Você está na página 1de 14

AULA 4:

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – PARTE GERAL

1. CONCEITO:

Teoria escalonada ou pirâmide de Kelsen:

- CR;
- EC;
- ADCT;
- TIDH com NORMAS
hierarquia de EC

- LC;
- LO;
- MP;
Passíveis de ADI - DL; ATOS
- Resol. Legislat;
- Tratados e convenções
que não tratam de DH;
- Decretos autônomos

- Portarias;
- Instruções Normativas; ATOS
- Decreto regulamentador
(...)

NORMAS CONTITUCIONAIS são aquelas que têm hierarquia constitucional (formalmente). São
as que estão na:

 CR;
 EC;
 ADCT;
 Tratados internacionais sobre direitos humanos aprovados como EC.

ATOS PRIMÁRIOS: art. 59, salvo EC

 LC;
 Leis ordinárias;
 Leis delegadas;
 MP;
 DL;
 Resoluções;
 Tratados e convenções que não versam sobre direito humanos;
 Decretos autônomos (art. 84, VI, CR).

ATOS SECUNDÁRIOS visam o melhor cumprimento da lei. Exemplos: portarias, instruções


normativas, decreto regulamentador.
Atenção: EC 45/2004 – tratados internacionais sobre direitos humanos que forem votados
como EC tem hierarquia de emenda. Requisitos:

o Matéria (direitos humanos) ***se não, será ato primário.


o Formal (votado como EC).

RE 466.243: Se o tratado versar sobre direitos humanos, mas não cumprir o requisito formal
(não foi votado como EC), não será nem norma constitucional, nem ato primário! Será NORMA
SUPRALEGAL. Exemplo: Pacto de São José da Costa Rica.

Logo, após 2004:

- CR;
- EC;
- ADCT; NORMAS
- TIDH com
hierarquia de EC

-Tratados internacionais de
direitos humanos sem
NORMAS
aprovação como EC

- LC;
- LO;
- MP;
- DL;
Passíveis de ADI - Resol. Legislat;
- Tratados e convenções ATOS
que não tratam de DH;
- Decretos autônomos

- Portarias;
- Instruções Normativas;
- Decreto regulamentador
ATOS
(...)

Assim, percebemos que os TRATADOS INTERNACIONAIS podem ter 3 status no Brasil:

 NORMA CONSTITUCIONAL: se fala sobre direitos humanos + votação como EC;


 NORMA SUPRALEGAL: direitos humanos, sem votação como EC.
 ATO PRIMÁRIO: não fala sobre direitos humanos.

Para o tratado internacional ser internalizado, precisa passar por 3 fases:

Assinatura – Itamaraty – Legislativo vai autorizar a internalização por meio de Decreto


Legislativo (aqui se vê se vai ou não ser cumprido o requisito formal, aqui vemos como o
legislativo vai votar: norma constitucional ou norma supralegal) – Assinado o tratado, o
responsável volta no organismo internacional para dizer que o Brasil vai cumprir o tratado
(Depósito no organismo internacional) – Decreto executivo.
Obs: se quiser mover ADI, move contra o decreto executivo, porque ele é o texto do tratado
aqui no Brasil. Também pode mover ADI contra o decreto legislativo que autorizou a
internalização do tratado.

O decreto legislativo (Congresso Nacional), em suma, tem suas hipóteses materiais no Art. 49
da CR.

No topo da cadeia hierárquica estão as normas constitucionais. Assim, todas as demais normas
da pirâmide devem render vassalagem à elas. Todas devem estar de acordo com o que elas
determinam.

O controle de constitucionalidade nada mais é do que analisar a compatibilidade das normas


inferiores frente às normas constitucionais.

O controle de constitucionalidade é o juízo de adequação entre as normas infraconstitucionais


e a Constituição (e também EC).

2. ORIGEM:

Isso provavelmente não vai cair, porque é mais conceitual. Surgiu no século IV a.C, no caso
do “graphé paranamon”, mas esse caso não é muito apontado como a origem (fala-se mais
no caso Marbury vs. Madison.

Em 1610 tivemos o caso do Dr. Bonham’s case, na Inglaterra, onde Edward Coke julgou um
caso em que Bonham exerceu a medicina ilegalmente, e quem julgava, analisava e punia
esses casos era o Conselho de medicina. Por isso, Coke entendeu que isso era
inconstitucional.

