidas, quando tenham o grupo fenol livre, podem ser isolados por
soluções alcalinas, com preferência pelas fracamente básicas para diminuir a sua reactividade química,
pois facilmente se isomerizam (E/Z) e se oxidam.
Nos últimos anos, tem-se verificado que muitos ésteres heterosídicos fenilpropanóicos são
inibidores enzimáticos, particularmente da fosfodiesterase, do AMP cíclico e da aldo-reductase,
originando uma certa inibição sobre a formação de hidroperóxidos e de leucotrienos, o que justifica a
acção benéfica de certos fármacos no caso das doenças inflamatórias.
50 Capítulo 6 – Fenóis |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
4.1. Uva-ursina
A uva-ursina é o fármaco constituído pela folha inteira ou fragmentada, seca de Arctostaphylos
uva-ursi (L.) Spreng, devendo ter um teor, no mínimo, de 8.0% de derivados hidroquinónicos expressos
em arbutina anidra.
Tem como constituintes activos, a arbutina (ou arbutósido), que predomina, e, em menores
quantidades, metil-arbutina (ou metil-arbutósido), taninos (15 – 20%), flavonóides, triterpenos e outros
compostos vestigiários.
5.1. Freixo
O fármaco freixo é constituído pelas folhas secas de Fraxinus
excelcior L. ou de Fraxinus oxyphylla M. Bieb., sendo cultivado em
Portugal ao longo dos cursos de água e em vales.
HO O
OH
OH O
OH
As folhas do freixo em infusões e cozimentos são utilizadas para facilitar a digestão, a eliminação
renal da água (adjuvante em regimes de emagrecimento) e no tratamento sintomático das
manifestações dolorosas articulares.
| Capítulo 6 – Fenóis 51
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
5.2. Alcachofra
O fármaco alcahofra é constituído pelas folhas radicais, secas,
inteiras ou fragmentadas de Cynara scolymus L.
5.3. Alecrim
Na medicina popular, usam-se as folhas de alecrim (Rosmarinus officinalis
L.), que deve ter, no mínimo, um teor de 12 mL/kg de óleo essencial (fármaco
seco) e 3% de derivados hidroxicinâmicos, expressos em ácido rosmarínico, no
fármaco seco.
OH
O COOH
HO
O OH
HO
Quanto à sua acção farmacológica, as folhas actuam como colagogo, colerético, diurético,
antioxidante e aromatizante. Por sua vez, o óleo essencial apresenta funções de espasmolítico e
antioxidante.
5.4. Erva-cidreira
O fármaco de erva-cidreira diz respeito às folhas secas de Melissa officinalis L.
Os principais constituintes activos são os derivados hidroxicinâmicos, que segundo a F.P. VIII,
quando expressos em ácido rosmarínico, não devem ser inferiores a 4.0%, sendo o aroma proveniente do
52 Capítulo 6 – Fenóis |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
óleo essencial com cerca de 50.0% dos aldeídos citral e citronelal. Para além disso, contém flavonóides,
ácidos fenólicos e derivados, mucilagens poliurónicas e óleo essencial.
Geralmente, a erva-cidreira é dividida em compostos polares que são relacionados com a infusão e
em compostos apolares que estão relacionados com os óleos essenciais.
Quanto à acção farmacológica, as folhas são utilizadas pelas propriedades sedativas e digestivas,
sob a forma de tisanas.
5.5. Chá-de-java
O fármaco de chá-de-java diz respeito às folhas e extremidades dos caules de
Orthosiphon stamineus.
| Capítulo 6 – Fenóis 53
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
54 Capítulo 6 – Fenóis |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
Capítulo 7 – Lenhanas
As lenhanas designam os compostos cujo esqueleto resulta do estabelecimento de uma união entre
os carbonos β das cadeias laterais de duas unidades derviadas do 1-fenilpropano, isto é, de duas
unidades fenilpropanóicas, com uma ligação obrigatória entre os carbonos 8 de cada uma das moléculas.
Para além desta ligação, poderão ou não, existir outras ligações.
Para além das lenhanas, as plantas fazem também outros compostos aparentados, como as
neolenhanas ou as norlenhanas, mas que não são objecto de estudo.
