Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DPC - Práticas 02 - 05
DPC - Práticas 02 - 05
1
falta de citação, mas sim a nulidade da citação, nos termos do artigo 191º do CPC, que
não é de conhecimento oficioso – artigo 196º a contrario do CPC.
Neste sentido, o segundo argumento da pessoa coletiva também não seria
procedente, já que a falta do duplicado não origina a falta de citação, mas sim a nulidade
da citação.
Nota: Existem vários fundamentos para a falta de citação, mas o seu fundamento mais
imediato é ter sido, em absoluto, omitido. Consoante os fundamentos da falta de citação,
o conhecimento pode ser ou não oficioso. Por regra, a falta de citação é de
conhecimento oficioso e pode, por regra, ser invocada a todo o tempo. Já a nulidade da
citação, por regra, não é de conhecimento oficioso e tem de ser arguida, por regra, no
prazo da contestação.
Quais são os efeitos da nulidade da citação? Sendo esta arguida no prazo, o ato é
como que “apagado dos autos” e tem de ser repetido, observando-se todas as
formalidades necessárias. Pelo contrário, a falta de citação origina tudo o que tiver sido
processado porque cai no artigo 187º do CPC, salvando-se a petição inicial, em alguns
casos. Em termos práticos, os regimes são muito próximos.
2
Se o réu afirma que não tem de pagar porque a autora não lhe entregou as
faturas, está a invocar a exceção do não cumprimento, nos termos do artigo 428º do CC,
já que estamos na lógica do sinalagma.
Do ponto de vista processual, estamos perante uma exceção perentória (do ponto
de vista doutrinal, seria uma exceção material) com efeitos modificativos do direito da
ação do autor (portanto, doutrinalmente, exceção material dilatória – artigos 576º nº1 e
3 e 579º do CPC). O autor, por efeito da exceção do não cumprimento, não fica privado
daqueles 20.000€, mas fica temporariamente privado daquele dinheiro.
Se a exceção fosse considerada procedente, em princípio, o réu seria absolvido
do pedido. No entanto, aqui não será assim, porque esta é uma exceção material
dilatória. Isto é assim porque a decisão que o tribunal vai tomar não vai ser a decisão
definitiva do litígio, vai ser uma decisão temporária do litígio. O tribunal vai condenar o
réu a cumprir a obrigação que lhe cabe quando o autor cumprir a obrigação que lhe
cabe. O efeito jurídico substantivo resultante da respetiva invocação da exceção de não
cumprimento não desonera o réu de cumprir a sua obrigação.
Assim sendo, a consequência de a ação ser julgada procedente é a condenação
de ambas as partes a cumprir as obrigações a que se vincularam, nos termos do contrato.
Ou seja, a condenação do réu a satisfazer a obrigação que lhe cabe no momento em que
o autor realize a respetiva contraprestação – artigo 610º do CPC.
Alínea c) Embora estivesse contratualmente acordado que a responsabilidade pelo
transporte das mercadorias até às instalações da Ré recaía sobre a Autora, foi a Ré
que o realizou, razão pela qual pretende ser ressarcida do valor em que incorreu
com essas despesas, 2.000€. Desta forma, apenas seria por si devida a quantia de
6.000€.
Neste caso, a própria ré transportou as mercadorias, ao contrário do que foi
acordado (que seria a autora). Neste sentido, vem pedir o montante de 2.000€, já que
teve despesas com o transporte.
Ora, estamos perante um pedido reconvencional. O réu está a pedir ao autor que
este pague uma certa quantia, ou seja, está a ser feito um contrapedido formulado pelo
réu (reconvinte) contra o autor (reconvindo).
A reconvenção está prevista no artigo 266º e artigo 583º do CPC. O primeiro
artigo prevê as hipóteses em que se admite um pedido reconvencional. Temos de ver se
o nosso caso se enquadra em algumas destas hipóteses. O nosso caso enquadra-se na
alínea c) 1ª parte do artigo mencionado – “A reconvenção é admissível nos seguintes
casos: quando o réu pretende o reconhecimento de um crédito seja para obter a
compensação seja para obter o pagamento do valor em que o crédito invocado excede
o do autor.”. Era admissível deduzir pedido reconvencional? Sim, nos termos do artigo
referido supra.
No entanto, além disto, existem requisitos formais da admissibilidade da
reconvenção, previstos no artigo 266º nº3 do CPC. Nos termos deste artigo, os dois
pedidos precisam de seguir a mesma forma do processo, o que parece estar preenchido,
já que ambos seguem a forma do processo comum.