Para a prova, deve apontar a origem em 1803 no caso Marbury vs. Madison. Era uma
discussão lírica sobre poder, sobre nomeação de cargos, onde o controle foi usado para
que o juiz não julgasse o caso (Marshall utilizou a Constituição para dizer que era
incompetente para julgar o caso).

3. PRESSUPOSTOS:

3.1. Existência de Constituição rígida: é a rigidez constitucional que dá a hierarquia à ela. A


CR só é superior hierarquicamente às outras normas porque ela é rígida.
3.2. Supremacia constitucional
3.3. Existência de órgão de controle: STF, se o parâmetro for a CR; TJ, se o parâmetro for a
Constituição do Estado.

4. BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE:

Todo controle de constitucionalidade terá uma norma parâmetro é uma norma objeto do
controle. Norma constitucional de um lado e norma infraconstitucional de outro lado.

As normas constitucionais geralmente servem de parâmetro para controle, e as normas


infraconstitucionais servem de objeto de controle.

Antigamente, o parâmetro para controle de constitucionalidade era a Constituição. Só que


hoje isso mudou. Hoje, o parâmetro de controle de constitucionalidade não é só a CR. O
parâmetro foi ampliado para o BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE.
O bloco de constitucionalidade é o conjunto de dispositivos que servem de parâmetro para
o controle. É o conjunto de:

 Regras
 Princípios
 Valores constitucionais
 Dispositivos do ADCT
 Emendas Constitucionais
 Tratados e convenções internacionais com hierarquia constitucional

Jurisprudência:

ADI 2240/BA – o município não cumpriu todos os dispositivos constitucionais de criação,


porém, a ADI demorou muito a ser julgada, e os municípios já existiam de fato, já estavam
em situação consolidada. STF disse que a hipótese consubstancia reconhecimento do
acolhimento da força normativa dos fatos (é um valor que a CR emana). Disse também que
o princípio da segurança jurídica próspera em benefício da preservação do município, bem
como o princípio da continuidade do Estado. Mesmo ofendendo a Constituição, o STF usou
princípios e valores como parâmetro do controle de constitucionalidade, porque acabar
com o município geraria prejuízo maior do que aceita-lo.

ADI 2649/DF – ABRATI moveu ADI impugnando uma lei que concedia transporte gratuito
para deficientes físicos carentes em ônibus nas rodovias interestaduais. STF julgou
improcedente, com base na Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência (tem
hierarquia constitucional) e os valores que norteiam a Constituição no preâmbulo. O
preâmbulo da CR não é norma constitucional e não serve de parâmetro para controle de
constitucionalidade, mas os valores nele contidos servem.

5. TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE:

5.1.Formal, nomodinâmica ou extrínseca:

Houve algum procedimento irregular que gerou a inconstitucionalidade. É uma


inconstitucionalidade fora da lei. Ela pode ser:

a) Subjetiva: há um vício de iniciativa. PROVA! Já caiu muitas vezes: deputado federal,


senador ou outra pessoa teve iniciativa para criar cargo na administração pública ou
aumentar remuneração. Se esse servidor não for do legislativo, o legislativo não pode
aumentar remuneração e nem criar cargo! A competência é do Executivo. Art. 61, §1º,
II, “a”. Quando virmos processo legislativo
b) Objetiva, ritual ou processual: quando a inconstitucionalidade é no procedimento. Ex:
LC tem que ser aprovada por maioria absoluta, e foi aprovada por maioria simples,
c) Orgânica: o vício é no órgão competente. O vicio não é na iniciativa, é no órgão. Aqui,
falamos em entes federativos (e não executivo, legislativo e judiciário como é na
subjetiva). Ex: competência é do Município, e a União tem a iniciativa. Caso: STF julgou
inconstitucional uma lei do estado do Rio de Janeiro que concedia fila preferencial
para idosos, gestantes e deficientes em banco, porque o órgão competente para
elaborar essa lei é o Município.
d) Por violação de pressuposto objetivo de ato normativo: nada mais é do que quando,
para edição da lei, é exigido algum requisito que na verdade não existe. Ex: para editar
MP deve haver relevância para o interesse público e urgência na edição, não pode
esperar. O presidente edita medida provisória para aumentar os salários dos ministros
de estado – isso não é relevante para o interesse público. Há uma
inconstitucionalidade, porque houve violação de um pressuposto que o ato normativo
exigia.

5.2. Inconstitucionalidade material, nomoestática, de conteúdo, doutrinária, substancial ou


intrínseca:

Está no texto (nomoestática). O vicio é na matéria.