A lenhina é um polímero de três álcoois: álcool coniferílico, sinápico e p-cumárico, sendo que a
proporção entre estas três moléculas varia de espécie para espécie. Até agora, ainda nenhuma molécula
de lenhina foi devidamente identificada devido ao elevado número de ligações possíveis entre os
monómeros. Muito provavelmente, a molécula faz estruturas em rede, uma vez que é função da lenhina
dar resistência às paredes celulares.
Ambas as espécies são tóxicas, mas apesar disso, quando tomados os cuidados devidos, foram
utilizadas pelas populações nativas dos respectivos países de origem.
| Capítulo 7 – Lenhanas 55
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
A espécie Podophylum hexandrum foi utilizada como purgativo, emético (vomitivo), para tratar
ferimentos necrosados e para inibir o crescimento de tumores.
A espécie Podophylum peltatum foi utilizada como modificadora do processo digestivo (para
problemas de estômago e aumentar a salivação). Em doses mais elevadas, era usada para aumentar as
secreções hepáticas e intestinais. Utilizava-se ainda para tratar a hidropisia (edema generalizado
devido à retenção de água nos tecidos e cavidades orgânicas) devido à descarga de água que provocava.
Dada a utilização no tratamento de verrugas, não é difícil admitir a curiosidade despertada nos
investigadores que, obviamente, tentaram encontrar os agentes causadores dessa inibição. Hoje é fácil
entender que se tenham encontrado compostos antineoplásicos.
Na Natureza, existem outras lenhanas também com propriedades antimitóticas. Contudo, a sua
toxicidade impede-lhe a utilização terapêutica. A maior parte das lenhanas encontradas na Natureza
não tem, provavelmente, qualquer interesse para o homem. No entanto, o caso muda de figura quando se
fala de interesse para a própria planta pois acreditamos que se as plantas as fazem é porque precisam
delas, nomeadamente como agentes de defesa.
Os principais constituintes da resina pertencem ao grupo das lenhanas, em que o composto em maior
concentração (20%) é a podofilotoxina, encontrando-se os seus componentes, livres e sob a forma de
glucósidos. Os principais componentes desta resina são:
56 Capítulo 7 – Lenhanas |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
R3 R2
Podofilotoxina (20%): R1 = CH3 ; R2 = OH ; R3 = H
O
α-Peltatina (5%): R1 = H ; R2 = H ; R3 = OH
O
β-Peltatina (15%): R1 = CH3 ; R2 = H ; R3 = OH
O
Desoxipodofilotoxina: R1 = CH3 ; R2 = H ; R3 = H
O
MeO OMe
OR1
No entanto, para além da podofilotoxina, existem ainda vários derivados deste composto, tais como:
O
Etopósido: R = CH3 R
O
Tenipósido: R =
S
(tienil) O
O
O
O
O
O
MeO OMe
OH
Actualmente, estas plantas são tóxicas: por ingestão, ou mesmo por contacto cutâneo, provocam
inicialmente problemas digestivos e, depois, encefalopatia e neuropatia periférica e toxicidade
hematológica. Em casos graves, provoca sintomas que podem durar vários meses (problemas de
locomoção e sequelas neurológicas diversas) e podem mesmo ser fatais.
| Capítulo 7 – Lenhanas 57
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
58 Capítulo 7 – Lenhanas |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
Capítulo 8 – Flavonóides
Os principais compostos fenólicos, onde se integram também os flavonóides, não se encontram livres
na Natureza, mas sob a forma de ésteres ou, mais geralmente, sob a forma de heterósidos. Os
flavonóides são moléculas de baixo peso molecular que se encontram amplamente distribuídas no reino
vegetal, estando presentes em toda a parte aérea das plantas. Todos têm por base a estrutura da
flavona (2-fenil-benzopirona) e incluem um enorme grupo de moléculas que divergem em pequenas
partes da sua estrutura básica.
Desta forma, conclui-se que o primeiro anel (anel A) é sintetizado via acetato, pela junção de três
moléculas de acetil-CoA, enquanto o resto da molécula é sintetizado com uma molécula de um ácido da
classe dos fenilpropanóides (pode ser o ácido cinâmico, o ácido p-cumárico ou, mais frequentemente, o
ácido cafeico ou outros), e por isso é sintetizado via chiquimato.
