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1.

A disciplina de Direito das obrigações não é autónoma e representa uma similitude com o Direito das
coisas. Por isso, as suas características, os seus princípios e regimes jurídicos são idênticos na ordem
jurídica moçambicana. Comente

A presente afirmação enquadra-se na matéria relativa a destrinça entre o Direito das obrigações e os
direitos reais.

Discordo da afirmação, o direito das obrigações é um ramo de direito autónomo e, apesar de alguma
incidência nas características (como a patrimonialidade).

Existe uma diferença, pois o direito das obrigações caracteriza-se pela necessidade de mediação ou
colaboração do devedor para ser exercido, assim mesmo quando a prestação tiver por objecto uma
coisa, o credor não tem nenhum direito imediato sobre ela, o que só sucederia se possuísse um direito
real. Enquanto que no direito das coisas o titular do direito subjetivo não necessita de colaboração de
ninguém para exercer seu direito, o seu direito incide imediatamente sobre a coisa, é um direito
absoluto e sem relação, isto é, não existe algo parecido com uma relação jurídica, pois a situação se
estabelece entre um sujeito e uma coisa. Por isso, pode-se dizer que se acha uma diferença também no
tocante a relatividade que caracteriza o direito das obrigações, mas não se verifica no direito das coisas.
Assim, o direito de crédito assenta numa relação, o que implica que tenha que ser exercido contra o
devedor, enquanto o direito real não assenta em nenhuma relação, dado que se exerce directamente
sobre a coisa, podendo ser oposto a qualquer pessoa (oponibilidade erga omnes).

2. Vide o acórdão do venerado Tribunal Supremo, tratado nas aulas de direito das obrigações relativo
aos Contratos-Promessa, celebrado no período colonial e não concluído na época e, comente a posição
jurisprudencial adoptada pelo tribunal, nesta matéria como solução jurídica.

R: Estamos na Unidade temática relativa a constituição das obrigações, pois, Rocha vinculou-se para com
outrem (os autores) à realização de uma prestação (prestação de facto jurídico, a celebração do
contrato de compra e venda).

Especificamente na matéria relativa aos contratos-promessa, pois o promitente vendedor, Rocha, e os


promitentes compradores, os autores, obrigaram-se a celebrar o contrato de compra e venda (art. 410
do CC) Mediante a entrega de um valor monetário, que faz presumir, nos temos do art. 441 do CC, a
constituição do sinal.

Acontece que para a celebração do contrato definitivo (contrato de compra e venda) Exige-se escritura
pública, nos termos do art. 875 e, nesses casos, em que a lei exige documento autêntico para a
celebração do contrato definitivo, de acordo com o art. 410 nº 2, a promessa só vale se constar de
documento assinado pelos que se obrigam a celebrar o contrato definitivo (podendo a promessa ser
feita por documento particular). Do acórdão resulta que só o promitente vendedor assinou o contrato-
promessa, faltando a assinatura dos autores e nos casos em que o contrato-promessa que se pretende
que seja bilateral assinado por um dos promitentes, a doutrina dominante considera a existência de
uma nulidade parcial, o que justifica a aplicação do regime da redução (art. 292), aplicando-se, assim, o
regime do contrato promessa unilateral, como, apesar de não concordar com os fundamentos, concluiu
o Tribunal supremo. Considera-se então vinculado apenas o promitente vendedor, quem assinou o
contrato promessa.

Não procede o argumento segundo o qual "os autores não podem arrogar-se direitos, pois não intervêm
no contrato-promessa", pois, entre o promitente vendedor e os autores existe uma relação jurídico-
obrigacional. O promitente vendedor ficou adstrito para com os autores a realização de uma prestação
de facto jurídico (arts. 397, 410) sendo aquele devedor e os autores credores, pois tem o direito de
exigir que o promitente vendedor preste aquilo a que se vinculou, a celebração do contrato.

Os autores exigem uma execução específica, o que não pode proceder visto que a entrega de um valor
monetário, faz presumir, nos temos do art. 441 do CC, a constituição do sinal e nesses casos, em que há
constituição de sinal, de acordo com o o art. 830 nºs 1 e 2, não é possível a execução específica. Os
autores podem exigir aos sucessores do promitente (no caso o Estado), a restituição em dobro do valor
prestado, nos termos do art. 442 nº2.

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