 Inconstitucionalidade temporal: pode ser tanto formal quanto material.

Exemplo1: a CR exige que as leis orçamentárias tenham prazo de um ano. Se um entre


federativa elabora a lei dizendo que a norma produzirá efeitos por dois anos, há uma
inconstitucionalidade temporal. Errou o tempo (pela CR é 1 ano) e o vicio é na matéria.

Exemplo2: MP deve ser convertida em lei em 45 dias, senão, tranca a pauta e produz
efeitos por 60 dias mais 60 dias. Supondo que passou o tempo, mas depois publicou-se a
lei. A lei teve um vício de TPI (o tempo já havia se esgotado quando a lei foi editada), mas
ninguém percebeu. A lei tem um vício formal e temporal ao mesmo tempo.

5.3.Inconstitucionalidade por vício de decoro parlamentar ou finalística:

O agente, ao elaborar a norma, tem uma intenção diferente do que o interesse público.
Exemplo: político que recebe dinheiro para votar conforme interesses do corruptor, e não
de acordo com a vontade do povo. O vicio não necessariamente está na matéria, e nem na
forma. O vicio está na intenção do agente em votar aquela lei. É casuístico e é preciso
comprovar a vontade do agente em determinada lei. É muito difícil provar.

5.4.Inconstitucionalidade por ação:

O ato praticado gerou a inconstitucionalidade.

5.5.Inconstitucionalidade por omissão:

A inércia gera a inconstitucionalidade.

5.6.Inconstitucionalidade total:

Surge quando a norma é toda inconstitucional.

5.7.Inconstitucionalidade parcial:

Ocorre quando parte da norma é declarada inconstitucional.

 Princípio da parcelaridade: possibilidade de negar vigência à uma palavra.

Atenção: Art. 66. §2º – não se aplica esse princípio ao veto parcial. O veto precisa ser
integral ao artigo, inciso ou alínea.

É possível aplicar esse princípio e declarar a inconstitucionalidade de uma palavra de todo


o texto, mas, se declarar a inconstitucionalidade de uma palavra do texto mudar o sentido
do texto ou deixá-lo sem sentido, é necessário estender a inconstitucionalidade para todo
o texto. A inconstitucionalidade seria arrastada – a inconstitucionalidade parcial pode
gerar a inconstitucionalidade total, em razão da dependência de uma parte sobre a outra.
Há dois tipos de dependência:

– Lógica: quando a parte não tiver existência autônoma. Exemplo: lei que trata de “crimes”
e “procedimento para os crimes”, e só a parte dos crimes é declarada inconstitucional. Não
faz sentido manter a lei que prevê procedimento para esses tais crimes que foram
declarados inconstitucionais.

– Teleológica: quando a declaração de inconstitucionalidade mudar a finalidade da norma.


Exemplo: uma norma proibitiva diz “não será possível...”, e o STF declara a
inconstitucionalidade da palavra “não”, e a norma que era proibitiva passa a ser
permissiva. O STF não pode fazer isso, porque ele não pode mudar a finalidade da norma.
Se o fizer, estará atuando como legislador positivo, usurpando função. O STF só pode atuar
como legislador negativo, ou seja, negar vigência à lei através da declaração de
inconstitucionalidade.

 Inconstitucionalidade formal-parcial:

Em regra, quando o vicio é na forma, a lei é toda inconstitucional. Mas é possível sim que a
inconstitucionalidade seja na forma e só parcialmente inconstitucional. Ex: deputado
federal tem iniciativa de projeto de lei, onde seria de iniciativa dele mesmo, mas no texto e
coloca um artigo que é de competência do Executivo. Apenas nesse artigo específico é
inconstitucional.

5.8.Inconstitucionalidade consequente, consequencial, por arrastamento, secundária,


por reverberação normativa ou por atração:

Incide sobre a norma que encontrava seu fundamento de validade na lei declarada
inconstitucional. Exemplo: STF declara a inconstitucionalidade de uma lei. O decreto que
regulamenta essa lei não tem mais motivo para existir. Então, o STF pode arrastar a
declaração de inconstitucionalidade ao decreto, porque existe uma dependência lógica
entre ele e a lei.