Respeitando a ordem biossintética, o primeiro anel é o anel A, o anel B é o que resulta da via
chiquimato e o anel C (que é o último a ser criado e pode até não existir) é o anel central. A numeração
destes compostos não respeita a biossíntese mas faz-se pelas regras convencionais de numeração.
Deste modo, um flavonóide é considerado uma cromona com um radical fenilo (portanto, uma
fenilcromona) e dá-se o número 1 ao heteroátomo seguindo a numeração pelo sentido dos ponteiros do
relógio e numerando, apenas no fim, os átomos de carbono quaternários.
| Capítulo 8 – Flavonóides 59
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
2. Classificação de flavonóides
Por uma questão de organização, é costume agrupar os flavonóides de acordo com a química do anel
central (anel C).
60 Capítulo 8 – Flavonóides |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
Os flavonóides estão muitas vezes hidroxilados nas posições 3, 5, 7, 3’, 4’ e 5’. Quando se formam
heterósidos, a ligação glicosídica está normalmente localizada na posição 3 ou 7 e as oses são
usualmente a L-ramnose, a D-glucose ou di-holósidos de glucose e ramnose.
As antocianinas são os glucósidos hidrossolúveis das antocianidinas e fazem parte dos fenóis com
15 átomos de carbono, conhecidos colectivamente como flavonóides com o típico sistema de anel-A
benzoil, e o anel-B hidroxicinamoil com um sistema de numeração dos carbonos igual a todos os outros
flavonóides.
Os flavonóides podem surgir na Natureza com os seus hidroxilos intactos. Contudo essa não é a
regra, mas antes a excepção. Assim, se a planta precisa de um composto menos polar, para o poder
armazenar em determinados locais mais apolares, vai fazer a metilação dos hidroxilos e em vez de
existirem radicais OH, passam a existir radicais OMe. Por outro lado, se a planta quer armazenar o
flavonóide numa forma mais polar, acrescenta-lhe açúcares, que vão ter posições preferenciais. Neste
caso, os açúcares podem ligar-se aos flavonóides através de um hidroxilo (formando um O-heterósido –
forma mais frequente) mas pode também ligar-se por uma ligação carbono-carbono (e forma um C-
heterósido). Acontece que os açúcares só fazem ligações carbono-carbono em dois locais: nas posições
6 e/ou 8 do anel A.
O prefixo “flavo” significa, por si só, amarelo, fazendo com que durante muito tempo se pensasse
que os flavonóides eram os responsáveis pelas colorações amarelas na Natureza. No entanto, se tivermo
em conta os espectros de absorção notamos que de facto a maioria dos compostos nem absorve no
visível. Por exemplo, as auronas (cujo nome significa obviamente, cor do ouro), aproximam-se mais dos
compostos corados.
| Capítulo 8 – Flavonóides 61
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
Por fim, as colorações amarelas da Natureza são geralmente da responsabilidade dos terpenóides
conjugados da família dos carotenóides como o β-caroteno
caroteno da cenoura ou do licopeno do tomate.
No entanto, as antocianinas,
aninas, quando em laboratório, podem assumir uma coloração azul ou vermelha
dependendo do pH. Estes factos fizeram-nos
fizeram nos pôr a hipótese de que nas células dos vegetais, a
coloração das antocianinas também depende do pH. Isto é, as células das uvas tintas (qu
(que de facto são
azuis) seriam alcalinas enquanto que as células da epiderme de uma maçã vermelha seriam ácidas. De
facto, não é assim.
De facto, a coloração das flores e dos frutos depende da co-pigmentação,, que não é mais do que
dizer que a coloração exibida
da depende do conjunto de pigmentos presentes, depende do arranjo desses
pigmentos e depende da presença de metais.
