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AS MAGISTRATURAS
O magistrado eleito não recebe o poder (potestas) do magistrado anterior, isto é, não herda
dele os poderes. Não existe uma sucessão na transmissão do imperium. Cada magistrado
Romano que inicia funções após a eleição recebe o poder (imperium) diretamente do Populus,
fonte da legitimidade para o exercício de poderes políticos.
As magistraturas são colegiais e solidárias e os magistrados exercem um poder absoluto
(imperium) que está limitado pela intercessio dos collegi. A colegialidade não é uma divisão da
potestas que – como expressão da maiestas do populus - é indivisível, mas pode ser partilhada.
Logo a colegialidade e intercessio estão convencionadas sem afetar a essência da unidade
absoluta e indivisível da potestas. Cada um dos magistrados exerce a totalidade do imperium
que pode, no entanto, sofrer uma interrupção pela intercessio do colega que exerce um poder
igualmente absoluto indivisível.
O poder do magistrado tem uma base personalista que resulta diretamente da colegialidade
da magistratura. O magistrado exerce um poder pessoal separado e completo. A magistratura
não é um exercício conjunto e parcial de poderes por cada um dos magistrados. A magistratura
sendo dual, não é colegial. Por que os magistrados têm potestas. Não existe o collegium dos
magistrados embora eles sejam collegae porque potestas exclui colegialidade. Logo a
colegialidade é para a auctoritas e os collegae para a potestas.
A anualidade das magistraturas instituía a regra da responsabilidade daquele que exercia o
cargo. Cessadas as funções, respondia por aquilo que tinha feito no exercício do cargo. A
colegialidade (dualidade) de pessoas no exercício de um cargo político estabelecia uma regra
que limitava a possibilidade de abuso de poder no exercício de cargos supremos de um, através
da intercessio do outro.
O SENADO
Outra manifestação da maiestas Populi Romani é a autorictas patrum do Senado que se
expressa nos conselhos dados pelo Senado aos magistrados e que se concretiza nos senatus
consulta.
A auctoritas do Senado (o seu saber político socialmente reconhecido) limitava as decisões
dos titulares da potestas. Os senadores formam um collegium (porque têm auctoritas) mas não
são collegae, porque não tem potestas (só aqueles que são titulares de potestas são collegae).
A PLEBE E O PATRICIADO
Neste período, do início da res publica, a principal prioridade das comunidades era a defesa
face aos ataques externos. Daí que organização social e política seja determinada para esta
finalidade militar. Em Roma, a defesa da cidade ficaria garantida por um contingente fixo de
homens treinados para o efeito.
Só que a prosperidade económica e a política expansionista etrusca levaram um alargamento
dos critérios de concessão da cidadania e a criação de um exército diferente: maior e mais
organizado. Nesta nova forma de organização militar era a infantaria (combatentes a pé) que
detinha o papel principal, sobrepondo-se à cavalaria na decisão da batalha.
Ora esta alteração do fator militar decisivo determinado por uma mudança das táticas
militares com a transferência do poder efetivo da cavalaria para a infantaria refletiu-se no
plano político numa reivindicação de poder decisório da Plebe rompendo a hegemonia Patrícia.
Rompida no exército, a igualdade aritmética na distribuição de postos e honrarias militares
em paz e de partição do espólio capturado em guerra pelo novo critério pro habito
pecuniarum, o acesso e a ascensão política passam a ser também determinados pela riqueza
das pessoas e pelo prestígio das famílias assente em critérios de natureza económica.
A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA
O exército de Roma continuou a ser denominado centuriatus, por que manteve a
organização em centuriae (grupos formados por 100 homens em caso de guerra), mas a
distribuição dos soldados e dos postos no interior de cada uma passa a ser feita com base no
censo, isto é, determinada pela riqueza das famílias com prevalência dos próprio iure.
A cavalaria era onde estavam os patrícios (equites) e a infantaria era integrada por plebeus
(plebs). Estava um conjunto de pessoas que habitava em Roma (proletarii) mas não integrava o
sistema político nem era regulado pelo ordenamento jurídico, pois não tendo bens próprios
não estavam recenseadas. O sistema era de inscrição para a cidadania pela propriedade de
bens. Estes proletarii eram capite censi, isto é, recenseados como pessoas não como
proprietários.