– Acaba sendo uma exceção ao princípio da adstrição ou congruência: esse princípio


significa dizer que o juiz está vinculado ao pedido. Se o legitimado pediu a
inconstitucionalidade da Lei X, o STF não pode declarar a inconstitucionalidade da Lei Y.
Ocorre que, no caso da inconstitucionalidade por arrastamento, acaba sendo uma
exceção, porque não foi pedida a inconstitucionalidade do decreto, mas o STF pode
arrastar.

– Hipóteses: a diferença é o grau hierárquico entre a norma inconstitucional e a norma


arrastada.

a) Inconstitucionalidade por arrastamento horizontal = não existe hierarquia entre a


norma inconstitucional e a norma arrastada. Ex: declarar inconstitucionalidade do
caput de um artigo é o STF estende para os parágrafos, incisos ou alíneas.
b) Inconstitucionalidade por arrastamento vertical = há hierarquia entre a norma
inconstitucional e a norma arrastada. Exemplo do decreto e da lei inconstitucional.

ADI 3236/DF: a inconstitucionalidade dos Arts. 1º e 2º da Lei 3228/93 determina a


declaração de inconstitucionalidade das demais normas por arrastamento, por se
tornarem ineficazes, quando não exequíveis, sem aqueles dispositivos.

5.9.Inconstitucionalidade reflexa, por via oblíqua ou por ato interposto:


Não confundir com a inconstitucionalidade por arrastamento!

Na inconstitucionalidade por arrastamento, o STF declara a inconstitucionalidade de uma


norma e arrasta essa inconstitucionalidade para a norma dependente.

Na inconstitucionalidade reflexa, o STF controla a inconstitucionalidade diretamente de


uma norma que não está ligada diretamente à Constituição. A inconstitucionalidade é
reflexa, só reflete na Constituição. Existe um ato interposto entre a norma objeto e a
norma parâmetro.

CR ——— LEI ——— DEC

O STF não admite o controle de constitucionalidade por ADI para declarar


inconstitucionalidade reflexa.

Porém, há uma posição no STF que a FGV já cobrou, que é possível controle de uma norma
por inconstitucionalidade reflexa por meio de ADPF. Isso porque a ADI só cabe para
normas que estão imediatamente ligadas à Constituição. Normas que estejam ligadas à CR
de forma mediata não cabe ADI, mas sim ação subsidiária de controle = ADPF. Art. 4º, §1º,
Lei 9882.

5.10. Inconstitucionalidade superveniente:

Ocorre quando a norma nasce constitucional e, por motivos supervenientes, ela passa a
ser inconstitucional.

A lei foi editada em conformidade com a Constituição. Porém, depois da edição dessa lei,
houve uma mutação constitucional, ou seja, uma mudança de entendimento de um
dispositivo constitucional. Essa mudança de entendimento faz com que essa lei se torne
incompatível como amova interpretação dada ao artigo parâmetro.

Exemplo: união homoafetiva. Vamos supor que uma lei estadual dissesse que “é proibido
casamento entre pessoas do mesmo sexo”. Como a Constituição diz “a união entre homem
e mulher (...)”, a princípio, essa lei é constitucional. Mas o STF veio praticando mutação no
Art. 226, §3º, dizendo que pessoas do mesmo sexo podem sim se relacionar e constituir
união estável. A lei então passou a ser inconstitucional de acordo com a nova
interpretação do texto.

o É possível o STF declarar a norma constitucional por ADC e depois declarar


inconstitucional por ADI?

Sim, em razão da mutação constitucional. Logo, é incorreto dizer que a ADC vem trazer a
presunção absoluta de constitucionalidade da norma, porque posteriormente, pela
mutação constitucional, a presunção pode ser afastada.

o É possível que o STF declare norma inconstitucional e depois declare


constitucional?
Não, porque a norma para ser controlada, seja por ADI ou por ADC, precisa estar em vigor.
Se o STF declara uma norma inconstitucional, ela perde sua vigência, não podendo ser
reanalisada pelo STF.

o ATENÇÃO: e se sobrevive uma EC? É possível que a li que foi declarada


constitucional pela ADC seja objeto de ADI para declarar inconstitucional?

Não! Quando o STF declara a norma constitucional por ADC e depois vem uma EC
mudando o texto da constituição formalmente, não cabe ADI. Isso porque quando vem
uma EC é o poder constituinte reformador se manifestando, e a lei passa a ser considerada
uma lei anterior à norma parâmetro (e ADI só cabe de norma posterior). É necessário fazer
a filtragem constitucional para analisar a recepção ou não recepção dessa norma. Então,
neste caso, não seria inconstitucionalidade superveniente. É caso de não recepção ou
revogação.