62 Capítulo 8 – Flavonóides |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
Delfinidina: R1 = OH, R2 = OH
Cianidina: R1 = OH, R2 = H
Petunidina: R1 = OH, R2 = OCH3
Peonidina: R1 = OCH3, R2 = H
Malvidina: R1 = OCH3, R2 = OCH3
branco, marfim, creme flavonas e/ou flavonóis 95% das flores "brancas"
amarelo carotenóides maioria das flores amarelas
flavonóis mais hidroxilados Primula
chalconas ou auronas Dahlia
carotenoides + flavonóis Coreopsis
Uma das funções que é atribuída aos flavonóides é, conforme já foi referido, a coloração das flores
e dos frutos. De qualquer forma, essa não é de certeza a única função, pois os flavonóides são
abundantes nas folhas verdes e mesmo em outras partes da planta nomeadamente em partes
subterrâneas.
Assim, os investigadores atribuem aos flavonóides a função de defender os tecidos vegetais das
radiações ultravioleta, uma vez que têm a capacidade de absorver bastante no UV. Esta hipótese foi
sobretudo fundamentada no facto de a clorofila (que é uma molécula sensível às radiações) ser
destruída nas plantas que, por mutação genética, não fazem flavonóides.
| Capítulo 8 – Flavonóides 63
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
Pontualmente, alguns flavonóides têm demonstrado estar implicados na relação das plantas com os
insectos. Nalguns casos estudados, os flavonóides mostraram funcionar como atractivos de certos
insectos mas noutros casos, os flavonóides exibiram propriedades antinutrientes para os insectos e, por
isso, desincentivando-os de se alimentarem nessas espécies vegetais.
Vitamínicos P
Anti-inflamatórios
Anti-alérgicos
Hepatoprotectores
Hipocolesterolemiantes
Diuréticos
Antioxidantes
Inibidores enzimáticos
Antibacterianos
Antivíricos
Estas propriedades não são propriedades gerais dos flavonóides. Trata-se antes, de um conjunto de
propreidades que já foram encontradas e evidenciadas em alguns flavonóides em particular.
Das propriedades citadas, talvez a mais bem estudada, a mais generalizada e a única que na Europa
tem aplicação terapêutica, é a chamada propriedade vitamínica P. De qualquer forma, convém referir
que esta designação foi atribuída aos flavonóides, porque conseguem curar certos sintomas que
aparecem paralelamente ao escorbuto e que não são curados pela administração de vitamina C apenas.
Os flavonóides, incluindo os antocianósidos e também alguns taninos e ainda outras substâncias, são
de facto substâncias (factores) capazes de aumentar a resistência dos capilares sanguíneos e diminuir
a sua permeabilidade (daí a designação de P).
Outras das propriedades mencionadas e bastante estudadas são a inibição enzimática e a anti-
oxidante. Estas propriedades estão estudadas sobretudo in vitro e não in vivo, mas poderão justificar a
sua interferência a nível do processo inflamatório, do sistema imunitário e dos processos em que
sabemos estarem implicados os radicais livres (como sejam a aterosclerose, o envelhecimento e certos
cancros). Estas actividades poderão, também, justificar parte das acções que a tradição costuma
atribuir a algumas plantas que hoje sabemos serem ricas em flavonóides.
64 Capítulo 8 – Flavonóides |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
O método mais clássico para apreciar a resistência dos capilares consiste em medir a depressão
necessária para provocar a sua rotura. A depressão é obtida por meio de uma ventosa aplicada na pele e
a rotura dos capilares manifesta-se pela formação de petéquias (pequenas manchas vermelhas,
punctiformes ou lenticulares). As situações em que se recomenda a utilização destes medicamentos são
sobretudo os problemas hemorroidários e as varizes mas também os de fragilidade capilar (que
provocam rebentamento dos capilares com aparecimento de raiados vermelhos na pele) e mesmo os de
metrorragias ligeiras (hemorragias uterinas).
8. Flavonóides comercializados
Existem duas principais classes de flavonóides comercializados:
Citroflavonóides – são muito utilizados pelos seus óleos essenciais, sendo também usados como
fontes de pectinas e flavonóides. Estes encontram-se maioritariamente no pericarpo, sobretudo sob a
forma de heterósidos de flavanonas. Estruturalmente, estes heterósidos implicam que dois
ramnoglucósidos se diferenciem: a rutinose e a hesperidose. Todos estes flavonóides podem ser
utilizados individualmente ou em associações várias, sendo que as principais utilizações se encontram
relacionadas com a insuficiência veio-linfática, o tratamento de transtornos funcionais de fragilidade
capilar, o tratamento de sintomas funcionais ligados a crises hemorroidais, etc.
