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DIREITO TRIBUTÁRIO

Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar VI


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LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR -


PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS VI

Princípio da Liberdade de Tráfego

O princípio da liberdade de tráfego é uma manifestação tributária do princípio que traz o


direito de ir e vir, é uma proteção deste princípio. A regra é a liberdade; não podem ser cria-
dos obstáculos que impeçam, efetivamente, a circulação de pessoas no país, de maneira
absoluta. Sendo assim, não é possível criar, também, um obstáculo tributário.
Portanto, a parte de garantias do contribuinte, previsto no art. 150 da CF, foi redigida com
a mesma ideia do direito de ir e vir, mas sob a ótica tributária.

CF, art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
V – estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou
intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Po-
der Público;

Observe que se trata da liberdade do tráfego tanto de pessoas, quanto de bens. O que se
quer proibir é que o tributo seja usado como bloqueio. É importante ressaltar que o dispositivo
não proíbe a existência de tributos que incidem em operações interestaduais ou intermunici-
pais, o que ele proíbe é que o tributo seja usado para bloquear as operações.
Observe o seguinte exemplo: Se João, estando na cidade de Recife, compra uma tele-
visão, ele compra este aparelho com a incidência do ICMS. Se João opta por comprar uma
televisão de uma loja sediada em São Paulo, quando esse aparelho for enviado a João,
também incidirá o ICMS.
Haverá incidência do imposto, quer João compre em Recife, quer compre em São Paulo,
e esse tributo interestadual, que incide na operação de São Paulo para Pernambuco, ele não
está bloqueando, impedindo, a circulação de bens ou pessoas. A existência do tributo inte-
restadual é importante para que a carga tributária fique equalizada.
Portanto, a existência do princípio da liberdade de tráfego, que veda que se crie tributo
com a finalidade de limitar a circulação de pessoas ou bens, não impede a existência de tri-
butos interestaduais, como o ICMS interestadual.
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Para melhor compreender, observe o seguinte exemplo: Um município, no interior de


São Paulo, criou uma taxa de desembarque na rodoviária. Quem inventou a taxa de desem-
barque possuía o fundamento de que não apenas utiliza o serviço da rodoviária quem nela
embarca, mas também quem nela desembarca. No entanto, foi percebido que essa taxa era
cobrada proporcionalmente à distância percorrida pelo ônibus. O judiciário então percebeu
que quem criou a taxa nesse formato queria desestimular a entrada no interior de São Paulo
de pessoas vindas de muito longe.
A criação dessa taxa sequer chegou ao STF, porque as primeiras instâncias derrubaram-
-na rapidamente, alegando inconstitucionalidade.
Ganha-se destaque no art. 150, a ressalva quanto à cobrança de pedágio. O pedágio
pode limitar a circulação de pessoas ou bens pelo país.
Antigamente, o STF decidiu que o pedágio era um tributo da espécie taxa, e quando a
CF/88 foi redigida, inspirada neste mesmo raciocínio, dispôs que não pode cobrar tributo que
limite a circulação de pessoas ou bens pelo país, ressalvada a cobrança de pedágio.
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Mais recentemente, julgando uma ação direta de inconstitucionalidade, ADI 800, do
estado do Rio Grande do Sul, o Supremo analisou um caso em que o estado do Rio Grande
do Sul conservava rodovia estadual e cobrava um pedágio pela circulação nessa rodovia.
Atualmente, os modelos de pedágio que se tem no Brasil, em quase cem por cento
dos casos, são pedágios cobrados por particulares que recebem uma concessão estatal e
cobram uma tarifa. Tarifa, indiscutivelmente, é contratual, não tem a ver com tributo. Observe
abaixo a Lei n. 10.233, art. 26:

Pedágio – Natureza Jurídica

Lei 10.233 Art. 26. Cabe à ANTT, como atribuições específicas pertinentes ao Transporte
Rodoviário:

§2º Na elaboração dos editais de licitação, para o cumprimento do disposto no inciso VI do caput, a
ANTT cuidará de compatibilizar a tarifa do pedágio com as vantagens econômicas e o conforto de
viagem, transferidos aos usuários em decorrência da aplicação dos recursos de sua arrecadação
no aperfeiçoamento da via em que é cobrado.
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A tarifa é contratual, portanto, não é tributo. É semelhante a preço público, a diferença


entre tarifa e preço público é que quando é o próprio Estado que, por meio de um Órgão,
empresa pública, ou sociedade de economia mista, cobra, então ele estará cobrando o preço
público. Quando se trata de um particular que recebe delegação para prestar o serviço, ele
cobra tarifa.
Com o julgamento da ADI 800, o Supremo dispôs que atualmente o pedágio é sempre
preço público.