Então, por exemplo: Cuidado! Pode cair na prova, e muda a peça:

Lei de 2010 – Mutação constitucional – Caberá ADI

Le de 2010 – Emenda Constitucional 2013 – Caberá ADPF (porque a lei se tornou anterior à
norma parâmetro) para pedir a não recepção.

o “O STF não admite a inconstitucionalidade superveniente”:

Não admite, nos moldes da doutrina europeia, mas admite quando há mutação constitucional.
Na doutrina europeia, existe um fenômeno da inconstitucionalidade superveniente. Cuidado
para não confundir. Lá não existe “não recepção”, é tudo inconstitucionalidade superveniente
(e isso é o que não existe aqui): tanto no caso de ocorrer mutação constitucional ou sobrevir
emenda constitucional, será inconstitucionalidade superveniente.

o Além disso, o Brasil não admite a constitucionalidade superveniente (aí em


nenhuma hipótese).

Se uma lei nasce inconstitucional, mas ninguém a impugna, e depois vem uma EC que sana
essa inconstitucionalidade, o vicio não será convalidado. A EC acaba tornando compatível uma
lei que nasceu incompatível com a CR. A norma inconstitucional morre inconstitucional. Não
há como o vicio de inconstitucionalidade se convalidar.

ADI 2158/PR: em nosso ordenamento, não se admite a figura da constitucionalidade


superveniente. A lei 12.398/98, que criou a contribuição dos inativos no Estado do Paraná, por
ser inconstitucional ao tempo de sua edição, não poderia ser convalidado pela EC 41/2003.

5.11. Inconstitucionalidade chapada, desvairada ou enlouquecida:

É a inconstitucionalidade escancarada, que está visível. Ex: uma lei que diga que compete
ao legislativo julgar crime de trânsito.

5.12. Inconstitucionalidade implícita:

É aquela que não está na cara, que depende de interpretação para chegar até ela.

5.13. Inconstitucionalidade progressiva ou lei “ainda” constitucional ou declaração


de constitucionalidade de norma em trânsito para inconstitucionalidade:
Às vezes a norma é constitucional, mas daqui a pouco vai deixar de se-lo. O STF diz que na
medida em que ocorrer alguma coisa, ela vai deixar de ser constitucional. O STF estipula
um evento que pode acontecer é, acontecendo esse evento, será inconstitucional.

Exemplo: RE 135.328/SP – Art. 134, CR. Há estados que ainda não regulamentaram para
materializar suas defensórias públicas. Em contrapartida, existe o Art. 68 do CPP dizendo
que compete ao MP promover ação civil ex delito quando as pessoas forem
hipossuficientes. Esse artigo colide diretamente com o Art. 134, porque quem defende os
interesses dos hipossuficientes é a Defensoria Pública (logo: não recepcionado). O
problema é que tem estados que não tem defensoria, então, para garantir o acesso à
justiça, decidiu-se mantê-lo em vigor, enquanto não criada por lei a Defensoria Pública.

6. NATUREZA JURÍDICA:

Duas vertentes:

a) Natureza constitutiva negativa / desconstitutiva: ato seria anulável


b) Natureza declaratória: norma é nula. Essa é a teoria adotada no Brasil. Isso porque, a
norma, quando nasce ofendendo a CR, é inválida e eficaz. Porém, quando o STF julga
uma norma inconstitucional, aquela norma que já era invalida passa a ser ineficaz,
invalida, ela sempre foi, é uma inconstitucionalidade não convalesce jamais. Não há
chance da norma se tornar válida.

Consequências:

 A norma já nasce morta, por isso, não deveria ter produzido efeitos. Assim, as decisões
tem efeitos ex tunc, para atingir situações pretéritas
 Ocorre o efeito repristinatório (Art. 11, Lei 9868/99): fazendo com que a lei anterior
volte automaticamente a vigorar, salvo expressa manifestação em sentido contrário.

Não confundir: efeito repristinatório com repristinação

A repristinação está no Art. 2º, §3º da LINDB.

Lei 1 – Lei 2 – Lei 3

Lei 2 revoga a Lei. Lei 3 revoga Lei 2. É possível que a Lei 3 diga expressamente que a Lei 1
volta a vigorar. Isso é repristinação: quando a lei que revogou a lei revogadora diz que a
norma revogada inicialmente volta a vigorar. Aqui falo em revogação.