Apesar disso, foi necessário organizar os proletarii em centurias que foram agregadas às
classes existentes.
Foi o rei sérvio Túlio que reorganizou a comunidade política romana, assente na cidadania,
com base no censo, ou seja, na riqueza das famílias. Esta reforma à qual se chama “reforma
serviana” foi um lento processo de reacerto da organização política são efetivado mais tarde
com as medidas relativas à propriedade do património móvel (que abrangem todos os grupos
sociais) introduzidas pelo censor ápio Cláudio, o cego .
A reforma serviana, durante a monarquia, foi o início de um processo nos séculos V-IV a.C.
com a constituição das centuriae como exercitus e a criação, ao lado dos comitia curiata, de
outras duas assembleias: os concilia plebis e o exercitus centuriatus, depois unificada nos
comitia. Logo, o exercitus centuriatus foi estruturado primeiro e só depois a complexidade
social determinou a criação de comícios centuriais; e as centúrias teriam nascido com o
exército, como divisões internas constituídas como assembleias políticas. O exercitus e os
comitia era o povo em armas já que a assembleia militar discutia as leges de bello indicendo e
outras questões relativas à condução dos assuntos comuns.
A nova organização política aproveitou as velhas estruturas organizativas, mantendo as
centuriaes não só como unidades territoriais de recrutamento militar (milites), mas também
como unidades de voto nos comícios.
Em virtude da organização por classes das centúrias, a votação por centúria mantinha o peso
político dos grandes proprietários fundiários e da cavalaria. Por outro lado, mantinha-se a
predominância dos mais velhos na vida política acreditando que a sua experiência de vida
manifestada como prudentia era fundamental para o acerto das decisões coletivas.
Esta divisão e integração das pessoas em grupos a partir de parâmetros de riqueza pela
aplicação de complexos critérios para aferir o património de cada um exige um
aperfeiçoamento de métodos e de estruturas que sustentavam a atividade classificadora
agregada no censo, presidida pelo rex e depois transferida, nos seus momentos
institucionalizadores, em 443 a.C., para uma magistratura: a censura.
Criada para organizar o censo dos cidadãos romanos de 5 em 5 anos com a finalidade de
tornar mais eficaz o recrutamento militar e a tributação de impostos os 2 sensores eleitos por 5
anos passaram também a administrar o ager publicus; a organizar a lista dos membros do
Senado e excluir dela todas as consideravam menos dignos desse munus; tinham poderes
discricionários para acusar uma pessoa de desrespeito pelos costumes e a moral de Roma. Não
tendo imperium, tinha um poder imenso sendo considerados os guardiões na moralidade na
cidade. Por isso são eleitas personalidades com grande prestígio e experiência normalmente
antigos cônsules.
Não houve com a ascensão da Plebe e a sua valorização política nos comícios centurais uma
revolução normativa, mantendo o ordenamento jurídico as linhas de diferenciação tradicionais.
Apenas mudou o elemento de diferenciação social, na medida em que passou a assentar no
censo, logo na riqueza de pessoas e de famílias.
Até aqui o privilégio social e domínio político eram determinados pela pertença a uma das
gentes patrícias de origem, agora, tais elementos de dominação política e social, têm uma base
económica, ou seja, são determinados pela riqueza e pela propriedade fundiária. Os plebeus
podiam ascender socialmente e conquistar maior poder político. O caminho era enriquecer e
fazia-se pelo negócio.
A atividade mercantil era um motor de desenvolvimento comunitário e de poder político.
Roma crescia no plano económico e a mobilidade permitida era causa efeito da necessidade de
reordenar a sociedade em paz através de regras jurídicas de organização política. A oligarquia
Patrícia que assentava o seu poder na propriedade fundiária tem de partilhar o poder com os
plebeus que, prestigiados na carreira das armas e enriquecidos no comércio, não aceitam
lugares subalternos.