Rutina (ou rutósido) – ainda que seja relativamente abundante na Natureza, apenas um pequeno
número de drogas contém rutina em quantidade suficiente para permitir a sua extracção industrial. A
rutina, individual ou associada, é proposta para ser utilizada em situações semelhantes às descritas
para os citroflavonóides.
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O CH2OH
HO O OMe
O
Silibina
OH OH
OH O
66 Capítulo 8 – Flavonóides |
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9.2. Ginkgo
O fármaco de ginkgo corresponde à folha seca, inteira ou fragmentada, de Ginkgo biloba L., e tendo
um teor mínimo de 0.5% de flavonóides calculados em heterósidos flavonóides (fármaco seco).
Actividade Farmacológica:
| Capítulo 8 – Flavonóides 67
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
Por comprovação clínica, são atribuídas ao extracto de ginkgo a capacidade de tratar os sintomas
da insuficiência cerebral do idoso (dificuldades de concentração, alterações da memória, confusão,
problemas do humor, falta de energia, cefaleias,…)
68 Capítulo 8 – Flavonóides |
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Capítulo 9 – Cumarinas
Se recordarmos a via chiquimato, um grupo de compostos que são sintetizados logo nos primeiros
passos é o dos ácidos cinâmicos (compostos C6 – C3, isto é, com um grupo fenilo e uma cadeia carbonada
com 3 átomos de carbono).
Mas, tendo em atenção que estes compostos derivam do ácido prefénico, é fácil de entender que
mais abundante será o ácido p-cumárico, uma vez que possui um hidroxilo em posição oposta à cadeia
carbonada, tal como acontece no ácido prefénico.
Os ácidos m-cumárico e o-cumárico também existem na Natureza, mas são mais raros uma vez que
implicam a existência de um conjunto de enzimas que não existem em todas as espécies.
O termo cumarina teve origem no nome vernáculo caribenho cumaru dado à fava-tonka, de cujas
sementes, em 1820, foi extraída a cumarina. Hoje conhecem-se centenas de cumarinas, todas derivadas
do 5,6-benzo-2-pirona (α-cromona) resultantes da existência de substituintes (OH, OCH3, CH3) no anel
benzénico, distinguindo-se nas cumarinas simples as C-preniladas e as O-preniladas.
Derivando das cumarinas simples conhecem-se outros compostos, muitos deles interessando à
terapêutica, tais como as furanocumarinas que contêm um anel furânico, as piranocumarinas lineares e
as piranocumarinas angulares, as cumarinas diméricas de que é exemplo o dicumarol e as
furanocromonas, caso da quelina.
As furanocumarinas derivariam das cumarinas simples, na hipótese mais aceite, por adição de uma
cadeia isopentenílica que, após formação de um epóxido por oxidação da dupla ligação dessa cadeia,
daria o anel furânico.
| Capítulo 9 – Cumarinas 69
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
No entanto, para além da via iniciada pelo ácido o-cumárico que vai originar a cumarina em
quantidade reduzida, existe outra via em que participa o ácido 2,4-di-hidroxicumárico que vai dar
origem à umbeliferona, em quantidade muito mais abundante que a cumarina.
Este facto permite concluir que dada a frequência da existência de hidroxilo na posição para,
podemos dizer que é mais abundante a umbeliferona do que a da cumarina pura e simples. Isto é, o ácido
o-cumárico é mais raro que o ácido 2,4-dihidroxicumárico, o que não significa que a síntese da
umbeliferona seja mais fácil.
HO HO O O
HO OH
O
Muitas das estruturas das cumarinas têm um ou mais radicais isoprénicos. As estruturas
isoprénicas são estruturas de 5 carbonos e uma ramificação no terceiro carbono e podem estar ligadas
ao núcleo cumarínico directamente (por uma ligação carbono-oxigénio ou através de um oxigénio).