O efeito repristinatório ocorre quando a Lei 2 revoga a Lei 1 e o STF declara


inconstitucional a Lei 2. Então, a lei 1 automaticamente volta a vigorar, salvo se o STF
disser expressamente que não. Aqui falo de inconstitucionalidade.

Obs: a ação direita interventiva (quando viola Art. 34, VII e 36, III) tem natureza
condenatória. O STF pode julgar condenando um órgão a sofrer a intervenção.

Estamos então diante de nulidade e não de inexistência da norma.

7. TÉCNICAS DE DECISÃO EM SEDE DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE:

7.1.Momentos da norma inconstitucional:


a) Antes do controle de constitucionalidade , a norma é inválida e eficaz, em razão da
presunção de constitucionalidade.
b) Após a declaração de inconstitucionalidade , a norma é inválida e ineficaz (pára de
produzir efeitos).
c) Declarada a inconstitucionalidade com modulação dos efeitos , é uma hipótese de
nulidade que produz efeitos.

7.2.Técnica de decisão:

Existem várias técnicas de decisão: declaração de constitucionalidade, declaração de


inconstitucionalidade, declaração de inconstitucionalidade por omissão, declaração de não
recepção etc. Duas causam muita confusão, e já foram objeto de prova: declaração de
nulidade sem redução de texto e interpretação conforme a Constituição.

Técnica de decisão Declaração de nulidade Interpretação conforme a


sem redução do texto Constituição
Consequência Declara a Declara a
inconstitucionalidade de constitucionalidade de uma
uma interpretação interpretação

Essas duas decisões do STF não são sobre a norma, são sobre a interpretação dada à norma.
Uma coisa é declarar a inconstitucionalidade de uma lei, e outra é declarar a
inconstitucionalidade de interpretação dessa lei.

Há normas que são polissêmicas, ou seja, dotadas de várias interpretações significados. Dentre
eles, o STF pode pegar alguma interpretação é declarar inconstitucional. Não reduz o texto e
nem pronuncia a nulidade, porque ainda existem interpretações possíveis para aquela norma.
Isso é uma técnica de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade ou
inconstitucionalidade sem redução de texto.

Outra coisa é a técnica que declara a constitucionalidade de uma interpretação. O STF pega
todas as interpretações possíveis sobre aquela norma e diz “a constitucional é essa X”,
negando todas as outras.

7.3.Modulação dos efeitos:

Art. 27 da Lei 9868/99.

A modulação dos efeitos só se aplica em declarações de inconstitucionalidade.

Os fundamentos materiais que justificam a modulação são:

 Segurança jurídica
 Excepcional interesse social

Havendo um dos dois motivos, o STF pode, por 2/3 dos votos de seus membros (8
ministros), fazer com que a decisão produza efeitos em outro momento. Muitas vezes,
retroagir (que é a regra) prejudica, e o STF pode então restringir os efeitos da declaração –
fazendo com que ela seja ex nunc ou com efeito prospectivo ou pró futuro (só produzirá
efeitos a partir de uma data especificada).
Se o STF modular os efeitos, faz com que uma norma nula tenha produzido efeitos. Isso é
uma exceção, porque a regra é que a nulidade não produz efeitos.

Além disso, o STF aplica a modulação dos efeitos em caso de inconstitucionalidade, mas
também em caso de não recepção (os requisitos são os mesmos).

A modulação dos efeitos é aplicada em todas as ações de controle de constitucionalidade


(concentrado e difuso).

8. CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE:

8.1.Quanto ao objetivo:

a) Controle concreto: leva em consideração um direito subjetivo. Existe uma situação


específica levada em juízo.
b) Controle abstrato: leva-se em conta o direito objetivo, ou seja, a norma
abstratamente considerada.

Exemplo1: Mariana saiu prejudicada com uma determinada lei que fala que é proibido
fazer o exame da ordem antes de colar grau. Se ela quiser fazer o exame da ordem antes,
pode mover um MS e, incidentalmente, discutir a inconstitucionalidade deste artigo que
alterou alegando violação à liberdade de profissão. Movendo MS para ter um direito que a
lei está de proibindo. Esse controle é concreto, porque existe um direito que Mariana quer
exercer.

Exemplo2: PGR move ADI porque o ordenamento jurídico brasileiro não pode cercear um
direito constitucional. Nesse caso, a preocupação é genérica, é com o ordenamento
jurídico, e não com alguém específico. Esse é o controle abstrato.