Nota: a reconvenção não é uma peça totalmente diferente, já que é uma forma de
contestação do réu. De facto, pode haver uma contestação - defesa ou uma contestação -
reconvenção.
3
(i) condene adicionalmente a Autora no pagamento de juros de mora
relativos à quantia de 2.000€, mencionada, supra, sob 3.c);
(ii) no pagamento da quantia de 12.000€, resultante da compra e venda de
uma carrinha de transporte de vinhos; alegando, por fim, ter procedido entretanto
(iii) ao pagamento do remanescente da dívida, em 6.000€.
Existe aqui um princípio da estabilidade da instância, previsto no artigo 260º do
CPC. Este princípio prevê que aquando da citação do réu, à partida, a instância fica
estabilizada ao nível das partes, do pedido e da causa de pedir. Aqui a instância já
estaria estabilizada.
O réu pode pedir estes juros de mora, nesta fase processual? Temos de dar a
resposta olhando para a noção da ampliação do pedido: o réu estava a tentar ampliar o
pedido convencional. A ampliação do pedido segue algumas regras temporais e,
portanto, seria necessário ir ao artigo 265º nº2 do CPC. Aqui seria admissível a
ampliação do pedido reconvencional, ainda que na fase do julgamento, porque a
condenação nos juros de mora é uma consequência do pedido primitivo, ou seja, os
juros de mora são uma dependência do pedido principal de 2.000€. Então, a primeira
ampliação era de admitir.
Nota: Os juros de mora precisam de ser pedidos pela parte interessada, pelo que o
tribunal não poderia condenar em juros se a parte não pedisse.
Já a segunda ampliação (ii) não era admissível (o pagamento de 12.000€). Esta
ampliação não é admissível, porque este pedido não é um desenvolvimento /
consequência do pedido primitivo, sendo antes um pedido autónomo, que tem uma
natureza própria, considerando novamente o artigo 265º nº2 do CPC. No entanto, por
acordo das partes, ou seja, se as partes acordassem que fosse formulado este pedido,
esta ampliação, nesta fase processual, já seria de admitir, nos termos do artigo 264º do
CPC.
Nota: O artigo 264º prevê uma exceção: a ampliação do pedido não é possível por
acordo das partes salvo se a ampliação perturbar inconvenientemente a instrução,
discussão e julgamento do pedido. Esta exceção nunca é levantada, porque não se
definiu ainda bem o que é “perturbar inconvenientemente” a instrução, discussão e
julgamento do pedido.
Por último, nota-se que o tribunal deparou-se com um novo facto, o pagamento
anterior da dívida, alegado pelo réu. Isto constitui um facto objetivamente
superveniente, porque o réu terá pago os 6.000€ muito depois da contestação. Temos de
ir ao artigo 573º nº2 do CPC, que prevê os desvios ao princípio da concentração da
defesa na contestação, onde se pode invocar os factos supervenientes após a
contestação.
Neste sentido, temos de analisar os artigos 588º e 589º do CPC. Nos termos do
artigo 588º nº1 do CPC, a parte interessada na invocação dos factos supervenientes só
os pode invocar até ao encerramento da discussão. O nº2 distingue os factos
objetivamente supervisores e subjetivamente supervenientes. Depois temos de ver qual
o momento / prazo que a parte pode invocar os factos – artigo 588º nº3 do CPC. A
alínea c) enquadra-se nesta situação, que constitui o momento final da invocação deste
facto. O réu tem de provar que os fatos ocorreram após a contestação ou dos outros
momentos ou que ele teve conhecimento deles após a contestação.
Porque é que se admite que na audiência final se possa invocar estes factos?
Porque, nos termos do artigo 611º nº1 do CPC, a sentença deve considerar todos os
fatos ocorridos e do conhecimento das partes até aquele momento. Deste modo, era
admissível, através de articulado superveniente, a alegação deste facto.
4
Pergunta 5. O Tribunal julgou a ação – tal como constante do enunciado –
parcialmente procedente, condenando a Ré a cumprir a quantia de € 46 000. A
Autora entende que o Tribunal errou ao não julgar o pedido integralmente
procedente. Também a Ré, inconformada, pretende reagir, com fundamento em
que:
(i) a sentença era nula, dado que o Tribunal não explicitou com
desenvolvimento bastante as razões pelas quais não acolheu a defesa da Ré;
(ii) além de, nos termos gerais, ter sido o erro de julgamento a conduzir à
condenação nos referidos 46.000€.