70 Capítulo 9 – Cumarinas |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
Por sua vez, na estrutura da imperatorina, chalepsina e angelicina há um furano anexo ao núcleo
cumarínico, sendo que este anel furânico é também sintetizado com auxílio de uma unidade isoprénica
que entretanto perdeu os três carbonos terminais.
Se a unidade isoprénica (que deu origem ao furano) estava ligada ao carbono 6, há formação de um
furano na mesma linha do núcleo cumarínico e temos furanocumarinas lineares, como por exemplo a
imperatocumarina e a chalepsina. Se a unidade isoprénica (que deu origem ao furano) estava ligada ao
carbono 8, há formação de um furano fazendo um ângulo relativamente ao núcleo cumarínico e temos
furanocumarinas angulares como a angelicina.
3.1. Castanheiro-da-Índia
Em fitoterapia, o fármaco de castanheiro-da-Índia refere-se às cascas dos ramos, às folhas e por
vezes às sementes de Aesculus hippocastanum L.
3.2. Meliloto
O fármaco de meliloto consiste na sumidade florida, seca de Melilotus officinalis.
| Capítulo 9 – Cumarinas 71
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
3.3. Pilosela
O fármaco de pilosela consiste na planta inteira de Hieracium pilosella L.
3.4. Angélica
O fármaco de angélica é constituído pelos rizomas e raízes, inteiros ou fragmentados,
cuidadosamente secos de Angelica archangelica L., especificando que deve ter um teor, no mínimo, de
2.0 mL/kg de óleo essencial no fármaco seco.
Devido à presença de substâncias amargas (lactonas e resina) e do óleo essencial a raiz estimula as
secreções gastrointestinais. A acção sedativa é atribuída à angelicina. Externamente o óleo essencial
tem acção rubefaciente, pelo que é usado, em fricções, no reumatismo.
72 Capítulo 9 – Cumarinas |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
A PUVA tem também dado bons resultados no tratamento da psoríase, com a administração oral de
xantotoxina, antes do tratamento com os UV.
Admite-se que os psoralenos se entrecalem no DNA devido à sua natureza planar, o que facilita ar
reacção de cicloadição, iniciada pelos UV, entre as bases pirimídicas do DNA e o anel furano dos
psoralenos. No geral, os psoralenos são alergizantes, pelo que em condições normais se deve evitar o
seu contacto. Em pessoas sensíveis às plantas que os contêm e, em especial, aos óleos essenciais delas
obtidos, podem originar-se dermatites, por vezes acompanhadas de vesículas que muitas vezes evoluem
para a formação de bolhas volumosas, principalmente quando houve irradiação solar intensa.
5. Furanocumarinas e toxicidade
A relação entre as furanocumarinas e a toxicidade surgiu a partir de uma observação popular, pois
determinadas pessoas que tinham entrado em contacto com algumas espécies vegetais como as folhas
de figueira, a angélica, o aipo, a salsa ou a arruda, apresentavam várias queimaduras na pele exposta.
O passo seguinte era descobrir os compostos envolvidos na origem das queimaduras existentes,
tendo-se chegado à conclusão de que eram as furanocumarinas lineares como a chalepensina e os
compostos do tipo dos psoralenos.
Desta forma, iniciou-se a evolução na terapêutica pela PUVA que pode ser aplicada nestes casos
apresentados acima.
| Capítulo 9 – Cumarinas 73
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
A partir deste momento, surge a ideia de fabricar anticoagulantes pois há doenças que necessitam
destas substâncias como as tromboses. Tendo em conta o tempo de coagulação, é possível que se
administrem anticoagulantes, sendo que o dicumarol já não é utilizado em tratamentos humanos, mas
sim como raticida, pois quando é administrado em quantidades excessivas, o tempo de coagulação torna-
se demasiado longo e induzem-se hemorragias.
74 Capítulo 9 – Cumarinas |
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Capítulo 10 – Salicilatos
Os principais compostos descritos e designados por salicilatos derivam da classe dos ácidos
fenólicos, mais precisamente do ácido salicílico ou ácido o-hidroxibenzóico.