A doutrina aponta ainda a “FUSÃO DAS NORMAS DE CONTROLE”, afirmando que é


possível:

 A concretização do controle abstrato = aplicar institutos do controle concreto no


controle abstrato. Ex: pegar uma ADI e concretizar o fato – quando ele modula os
efeitos, o faz porque a declaração de inconstitucionalidade vai prejudicar grande
número de pessoas, então ele está concretizando algo que era abstrato.
 Abstrativização do controle concreto = aplicar institutos do controle abstrato no
controle concreto. Ex: MI 721. Quando o STF disse que o servidor público pode sim
fazer greve. Só que o STF disse ainda que qualquer servidor público, além desse que
entrou com o MI, está liberado e pode fazer greve. Então o STF abstrativizou.

8.2.Quanto à natureza do órgão de controle:

a) Controle judicial: quando exercido por órgãos integrantes do poder judiciário.


b) Controle político ou francês: quando exercido por órgãos que não exercem função
judicial típica.
c) Controle misto.

8.3.Quanto ao momento de controle:


a) Controle preventivo ou a priori: quando é exercido durante todo o processo
legislativo (desde a iniciativa até a promulgação).

a.1) Poder legislativo: CCJ (assuntos constitucionais das Casas têm que ser mandados para
a CCJ. O projeto de lei geralmente passa por essa Comissão de Constituição e Justiça para
analisar a constitucionalidade de um PL), Plenário e rejeição do veto do presidente (ao
vetar, o presidente tem que submeter as razões do veto ao CN que derruba ou não o veto
do presidente).

a.2) Executivo: com o veto jurídico (Art. 66, §1º). Há dois tipos de argumento para o
presidente da república – quando o presidente considera o PL inconstitucional é o veto
jurídico, e quando o presidente considera o PL contrário ao interesse público é o veto
político. O veto de controle é só o veto jurídico.

a.3) Judiciário: nas hipóteses de vedação na CR ao trâmite da espécie normativa. É


preventivo, concentrado, concreto e incidental. Há duas situações:

• PEC:

# sob o ponto de vista material: se uma proposta de emenda constitucional violar


materialmente a Constituição (ex: quer tirar a vedação à pena de morte), já é possível
entrar com MS, porque o Art. 60, §4º veda DELIBERAR sobre os assuntos. O parlamentar
que está se sentindo violado em seu direito líquido e certo de participar de um processo
legislativo justo, pode impetrar MS para trancar essa PEC. Apesar desse controle de
constitucionalidade ser preventivo (porque visa evitar a publicação da lei), o MS em si é
repressivo, porque a Constituição proíbe deliberar, o que já está acontecendo (já houve
violação ao Art. 60, §4º).

# sob o ponto de vista formal: ex: uma PEC é aprovada por maioria simples, quando
deveria ser por 3/5. Já violou, então cabe MS.

Atenção: não existe mandado de segurança preventivo contra projeto de lei ou proposta
de emenda. Sempre é repressivo. Tem que esperar haver a lesão.

• PL:mesma coisa. Violou, material ou formalmente, cabe MS.

a.4) Povo: através do plebiscito. Controle social de constitucionalidade ou controle de


constitucionalidade popular.

STF, MS 20257.

b) Controle repressivo, sucessivo ou a posteriori: é exercido após o processo legislativo.

b.1) Exerce através das ações. Qualquer ação pode ter questão constitucional envolvida,
seja pela via principal (ADI, ADC, ADO, ADPF) ou incidental.

b.2) Poder legislativo: exerce o controle repressivo em três passagens constitucionais:

• rejeição de medida provisória inconstitucional (Art. 62)

• suspensão da norma pelo Senado (Art. 52, X):quando o STF declara a


inconstitucionalidade de uma lei pela via difusa, através de uma ação que não seja de
controle abstrato, exerce controle com efeitos inter partes. Se o STF quiser que essa
decisão tenha efeitos erga omnes, ou ela pública Sumula Vinculante sobre a questão ou
ela usa o Art. 52, X – quando o STF julga um caso (exemplo, um RE) e quer dar efeitos erga
omnes, comunica ao Senado, porque compete à ele a suspensão da lei declarada
inconstitucional pelo STF. Assim, o efeito vai se tornar erga omnes.

• sustenção de decreto que exorbite do poder regulamentar ou delegação legislativa (Art.


49, V).