Aprecie em que termos poderão as partes impugnar a sentença.
Temos uma hipótese de recurso, mais concretamente uma interposição de
recurso ordinário – de apelação. Se estamos perante um recurso ordinário temos de
considerar dois pressupostos para a sua admissibilidade: requisito do valor da causa e
requisito da sucumbência – artigo 629º nº1 do CPC. Para as hipóteses do artigo 629º nº2
e 3 não interessam estes requisitos.
Quanto ao valor da causa, uma vez que a quantia pedida na ação foi certa, então
o valor da causa é de 48.000€ - artigo 297º nº1 do CPC. Segundo o artigo 629º nº1, para
se poder recorrer, o valor da causa tem de ser superior ao valor da alçada do tribunal de
que se recorre – artigo 44 da LOSJ. Neste caso, este critério está preenchido.
Quanto à sucumbência, esta é o prejuízo para a parte que recorre considerando o
se pede. Para sabermos quem ficou prejudicado na ação, quem ficou vencido, temos de
analisar o artigo 631º do CPC. Perante esta decisão, tanto o autor como o réu são partes
vencidas - o autor pediu 48.000€ e viu o réu condenado em 46.000€ e o réu foi
condenado. A sucumbência do réu é de 46.000€. O prejuízo tem de ser superior a
metade da alçada do tribunal de que se recorre (neste caso metade da alçada é 2.500€),
logo quanto ao réu estava preenchido este requisito. Assim, o réu podia interpor recurso
ordinário para a Relação e este recurso é autónomo. Quanto ao autor o seu prejuízo é de
2.000€, que é inferior aos 2.500€. Assim, quanto ao autor falhava o requisito da
sucumbência, nos termos do artigo 629º nº1 do CPC.
O autor ficava impedido de interpor recurso autónomo, porque falha o critério da
sucumbência, e também não podia reclamar para o juiz porque não existem
fundamentos de nulidade ou de reforma (artigos 615 e 616º do CPC). No entanto,
poderia avaliar-se a interposição de um recurso subordinado -artigo 633º nº5 do CPC.
Um recurso independente ou autónomo é um recurso interposto pela parte
vencida, no prazo do artigo 638º do CPC que começa a contar da notificação da
sentença às partes. Estando as partes vencidas e os critérios preenchidos, podem avançar
com o recurso autónomo. Diz-se autónomo porque cada parte pode interpor recurso,
sendo independente na delimitação do conteúdo do mesmo.
Quanto ao recurso subordinado, a par dele existe o recurso principal
(independente). Para a parte que apresenta o recurso principal estão preenchidos os dois
requisitos. Assim, a parte vencida interpõe recurso e a outra parte que ficou vencida vai
poder, depois de ser notificada do recurso principal, ter um prazo para apresentar o
recurso subordinado. O prazo para a sua interposição só começa a decorrer após a
notificação do recurso independente, que por norma são 30 dias. Para além disso, o
tribunal só vai poder conhecer do objeto do recurso subordinado se conhecer do objeto
do recurso principal.
Em relação ao réu podia interpor recurso autónomo, porque tinha os dois
critérios preenchidos. Para além disso, o réu apresenta no seu recurso uma causa de
nulidade da sentença. Ora, estamos perante uma causa de nulidade uma vez que o juiz
5
não especificou os fundamentos de facto e de direito que justificaram a decisão – artigo
615º nº1 alínea b) do CPC.
Por parte dos tribunais, a interpretação feita deste artigo é de que a sentença só é
nula com base nesta alínea se faltar em absoluta a fundamentação de facto e de direito.
As deficiências de fundamentação de facto e de direito não são fundamento de nulidade
de sentença.
O nosso caso era de deficiência e não de falta absoluta de fundamentação, e, por
isso, não estava em causa a nulidade prevista no artigo 315º nº1 alínea b) do CPC. O réu
apresenta esta nulidade no requerimento de interposição de recurso – artigo 615º nº4 do
CPC –, sem prejuízo de, no seu âmbito, o juiz a quo a poder apreciar – artigo 617º do
CPC.
6
Pergunta 2. Como se caracteriza a ação principal, à luz da classificação contida no
art.10º do CPC?
Estamos perante uma ação inibitória, que se classifica como uma ação
declarativa de condenação – artigo 10 nº3 alínea b) parte final do CPC. As ações de
tutela inibitória são declarativas de condenação e nesta ação pretende-se condenar o réu
de se abster de praticar um facto (non facere) – aplicar uma nova taxa de ativação
prevista na Proposta de Tarifário Geral.