COOH
OH
1. Produtos comercializados
Salicilato de 2-hidroxietilo
Salicilato de colina
Salicilato de dietilamina
Salicilato de fenilpropilo
Salicilato de metilo
Ác. acetilsalicílico
Acetilsalicilato de lisina
2.1. Rainha-dos-prados
O fármaco rainha-dos-prados, também conhecido por ulmária, é constituído pelas sumidades
floridas secas, inteiras ou fragmentadas de Spirea ulmaria (Filipendula ulmaria).
Nas sumidades da planta verificou-se a presença de flavonóides sob a forma de heterósidos, tais
como o espireósido (glucósido do quercetol), o rutósido e o hiperósido, de taninos principalmente
hidrolisáveis, heterósidos de saliciliato de metilo e aldeído salicílico e ainda um óleo essencial.
| Capítulo 10 – Salicilatos 75
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
2.2. Salgueiro
No salgueiro, o fármaco é constituído pela casca, seca inteira ou fragmentada dos
ramos jovens ou porções inteiras, secas, dos ramúsculos do ano em curso, de várias
espécies do género Salix incluindo o Salix alba.
2.3. Choupo
No choupo, o fármaco é constituído pelas gemas foliares de Populus
nigra.
76 Capítulo 10 – Salicilatos |
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| Capítulo 10 – Salicilatos 77
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78 Capítulo 10 – Salicilatos |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
Capítulo 11 – Taninos
Inicialmente, empregou-se o termo “tanino” para substâncias de origem vegetal, utilizadas pelas
suas propriedades de curtir as peles, isto é, capazes de transformar a pele fresca dos animais em
material imputrescível e pouco permeável, estando a sua importância história relacionada com esta
propriedade.
Mais tarde, aplicou-se a definição de Bate-Smith e Swain: “compostos fenólicos hidrossolúveis, com
pesos moleculares entre 500 e 3000, que dão reacções comuns aos fenóis e que precipitam alcalóides,
gelatina e outras proteínas”.
Esta adstringência é devida à desnaturação das glicoproteínas da saliva fazendo com que ela perca
as suas propriedades lubrificantes. Por isso, os taninos desencorajam-nos de comermos, por exemplo,
os frutos ainda verdes (mais ricos em taninos). À medida que o fruto vai amadurecendo, vai perdendo o
teor em taninos e aumentando, normalmente, o teor em açúcar porque aí é do interesse da planta que o
fruto seja comido para poder dispersar as sementes.
A formação de radicais livres exige, habitualmente, a intervenção de luz que é capaz de provocar a
ruptura de ligações covalentes das moléculas para formação de radicais livres que, depois, se unem de
forma aleatória originando novas moléculas muito complexas.
| Capítulo 11 – Taninos 79
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
As novas perspectivas orientam para o facto de os taninos poderem vir a ser utilizados na
exploração das propriedades antioxidantes na prevenção de doenças em que os radicais livres estão
implicados (cancro, inflamação, etc.)
Porque precipitam as proteínas superficiais da pele e provocam vasoconstrição das arteríolas, podem
ser úteis para proteger a pele queimada contra invasão de microrganismos, evitam a perda de fluidos e
favorecem a regeneração dos tecidos. Um mecanismo semelhante pode justificar o seu uso tradicional
para proteger a mucosa gástrica em caso de úlcera. Por outro lado, ainda o facto de precipitarem as
proteínas, faz deles homeostáticos, em pequenas hemorragias, pois precipitam as proteínas do soro
sanguíneo. Os taninos podem, ainda, funcionar como antídotos em caso de envenenamento por alcalóides
(excepto a morfina) uma vez que os precipitam e impedem a sua passagem à corrente sanguínea.
3. Classificação de taninos
Nas plantas superiores têm-se distinguido, habitualmente, dois grupos de taninos estruturais e
biogeneticamente diferentes: taninos hidrolisáveis (galhotaninos e elagitaninos) e taninos
condensados.
80 Capítulo 11 – Taninos |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
| Capítulo 11 – Taninos 81
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
3.2.1. Monómeros
As unidades monoméricas estruturais, das proantocianidinas, são maioritariamente do tipo poli-
hidroxi-3-flavanol (são raras as proantocianidinas sem o grupo hidroxilo no carbono 3). A hidroxilação
dos anéis A e B determina a diversidade estrutural dos 3-flavanóis. Predomina a di-hidroxilação nos
dois anéis (5-OH e 7-OH, no anel A e 3’-OH e 4’-OH, no anel B). No entanto, tal como se ilustra na
tabela seguinte, ocorrem outros padrões de hidroxilação.