Obs.: Deve-se atentar em provas, porque desde então a ideia é de que pedágio não é
mais tributo.

JURISPRUDÊNCIA – STF
1. O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias conservadas pelo Poder Público, cuja
cobrança está autorizada pelo inciso V, parte final, do art. 150 da Constituição de 1988, não tem
natureza jurídica de taxa, mas sim de preço público, não estando a sua instituição, consequente-
mente, sujeita ao princípio da legalidade estrita. (ADI. 800/RS)
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Portanto, pedágio, atualmente, tem natureza de exação de direito privado. Quando o


Poder Público cobrar, será cobrado o preço público. Já quando se trata de edital de licitação,
delegação para particular, a palavra usada para a cobrança foi tarifa. Mas, essencialmente
quanto à natureza da diferenciação entre essas duas exações, é basicamente quanto a quem
está cobrando, porque o regime jurídico é de direito privado. Não sendo de direito público,
não se aplica os princípios tributários, então, é possível aumentar a tarifa ou o preço do pedá-
gio por meio de um ato infralegal e já começar a cobrar essa tarifa sem ter que esperar a
anterioridade ou a legalidade.

Princípio da Transparência da Carga Tributária

O legislador constituinte exigiu que a Lei estabelecesse medidas para esclarecer os con-
sumidores acerca dos impostos que incidem sobre mercadorias e serviços. O texto da Cons-
tituição só faz referência a essa espécie tributária, os impostos, e só os que incidem sobre
mercadorias e serviços. O texto da Constituição não dispõe que os consumidores serão
esclarecidos acerca dos tributos que venham a incidir sobre mercadorias e serviços.
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O dispositivo aborda sobre impostos que incidem só sobre mercadorias e serviços,


porque são esses que normalmente ficam mais escondidos e as pessoas não percebem que
estão pagando.

CF, Art. 150. (...)


§5º - A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impos-
tos que incidam sobre mercadorias e serviços.
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Foi criada, então, uma regulamentação atual e mais ampla, que não apenas exige que os
consumidores sejam esclarecidos acerca de impostos que incidem sobre mercadorias e ser-
viços. Ela também exige um esclarecimento acerca dos tributos que interfiram na formação
do preço. Observe a Lei n. 12.741/2012, Art. 1º:
Lei n. 12.741/2012, Art. 1º Emitidos por ocasião da venda ao consumidor de mercadorias
e serviços, em todo território nacional, deverá constar, dos documentos fiscais ou equiva-
lentes, a informação do valor aproximado correspondente à totalidade dos tributos federais,
estaduais e municipais, cuja incidência influi na formação dos respectivos preços de venda.
De maneira mais clara, o que tal dispositivo dispõe é que deverá constar, dos documen-
tos fiscais ou equivalentes, emitidos por ocasião da venda ao consumidor de mercadorias
e serviços, em todo território nacional, a informação do valor aproximado correspondente à
totalidade dos tributos federais, estaduais e municipais.
Observe que não se aborda apenas sobre impostos, mas sim sobre a totalidade dos
tributos federais, estaduais e municipais, cuja incidência influi na formação dos respectivos
preços de venda.

Obs.: Se for disposto em prova que a CF/88 exige que a Lei traga medidas para esclarecer
os consumidores acerca dos tributos, cuja incidência tem interferência na formação
dos valores de venda, o item se encontrará falso, porque a CF/88 aborda apenas dos
impostos sobre mercadorias e serviços. É necessário saber a Lei que regulamentou
o dispositivo e que trouxe uma amplitude maior para o princípio da transparência da
carga tributária.
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Princípio da Reserva Legal para Concessão de Benefícios Fiscais

Trata-se da necessidade da reserva de Lei, em que somente a Lei pode fazer que é
deixar de tributar. Apenas com a Lei se tributa, se deixa de tributar, e apenas com a Lei se
consegue o benefício fiscal, e isso será aprofundado conhecendo a jurisprudência aplicável
ao art. 150, § 6º, da Constituição Federal, na próxima aula.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Ricardo Alexandre.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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