Exemplo: lei que fala sobre educação. O decreto fala sobre educação e previdência. Ó
decreto tem função de regulamentar a lei, então deveria falar apenas sobre a educação.
Isso significa que o presidente exorbitou o poder regulamentar. Assim, compete ao
congresso nacional sustar os atos normativos que ultrapassaram o poder regulamentar me
o presidente pode ter seu decreto sustado no que tange às disposições sobre a
previdência.

Além disso, o CN também pode sustar os atos do presidente que ultrapassaram molinete
da delegação. Quando o presidente quer editar lei delegada, pede autorização ao
legislativo, e o legislativo faz um decreto estabelecendo quais assuntos podem ser
publicados pelo presidente. Se ele exorbita, o CN pode sustar os atos que exorbitaram os
limites da delegação.

b.3) Executivo: cuidado. Na posição doutrinária que não admite controle repressivo pelo
executivo, porque diz que todas as formas de controle são internas, são para ele. Mas
André Ramos Tavares, Luís Roberto Barroso aceitam. Para eles, as hipóteses seriam:

• Princípio da autotutela: súmulas 346 e 473 – o chefe do executivo pode declarar a


nulidade de seus próprios atos. Assim, o chefe do poder executivo que olha para um
decreto expedido por ele mesmo ou pelo chefe do executivo anterior e vendo que foi
praticado de forma inconstitucional (ex: contatou servido sem licitação), ele pode declarar
a nulidade.

• Intervenção federal ou estadual: o presidente da república ou governador podem


intervir em estados ou municípios (no caso do governador) para manter a integridade
nacional (se algum estado estiver tentando se dissociar do país).

• direito de resistência: o chefe do executivo pode deixar de cumprir uma lei por entender
inconstitucional (é controverso, porque ele pode mover ADI, então não tem porque deixar
de cumprir). Barroso entende que pode, porque prefeito não pode mover ADI, e depois
porque quando a ADC é julgada procedente, o STF declara norma constitucional
produzindo efeitos erga omnes com relação ao poder executivo. Então, se a
constitucionalidade vincula o executivo a dizer que a norma é constitucional, a contrario
senso, enquanto não houver uma ADC procedente, ele pode deixar de cumprir uma lei.

b.4) Povo: através do referendo.

b.5) Tribunal de Contas: Súmula 347. Controle incidental e no caso concreto.

9. MODALIDADES DE CONTROLE (JUDICIÁRIO):

9.1. Quanto ao número de órgãos:

a) Controle difuso, aberto, norte-americano ou por via de exceção: diversos órgãos de


controle do Judiciário exercem. Ex: juiz de primeiro grau – TJ – STF.
b) Controle concentrado, austríaco, europeu ou reservado: ocorre quando o controle é
exercido por um único órgão, a depender do parâmetro – se for a CR, o controle é exercido
pelo STF e se for a CE é o TJ.

c) Controle misto, híbrido, combinado ou eclético: nosso país exerce os dois tipos de
controle.

9.2. Quanto ao modo de exercício

a) Incidental: também é chamado de controle por via de exceção. Mas, no CPC, exceção é
meio de defesa, e esse controle pode até ser usado como matéria de defesa pelo réu, mas
pode também ser usado pelo autor, pelo MP, o juiz de ofício... Não é defesa
necessariamente.

É o controle onde a questão constitucional e suscitada na causa de pedir e declarada na


fundamentação da decisão, não fazendo coisa julgada material.

b) Principal: É o controle utilizado no pedido da petição inicial, sendo declarado no


dispositivo da decisão, fazendo com que a inconstitucionalidade produza coisa julgada
material. Lembrando que a constitucionalidade não faz coisa julgada nunca, tanto que
depois ela pode ser declarada inconstitucional.

Petição inicial Sentença


Partes Relatório
Causa de pedir Fundamentação
Pedido Dispositivo

Quando o controle é incidental, a inconstitucionalidade é citada na causa de pedir. O pedido é


outro. Ex: peço nulidade do lançamento tributário, que nesse caso só ocorre se conseguir a
inconstitucionalidade da lei que estipula aquele tributo no meu caso concreto. O juiz falará da
inconstitucionalidade (causa de pedir) na fundamentação, e vai julgar procedente o pedido de
nulidade. Na sentença, a única parte que faz coisa julgada é o dispositivo, e como a
inconstitucionalidade não está nele, no controle incidental a inconstitucionalidade não produz
coisa julgada.

Você também pode gostar