82 Capítulo 11 – Taninos |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
| Capítulo 11 – Taninos 83
Farmacognosia I - 1º Ano - FFUP 2006/2007
carbocatião. Em presença de ar, este carbocatião acaba por oxidar-se e dar origem a uma antocianidina.
Daí que seja comum chamar aos taninos condensados, proantocianidinas.
A degradação térmica e a fusão alcalin são técnicas que são praticadas sobre taninos já isolados e
não sobre soluções extractivas e por isso não as praticamos no laboratório. Hoje podemos obter mais e
melhores informações sobre a química estrutural dos taninos por meios mais modernos como a RMN e a
espectrometria de massa. De qualquer forma sabemos que estas técnicas implicavam quebras profundas
na molécula em análise, libertando os seus fragmentos.
Conforme já é do nosso conhecimento, todos os fenóis (ou quase todos) reagem com os sais de
ferro. Por razões mal conhecidas, os taninos gálhicos originam colorações azuis enquanto os taninos
condensados originam colorações esverdeadas. Provavelmente, isto será verdade depois de termos os
taninos devidamente separados uns dos outros. De qualquer forma, a experiência diz-nos que não é uma
reacção muito fiável e quando trabalhamos com um extracto vegetal (que acaba por ter sempre fenóis
de vários tipos) as colorações são muito enganadoras. Estas reacções coradas acabam quase sempre por
ser acompanhadas de precipitação devido à elevada massa molecular dos complexos formados. A química
envolvida nesta complexação é do mesmo tipo que já foi exemplificada para os flavonóides.
As reacções com o formol clorídrico, com a água de bromo e com a solução acética de acetato de
chumbo são reacções empíricas.
Hidrolisáveis Condensados
Aquecimento com ácidos minerais Decompõem-se em substâncias mais Precipitados vermelhos – flabofenos
simples e/ou antocianidinas
Solução de sais férricos Produtos corados de azul escuro Produtos corados de verde
84 Capítulo 11 – Taninos |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
5.1. Agrimónia
O fármaco de agrimónia é constituído pelas sumidades
floridas secas de Agrimonia eupatoria L., devendo ter, no
mínimo, 2.0% de taninos, expressos em pirogalhol no fármaco
seco.
5.2. Pé-de-leão
O fármaco pé-de-leão é constituído pela parte aérea florida, seca,
inteira ou fragmentada de Alchemilla xanthochlora Rothm, sendo que o
teor deve ser, no mínimo, 7.5% de taninos, expressos em pirogalhol no
fármaco seco.
| Capítulo 11 – Taninos 85
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5.3. Salgueirinha
As sumidades floridas secas, inteiras ou fragmentadas de
Lythrum salicaria L. constituem o fármaco salgueirinha. O fármaco
deve ter, no mínimo, 5.0% de taninos, expressos em pirogalhol no
fármaco seco.
5.4. Hamamélia
O fármaco hamamélia corresponde à folha seca, inteira ou fragmentada,
de Hamamelis virginiana L., com um teor mínimo de 7.0% em taninos,
expressos em pirogalhol.
5.5. Pirliteiro
A monografia do pirliteiro é inscrita como sendo o pseudo-fruto, seco, de Crataegus monogyna Jacq.,
C. laevigata D.C., seus híbridos, ou ainda de uma mistura dos seus pseudo-frutos, com um teor mínimo de
1.0% de procianidinas (expressas em cloreto de cianidina).
86 Capítulo 11 – Taninos |
Farmacognosia I – 1º Ano - FFUP 2006/2007
A este fármaco são também atribuídas propriedades sedativas do sistema nervoso central e sistema
nervoso autónomo, mais devidas aos flavonóides. Compensa os desequilíbrios neurovegetativos,
regularizando a tensão arterial e as arritmias. Tem propriedades antioxidantes.
| Capítulo 11 – Taninos 87